quarta-feira, outubro 31, 2007

Podecrer!



Você foi adolescente nos anos 80 do século passado? Então certamente vai curtir Podecrer!, de Arthur Fontes. Um filme de memória. Não é lá essas coisas, mas mexe com o emocional daquela galera que começou a descobrir o mundo naquela década!
Em Podecrer! (assim mesmo, com o ponto de exclamação, como na banda Ira!) - não vou revelar aqui o porque deste nome para não estragar a surpresa -, vemos os últimos dias no segundo grau de alguns amigos de classe média no Colégio São Jorge, no Rio de Janeiro. Alguns, como Tavico (Marcelo Adnet), já se vê como adulto e sonha em ganhar dinheiro, pois é o mais pobre de todos, enquanto outros querem curtir um pouco mais da adolescência e também seguir os seus sonhos, como João (Dudu Azevedo), apaixonado pela novata Carol (Maria Flor), recém chegada da França, onde vivia com os pais exilados políticos (José de Abreu e Malu Mader). Não esqueçamos que 1981 era apenas o segundo ano da anistia no Brasil. Ainda se vivia no país a era pré-rock, com resquícios da infame era disco e João queria era ser músico e não entrar na faculdade, o que era um acinte (bem, para muita gente ainda é!).
O filme consegue escapar das armadilhas convencionais que costumamos ver nas comédias juvenis - e o exemplo recente é Superbad - É Hoje. Piadas bobas, beirando o pastelão, escatologia. Claro que Podecrer! tem bebedeiras, uso de drogas - a viagem do inspetor interpretado por Stepan Nercessian, depois de tomar um chá de cogumelo é hilária -, mas tudo colocado no seu momento certo.
A trilha sonora é primorosa, e tem entre outros Tim Maia e Jorge Ben Jor. O final deixa um pouco a desejar e os atores parecem ter muito mais do que a idade que interpretam. Mas deixa prá lá esses detalhes. Vamos ser otimistas, já que o Brasil começava a viver um novo momento e em pouco tempo haveria o final da ditadura e a explosão do rock nacional. Aliás, se você quiser fazer uma comparação, Podecrer pode ser considerada a transposição para a telona do clássico Eduardo e Mônica, da Legião Urbana. A gente sai do cinema e vai direto para casa remexer naqueles cds da década "em que éramos felizes e não sabiamos". Não deixe de ver.

quinta-feira, outubro 25, 2007

SUPERBAD -É HOJE



Dois amigos querem perder a virgindade antes de concluir o segundo grau e entrar na faculdade. Você já viu este tema em diversos filmes e, agora, mais uma vez em Superbad - É Hoje (sempre me pergunto o por que destes subtítulos terríveis). O roteiro é assinado pelos novos queridinhos de Hollywood – Judd Apatrow, de O Virgem de 40 Anos, e Seth Rogen, de Ligeiramente Grávidos. A direção ficou a cargo de Greg Motola.
Com um palavrão disparado a cada frase e um amigo meio idiota, Fogell, e que dará melhor sorte do que eles, o gordinho bagaceiro Seth (Jonah Hill) e o gentil e tímido Evan (Michael Cera, do seriado Arrested Development), Superbad diverte. As piadas são grosseiras, os personagens bebem todas, vomitam, pensam o tempo todo em sexo – mas não é isso que a maior parte da humanidade faz durante o dia? Lembra e muito Porks, American Pie e outros similares. Seth Rogen aparece, desta vez, como um policial pirado e nem um pouco ético. O filme é feito para o público masculino e vai fazer muito sucesso em dvd. E futuramente na tevê - mas quando o dublarem, perderá muito de sua espontaneidade. Ah, se ligue nos créditos de abertura: o visual remete aos anos 70 do século passado.

