sexta-feira, janeiro 18, 2019

"O Peso do Passado" (Destroyer)




O thriller policial "O Peso do Passado" (Destroyer), dirigido por Karyn Kusama, é um excelente veículo para Nicole Kidman mostrar seu talento, e também apresentar uma transformação corporal, que remete a outros famosos atores que transformaram seus corpos para filmar: Robert de Niro, Christian Bale e outra bela, Charlize Theron, que apareceu completamente modificada em "Monster: Desejo Assassino", onde interpretou a serial killer Aileen Wuornos.

Agora, Nicole faz uma transformação radical nos cabelos e rosto para viver a traumatizada Erin Bell. A trama se passa em dois tempos, no presente, quando ela tenta desvendar um assassinato, e no passado, quando se infiltrou numa gangue de assaltantes de bancos liderada por Silas (Toby Kebbell). Os dois períodos são divididos por 17 anos. Erin e o agente do FBI Chris (Sebastian Stan) infiltraram-se na gangue, para tentar desbaratar os assaltos. Alguma coisa no entanto deu errado. E voltando ao presente, a detetive é um trapo humano, odiada pela filha e menosprezada pelos colegas.

"O Peso do Passado" é todo de Nicole Kidman, em uma performance digna de Oscar. A história, porém, também é atraente, cheia de tensão e suspense, e com uma virada final surpreendente.

Duração: 2h
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Como Treinar seu Dragão 3" (How to Train Your Dragon: The Hidden World)




"Como Treinar seu Dragão 3" (How to Train Your Dragon: The Hidden World), dirigido por Dean DeBlois, é a conclusão da trilogia iniciada em 2010. E segue falando de amizade, perdas, preconceito. No primeiro filme, naquele final chocante, o garoto viking Soluço perde uma perna. No segundo longa, o menino vê o pai morrer. Agora, nesta terceira parte, a história foca em separação, quando Soluço tem de aceitar a separação de seu amigo dragão Banguela.

Além disso, Soluço agora é o líder ainda em gestação de sua aldeia, onde os vikings convivem em harmonia com os dragões, mas uma ameaça se avizinha. Ao mesmo tempo, Banguela encontra uma fêmea de sua espécie, e fica pronto para partir.

Esta animação simplesmente encanta pelo visual excepcionalmente colorido e movimentado. Mais dragões aparecem, um vilão incrivelmente ameaçador também. É um filme para crianças e também para adultos, que gira em torno da amizade, respeito e amor.

Duração: 1h44
Cotação: ótimo


Chico Izidro

"Lizzie"




A vida da norte-americana Lizzie Borden já rendeu livros, séries, filmes e até um curta-metragem (The Old Sister, de 1955) e até mesmo batizou uma banda de heavy metal. Agora chega às telas uma nova versão de sua trajetória, em "Lizzie", direção de Craig Macneill. A bay staters (ela nasceu em Fall River, Massachussets, em 1960, onde morreu em 1927), tendo ficado famosa por ter sido acusada de matar o pai e a madastra, Andrew e Abby Borden, a machadadas em 4 de agosto de 1892. Julgada e execrada pelo público, foi considerada inocente e até hoje não se sabe quem realmente foi o responsável peloas assassinatos.

Nesta nova versão, a trama mostra Lizzie, vivida por Chloë Sevigny, que parece não envelhecer, sufocada pelo pai repressor. Ela se aproxima da empregada Bridget Sullivan (Kristen Stewart, mais uma vez surpreendendo, depois do fiasco apresentado na cinesérie Crepúsculo, ela cresceu e se mostra uma boa atriz, mesmo que siga com aquela cara de sofredora). O roteiro ousa, mostrando que Lizzie teria cometido os assassinatos, pois vivia um romance proibido com a empregada, além do que esta era abusada sexualmente por Andrew (Jamey Sheridan).

Chloë Sevigny foi a escolha acertada para viver Lizzie. Ela faz uma atuação convincente. Mas Sheridan e Stewart também vão muito tempo. O primeiro como um homem hipócrita, abusivo e dominador. A ex-namoradinha do vampiro, por sua vez, também acerta no tom de garota sofrida, mas presa pelas convenções da época - afinal, a trama se passa no final do conservador e moralista Século XIX.

