quarta-feira, maio 01, 2024

“CONDUZINDO MADELEINE”

Foto: California Filmes
“Conduzindo Madeleine”, direção de Christian Carion, é um dos filmes mais emocionantes dos últimos tempos. Quando vi o título, pensei que seria algo no estilo “Conduzindo Miss Daisy”, de 1989, mas ainda bem que estava errado.
A trama se passa na linda Paris, cidade dos meus sonhos, e foca em Madeleine, de 92 anos, interpretada por Line Renaud, e o taxista Charles, vivido por Dany Boon. Ela vivia em sua casa, sozinha, até que as autoridades decidem que ela tem de ir para uma casa de repousos, pois não tem mais condições de se virar sem cuidados.
Então ela chama um táxi para levá-la à instituição de repouso onde irá morar, e aparece o estressado e desiludido Charles. Em suas últimas horas de liberdade, Madeleine quer passear por Paris, e ver os locais que marcaram a sua vida.
E durante o passado, a espirituosa Madeleine vai atraindo a atenção do fechado motorista, e revelando seu passado, de alegrias e tristezas. Como o filho que teve com um soldado americano tão logo acabou a II Guerra Mundial, o casamento com um homem abusivo, a prisão. A viagem de táxi irá aproximar os dois e marcar a vida de Charles para sempre.
Carion conta que quando leu o roteiro assinado por Cyril Gely caiu em lágrimas. “Todos nós enfrentamos esta questão um dia: o que acontecerá com nossos pais quando eles envelhecerem? A história de Madeleine saindo da sua casa para ir morar em uma instituição de repouso representa várias coisas para mim. Desde o início eu sabia que o filme foi escrito para Line Renaud”, lembrou.
Renaud definiu Madeleine como a personagem mais bonita que já interpretou. “Ela também é aquela que mais se parece comigo. Eu tenho a mesma idade de Madeleine, mas isso nem é tudo que temos em comum. Como ela, eu passei por algumas coisas difíceis na minha vida. Eu cresci perto de mulheres como ela na minha família. Madeleine é minha mãe, minha avó e até minha bisavó. Eu as vejo na história da minha personagem”, afirmou.
“Conduzindo Madeleine” é um filme extremamente cativante, emocionante. Bem, quando ele se aproximava de seu término, caí em um choro descontrolado. E tem ainda Paris, com suas belas ruas e prédios. A trama percorre várias décadas e mostra como houve evolução: a personagem de Madeleine não tinha voz nos anos 1950, ficando a mercê de um marido abusivo e não podia nem reclamar, pois a esposa era propriedade do homem. Sem mais...
Cotação: ótimo
Duração: 1h31min
Chico Izidro
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Y4gLbrPe5iw

“VERISSIMO”

O sempre discreto e reservado escritor Luis Fernando Verissimo resolveu abrir as portas de sua casa, e durante 15 dias enquanto se aproximava de seu 80º aniversário, em 2016, deixou-se filmar. O resultado é o cativante documentário “Verissimo”, direção de Angelo Defanti. O filme começa de forma quase lenta, por vezes com o som quase inaudível e desinteressante. Mas aos poucos o dia a dia de Verissimo e sua família vai conquistando o espectador. Para quem acha que a vida de um famoso é glamour e reconhecimento público pode se decepcionar. O escritor é tão gente como a gente, que até achamos estranho. Ele anda pelas ruas, a escola dos netos, e não fosse um ou outro fã, quase passa imperceptível.
O universo de Verissimo não é novidade para Defanti que, em 2022, lançou a ficção” O Clube Dos Anjos”, baseado no livro homônimo do escritor, além dos curtas “Feijoada Completa” (2012) e “Maridos, Amantes e Pisantes” (2008), ambos a partir de contos do gaúcho.
As filmagens não pegaram apenas o octagenário, mas também o cotidiano de toda a família, com a presença constante da esposa Lucia e da netinha, e de sua paixão pelo Inter – detalhe, o documentário ocorre no ano do rebaixamento do clube à Série B.
Defanti lembra que toda a família acaba participando do filme. “Durante o mês das filmagens, fui rigorosamente todos os dias na casa. Para manter essa constância, compreendi logo que seria importante criar variações nos horários e nas atividades que registrava. Os 90 minutos do filme são fruto de análise de quase 100 horas totais de material. A proposta inicial era ter os últimos 15 dias de 79 anos de um homem e os primeiros 15 de 80”, contou.
“Na montagem, vimos que o dia do aniversário em si era o inevitável clímax da história, guardadas as devidas proporções que um sujeito pacato consegue viver de clímax”, explica Defanti.
O cineasta conta ainda que tentou se manter o mais discreto possível na casa dos Verissimos nas duas semanas, com uma equipe pequena composta por ele mesmo, e, eventualmente, uma outra pessoa. “Demorou muito pouco até a câmera e eu deixarmos de ser novidade e virarmos parte da paisagem da casa, como um abajur ou uma cor de parede. Estar no café da manhã um dia e no jantar no outro concedeu variação ao material, mas também baixou as guardas da família. Quando eu estava presente ou ausente, era mais ou menos a mesma coisa. Ainda que a relação tenha sido amistosa o tempo inteiro, tenho certeza que ficaram aliviados quando aquele mês chegou ao fim”, esclareceu.
Defanti completa, afirmando que o documentário mostra um lado de Verissimo pouco conhecido, mesmo para quem é fã de sua obra. O escritor é tímido, enquanto sua mulher, Lucia, é mais extrovertida. “O Verissimo encabulado de uma entrevista sendo tão ou mais retraído na vida eleva a observação do público a um outro patamar. Pois, se ele tem a obra irreverente da forma como todos conhecem e seus modos discrepam tanto dela, é natural buscar entrever a riqueza interior que certamente ocorre em sua mente. A persona pública e a persona íntima podem incrementar a visão sobre o autor e sua criatividade”, completou.
Cotação: Bom
Duração: 1h30min
Chico Izidro
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=TiQG5JQWDAY