quarta-feira, outubro 24, 2007

O Passado



O passado está sempre presente em nossas vidas, por mais que tentemos apagar certas lembranças. O novo filme do brasileiro-argentino Hector Babenco, O Passado, baseado em romance de mesmo nome do argentino Alan Pauls, faz refletir e não é muito recomendado para depressivos ou com propensão. Além do que, mostra que histórias de amor costumam se repetir ad eternum.
O Passado é um belo filme, tendo como pano de fundo uma linda e melâncólica Buenos Aires.
O tradutor e cocainômano Rimini (Gael Garcia Bernal, de Amores Brutos, e com ótimo desempenho) está separado da mulher Sofia (a excelente Analía Couceyro, que tem um rosto de traços fortes e exagerados, lembrando muitas algumas atrizes dos filmes de Almodóvar), depois de 12 anos de casados. O término do relacionamento, começado ainda na adolescência, não foi bem assimilado por nenhum deles, mesmo que tenha sido encerrado de comum acordo.
Mas enquanto Rimini tenta tocar a sua vida, namorando outras mulheres, entre elas a modelo e ciumenta Vera (a bonita Moro Angheleri), e a também tradutora Carmen (Ana Celentano, que protagoniza com Gael uma bela cena de sexo, sem apelações), Sofia não o deixa em paz. A moça, visivelmente alterada, faz de tudo para atrapalhar Rimini e suas tentativas de recomeçar a vida. E isso trará consequências graves para ele, que enfrentará uma grave crise de depressão. O Passado tem ainda uma rápida participação do recém-falecido ator Paulo Autran como um palestrante senil, que não se desgruda de uma jarra de água.
O único problema do filme é que a história vara algumas décadas e os personagens parecem não envelhecer - o máximo que acontece é o cabelo de Sofia ficar comprido ao longo da história, talvez para acentuar a sua insanidade. Porém este detalhe não desmerece O Passado, que é presente e futuro para muitos de nós.

JOGOS MORTAIS 4



Ou a série se encerra agora ou se arrisca a virar aquela cine-série que perderá o respeito de seus fãs ao longo do tempo, como Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. Em Jogos Mortais 4, direção de Darren Lynn Bousman, não há muita novidade em relação aos outros três filmes anteriores, a não ser a explicação do porque Jigsaw (Tobin Bell, que nasceu mesmo para fazer este papel) se tornou o assassino serial mais sádico do cinema. No novo episódio, mesmo morto, ele continua manipulando aqueles que julga terem cometido graves erros em suas vidas e por isso devem pagar. As vítimas têm chance de salvação, desde que concordem em seguir as regras impostas por Jigsaw. O filme é feito sob medida para quem gosta de sadismo - e cá para nós, o "cara" que projetou os aparelhos utilizados pelo assassino contra as suas vítimas tem uma mente muito doentia. Para estômagos fortes, sádicos e masoquistas de plantão. Não necessariamente nesta ordem. Ah, o filme começa com uma autópsia sendo feita, e passo a passo.

People - Histórias de Nova Iorque



Há 15 anos Robert Altman fez um excepcional filme chamado Short Cuts - Cenas da Vida. O problema é que a fórmula se tornou uma praga. Às vezes se acerta a mão, outras se erra feio. E os outros 33% fazem um filme morno, caso de People - Histórias de Nova Iorque, de Danny Leiner. Exatamente um ano após os atentados de 11 de setembro de 2001, vários moradores nova-iorquinos tentam levar suas vidas monótonas adiante, sem rastros de que houve um grande trauma na Big Apple. Aqui não sabemos em nenhum momento se algum personagem perdeu um ente querido nos atentados. E não fossem os letreiros no começo e fim do filme, não saberiamos se tratar da cidade e seu grande trauma. Há momentos singelos, como o da personagem de Olympia Dukakis, que vive no marasmo com o marido preguiçoso. Já na parte final da vida, ela acha ter encontrado o verdadeiro amor com um antigo colega de escola. Enfim, um filme sonolento.