Duração: 1h46
Cotação: bom


Chico Izidro

sexta-feira, janeiro 11, 2019

"A Esposa" (The Wife)




Há cerca de um mês escrevi sobre o filme "Colette", sobre a escritora francesa explorada pelo marido, que se tornou famoso utilizando o trabalho dela. História real. Pois agora a ficção bate forte em "A Esposa" (The Wife), direção de Björn Runge, e com atuação excepcional de Glenn Close, que dispensa apresentação. A atriz de "Atração Fatal" vive a tal esposa do título, Joan Castleman, casada com o renomado escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce). E então chega a notícia de que ele acaba de ganhar o Nobel da Literatura.

Todos os holofotes para Joe, o gênio da família, o mestre das palavras. Ao lado do filho David (Max Irons), aspirante a escritor, o casal parte para Estocolmo, para que Joe recebe as homenagens. Mas eis que surge a figura do jornalista Nathaniel Bone (Christian Slater), que pretende descobrir o que acredita ser um segredo guardado a sete chaves: o verdadeiro autor das obras de Joe não seria ele, mas sim Joan, que desde sempre escreveu os romances do marido, que queria a fama, mas sofria de um tremendo bloqueio criativo.

Sempre reservada, Joan aos poucos vai vendo que aquilo preparado para Joe poderia ser vivido por ela. O roteiro não mostra de primeira quem é o verdadeiro escritor da família, se tudo não passa de delírio do jornalista - aos poucos a verdade vai sendo mostrada, em forma de flash-back. "A Esposa" mostra como para manter a unidade familiar e até mesmo o machismo vigente, uma pessoa pode abrir mão de seus sonhos, para dar a felicidade a outra. Uma realidade constante.

Duração: 1h40
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Homem-Aranha no Aranhaverso" (Spider-Man: Into the Spider-Verse)




Dirigido por Peter Ramsey (A Origem dos Guardiões) e Bob Persichetti (Gato de Botas), a animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” mostra a origem do novo herói aracnídeo, agora um adolescente, Miles Morales, que como Peter Park é picado por uma aranha radioativa. O jovem é filho de um policial, e com antepassados negros e latinos. Ele estuda numa escola particular de Nova Iorque e começa a passar pelas mudanças da puberdade.

A trama mostra o garoto tentando lidar com as novas habilidades, e se vê envolvido em uma plano sinistro arquitetado pelo Rei do Crime. Para combater o vilão, frequente inimigo do Demolidor, Miles entra em contato com Homens-Aranha de outras dimensões, inclusive o próprio Peter Park, mais vivo do que morto - aliás, em sua dimensão, ele é dado como falecido, numa divertida sacada.

O filme tem um ritmo ágil, com um visual bem colorido e pouco realista, e repleto de piadas. Além disso, traz uma série de personagens interessantes, em uma história legal de origem de um herói, explorando bem os relacionamentos familiares e humanos. O destaque vai para o jovem Miles - o único problema é a trilha sonora, com um chato hip-hop martelando a cabeça dos incautos.

Duração: 1h56
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Máquinas Mortais" (Mortal Engines)



Nada se cria, tudo se copia. Principalmente no universo cinematográfico, cujas ideias para filmes já devem ter sido todas utilizadas. Aí aparece o longa futurista "Máquinas Mortais" (Mortal Engines), direção de Christian Rivers e produção de Peter Jackson, em uma adaptação dos livros de Philip Reeve. A trama se passa por volta do Século 30, centenas de anos depois de a terra ter sofrido um grande apocalipse que devastou todos os continentes. As pessoas vivem em cidades construídas sob rodas, que são capazes de mudar suas formas e tamanhos.

A heroína é Hester Shaw (Hera Hilmarsdóttir, de excepcional atuação no recente Um Homem Comum, sobre a Guerra da Bósnia). Ela é uma órfã que pretende matar o poderoso Thaddeus Valentine (Hugo Weaving, em mais um papel de vilão em sua carreira) e que controla a cidade móvel de Londres - e que pretende dominar os devastados continentes europeu e asiático. Para lutar contra ele, Hester, que carrega uma cicatriz no rosto, cuja origem será explicada ao longo do filme, recebe a ajuda inesperada do rejeitado Tom Natsworthy (o insosso Robert Sheehan, de Os Instrumentos Mortais (de novo!!!).