quinta-feira, abril 11, 2024

"Evidências do Amor"

"Evidências do Amor", direção de Pedro Antônio Paes, é uma comédia romântica inspirada na música Evidências, composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle e lançada pela dupla Chitãozinho & Xororó no final dos anos 1980. E ao contrário de obras cinematográficas como "Faroeste Caboclo" e "Eduardo e Mônica", onde as músicas contam uma história, aqui como não existe essa possibilidade narrativa, o jeito foi mostrar em como ela afeta a vida de um casal.
A história gira em torno de Marco Antônio, um desenvolvedor de aplicativos (Fábio Porchat) e a estudante de medicina Laura (Sandy), que se apaixonam após cantarem juntos a música Evidências em um karaokê: "e nessa loucura, de dizer que não te quero...". Os dois então embarcam em um relacionamento que parece ser o perfeito, mas com o passar do tempo, a união dos dois vai se desgastando, até que Laura decide colocar um ponto final, às vésperas do casamento com Marco Antônio.
Ele fica arrasado com a ruptura, caindo em uma depressão terrível. Até que cerca de um ano depois do término, Marco começa a viver um fenômeno curioso: toda vez que ouve Evidências, é transportado para o passado, revivendo memórias ruins do namoro. Então, Marco se dá conta que precisa refletir - será que a relação com Laura era mesmo tão perfeita quanto ele imaginava, e se deveria mesmo ter ficado tão surpreso com o término.
Essa parte do roteiro é forte mesmo. Geralmente quando terminamos uma relação, temos a tendência de imaginar apenas as coisas boas que vivemos ao lado do (a) parceira (o). Então apesar de chata e ruim, a música traz em seu título a questão: as evidências estão todas lá, nós que não enxergamos.
Porchat e Sandy mostram química em cena, sendo que o ator, um dos pilares do Porta dos Fundos está contido, segurando o máximo que pode seus histerismos. Sandy, que não atuava havia dez anos, tem mais a provar, ainda mais que a sua escalação tenha e muito haver com a sua relação de parentesco com os cantores do hit - ela é filha de Xororó e sobriha de Chitãozinho. E segue com a carinha de guriazinha. A melhor personagem do filme, no entanto, é Evelyn Castro, que vive a síndica e faz tudo do prédio onde mora Marco. Eu só mudaria o final do filme.
Duração: 1h45min
Cotação: bom
Chico Izidro

segunda-feira, abril 08, 2024

"A Primeira Profecia" (The Last Omen)

