quinta-feira, fevereiro 21, 2019

"Querido Menino" (Beautiful Boy)



"Querido Menino" (Beautiful Boy), é dirigido pelo belga Felix van Groeningen (Alabama Monroe, de 2012) e estrelado por Steve Carell e Timothée Chalamet, e a exemplo de "Réquiem Para Um Sonho", "Aos Treze" e "Diário de um Adolescente", retrata como é o universo das drogas e seus usuários. Também relata como elas podem ser destrutivas, tanto para os viciados, quanto para os familiares. É um filme pesado, mas tocante, mostrando a relação afetuosa entre pai e filho, com o primeiro tentando de tudo para salvar o rebento.

Temos a história de David Sheff (Steve Carell), escritor e jornalista da revista musical Rolling Stone, já em seu segundo casamento e pai de três filhos, sendo o mais velho Nic Sheff (Timothée Chalamet, de Me Chame Pelo Seu Nome). O jovem tem um talento para as artes, mas de um dia para o outro entra no mundo das drogas, experimentando de tudo, desde maconha, passando por cocaína, heroína, mas apaixonado mesmo por mefantamina. E isso o leva para o buraco, só que ele não vai sozinho, levando todos ao seu redor junto.

O vício de Nic abala as estruturas familiares, especialmente seu pai David, que busca a todo custo entender a dependência de seu filho. Por vezes, ele desiste de tentar salvar o garoto, noutras larga tudo para ir atrás de Nic. A obra é tensa, e não dispensa cenas onde Nic se droga, muitas vezes injetando heroína nas veias, ao lado da namorada. Um realismo cruel.

E "Querido Menino" traz dois atores plenos em cena. Steve Carell, que iniciou a carreira como comediante - vide a série The Office, onde fazia o atrapalhado chefe Michael Scott, e depois fez o abobalhado "Virgem de 40 Anos", mas aos poucos começou a se destacar em filmes sérios, como "Foxcatcher", "A Melhor Escolha" e "A Batalha dos Sexos", tem grande interpretação como o pai atormentado. E Chalametm, aos 23 anos, se revela cada vez mais um ator maduro e assombroso.

Duração: 2h01
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"A Morte lhe dá Parabéns 2" (Happy Death Day 2U)




"A Morte te dá Parabéns 1" era um divertido filme de serial killer, onde uma jovem revivia o dia de sua morte exatamente em seu aniversário, sendo esfaqueada ad eternum por um assassino usando uma máscara de bebê. O filme bebia da fonte de "Pânico" e "Feitiço do Tempo". Agora chega "A Morte lhe dá Parabéns" (Happy Death Day 2U), com direção e o roteiro do mesmo Christopher Landon do primeiro longa.

Nesta sequência, Tree (Jessica Rothe) revive a traumática experiência do filme anterior, mas vivendo agora uma realidade paralela, onde o assassino mascarado não é o mesmo. E alguns acontecimentos da sua vida também não são os mesmos. Por exemplo, seu namorado Carter (Isreael Broussard) não está mais com ela, mas namorando a sua colega de república Danielle (Rachel Matthews). Tudo acontece por causa de um experimento mal sucedido do estudante de física quântica Ryan (Phil Vu).

"A Morte lhe dá Parabéns 2" tem um início promissor que remonta o longa anterior, inserindo agora ficção científica, com mundos paralelos e viagens no tempo. Mas se no primeiro filme, o sangue corria solto, agora a mocinha se preocupa mais com problemas amorosos e também em tentar conviver com a mãe, que na parte 1 estava morta, e noutra dimensão, está viva. E o humor pastelão tomou conta, com cenas hilárias, como as tentativas de suicídio de Tree.

Duração: 1h44
Cotação: bom


Chico Izidro

"Lembro Mais dos Corvos"




"Lembro Mais dos Corvos", direção de Gustavo Vinagre, é sobre Julia Katharine, uma mulher trans que é o centro das atenções do filme. Ela também é atriz, tem 40 anos, e começa a obra afirmando sofrer de insônia e detestar isso. Julia é inteligente, feminina, fuma sem parar e bebe um vinho branco. O tempo inteiro questiona o porque deste filme estar sendo feito.

