quinta-feira, novembro 21, 2019

"Um Dia de Chuva em Nova York" (A Rainy Day in New York)


O que dizer de Woody Allen? Por causa das denúncias de abuso sexual que recebeu de sua filha, a carreira do cineasta de 83 anos quase foi para o espaço. Seu contrato com a Amazon Studios foi rompido e, com o atraso no lançamento de seu filme mais recente, "Um Dia de Chuva em Nova York" (A Rainy Day in New York), 2018 se tornou o primeiro ano desde 1981 que não contou com um filme do diretor nos cinemas.

Toda a trama ocorre em um sábado em Nova Iorque, e segue o casal de universitários Gatsby (Timothée Chalamet) e Ashleigh (Elle Fanning). Os dois têm um namoro recente, mas vão à cidade para que ela faça uma entrevista com o diretor de cinema Roland Pollard (Liev Shreiber), que está em crise, pois não consegue aceitar a nova obra que realizou.

E enquanto a jovem faz seu trabalho, o rapaz fica circulando pela cidade, tentando evitar os pais e entrando em crise existencial ao se deparar com Shannon (Selena Gomez), irmã mais nova de uma ex-namorada, e também participando de jogos de pôquer. Ashleigh, por sua vez, vai se enfronhando mais no meio artístico, conhecendo o roteirista Ted Davidoff (Jude Law) e o astro Francisco Vega (Diego Luna).

Timothée Chalamet personifica uma versão jovem de Woody Allen, com suas frustrações, melancolias, inseguranças. Já a personagem de Elle Fanning é exagerada na ingenuidade, errando um pouco no tom. Aliás, os personagens são quase todos verborrágicos, e os jovens pensam e tem atitudes por demais intelectualizadas - Gatsby toca piano e gosta de músicas da era de ouro do jazz (nada mais Woody Allen). O diretor, enfim, repete um pouco o que já vimos em outros filmes. Mas o passeio por uma bela Nova Iorque, que talvez exista só na cabeça de Allen, vale a pena.

Cotação: ótimo
Duração: 1h34
Chico Izidro

"Midway - Batalha em Alto Mar" (Midway)


“Midway – Batalha em Alto Mar” (Midway), dirigido por Roland Emmerich, que adora fazer filmes catástrofes como “2012” e “Independence Day”, retrata a principal batalha entre norte-americanos e japoneses em junho de 1942, durante a II Guerra Mundial no Pacífico, e que mostrou que os ocidentais tinham mais poderio bélico do que os nopônicos. Já existe um outro filme sobre o tema "Midway - A Batalha do Pacífico" de 1976, dirigido por Jack Smight, e que teve as presenças Charlton Heston, Henry Fonda, James Coburn, Hal Holbrook, Glenn Ford e Robert Mitchum.

A história começa no entanto em meados dos anos 1930, quando os dois países ainda mantinham relações diplômáticas. E até chegar à famosa batalha, ainda investe na reconstituição do ataque japonês a Pearl Harbur, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941 e que provocou a entrada dos EUA na II Guerra Mundial. As cenas são mais impactantes do que o filme "Pearl Harbor", de 2001, dirigido por Michael Bay, e que virou um verdadeiro dramalhão.

As entradas de cada personagem remontam ao clássico "O Mais Longo dos Dias", dirigido em 1962 por Ken Annakin, Andrew Marton, Darryl F. Zanuck, Bernhard Wicki e Gerd Oswald, onde cada um vai sendo apresentado, com suas funções. Aqui temos Woody Harrelson, Dennis Quaid, Mandy Moore, Patrick Wilson, Nick Jonas, Ed Skrein, entre outros. O problema é que a maioria deles aparece careteiro, com caras de mau, quase engessados em cena.

Porém as cenas das batalhas são fantásticas, quase que o espectador se sente dentro dos aviões e dos navios. Enfim, Emmerich é habilidoso na construção de sequências repletas de tensão, sustentado por impressionantes efeitos visuais. Impactante.

Cotação: ótimo
Duração: 2h18
Chico Izidro

"A Vida Invisível"


O novo longa de Karim Aïnouz, "A Vida Invisível", retrata o forte machismo da sociedade brasileira na década de 1950, sob a ótica de duas irmãs. A obra é baseada no romance "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", livro de Martha Batalha, e roteirizado por Murilo Hauser, Inês Bortagaray e Karim Aïnouz. No Rio de Janeiro daquela época, Eurídice Gusmão (Carol Duarte e Fernanda Montenegro na terceira idade) é uma jovem que sonha em se tornar pianista e estudar no conservatório de Viena.