quinta-feira, outubro 18, 2007

INVASORES



Está faltando originalidade em Hollywood, e faz tempo...Mais uma refilmagem de Body Snatchers, ou Invasores de Corpos. Com Nicole Kidman, sempre bela, a nova versão - Invasores, de Oliver Hirschbiegel (A Queda - As Últimas Horas de Hitler), é um filme rasteiro. Desta vez não há o fantasma do comunismo nos seres extraterrestres que invadem os corpos dos humanos e os tranformam em seres meio zumbis (nenhuma relação com aqueles comedores de cérebros), e meio autômatos. O objetivo dos alienígenas é dominar o mundo, só que agora com uma mensagem pacifista no meio, e muita escatologia (a penetração nos corpos se dá através do vômito). Invasores perde em léguas para as versões anteriores, de 1956, 1978 e 1993, mesmo assim prende a atenção, pois fica aquele suspense - Nicole Kidman e seu par romântico, Daniel Craig, ele mesmo, o 007, conseguirão escapar da perseguição alienígina, enquanto protegem o garoto que tem o antivírus para reverter o processo de transformação?

quarta-feira, outubro 10, 2007

tropa de elite



Talvez seja exagero classificar Tropa de Elite, de José Padilha (Ônibus 174), como o melhor filme brasileiro do ano ou de todos os tempos. Tá, é exagero. Baseado no livro Elite da Tropa, de Andrfé Batista, Rodrigo Pimentel e Luís Eduardo Soares, pode ser, talvez, o mais violento de todos. Antes mesmo de chegar às telas grandes, o filme se tornou fenômeno de pública e crítica através da pirataria, e já está nos planos da Rede Globo para ser transformado em seriado.
Tropa de Elite, que se passa em 1997, mostra vários lados de uma mesma moeda. Tudo contado em off pelo capitão Nascimento (Wagner Moura, do seriado Sexo Frágil e filmes como Saneamento Básico e Carandiru). O personagem, idealista, é extremamente violento e ao mesmo tempo vive uma crise emocional - sua esposa está prestes a ganhar um bebê e ele procura um substituto, pois não suporta mais a pressão de seu serviço no Bope (Batalhão de Operações Especiais da polícia do Rio de Janeiro), formado por policiais incorruptíveis e que combatem o tráfico nos morros cariocas. Dois deles têm condições de substituí-lo: o negro Matias (André Ramiro), intelectual e que estuda direito numa faculdade da zona sul e esconde sua condição profissional dos colegas mauricinhos e que gostam de puxar um fuminho. Entre eles a namorada, que tem uma ONG num violento morro da cidade. E o melhor amigo de Matias, Neto (Caio Junqueira), que é mais impulsivo. Um completa o outro e isso não passa despercebido por Nascimento. Matias, aliás, é centro de uma das melhores cenas do filme, quando em sala de aula, tenta defender a polícia, da qual faz parte, ao mesmo tempo que não pode se identificar e culpa os colegas pelo tráfico, pois "se eles não comprassem drogas" haveria menos criminalidade.
Porém é Wagner Moura o dono do espetáculo. Seu personagem chega a meter medo e participa de cenas que vão virar clássicas. Numa delas, ela dá uma violenta bronca na esposa, ao chegar em casa irritado. "Não fala nunca mais do meu trabalho!", berra ele para a mulher grávida, que ouve tudo calada e apavorada. Noutra, ele ameaça sodomizar um traficante com um cabo de vassoura, se este não lhe passar uma informação. Já o treinamento dos aspirantes a entrar no Bope remete ao clássico Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987), de Stanley Kubrick. Os recrutas sofrem o diabo na mão dos instrutores, com direito a comer a comida direto do chão sujo. Muita gente vai revirar o estômago e achar exagerado, mas acho que a realidade pode ser pior.