Aos poucos, vai se soltando, e fala sobre a sua intimidade. Julia se descobriu que era mulher cedo, aos 8 anos, e com seu tio avô que tinha 55, que era considerado um herói por sua mãe. Julia e ele tiveram uma relação, escondida, é claro, e o velho a tratava como uma mocinha, mas Julia não tinha noção de estar sendo abusada, só se dando conta na terapia, quando já era adulta. A relação acabou de repente, basicamente porque ela cresceu e perdeu o interesse do pedófilo.

Julia fala bem, é espontânea, conta de sua passagem pelo Japão, para onde foi em buscado pai e onde foi discriminada pelos brasileiros que lá viviam, chegando a morar na rua. A mulher trans cita cinema, que adora, e seus diretores preferidos, como Ozu, Kurosawa e Mizoguchi.

"Lembro Mais dos Corvos" é sobre Julia, sua vida difícil, seus fracassos, sucessos. O cenário é a pequena sala do apartamento da atriz no centro de São Paulo. Um dos filmes mais humanos do ano.

Duração: 1h24
Cotação: ótimo


Chico Izidro

"Minha Fama de Mau"



"Minha Fama de Mau", dirigido por Lui Farias, é o nome de um dos primeiros sucessos do cantor carioca Erasmo Carlos, e também batiza o filme, que por vezes emociona. A obra teve uma boa sacada, pois ao invés de percorrer toda a vida do biografado desde sua infância até chegar a vida adulta, focou em apenas cerca de 12 anos vitais na carreira do roqueiro.

A trama se inicia em 1958, quando um jovem Erasmo, que morava em uma casa de cômodos - onde viviam diversas famílias -, no bairro da Tijuca e sonhava em fazer sucesso como cantor. Um de seus grandes amigos era Tim Maia (Vinicius Alexandre), que lhe ensinou os primeiros acordes de violão, e que já teve seu filme próprio, lançado em 2014. O filme mostra a paixão dele por Bill Halley, a amizade iniciada com um já famoso Roberto Carlos. Todos fatos muito conhecidos, e retratados muito bem na telona.

"Minha Fama de Mau" foca ainda no sucesso do programa da Jovem Guarda, da TV Record, em meados dos anos 1960, ao lado de Roberto Carlos (Gabriel Leone) e Wanderléa (Malu Rodrigues). Ao mesmo tempo, a bela atriz Bianca Comparato surge em vários momentos da década vivendo musas do cantor, finalizando com a aparição da grande paixão da vida dele, Nara - reverenciada no disco Mulher, de 1981, mas que não é focado no filme, que se encerra no começo dos anos 1970, quando Erasmo e Roberto retomam a amizade, que fora abalada em determinado momento - tocante, emocionante quando Roberto Carlos mostra a canção Amigo para o companheiro.

O filme tem elementos que chamam muito a atenção, como por exemplo o uso de imagens reais do Rio de Janeiro dos anos 1960, e também do próprio Erasmo durante apresentações. Aliás, destaque para as reconstituições do programa Jovem Guarda, deixando a música rolar completa. O ator Chay Suede não é nada parecido com Erasmo, mas consegue entrar no papel, e mostrar certo charme. Gabriel Leone também surpreende como Roberto, numa obra biográfica que pode levar às lágrimas.

Duração: 1h56
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Todos Já Sabem" (Everybody Knows)




"Todos Já Sabem" (Everybody Knows), com direção de Asghar Farhadi, é uma mistura de drama com suspense, que tem como protagonistas o casal espanhol Penélope Cruz e Javier Bardem. A trama mostra a espanhola Laura (Cruz), que retorna para a sua cidadezinha junto com ops dois filhos para participar do casamento de sua irmã - o marido, Alejandro, interpretado por Ricardo Darín, não pode viajar por ter compromissos na Argentina.

Na viagem, ela reencontra amigos e familiares, e um antigo namorado, Paco (Bardem), agora dono de uma vinícola - e um dos pontos de conflito que serão mostrados ao longo do filme. Ele é casado com Bea, que ainda sente ciúmes de Laura após tantos anos. E durante a festa após a cerimônia de casamento, a filha de Laura, Irene (Carla Campra), é sequestrada.