Em 1976, estreava nos cinemas um dos filmes um clássico do cinema de terror: "A Profecia" (The Omen), dirigido por Richard Donner, baseado em romance homônimo de David Seltzer. Ele contava a história do garoto Damien, adotado ainda recém-nascido pelo embaixador dos EUA em Roma, interpretado por Gregory Peck, e que se mostrava ser o verdadeiro filho do capeta. Cenas horripilantes marcaram a obra, como a babá que se enforcava na janela, ou o fotógrafo degolado por uma lâmina de vidro. Um filme memorável e realmente assustador. E a história de Damien ganhou sequências, remake e até mesmo uma série de TV, que teve apenas uma temporada.
Pois agora, decidiram fazer um prequel, mostrando como Damien foi gerado. "A Primeira Profecia" (The Last Omen), direção de Arkasha Stevenson, pretende contar a história de como foi feita a concepção da criança e toda a conspiração para que ela, de fato, viesse à tona.
Assim, a trama se passa no começo dos anos 1970, quando a jovem noviça norte-americana Margaret Daino (Nell Tiger Free) é convocada para trabalhar em um orfanato católico apenas para meninas em Roma, sob à supervisão do Cardeal Lawrence (Bill Nighy), antes de realizar seus votos para sagrar-se freira. O orfanato é controlado pela Irmã Silvia (vivida pela nossa musa cinematográfica Sônia Braga).
Aos poucos, Margareth começa a tomar contato com segredos da Igreja Católica, e que um grupo dentro dela está tramando para lutar contra a revolução cultural que se alastra entre a geração mais jovem. Por isso, a ideia de colocar no mundo um bebê-demônio e depois a Igreja entraria em ação, para tentar mostrar a sua força - claro que as coisas saíriam do controle. E Margareth, tarde demais, vai acabar se deparando com o papel que é esperado dela na conspiração.
Esse é o primeiro trabalho de Arkasha Stevenson como diretora de um longa metragem. E como eu disse antes, o filme é um prelúdio do grande "A Profecia", como também é um bom filme de terror. A história é boa, as atuações estão legais, e momentos realmente assustadores - e pensar que em 2023 tentaram fazer o mesmo com "O Exorcista", e erraram profundamente.
Cotação: bom
Duração: 2h
Chico Izidro

terça-feira, abril 02, 2024

"A Matriarca" (Juniper)

Filmes onde duas pessoas completamente diferentes que aos poucos vão encontrando afinidades não é incomum no cinema. E "A Matriarca", direção de Matthew J. Saville, está nesta linha. Porém, devido a atuação de seus intérpretes, principalmente a magistral atriz inglesa Charlotte Rampling, a obra consegue escapar de armadilhas e clichês.
Charlotte interpreta Ruth, uma antiga correspondente de guerra, que está aposentada, vivendo praticamente reclusa no interior da Inglaterra. E ela sofre um acidente, que a impede de se locomover. E ela só encontra refúgio em suas bebidas. Até que seu neto, Sam (George Ferrier), é expulso da escola e é levado pelo pai para a residência da família, onde se depara com aquela velha mandona e rabugenta. E a missão do garoto é cuidar de Ruth. No começo, muita animosidade entre ambos.
Porém, aos poucos o jovem rebelde e a velha ranzinza vão se entendendo, e passando a compreender um ao outro. As suas vidas acabam se transformando. "A Matriarca" acaba sendo um filme muito terno, e quem teve uma avó ou tia com quem não se identificava, até passar a conviver com ela, vai se ver ali.
O diretor e também roteirista Saville, conta que partiu de experiências pessoais para criar esse seu primeiro longa. “Quando eu tinha 17 anos, minha avó alcoólatra quebrou a perna e se mudou da Europa para morar na Nova Zelândia, na casa de sua família", recordou. "Ela viveu uma vida incrível, esteve na Espanha durante a Guerra Civil Espanhola, enfrentou a África e bebeu gim suficiente para conservar um elefante. Na verdade, quando a conheci, ela bebia dois terços de uma garrafa de gim todos os dias. Ela era afiada, charmosa, engraçada e rude. Ela levou todos nós às lágrimas, mas também às gargalhadas”, contou.
Ruth é, em tese, a sua própria avó transposta para a telona. Saville acrescenta que partiu dessas experiências e de seu relacionamento com a avó para criar um filme que “trata de alguns dos temas mais fortes a que somos confrontados como humanos: vida, amor, morte, tristeza, vergonha e nossa própria mortalidade. Este é um filme sobre a escolha que fazemos como humanos de viver e morrer, como lidamos com a dor e como aceitamos vida. Embora os temas sejam sombrios, seu tom é cômico e o drama não tem nada de sentimentalismo”, completou.
Cotação: ótimo
Duração: 1h35min
Chico Izidro

quinta-feira, março 28, 2024

"Godzilla e Kong: O Novo Império" (Godzilla and Kong: New Empire)