A narrativa é acelerada, trazendo bons efeitos especiais. Só que tudo soa como já visto diversas vezes. Ao longo do filme, é possível encontrar referências a filmes como "Mad Max", "Guerra nas Estrelas", "O Exterminador do Futuro", "A Grande Muralha" e por aí vai. Um grande desperdício de tempo e de dinheiro, numa bobagem monumental. Porém, deve agradar aquelas pessoas que não querem pensar muito e vão ao cinema apenas para comer pipoca e tomar Coca-Cola.

Duração: 2h08
Cotação: ruim

Chico Izidro

"WiFi Ralph - Quebrando a Internet" (Ralph Breaks the Internet)




Sequência de "Detona Ralph", de 2012, "WiFi Ralph - Quebrando a Internet" (Ralph Breaks the Internet), direção conjunta de Rich Moore e Phil Johnston, é de uma graça impar e que faz vontade de, quando termina, assistir novamente. No primeiro filme, Ralph era um vilão que acabava se tornando herói e conquistando a amizade da pequena piloto de corridas Vanellope.

Agora, a dupla entra em ação para tentar adquirir um volante para o jogo de fliperama da qual ela participa. Analógico, o brinquedo só é encontrado no site ebay, e para isso Ralph e Vanellope precisam entrar no mundo da internet. A animação aproveita para criticar, de forma sutil, mas inteligente o mundo das celebridades e sua busca por popularidade nas redes sociais. Além disso, não tem nenhum pudor em mostrar na tela marcas famosas, desde o próprio ebay, passando por youtube, google, facebook e muitas outras, sem aquela bobagem muito comum em filmes brasileiros de inventar nomes de marcas para não dar ibope ou merchandising gratuito

Os personagens, principalmente Vanellope, são de uma fofura inacreditável. São diversas as participações, desde todas as princesas da Disney, Mickey, até personagens dos games dos anos 1980 e 1990, como Zangief, do jogo Street Fighter, Kano, de Mortal Kombat, e o Pac-Man. E sem contar as cenas de ação, em um trabalho primoroso - preste atenção ao pega da qual Vanellope participa, após roubar um carro. Uma obra para pequenos e grandões.

Duração: 1h53
Cotação: ótimo


Chico Izidro

"Museu" (Museo)




"Museu" (Museo), dirigido pelo mexicano Alonso Ruizpalacios, se inspira em fatos reais, ocorridos nos anos 1980, na Cidade do México. Dois veterinários roubaram mais de cem peças raras e em um museu mexicano, para depois vagarem pelo país sem saber exatamente para quem e como negociar os artefatos. Ruizpalacios retrata o incidente, com tom dramático e, às vezes, com muito humor, em clima de road movie.

Os dois ladrões da vez são interpretados por Gael García Bernal (do recente Estás Me Matando Susana), que vive Juan Nuñez, e Leonardo Ortizgris na pele de Benjamin. O crime é praticado às vésperas da ceia de Natal. Nuñez é um rapaz que ainda mora com os pais e não consegue encontrar muitos significados na vida, e se imagina rico após praticar o crime. O roubo Museu Nacional de Antropologia é até fácil.

Mas depois, na sequência, Juan e Benjamin achavam que teriam facilidade em vender os objetos, mas vão percebendo que nenhum comprador está interessado em se envolver com o maior roubo da história do país. Assim, partem numa viagem sem destino, carregando as peças em malas e sem saber o que fazer com aquilo. Um dilema forte. Além do que passam a ser perseguidos numa verdadeira caçada humana.

Gael García Bernal, de 40 anos mas sem aparentar, passa a convicção de ser um rapazinho meio irresponsável e sonhador. Benjamin é o narrador da história, que não acabaria muito bem. O problema do filme é que é muito longo, por vezes arrastado, com muitas cenas desnecessárias e que acabam se tornando cansativas.

Duração: 2h06
Cotação: bom

Chico Izidro

"Meu Querido Filho" (Weldi)




No ano passado, a BBC lançou uma série espetacular, em 4 episódios, intitulada "The State", que mostrava o que acontecia com jovens que decidiam se juntar aos terroristas do Estado Islâmico. Tem também o holandês Laila M., que mostra o destino de uma jovem que abandona a família para entrar no EI. Agora chega o tunisiano "Meu Querido Filho", direção de Mohamed Ben Attia (de “A Amante”), gerado após o diretor ter escutado no rádio o relato de um pai cujo filho entrou para a organização.