Daí em diante o suspense toma conta das ações, com a família tentando salvar a menina, ao mesmo tempo que antigas feridas começam a ser abertas por todos os personagens, que vão expondo seus rancores e ódios com as pessoas próximas. O problema é que "Todos Já Sabem" tem um ritmo muito lento, quase arrastado - simplesmente na primeira parte do filme quase nada é mostrado. E a solução do crime leva mais tempo do que o necessário. Porém, o que salva a obra é a incrível sintonia entre Cruz e Bardem, que apresentam uma química fantástica do início ao fim do longa.

Duração: 2h13
Cotação: bom

Chico Izidro

"A Favorita" (The Favourite)




Confesso que tive de assistir duas vezes "A Favorita" (The Favourite), direção do grego Yórgos Lánthimos, para sacar o deboche, o humor e a sagacidade envolvendo a realeza britânica do Século XVIII, e que mostra os bastidores do reinado da Rainha Ana (Olivia Colman), e que governou durante cinco anos, de 1702 a 1707.

A trama mostra a influência da da Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) que exerce sua influência na corte como confidente da Rainha Ana, sendo inclusive que as duas foram amantes. Porém, o posto de Marlborough é colocado em ameaça quando surge em cena a ex-nobre e que virou plebeia Abigail (Emma Stone). Ela entra no palácio como criada, mas logo se torna a queridinha de Ana, fazendo toda uma série de trapaças para tentar ascender de novo.

"A Favorita" apresenta um visual fantástico de época: acessórios, figurinos e a maquiagem são de tirar o fôlego. E as locações transmitem o glamour da realeza inglesa do Século XVIII. O roteiro é magnífico e conta a história em capítulos, onde a trama é revezada em drama e comédia. As duas horas passam voando, e com cada sacada brilhante, sendo que as três mulheres se destacam, cada uma dela com seu momento de brilhar.

Duração: 1h59
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"A Mula" (The Mule)




O veterano Clint Eastwood, com 88 anos e prestes a completar 89, em 31 de maio, já havia anunciado o final de sua carreira como ator em 2008, quando filmou "Gran Torino". Mas esqueceu a promessa, e depois disso realizou mais dois filmes como ator, sendo este o canto do cisne, "Mula" (The Mule), que também dirige. A obra é baseada em uma história real, que gerou o artigo do New York Times, “The Sinaloa Cartel´s 90-Year-Old Drug Mule”, escrito por Sam Dolnick.

Aqui, Eastwood vive um personagem completamente de seus típicos turrões, como Frankie Dunn, de "Menina de Ouro" (2004), Walt Kowalski, de "Gran Torino" (2008) e Gus Lobel, de "Curvas da Vida" (2012). Ele é Earl Stone, agricultor florista dono de um próspero negócio, mas relapso com a família - ele acabou se separando da mulher, interpretada por Dianne Wiest (vencedora de dois Oscar por trabalhos ao lado de Woody Allen) e da filha, vivida Alison Eastwood, filha do cineasta na vida real. A trama se inicia em 2005, no auge de seu sucesso, e pula para 2017, quando os negócios online o levaram a bancarrota.

Em dificuldades financeiras, Earl acaba aceitando um trabalho como motorista - por causa de suas habilidades, ele nunca foi multado e conhece 41 dos 51 estados norte-americanos. Só que a função é transportar drogas de um estado a outro. Mas afinal, quem iria desconfiar de um velhinho simpático e veterano da Guerra da Coreia?

Earl é um personagem espirituoso, que adora se divertir, mesmo que por outro lado seja desligado em relação aos familiares. E também nenhujm pouco politicamente correto. Ao se deparar com um bando de motociclistas mulheres, as chama de sapatas. E ao ajudar um casal de afro-americanos e a filha pequena em uma estrada, os chama de negros...Ao mesmo tempo que trabalha como mula, ele é perseguido por dois agentes do FBI, vividos por Bradley Peña e Michael Peña.