Já sua irmã Guida (Julia Stockler), é praticamente o oposto, mostrando-se desinibida e mais fogosa. Um dia Guida decide fugir com seu namorado, um marinheiro grego. Porém, ao chegar a Atenas, descobre que o rapaz não era tudo o que ela esperava. Grávida, decide voltar para casa. Porém, seu pai, o conservador comerciante português Manuel (Antônio Fonseca) não admite ter embaixo de seu teto uma jovem solteira e com um filho e expulsa a menina.

O pai a considera morta e assim conta para Euridice - que acaba casando com um homem tão conservador e machista quanto, Antenor (Gregório Duvivier). Ele não admite que a esposa saia para estudar piano, deixando de lado as obrigações caseiras.

E ao longo dos anos, segue Guida criando o filho Francisco, trabalhando como operária numa fábrica e sendo acolhida por Filomena (Bárbara Santos) na periferia do Rio de Janeiro. E sempre tentando entrar em contato com Eurídice, mas uma série de desencontros faz com que elas se mantenham afastadas, mas sem nunca perderem a esperança de se encontrarem novamente.

A obra é um melodrama, mas sem cair em exageros. A reconstituição do Rio de Janeiro dos anos 1950 é primorosa, e as atrizes Carol Duarte e Julia Stockler fazem atuações espetaculares. Quase no final, surge Fernanda Montenegro, que em poucos minutos na tela, está avassaladora, mostrando porque é a principal estrela nacional.

Cotação: ótimo
Duração: 2h19
Chico Izidro

"Medo Profundo: O Segundo Ataque" (47 Meters Down: Uncaged)


"Medo Profundo: O Segundo Ataque" (47 Meters Down: Uncaged), do diretor Johannes Roberts, que já havia feito "Medo Profundo", em 2017, e que até era interessante, com duas amigas presas em uma jaula tentando escapar de um tubarão branco. Aliás, filmes feitos para quem gosta de tubarões. Eu gosto.

A trama transcorre no México, para onde foi uma família de americanos, com as filhas de mães diferentes Mia (Sophie Nélisse) e Sasha (Corinne Foxx). E elas não se bicam, sendo que a primeira, por sua timidez, é vítima de bullying na escola.

Em um dia, as duas decidem escapar de uma excursão escolar com duas amigas, e vão para um local secreto, onde se localiza uma caverna com obras de uma civilização antiga. A entrada acaba desabando e as garotas ficam trancadas lá dentro, sem muito oxigênio.

E claro que no lugar se encontram tubarões famintos por carne humana. E as jovens vão passar as próximas horas tentando evitar virar comida. Enfim, o filme é isso. Caça e caçador, com cenas subterrâneas. Algumas até dão sustos. E a gente olha para tal personagem e já sabe que ele será o próximo alvo. E claro, os momentos de tensão fazem com que as irmãs acabem criando laços diante do pavor.

Cotação: regular
Duração: 1h31
Chico Izidro

segunda-feira, novembro 18, 2019

"Ford vs Ferrari"



Com direção de James Mangold, "Ford vs Ferrari" conta conta a história real de Carroll Shelby (Damon) e Ken Miles (Bale), que nos anos 1960 se uniram para tentar vencer a difícil prova automobilística 24 horas de Le Mans, na França. O título do filme se refere a rixa entre as empresas norte-americana Ford, e a mítica italiana Ferrari, dominante nas pistas. A primeira tentou absorver a segunda, mas sem sucesso.

Ambicioso, e querendo repetir o sucesso de seu avô Henry Ford, Henry Ford II (Tracy Letts) liberou sua equipe para criar um carro potente e que conseguisse bater de frente com as máquinas italianas. Para alcançar esse objetivo sua equipe de marketing contrata Shelby, lendário piloto que teve de abandonar a profissão por causa de problemas de saúde, e que então se dedicava à produção e revenda de veículos.

Shelby por sua vez contata Miles, um engenheiro britânico que motava nos Estados Unidos com a família formada pela esposa Mollie (Caitriona Balfe) e pelo filho Peter (Noah Jupe). Miles, no entanto, era uma pessoa de difícil trato, beirando a loucura nas pistas, mas ousado. Os dois fariam história no automobilismo.

Christian Bale e Matt Damon estão simplesmente perfeitos em seus papéis. "Ford vs Ferrari" impressiona ainda pela excepcional restituição de época, e ainda consegue transporta o espectador para o interior dos carros voando a mais de 300 quilômetros por hora, em cenas de arrepiar. O único problema do longa é tentar demonizar os italianos. Já que não existe espaço para vilões, os europeus são vistos sempre de cara fechada ou misteriosa.