Na trama, o jovem Sami (Zakaria Ben Ayyed), o filho único de 19 anos de Nazli (Mouna Mejri) e Riadh (Mohamed Dhrif), está prestes a prestar vestibular, em Tunis. Mas às vésperas das provas, apresenta sintoma de estresse. O pai acha que o garoto está nervoso por causa dos testes, inclusive levando-o a um psiquiatra. Só que dias depois, Sami desaparece deixando apenas um bilhete dizendo que iria viajar para a Síria. Até então os personagens e o público não sabem o que aconteceu com o rapaz - mas é possível prever, quando em um banheiro durante uma festa, Sami assiste a um vídeo em seu celular.

Riadh, funcionário recém-aposentado do porto, entra em desespero e vai procurá-lo em todos os lugares onde acredita Sami possa estar. Vai na escola, no aeroporto, no psiquiatra, até que resolve vender seu carro, contrariando a mulher Nazli, com o objetivo de viajar para a Turquia, onde pretende entrar na Síria, para tentar encontrar seu filho.

O terrorismo do Estado Islâmico não é mostrado aqui em sua forma mais crua. Simplesmente é apresentado em como pode desestruturar uma família, de dentro para fora. A obra inicia lenta e aos poucos vai ficando intenso, mas nunca vemos cenas de guerra ou violência. Apenas o desespero de um homem que perde seu filho e não sabe como fazer para trazê-lo de volta. Cruel.

Duração: 1h44
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Culpa" (Den skyldige)




"Culpa", do diretor estreante dinamarquês Gustav Möller é um thriller policial explosivo, realizado em um único cenário e um único ator em cena durante quase toda a duração do longa. Poderia facilmente ser feito no teatro, mas na tela ele se faz mais tenso e angustiante.

Em um plantão na central de emergências de uma delegacia de Copenhague, capital da Dinamarca, o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) atende ligações variadas, de pessoas pedindo auxílio para resolver problemas comuns. Ele está tenso, pois no dia seguinte irá a julgamento por um erro cometido em suas tarefas - este é o motivo de ser relegado a atender ligações em uma sala fechada.

De repente, Asger recebe a ligação de uma mulher, que liga fingindo estar falando com a filha, enquanto informa secretamente estar sendo raptada pelo ex-marido. O policial passa então a tentar ajudá-la, mas sem ter muitas informações, além de estar preso atrás de um telefone. Depois, Asger fala com a criança e aos poucos, vai desvendando o mistério, de um final surpreendente e chocante.

A atuação de Cedergren (visto anos atrás em Submarino, de Thomas Vintenberg) é completamente espetacular. Sempre sentado, com um fone nos ouvidos, ele passa angústia e desespero, apenas com o olhar e gestos. Sensacional.

Duração: 1h28
Cotação: ótimo

Chico Izidro


"A Pé Ele Não Vai Longe" (Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot)




"A Pé Ele Não Vai Longe, novo filme de Gus Van Sant e estrelado por Joaquin Phoenix e Jonah Hill, adapta a vida de John Callahan, renomado cartunista norte-americano que se destacou nos anos 1970 e 1980 por um um humor ácido, autocrítico e também por colocar no papel suas próprias experiências como quadriplégico, sempre sem perder o humor. Ele soube rir de si mesmo.

Na obra, o mutante Joaquin Phoenix está soberbo. Callahan ficou quadriplégico depois de uma noite de bebedeiras seguida de um acidente de carro. Mas ao invés de cair na depressão e ter desejos de morte, soube tirar proveito da tragédia, aumentada pelo alcoolismo. Ao desenhar, era autoreferente - em uma de suas charges mais famosas, aparece uma cadeira de rodas abandonada no deserto e dois homens conversando. E um diz para o outro: "A Pé Ele Não Vai Longe", que inteligentemente virou o nome da obra. Outra grande participação é de Jonah Hill como Donny, o padrinho de John nos Alcoólicos Anônimos.

O filme é extremamente bem-humorado, e pode-se dizer sem sombras de dúvida que está entre uma das cinebiografias mais espirituosas que o cinema fez nos últimos anos.