As piadas são frequentes e ágeis, muitas nada corretas para os dias de hoje. Mas ditas de um jeito para não ofender. Clint Eastwood criou um filme eficiente, com muitos momentos contemplativos. Mas que prendem, não só pela presença do veterano ator e diretor, mas também pelo restante elenco, que além dos citados conta ainda com Taissa Farmiga, Lauren Fishburne e Andy Garcia.

Duração: 1h56
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Tito e os Pássaros"




Uma animação brasileira que tem ares de infantil, mas na realidade é um conto de terror. "Tito e os Pássaros", dirigido por Gustavo Steinberg, pode dar pesadelos em crianças, ainda mais por causa dos traços quase fantasmagóricos de seus personagens. A trama foca no pequeno Tito, um garoto de 10 anos, que vive com a mãe, depois que o pai, um cientista foi expulso de casa por ela, devido ao seu fracasso profissional.

Até que uma estranha epidemia começa a se espalhar, deixando as pessoas doentes quando se assustam - elas ficam com os olhos arregalados primeiramente e depois se tornam deformadas. O menino descobre que a cura está relacionada à pesquisa feita por seu pai sobre o canto dos pássaros, então ao lado de dois amigos, decide salvar o mundo da epidemia, e também tentar reencontrar o pai.

A animação é feita a partir de uma mistura de técnicas que alternou stop-motion com tinta a óleo e animação computadorizada, sendo que a principal referência estética veio do movimento expressionista. E como escrito antes, não é muito agradável para olhares infantis. Mas impressiona e muito.

Duração: 1h13
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"As Ineses"




O longa-metragem, dirigido pelo argentino Pablo José Meza, "As Ineses", remete a outro longa, brasileiro, "As Duas Irenes", de 2017, onde uma menina de 13 anos, de descobre que seu pai tem uma filha com outra mulher, e que essa menina tem a mesma idade e o mesmo nome dela. Mas se este filme era excepcionalmente realista, o mais recente tem ares mais ficcionais.

A história começa em 1985, onde as amigas e vizinhas, Carmen (Brenda Gandini) e Rosa (Valentina Bassi) têm o mesmo sobrenome, Garcia. E elas dão a luz no mesmo dia e no mesmo hospital. Mas quando os seus maridos, Ramón (o brasileiro André Ramiro, de “Tropa de Elite”) e Pedro (Luciano Cáceres) observam as crianças, eles notam que uma troca pode ter sido feita - o bebê que Carmen segura no colo é morena, sendo que na família só existem loiros, e a criança no colo de Rosa é loira, sendo que ela é morena e casada com um negro.

Como uma família negra pode conceber um bebê branco e ruivo, e uma família branca e loira conceber um bebê moreno? Em uma época que o DNA ainda não era utilizado, o jeito é tentar fazer com que o médico que fez o parto das duas reconheça o erro. Mas ele morre. Então a troca é feita de supetão, mas a dúvida permanece com as famílias ao longos dos anos.

O mistério só começará a ser desvendado anos depois, quando ocorre uma fatalidade com um dos personagens. A obra tem um certo humor, brincando com os problemas argentinos dos anos 1980 e 1990, mas por vezes é prejudicado por presenças estereotipadas, como a da sogra, histérica, intrometida e religiosa ao extremo. Além do que são percorridos ao longo do filme 10 anos, e os atores adultos não envelhecem uma só ruga. Algo se perdeu no decorrer da trama, que acaba sendo instigante, mas de final decepcionante.

Duração: 1h12
Cotação: bom

Chico Izidro

"Vice" (Vice)




Trabalho posterior do diretor Adam McKay, de "A Grande Aposta", "Vice" é uma obra que trata da biografia de uma figura pouco popular da história recente norte-americana, Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush (2001-2009). O político é interpretado soberbamente por Christian Bale, que viveu mais uma metamorfose, no caso engordando vários quilos, para interpretar o cara, ainda vivo, com 78 anos.