STARDUST




Ah, um conto de fadas que os adultos também podem curtir - Stardust, o Mistério da Estrela, de Matthew Vaughn, que conta a caçada a uma estrela em forma de ser humano, Claire Daines (A Garota da Vitrine). E a busca é do garoto Tristan (Charlie Cox), que a prometeu para a mulher amada e mimada, é da bruxa, e que bruxa, Michele Pfeiffer, em busca da juventude eterna, e pelos herdeiros do trono de Stormhold (quem encontrar será coroado rei). Claro que os caminhos de todos serão cruzados.
Baseado em obra do escritor Neil Gaiman, Stardust tem, para um conto de fadas, momentos, digamos assim, completamente sádicos e que passam desapercebidos em meio a tantos efeitos especiais, piadas e belas mulheres passeando pela telona. E tem ainda Robert de Niro encarnando um pirata gay. Divertido.

Pathfinder (Os Desbravadores)



Está sendo considerado o pior filme do ano nos Estados Unidos. E a revista Set deu nota zero. Olha, não vou chegar a extremos com Pathfinder (Os Desbravadores), que opõe vikings e nativos americanos na América do Norete do século X. Temos a história de Ghost (Karl Urban), abandonado pelos vikings numa incursão anterior, quando garoto. Que será criado pelos nativos e quando os nórdicos retornam, 15 anos depois, destruindo e matando todos que cruzam com eles, Ghost parte para a vngança, pois seus ancestrais matam os, vá lá, índios que o criaram. E até aí a coisa anda, mesmo porque registros indicam que os noruegueses andaram pelo América antes de Colombo.
O diretor Marcus Nispel consegue criar momentos de tensão e suspense, com muitos membros transpassados e decepados. Pathfinder é um filme extremamente "cueca" e que se, fracassar no cinema, fará muito sucesso nas locações em dvd. Lembra muito Conan em seu visual, a aventura descamba, porém, quando Ghost começa a dar uma de 007, Triple X e Rambo, e arrancando risos da platéia quando "inventa" o snowboard e a escalada. Ai a seriedade vai por água abaixo. Mas não deixa de ser um baita filme de ação.

Putz! A Coisa Tá Feia.




Um desenho animado europeu e baseado em conto de Hans Christian Andersen - Putz! A Coisa Tá Feia, de Michael Hegner e Karsten Kiilerich, recria a história do patinho feio. Aqui, criado por um rato prá lá de vigarista e interessado apenas em levar o Feio para o circo, onde será exposto como a criatura mais feia e desajeitada do mundo. E em sua jornada, vai parar num galinheiro - evocação de A Fuga das Galinhas -,foge de uma ratinha e seus capangas e é atormentado por uma patinha, que arrasta suas asas para seu pupilo. Preste atenção no nome do rato, Ratso, uma referência ao trambiqueiro interpretado por Dustin Hoffman em Perdidos na Noite. Para curtir com os pequenos.

Morte no Funeral



Alan Tudyk (de Piratas do Caribe) rouba a cena em Morte No Funeral (Death at the Funeral), com seu personagem viajando depois de tomar, por engano, uma pílula de LSD. Isso, porém, é apenas uma ponta do iceberg na bela comédia de Frank Oz (Os Safados e A Pequena Loja de Horrores), que faz de um velório uma doideira total. Lembra em certos momentos a comédia de Alfred Hitchcock, O Terceiro Tiro. Um morto, familiares estressados e um anão que foi amante do falecido e que quer uma grana para não contar isso.
São jorradas piadas em cima de piadas, todas hilárias, e mesmo quando busca o escatológico, não agride o estômago do espectador. O final, pena, não foge ao convencional, com direito a discurso conciliatório. Só que é o de menos, não apagando os bons 80 minutos anteriores.