Duração: 1h53
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"O Manicômio" (Heilstätten)




O terror found-footage, popularizado em 1999 com "A Bruxa de Blair", inovou o cinema para o bem e para o mal. E este lado tem goleado em termos de números de filmes ruins. A pérola mais recente vem da Alemanha e atende pelo nome de "O Manicômio" (Heilstätten), dirigido por Michael David Pate. Terror rasteiro e atuações beirando o amador, e extremamente exageradas.

O longa conta a história de jovens vloggers que decidem visitar a antiga clínica de Heilstätten, nas cercanias de Berlim, onde os nazistas tratavam pessoas esquizofrênicas entre os anos 1930 e 1940, e que após décadas abandonada, é vista como mal-assombrada. Então Betty (Nilam Farooq), Vanessa (Farina Flebbe), Emma (Lisa-Marie Koroll), Charly (Emilio Sakraya), Theo (Tim Oliver Schultz) e Finn (Timmi Trinks) decidem participar de um desafio: passar 24 horas no local.

Entre eles, dois têm um canal de pegadinhas – chamado exatamente de Pegadinhas.TV - uma vlogueira de moda obcecada por sua própria imagem, uma vlogueira mediúnica que realiza vídeos sobre superar seus próprios medos. E o ex-namorado desta última.

Os personagens não são nada simpáticos, assim o público não consegue empatia com eles. Todos beiram o estúpido e o insuportável, e ao invés de ficarmos torcendo para que escapem da morte, queremos que os fantasmas do local os eliminem de uma vez. Os sustos são risíveis. Enfim, um filme que se pretende de terror, mas que não funciona.

Duração: 1h29
Cotação: ruim

Chico Izidro

"Emma e as Cores da Vida" (Il Colore Nascosto Delle Cose)




"Emma e as Cores da Vida" (Il Colore Nascosto Delle Cose), direção de Silvio Soldini, tem aquele clima de filmes românticos europeus ingênuos, que não surpreendem, mas que são agradáveis de se assistir. O longa mostra o namoro de de Emma e Teo, duas pessoas completamente diferentes. Vivido por uma excelente Valeria Golino, Emma perdeu a visão aos 16 anos e trabalha como osteopata. Já Teo é publicitário e mulherendo e tem como intérprete Adriano Giannini, filho de Giancarlo Giannini, que trabalhou em filmes como "Hannibal", "007 ‑ Quantum of Solace" e "Chamas da Vingança".

Os dois se cruzam numa experiência de bate-papo às escuras. E Teo acha a voz de Emma muito sexy. Dias depois, ele a reconhece ao ouvi-la numa loja, e começa o flerte. Mas Teo é um sujeito vivendo em meio a mentiras, tendo ainda uma namorada e uma amante. Mas quer Emma. E ela, que vivia solitária, se deixa levar pela aventura. O problema é que o rapaz não tome jeito. Esconde de todos sua vida íntima. A namorada quer que ele vá morar com ela. Seu padrasto faleceu e ele nem foi ver sua mãe, nem sequer telefonou. Teo não consegue cumprir as metas da agência em que trabalha.

A trama, aos poucos, vai se transformando naquelas comédias de erro, onde o personagem principal se enreda cada vez mais em suas mentiras, e vai perdendo tudo ao seu redor. E isso fará com que repense seus atos, e faça uma mea culpa. É convencional, mas engraçadinho.

Duração: 1h57
Cotação: bom

Chico Izidro

“O Confeiteiro” (The Cakemaker)




“O Confeiteiro” (The Cakemaker), direção de Ofir Raul Graizer, tem um título que recorre a uma comédia. Mas pelo contrário, este é um drama forte e reflexivo, quase intimista. E foca na figura do jovem Thomas (Tim Kalkhof), um gay alemão que trabalha em uma confeitaria em Berlim, onde conhece o israelense Oren (Roy Miller). Este tem esposa e filho em Jerusalém, mas de tempos em tempos viaja à capital alemã a negócios e aproveitando para se encontrar com o amante. Oren, aliás, planeja largar a família para viver com Thomas.

Até que um dia simplesmente desaparece, sem deixar vestígios. Thomas passa a ligar para ele, mas nunca recebe respostas. Assim decide viajar para Jerusalém, e quando tem uma desagradável surpresa. O namorado morreu em um acidente de carro. Sem revelar sua real identidade, Thomas passa a trabalhar na cafeteria de Anat (Sarah Adler, “Foxtrot”). Ele é um hábil confeteiro e logo o estabelecimento começa a prosperar.