"Vice" mostra a trajetória de Cheney desde o final da adolescência, em Nebraska, quando ainda não havia tomado jeito na vida, vivendo de brigas, bebedeiras e prisões. Até que toma uma dura da namorada, Lynne Cheney, vivida pela linda e talentosa Amy Adams, também se sobressaindo no papel, desta vez da esposa que espera uma atitude do parceiro - se uma mulher não pode despontar politicamente, que o marido o faça. Afinal, estamos nos anos 1960.

Depois, o filme dá um salto, e já mostra Cheney nos bastidores do poder em Washington nos anos 1970, e aos poucos vai mostrando a ascenção de um homem medíocre, desde Chefe de Gabinete da Casa Branca na década de 1970, e Secretário de Defesa dos EUA – 1989 a 1993, até chegar ao posto de segundo homem mais poderoso do mundo nos anos 2000. O filme não é complacente com o biografado, e mostra como Cheney esteve por trás e articulou a Guerra do Iraque, em retaliação aos atentados de 11 de setembro de 2001. Cheney é um político extremo e duro, e que não tem medo de ser impopular.

O elenco está afiadíssimo. Bale está irreconhecível atrás de tanta maquiagem, mas se apresenta soberbo, assim como Amy Adams, excepcional, Sam Rockwell como George W. Bush e Steve Carell na pele do mentor Donald Rumsfield. A sintonia de todos se destaca na tela.

Duração: 2h13
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Dogman"




"Dogman", direção de Matteo Garrone, pode ser um estudo sobre a selvageria entre seres humanos. A trama foca em dois personagens, que fazem atos de barbárie que ultrapassam as fronteiras entre o comportamento humano e o animal.

O filme foca no personagem Marcello (Marcello Fonte), dedicado dono de um pet shop, apaixonado por cachorros, pai de uma doce garotinha e bem-querido por toda a vizinhança. Porém ele é atormentado pelo ex-lutador brutamontes Simoncino (Edoardo Pesce), que aparece na loja para comprar drogas e provocar o caos, surrando o pobre e esquálido homem.

Todos no bairro se sentem incomodados com as agressões de Simoncino, e conspiram para matar o sujeito. Marcello é mais tolerante, até que em certo momento pode perder a cabeça e partir para atitudes mais extremas.

O cenário de "Dogman" remete aqueles filmes italianos dos anos 1950 e 1960, recheado de pobreza, prédios carcomidos, muita decadência e gente feia e pobre. Enfim, uma atmosfera fria, na qual a única lei vigente é a do mais forte. Uma obra pesada.

Duração: 1h42
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Vergel"




"Vergel", coprodução Brasil e Argentina é dirigida por Kris Niklison e protagonizada por Camila Morgado (de Olga), tendo sua história se passando em uma quente Buenos Aires durante o período de verão.

Com personagens sem nome, Morgado vive uma brasileira que está de férias na capital argentina ao lado do marido. Só que inesperadamente ele morre, e ela fica presa na cidade, pois tem de resolver problemas burocráticos para liberar o corpo do homem, e poder retornar ao Brasil.

Em um apartamento repleto de plantas e solitária, a mulher acaba começando uma relação com a vizinha do andar de baixo, a argentina Maricel Álvarez. O erotismo passa a tomar conta do filme. Mas qual o propósito disto tudo? Sem contar as cenas onde aparece na televisão ligada uma japonesa fazendo iquebana. E nada é explicado, faz sentido. Uma história, afinal, que cai no vazio.

Duração: 1h26
Cotação: ruim

Chico Izidro

"Guerra Fria" (Zimna Wojna)




Do mesmo diretor do oscarizado "Ida", Pawel Pawlikowski, "Guerra Fria" (Zimna Wojna) foca nos anos pós-II Guerra na Polônia e o que o comunismo impingiu ao país, estragando a vida de milhões de pessoas. O diretor, ao realizar o filme, pensou nos seus pais, que se apaixonaram, mesmo tendo temperamentos completamente distintos.

Zula (Joanna Kulig) é uma camponesa que pretende ser cantora e Wiktor (Tomasz Kot) é um pianista, que corre a Polônia atrás de artistas para uma companhia de artes, que fará apresentações sobre a cultura polonesa. Aos poucos, os dois acabam se apaixonando, em plena Polônia vivendo sob o tacão do regime Stalinista.