Metal: Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal



A música mais maldita de todos os tempos, o Heavy Metal tem um documentário excelente: Metal, A Headbanger's Journey, do antopólogo e roqueiro canadense Samuel Dunn. Com excepcionais imagens, clássicos e entrevistas com alguns dos principais nomes do estilo, Dunn elucida o porque do fascínio de milhões de pessoas pelo Heavy metal. Dunn, que se apaixonou pela música aos 12 anos ouvindo The Number of the Beast, do Iron Maiden, que chegou a escutar 21 vezes no mesmo dia, vai lá nas raízes dos negros do sul dos Estados Unidos, nos veteranos do Black Sabbath, do guitarrista Toni Iommi.
E o antropólogo e headbanger (odeio o termo metaleiro, invenção da Globo em 1985 quando do Rock in Rio) faz entrevistas sensacionais com Bruce Dickinson, vocal do Maiden, Dio e seus incríveis 1,50m e que no palco se transforma num gigante, Dee Snider, do Twisted Sister. O vocalista em 1984 lutou contra a censura e venceu e as cenas dele no congresso americano, derrubando um por um os argumentos de Tippy Gore, esposa de Al Gore, e outros políticos conservadores, que classificavam o heavy como coisa de degenerados...Tem Robie Zombie de cara limpa, Geddy Lee, do Rush, e os nomes da nova geração, como as bandas nórdicas. Enfim, prá todos os gostos dos adoradores do metal. Pena que faltou o pessoal do Judas Priest e do AC/DC. O Metallica e o Megadeth também ficaram fora, mas já falaram tanto, que não tem mais nada de novo a dizer. Batam a cabeça!

Bem-Vindo a São Paulo



Ao contrário de Paris, Te Amo, em que a capital francesa é dissecada em 18 curtas de cinco minutos, em Bemvindo a São Paulo, com direção, entre outros de Amos Gitai, Philippe Noyce, Maria de Medeiros e Daniela Thomas, a capital paulista e terceira maior cidade do mundo, atrás de Los Angeles e Cidade do México, é apresentada por um olhar documental, crítico e histórico - desde a sua origem, passando por seus bairros, seus moradores conhecidos, desconhecidos, exóticos ou não. E é um filme chato, disforme, desperdiçando momentos preciosos com uma garçonete japonesa ou um desfile de uma escola de samba ou com o diretor Leon Cakoff passeando pela Avenida Paulista e tentando dialogar com um morador de rua, visivelmente doente mental, sobre o iraniano Abas Kiarostami. Pelo menos desta vez Caetano Veloso ficou apenas como o narrador do filme, que decididamente, confirma, apesar de São Paulo ser o centro econômico e cultural do país, é uma cidade muito feia. Rápido, pense em um ponto turístico de beleza da cidade...

quinta-feira, outubro 04, 2007

O Homem que desafiou o Diabo



A comédia não é tão diferente de outras tantas passadas no sertão nordestino. Mas talvez chame a atenção por ter sido filmada no Rio Grande do Norte - O Homem que Desafiou o Diabo, de Moacyr Goés, que dirigiu ainda os fracos Dom (2003) e Trair e Coçar é só começar (2006). A trama é uma espécie de os 12 trabalhos de Hércules e tem como base o livro As pelejas de Ojuara, de Nei Leandro de Castro.
A trama é quase atemporal e mostra a virada do caixeiro viajante José Araújo no anti-herói Ojuara (ambos interpretados por Marcos Palmeira). Boemio e sedutor, o malandro acaba se envolvendo com a quarentona Dualiba (Livia Falcão), filha do Turco (Renato Consorte), que o obriga a desposar a moça, não tão moça assim, depois de "fazer mal" à ela. José Araújo, então passa a viver o inferno na terra com a dupla, até que num dia após descobrir ter se transformado em motivo de piada na cidade, decide recomeçar do zero. Dá uma surra na mulher e no sogro, vai ao cartório e diz ao escrivão, o veterano Lúcio Mauro: "escreve aí, José Araújo morreu. De caganeira!". Nasce então Ojuara, destemido herói que desbrava o sertão nordestino, salvando os oprimidos e comprando briga com o "coisa ruim", o engraçado Helder Vasconcelos. Em suas andanças, se apaixona pela prostituta Genifer (a bela Fernanda Paes Leme), e convive com figuras como o corcunda (o hilário León Góes, irmão do diretor). E tem citações a filmes de Glauber Rocha e até mesmo a Cidade de Deus, quando um matador (José Firmino da Hora) solta a pérola: "o meu nome é Zé Pretinho". Quem viu vai se lembrar.
Marcos Palmeira está bem no papel e simplesmente participa de todas as cenas. Todas. O Homem que Desafiou o Diabo, no entanto, traz problemas para quem não está habituado ao sotaque utilizado por alguns personagens no filme. As falas são muito rápidas e com termos que fazem o espectador ficar perdido em alguns momentos. Mas o mesmo valeria para uma pessoa do nordeste assistindo um filme gaúcho. Enfim, um filme mediano, mas para ser assistido.