Porém Thomas sofre com o preconceito religioso, pois o irmão de Anat não aceita que um goy faça alimentos considerados não kosher. A cafeteria sofre a ameaça de fechamento, enquanto que a viúva Anat e Thomas ficam cada vez mais íntimos. “O Confeiteiro” é um filme audacioso, feito mais de gestos do que palavras. Silêncios, olhares, dúvidas, tudo apresentado de uma forma honesta e que mexe com os sentidos do público.

Duração: 1h49
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Conquistar, Amar e Viver Intensamente" (Plaire, Aimer et Curir Vite)




Passado quase no mesmo período de outro filme francês abordando a Aids, "120 Batimentos por Minuto", o início dos polêmicos e perigosos anos 1990, "Conquistar, Amar e Viver Intensamente" (Plaire, Aimer et Curir Vite), direção de Christophe Honoré, é outro romance gay, realista, mas apresentado de forma pesada, tornando-se cansativo.

A trama mostra o amor entre o Arthur (Vincent Lacoste) e Jacques (Pierre Deladonchamps). Os dois vivem em mundos diferentes, e distantes. O primeiro é um jovem da cidade de Rennes, acostumado a ter vários parceiros, enquanto que o outro é um homem mais velho, experiente dramaturgo de Paris, pai de Loulou (Tristan Farge), que teve com uma amiga, e portador do vírus HIV.

Os dois, no entanto, não sofrem com a homossexualidade. A sociedade parece aceitar os dois tranquilamente, e aí mesmo que a história se passe na civilizada França, mostra algo incomum e raro. Além disso, Arthur tem uma grande amiga, Nadine (Adèle Wismes), apaixonada por ele. Já o melhor amigo de Jacques é o jornalista gay, quase sessentão Mathieu (Denis Podalydès), vizinho de Jacques, e que trabalha como jornalista.

"Conquistar, Amar e Viver Intensamente" (Plaire, Aimer et Curir Vite) poderia ser melhor, caso fosse mais curto e menos amigável. Soa quase como irreal. Afinal, vamos combinar, naquela época e ainda sem muito conhecimento da doença, as pessoas portadoras do vírus HIV não eram aceitas com normalidade.

Duração: 2h12
Cotação: regular

Chico Izidro

"O Retorno de Mary Poppins" (Mary Poppins Returns)




Há exatos 54 anos chegava às telas "Mary Poppins", adaptação da obra de por P.L. Travers e protagonizaa por Julie Andrews, que um ano depois deixaria o mundo boquiaberto com sua atuação em "A Noviça Rebelde". A obra, da Disney, não agradou a escritora e a história da discórdia foi encenada no filme "Walt nos Bastidores de Mary Poppins", de 2013.

Pois agora chega aos cinemas a continuação do longa de 1964, "O Retorno de Mary Poppins" (Mary Poppins Returns), direção de Rob Marshall e com Emily Blunt no papel da babá com poderes mágicos - Julie Andrews recusou-se a fazer uma ponta para deixar o brilho todo com a atriz de "Um Lugar Silencioso".

"O Retorno de Mary Poppins" tem como cenário o período da Grande Depressão, no começo dos anos 1930, em Londres. E foca nos irmãos Banks, Michael (Ben Whishaw) e Jane (Emily Mortimer), agora adultos, e os filhos dele, John (Nathanael Saleh), Anabel (Pixie Davies) e Georgie (Joel Dawson). A família vive em dificuldades e corre o risco de perder a casa da família. Sem tempo para os filhos, Michael acaba recebendo de volta a babá com poderes mágicos e divertida. O vilão da vez é o banqueiro William Weatherall Wilkins (Colin Firth), que pretende se apropriar da casa dos Banks, de forma um tanto não lícita.

O filme recupera aquele clima dos anos 1960, seja no visual e até no estilo de música apresentado. Estão lá também as animações, facilitando muito para que os espectadores mais velhos recordem de seus tempos de infância, quando tudo parecia mais inocente e bonito. O pessoal de seus 50, 60 anos vai se identificar muito, e certamente, como foi o meu caso, de chegar em casa, e rever prontamente o primeiro longa.

Duração: 2h10
Cotação: ótimo

Chico Izidro