"Godzilla e Kong: O Novo Império" (Godzilla and Kong: New Empire), dirigido por Adam Wingard, traz os dois poderosos titãs lutando junto, depois de terem se enfrentado. Agora, cada um vive em seu território - Godzilla domina os monstros na superfície, enquanto que King Kong governa na “Terra Oca”, um mundo do centro do planeta e local de origem de todas as criaturas gigantes.
Os dois vivem em relativa paz com os humanos, tanto que Kong está lá sossegado. Mas Godzilla vem à tona para brigar com outro monstro que aparece em Roma. E Kong é obrigado a subir depois que o seu dente canino começa a lhe incomodar.
Porém, a equipe que monitora a Terra Oca passa a notar pequenos incidentes, e os humanos, liderados pela cientista interpretada por Rebecca Hall, decidem investigar, seguindo o gorila até a Terra Oca para tentar descobrir o que está acontecendo. E acabam dando de cara com moradores de uma sociedade que se acreditava extinta e um outro macaco gigante, Skar, que está determinado a dominar o planeta. E é aí que os dois titãs acabam unindo forças - e destruindo muitas cidades pelo caminho, inclusive o Rio de Janeiro, colocado a baixo sem dó nem piedade.
"Godzilla e Kong: O Novo Império" apresenta um trabalho impressionante de animação digital e efeitos especiais. Porém, todo este trabalho é desperdiçado numa história mal escrita, com personagens estereotipados (o podcaster vivido por Brian Tyree Henry, o Paperboy de Atlanta é a vítima da vez). Sem contar as cansativas lutas entre os monstros, muitas filmadas em movimentos tão acelerados que é quase impossível saber quem está lutando com quem.
E pensar que há pouco tempo assisti "Godzilla Minus One", produção da japonesa Toho, uma verdadeira obra-prima mostrando o lagartão destruindo Tóquio enquanto um ex-piloto kamikaze tentando reconstruir a sua vida num Japão sofrendo com o final da II Guerra Mundial. O filmaço custou menos de 15 milhões de dólares, enquanto que "Godzilla e Kong: O Novo Império" foi orçado em 135 milhões de dólares. Com o perdão do trocadilho, uma verdadeira bomba.
Cotação: ruim
Duração: 1h55min
Chico Izidro

segunda-feira, março 11, 2024

"Garra de Ferro" (The Iron Claw)

"Garra de Ferro" (The Iron Claw), direção de Sean Durkin, fala sobre o mundo da luta livre - quem viveu os anos 1960 e 1970 vai se lembrar do famoso "Ringue 12", com seus lutadores fantasiados, em combates roteirizados entree mocinhos e vilões. O filme foca a história real da família Von Erich, que ficou famosa nos Estados Unidos entre os anos 1970 e 1990, cujos integrantes eram profissionais do wrestling (luta livre roteirizada).
A família era comandada com braço de ferro pelo pai, Fritz (Holt McCallany, do seriado Mindhunter), ele mesmo fracassado no esporte, fazendo os filhos entrarem com tudo no cenário, os treinando com rigor. Kevin (Zac Efron), Kerry (Jeremy Allen White), David (Harris Dickinson) e Mike (Stanley Simons) foram do céu ao inferno, ensinados pelo pai a não sentirem medo de nada. Mas sem conhecer outra vida, praticamente vivendo uma relação tóxica entre pai e filhos. Os Von Erich também achavam ser amaldiçoados, pois alguns tiveram mortes trágicas - dois deles, inclusive, se suicidaram.
Garra de Ferro, aliás, era o golpe final das lutas criado pelo patriarca Fritz Von Erich.
Os destaques de "Garra de Ferro" são Holt McCallany e Zac Efron, que ainda é o narrador da história e único sobrevivente da família - não é spoiler, pois é uma história real. No final, é mostrado como Kevin vive hoje, ao lado da mulher, dos filhos e netos. Voltando a Efron, sua atuação é espetacular, contida, sem excessos. O lado feminino também é forte, com Maura Tierney interpretando a matriarca do clã, e Lily James como a esposa de Kevin.
O filme, além de reproduzir muito bem o ambiente do wrestling, com suas armações, rivalidades falsas dos lutadores, também tem uma ótima reconstituição de época, destacando uma baita trilha sonora, incluindo Blue Öyster Cult, Rush, Tom Petty and The Heartbreakers, Rolling Stones, Journey, entre outros clássicos.
Cotação: ótimo
Duração: 2h12m
Chico Izidro