

Portugal, há muito tempo é território preferencial para os imigrantes brasileiros na Europa. Um dos principais fatores é a língua em comum. Em “América” não são só brasucas os despossuídos. Existe uma profusão de outras nacionalidades, como russos, ucranianos, africanos e até mesmo japoneses. Com direção de João Nuno Pinto, este filme instigante e ao mesmo tempo, quase contemplativo da vida no exterior, mostra um grupo de vigaristas, liderados por Vítor (Fernando Luis). Eles vivem de dar golpes em velhinhas viúvas, mas o negócio não está rendendo muito. O jeito é procurar outro golpe. E ele surge em falsificar documentos para imigrantes ilegais em Portugal. Mercado para tanto existe.
Mesmo sendo vigaristas com um grande público em potencial, vivem quase miseravelmente. Enfim, são uns pés rapados. Vítor ainda é casado com a russa Popova (Chulpan Khamatova, de Adeus, Lenin), e pai de um garotinho de cinco anos, Mauro, que se recusa a falar. Mulherengo, preconceituoso, dá pouca atenção para Popova, que passa a se engraçar com um médico ucraniano, que busca no Ocidente uma forma de recomeçar a vida, após perder tudo em Kiev.
Pinto não especifica onde se passa a ação, o certo é que é uma cidade litorânea de Portugal, assolada pelo mau tempo. Apesar de mostrar a crueza da imigração ilegal, das vigarices, “América” tem humor, principalmente com o personagem brasileiro Matias (Cassiano Carneiro, de Quem Matou Pixote?). A atriz Chulpan Khamatova, porém, é sublime. Ela não precisa falar muito para demonstrar o quanto sofre sua Popova, infeliz no casamento, no desterro. Seu rosto bonito e sofrido é um cartão de visita.
Cotação: bom
Chico Izidro