Cotação: ótimo
Duração: 2h32
Chico Izidro

“Invasão ao Serviço Secreto” (Angel Has Fallen)



A franquia iniciada por “Invasão à Casa Branca” e seguida por “Invasão à Londres” chega a seu terceiro capítulo com “Invasão ao Serviço Secreto”, com direção de Ric Roman Waugh. E vamos combinar, não precisava. Estrelado novamente pelo astro Gerard Butler, vivendo o agente secreto Mike Banning, que já salvou a Casa Branca e Londres. Agora, ele é acusado de traição e tentativa de matar o presidente norte-americano, Orador Trumbull (Morgan Freeman) e tem de fugir do FBI para tentar provar a sua inocência.

Aí você vai vendo o filme, e pensando nas cenas, remendos de outras tantas produções. Está na cara que o agente é inocente, pois as pistas deixadas pelos verdadeiros vilões são claramente armadas. Então Banning recorre ao pai, vivido por um envelhecido Nick Nolte, um ex-soldado da Guerra do Vietnã desconfiado de tudo e de todos. E o vilão? Na primeira vez que aparece, fica evidente que o personagem é o sacana da história.

Claro, é um filme de ação, cinema pipoca. Então não é para filosofias e pensamentos profundos. Quem for assistí-lo quer ver explosões, tiros, perseguições de carros. E isso “Invasão ao Serviço Secreto” tem de sobra.

Cotação: regular
Duração: 2h01
Chico Izidro

domingo, novembro 03, 2019

"O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio" (Terminator: Dark Fate)


Ufa, primeiro uma boa sacada de James Cameron. Limar os filmes três, quatro e cinco e continuar a história a partir do segundo longa, de 1991. Falo da franquia Exterminador do Futuro, que volta agora em "O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio" (Terminator: Dark Fate), direção de Tim Miller, o mesmo do excelente "Deadpool". Vinte e oito anos depois, temos de volta Linda Hamilton no papel de Sarah Connor, uma das mulheres mais fodonas da história do cinema de aventura.

A trama começa quando o Exterminador vivido por Arnold Schwarzenneger consegue matar John Connor. A cena é excepcional, e feita com computação gráfica, mostra Linda e Schwarzenneger novinhos numa praia do Caribe. Então anos depois, outro robô, Rev-9, vivido por Gabriel Luna, aparece para tentar matar a jovem mexicana Dani (Natalia Reyes).

Ele tem as mesmas características do T-1000, interpretado por Robert Patrick no filme de 1991, mas mais mortífero. Para proteger a garota, surge a metade humana-metade robô Grace (Mackenzie Davis). A pergunta que fica por boa parte do filme é por que Dani é o alvo da vez? Estará grávida, se nem namorado tem? A resposta virá, mas não vou dar spoiler aqui.

Para ajudar Grace, ressurge Sarah Connor, fortemente armada e sem muita paciência para amenidades. Também ressurgirá o Exterminador vivido por Schwarzenneger, agora um pacato marido e pai de um adolescente - sim, o robô se humanizou, mas segue odiado por Sarah.

"O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio" (Terminator: Dark Fate) não tem espaço para muito bate papo. É correria e pancadaria desde o começo, com destaques para duas cenas fantásticas. Uma perseguição de um trator a um carro em uma autoestrada e a parte final, numa usina, onde os protagonistas se vem frente à frente com o Rev-9. Filmão de tirar o fôlego, e mostrando o poderio feminino no mundo.

Cotação: ótimo
Duração: 2h09
Chico Izidro

"A Odisseia dos Tontos" (La Odisea de los Giles)


Quem aí se lembra quando o Plano Collor sequestrou as poupanças em 1990? Pois bem, em nosso vizinho, a Argentina, as crises financeiras são mais comuns, e em 2002 um plano deixou muitos hermanos a ver navios, com suas economias desaparecendo da noite para o dia. E é isso que trata o filme "A Odisseia dos Tontos" (La Odisea de los Giles), direção de Sebastián Borensztein, e que tem o astro Ricardo Darín como protagonista. O longa é baseado no livro "La Noche de la Usina", de Eduardo Sacheri.

No vilarejo de Alsina, vivendo uma séria crise, com a maioria dos moradores tendo abandonado o lugar. O desemprego impera e o dono de um posto de gasolina, Fermín (Darín) e a mulher, Lidia (Verónica Llinás) resolve chamar um grupo de amigos para comprar alguns silos abandonados em uma propriedade agroindustrial e criar uma cooperativa, na esperança de gerar renda e também empregos. Só que eles precisam levantar a quantia, de 300 mil dólares, para fazer a compra. Assim, cada um dos investidores vai colocando uma quantia. Porém, tudo somado dá um pouco mais de 150 mil dólares.