O casal sonha em fugir para o Ocidente, e Paris, com seus cafés e musicais, é o local mais desejado. Só que um deles não irá se adaptar à França e destroçar o relacionamento - percorrido num período de 15 anos.

A obra, filmada em preto e branco, tem ainda uma ótima reconstituição de época, e atuações fortes. Temos a forte sensação de que Kulig e Kot estão mesmo vivendo naqueles anos tensos e de forte repressão. A empatia entre eles é enorme. E nos transporta no tempo.

Duração: 1h28
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Cafarnaum"



Que filme forte e chocante. O líbanês "Cafarnaum", terceiro longa-metragem de Nadine Labaki (mesma diretora de Caramelo e E Agora Onde Vamos?), conta a história de um garoto sírio chamado Zain (Zain Al Rafeea), que está morando no Líbano com sua família, em péssimas condições de vida, e pais abusivos - tanto que logo no início vemos o menino em um julgamento.

Ele cometeu um crime, e apesar dos poucos 13 anos, mas devido as dificuldades passadas, aparentando 7 anos, está sendo julgado. E ali no tribunal decide processar os pais, pelo crime de terem colocado ele no mundo, além de não pararem de ter mais e mais filhos.

Cafarnaum, que significa Caos em árabe, mostra o dia a dia de Zain, que faz de tudo pelas ruas de Beirute para sobreviver. E após ter fugido de casa, encontra uma outra imigrante como ela, a africana Rahil (Yordanos Shiferaw), que vive ilegalmente no país, tentando criar o pequeno Yonas, de pouco mais de um ano de idade.

Em troca de casa e comida, Zain fica cuidando do bebê, até que um dia ela é presa e não volta para o seu barraco. Zain, então, tem de se virar para cuidar de Yonas, em cenas de derreter o coração de qualquer um.

O roteiro de Cafarnaum é engenhoso, as cenas são de um realismo raramente visto - a pobreza de Beirute, que um dia já foi conhecida como a Paris do Oriente Médio, antes de ser destruída por uma Guerra Civil de décadas. E o que falar do carisma do pequeno ator Zain Al Rafeea, que destroça (no bom sentido o filme), com sua atuação natural - ele dá a impressão de estar revivendo em cada momento, cada cena, uma vida que já foi sua, antes de sair da conflituosa Síria.

Duração: 2h02
Cotação: excelente

Chico Izidro

"Vidro" (Glass)




"Vidro", dirigido por M. Night Shyamalan, fecha a trilogia iniciada com "Corpo Fechado" e seguida por "Fragmentado", trazendo os respectivos personagens, Bruce Willis como David Dunn, Samuel L. Jackson como Elijah Price, também conhecido como Sr. Vidro, e James McAvoy como Kevin, destes filmes em novas fases de suas vidas e juntando suas narrativas paralelas em uma só.

Em "Vidro", David Dunn é dono de uma loja de segurança doméstica e tem como missão capturar Kevin Crumb, que permanece usando suas inúmeras facetas para sequestrar jovens e deixar que a Fera, um de seus 24 alter egos e o mais perigoso, apareça para matar as garotas. No entanto, Dunn e Kevin são presos e levados para um hospital psiquiátrico, onde serão supervisionados pela drª. Ellie Staple (Sarah Paulson), psiquiatra especializada em tratar indivíduos que acreditam possuir super poderes. No local, está internado outro paciente, o Sr. Vidro.

E claro que o personagem de Samuel L. Jackson tem um plano arquitetado na mente para mostrar ao mundo que existem, sim, pessoas com poderes especiais. A parte final é eletrizante, com muita pancadaria e ótimos efeitos especiais, encerrando a trilogia dignamente.

Mas apesar de o título do filme se referir ao Sr. Vidro, ele é quase um coadjuvante, com seu personagem sumindo diante da atuação esplendorosa de James McAvoy, e suas 24 personalidades. Ele utiliza sua força física e mental muito bem, dominando a tela. Já Bruce Willis parece desanimado, e se mostra burocrático na maior parte das cenas.

Duração: 2h09
Cotação: bom

Chico Izidro