Resident Evil 3



Resident Evil é um video-game que, sinceramente, desconheço (nunca joguei na vida, nem mesmo Pac-Man...). Bom, este jogo se tornou uma cinesérie de relativo sucesso, com a bela atriz Milla Jovovich (pronuncia-se Iôvoviti), de O 5º Elemento e Joana D'Arc de Luc Besson, e agora chega em sua terceira parte. Nela, a personagem Alice continua fugindo dos zumbis que tomaram conta da Terra, ao mesmo tempo em que é seguida por um cientista, claro, loucoi, pois o seu sangue possui o anti-vírus para combater a epidemia. Então no cerca dos noventa minutos de filme, Alice encontra um comboio de sobreviventes liderado por Claire (Ali Larter, a Nick de Heroes), que procura um lugar seguro e livre dos zumbis. No meio de muito tiro, sangue, cabeças explodindo, evocações de Mad Max, Os Pássaros de Hitchcock, Extermínio, Planeta dos Macacos. Apenas para os fãs do gênero.

Instinto Secreto (Mr. Brooks)



Pena que os distribuidores nacionais subestimem a inteligência do espectador. Para eles, a história tem de ser sempre explicada nos títulos, pois temem que as pessoas deixem de ir ao cinema assistir aos filmes, se não estiver no cartaz aquele subtítulo idiota ou mesmo um novo nome para a película. Mr. Brooks, de Bruce A. Evans, é simples e sugestivo, demonstrando que esse senhor deve ser um cara legal. Mas no Brasil lhe empurraram um Instinto Secreto. Tá, vá lá.
Mr. Brooks é um inspirado Kevin Costner, exemplar pai de família, empresário, filantropo e eleito o homem do ano em Portland, Oregon. Só que ele também é um serial killer, identificado como o assassino da digital. Pensando em se aposentar, e atormentado pelo seu inconsciente (William Hurt, de O Beijo da Mulher-Aranha), com quem mantém delirantes bate-papos - o personagem é claramente esquizofrênico) -, ele é flagrado em seu último crime e passa a ser chantageado pelo doidão Sr. Smith (Dane Cook), que por sua vez é o suspeito da detetive Tracy Atwood (Demi Moore, de volta as telonas, com direito a sua voz roupa e extrema magreza, mas já mostrando que os anos estão pegando pesado com ela). Um verdadeiro jogo de gato e rato. Filme surpreendente e que tem o poder de prender o espectador do início ao final. Mr. Brooks, afinal, será pego?

O Vigarista do Ano



Richard Gere nunca recebeu o mérito que merece. Apesar de ter protagonizado dezenas de filmes de sucesso, suas atuações sempre foram acrescidas de um porém...Mas Gere é um bom ator, vide o Vigarista do Ano (The Hoax, de Lasse Hallström, alguém aí lembrou do inesquecível filme sueco Minha Vida de Cão?), em que interpreta o escritor Clifford Irving, que escreve uma falsa biografia do milionário, excêntrico e recluso Howard Hugues (interpretado em O Aviador, de Martin Scorcese, por Leonardo Di Caprio), nos anos 70 do século passado. Além da bela atuação, Richard Gere tem a companhia do sempre bom Alfred Molina (o Diego Rivera, de Frida, e Dr. Octopuss, de Homem-Aranha 2), que faz o seu quase abobalhado parceiro. O elenco ainda tem Marcia Gay Harden (Pollock) e a francesinha Julie Delpy (Antes do Amanhecer). Prestem atenção à reconstituição de época - praticamente perfeita e fascinante. Um dos grandes filmes do ano.