Por segurança, Fermín deposita o dinheiro em um cofre no banco da provincia. O gerente do banco, dias depois, oferece a possibilidade de um empréstimo para completar a quantia necessária para a compra dos silos. Mas para tanto, o dinheiro deve aparecer na conta pessoal de Fermín. Ao fazer o depósito, ele não sabia o que aconteceria horas depois: um novo plano econômico do governo decidiu sequestrar as economias dos argentinos.

O protagonista entra em choque e passa a ser acusado por alguns investidores. Mas no decorrer dos acontecimentos, Fermín descobre que algumas pessoas receberam informações privilegiadas e se apoderaram dos dólares dos trabalhadores. Então de drama a história vira uma comédia das mais inteligentes, pois os moradores lesados decidem unir forças e descobrir quem foi o espertalhão que está com o dinheiro deles - que por justiça, deve ser recuperado. O grupo de tontos é formado, e em meio a muitas trapalhadas e espertezas, vão em busca da grana.

A história é espertíssima, com uma narrativa simples, mas inteligente. E os hermanos são experts em contar tramas humanas, com cuidado esmerado na reconstituição de época. Além do sempre ótimo Ricardo Darín, o elenco conta com ainda com as excepcionais participações de Verónica Llinás, Luis Brandoni, Chino Darín (filho de Ricardo na vida real e no filme), Rita Cortese, Daniel Aráoz e Andrés Parra como o empresário vigarista, que roubou a grana dos "tontos".

Coração: ótimo
Duração: 116min
Chico Izidro

"A Família Adams" (The Family Adams)


A musiquinha com o estalar de dedos é clássica e abre a animação "A Família Adams" (The Family Adams), direção de Conrad Vernon,Greg Tiernan, e que conta a origem da formação da trupe, formada por Gomez, Mortícia, Vandinha, Feioso, Tio Chico, Tropeço e Mãozinha. E tenta apresentar a lição de que devemos sempre aceitar o diferente.

Tudo começa durante o casamento de Gomez e Mortícia. A população da cidade onde eles moram decidem expulsar aquelas pessoas estranhas, que têm atração por coisas mórbidas. O casal foge e no caminho acaba encontrando o mordomo Tropeço, e logo em seguida, a mansão abandonada e mal-assombrada onde decidem recomeçar as suas vidas. Anos depois, Gomez e Mortícia, já pais, vivem apaixonados pela mansão.

Os filhos herdaram os costumes e hábitos dos pais. Feioso, porém, passa boa parte do tempo tentando fazer armadilhas para Gomez. Já Vandinha, mais velha, quer descobrir o que está além dos portões e da neblina da mansão, enfim, conhecer o mundo. Afinal, lá fora existem pessoas que levam uma vida normal, para os Addams, no entanto, anormal. E aí que reside a graça de mostrar a convivência entre diferentes. O que, convenhamos, hoje em dia está tão em desuso. Infelizmente. Então o filme tenta passar isso, que devemos aceitar todos. Isso é legal. Xó, preconceito.

Cotação: bom
Duração: 87min
Chico Izidro

"Luta de Classes" (La Lutte des Classes)


A sociedade francesa é pluralista? Até que ponto? As questões são discutidas em "Luta de Classes" (La Lutte des Classes), direção de Michel Leclerc. A trama mostra as agruras de uma família tentando conviver com as diversas culturas na França, sob a ótica de um garoto de seus dez anos de idade, Corentin (Tom Lévy).

Seus pais, a advogada de ascendência muçulmana, Sofia (Leïla Bekhti) e o músico de uma banda punk, Paul (Édouard Baer), são agnósticos e de esquerda. Morando em um bairro de classe média baixa, eles colocam o garoto a estudar em uma escola pública. Porém todos os amigos de Corentin são transferidos para uma escola particular, e o garoto fica isolado, em uma classe cheia de muçulmanos e africanos.
Coco, como é carinhosamente chamado no lar, sente-se deslocado, pois se considera ateu e os coleguinhas o discriminam, e dizem que ele irá queimar no inferno. O menino começa a dar sinais de depressão.

Então como Sofia e Paul devem proceder? Esquecer seus ideiais políticos e filosóficos e transferir Coco para uma escola com crianças brancas e católicas?
"Luta de Classes" é quase uma comédia de costumes - mesmo os momentos dramáticos são ligados por uma piada mais leve ou reflexiva. Faz pensar e muito como é viver em uma sociedade que se diz pluralista, mas na essência separa os diferentes?

Cotação: ótimo
Duração: 94min
Chico Izidro