quinta-feira, janeiro 28, 2016
"Trumbo - Lista Negra" (Trumbo)
Dalton Trumbo foi um escritor e roteirista norte-americano e comunista de carteirinha. O drama que ele viveu no final dos anos 1940 e na década seguinte é contada no belo drama "Trumbo - Lista Negra" (Trumbo), direção de Jay Roach.
Trumbo foi perseguido por suas ideias esquerdistas no começo da Guerra Fria. Perseguido pelo macarthismo, foi incluido na lista dos "Dez de Hollywood", roteiristas da meca do cinema que se negaram a colaborar com as investigações que perseguiam os considerados subversivos. Na época, ele era o melhor salário da indústria, mas acabou despedido e preso. Após sua libertação, acabou sobrevivendo escrevendo roteiros sob pseudônimos para estúdios menores.
Por ironia, ganhou por duas vezes o Oscar, por "A Princesa e o Plebeu" e "Arenas Sangrentas". Só saiu do ostracismo quando procurado por Kirk Douglas para roteirizar o clássico "Spartacus" e depois por Otto Preminger para escrever o épico "Exodus". Os dois, apesar da pressão dos anti-comunistas, colocaram o nome de Trumbo nos créditos das obras. Em 1971, ele mesmo dirigiria "Johnny Vai à Guerra", baseado em seu próprio livro, lançado em 1939.
O filme é uma verdadeira lição de história, mostrando um período odioso da América, com a Caça às Bruxas, onde muita gente perdeu emprego, casa, família e em certos casos, até a própria vida. Bryan Cranston, que viveu o professor Walter White, que vira traficante em Breaking Bad, é a maior qualidade do filme, com uma interpretação magistral de Trumbo, incorporando até mesmo seus tiques e manias. O personagem é humanizado, com suas contradições. Era um homem que pensava na humanidade, mas tiranizava sua própria família.
Os personagens coadjuvantes também estão muito bem, como por exemplo a colunista de fofocas e que perseguia os esquerdistas, usando até chantagem, Hedda Hopper, interpretada com perfeição por Hellen Mirren. Ou o John Wayne de David James Elliot, fascista até o último fio de cabelo.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=n0dZ_2ICpJE
Duração: 2h04min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Anomalisa" (Anomalisa)
Uma animação que é para poucos. "Anomalisa" (Anomalisa), direção de Charlie Kaufman e Duke Johnson, mostra a solidão e a desilução dos tempos atuais, interpretados por marionetes. E definitivamente não é para crianças. Uma tematica completamente adulta.
O escritor de auto-ajuda Michael Stone (voz de David Thewis) está em Connecticut, onde fará uma palestra para profissionais de atendimento ao consumidor. Longe da mulher e do filho, ele encontra-se em um hotel, enquanto espera a hora de dar sua palestra. De repente, decide procurar uma antiga namorada, que não vê há 10 anos. O encontro, porém, não sai como o esperado, e Michael volta para seu canto.
Mas acaba trombando com duas garotas que estão no hotel para assistí-lo. E ele se encanta com Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh), que se sente feia, pois tem uma cicatriz no rosto. A empatia dos dois, no entanto, é instantânea, e Michael se apaixona por Lisa.
Os dois, então, iniciam uma relação onde a neurose e a angústia de ambos está muito presente. Quem espera uma animação com piadas e momentos divertidos irá se decepcionar. Pois aqui o que está presente é a reflexão sobre a vida e do que fazemos dela.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=2W8qk39Rmbk
Duração: 1h 30m
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Caçadores de Emoção - Além do Limite" (Point Break)
Tão logo acabou o filme, fui para casa para rever o original. E conclusão, o remake não dá nem para a saída. Falo de "Caçadores de Emoção - Além do Limite" (Point Break), direção de Ericson Core, refilmagem de "Caçadores de Emoção", dirigido por Kathryn Bigelow, que anos depois ganharia o Oscar por "Guerra ao Terror" e que tinha como protagonistas Patrick Swayze, Keanu Reeves e Gary Busey.
Na trama, o novato investigador do FBI Johnny Utah (Reeves), que tem de se infiltrar numa gangue que pratica assaltos a bancos usando máscaras de ex-presidentes norte-americanos.
Na nova versão, Johnny Utah é um ex-praticante de esportes radicais interpretado por Luke Bracey. Também novato no FBI, sua missão é praticamente a mesma, mas se no primeiro filme a ação se restringia ao litoral californiano, agora os ladrões agem ao redor do mundo. E nunca ficam com o dinheiro, que como Robin Hood, distribuem aos pobres. A gangue é liderada por Bodhi (Édgar Ramírez), que aceita Utah tranquilamente em sua turma.
As paisagens são maravilhosas, de encher os olhos. O filme passeia pelo Taiti, que se passa pelo litoral francês, pelos Alpes Suíços, pela Venezuela. O problema é que falta carisma aos seus personagens. Bracey é muito fraco e parece atuar no automático. Perto dele, Reeves é genial. O vilão, que na versão original estava a cargo de Patrick Swaize, aqui é vivido por Ramírez, que é um bom ator, mas totalmente perdido.
O filme até provoca sono.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=trnui1qYAOo
Duração: 1h53min
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Pai em Dose Dupla" (Daddy's Home)
O clichê do clichê nesta comédia horrorosa. "Pai em Dose Dupla", direção de Sean Anders, traz Will Ferrell e Mark Wahlberg duelando. Ferrell é Brad, um executivo de uma rádio, casado com Sara (Linda Cardelini) e padrasto de duas crianças. E elas não o tratam como pai, por mais que ele se esforce. O tratam com desprezo, para seu desespero.
E as coisas pioram quando o pai das crianças, Dusty (Wahlberg) reaparece, com seu jeito descolado. E passa a disputar, de forma desleal, o amor delas e também o de Sara, com Brad. Dusty e Brad são completamente opostos. Um se veste de terno e gravata e é todo certinho, fazendo trabalhos voluntários na escola e na comunidade, enquanto o outro é largadão, adepto de motociclismo e irresponsável.
Mas "Pai em Dose Dupla" é um filme previsível, com personagens estereotipados e cenas sem a mínima graça.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=cjqkqqO_WTI
Duração: 1h36min
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, janeiro 21, 2016
"Joy - O Nome do Sucesso" (Joy)
Depois dos bens sucedidos “O Lado Bom da Vida” e “Trapaça”, o diretor David O. Russel volta a a reunir seus atores preferidos Jennifer Lawrence, Bradley Cooper e Robert De Niro, em “Joy – O Nome do Sucesso” (Joy), baseado em uma história real, de uma mulher conhecida nos Estaod Unidos por suas invenções, que a tiraram da quase miséria para a fortuna.
Joy (Jennifer Lawrence) é uma mãe jovem que cria os dois filhos na mesma casa que divide com a mãe Terry, vivida por Virginia Madsen, a avó Mimi, interpretada por Diane Ladd, e o ex-marid Tony (Edgar Ramírez). Quando tem de abrigar na velha casa o pai, o namorador Rudy (De Niro), Joy acaba tendo uma visão durante um passeio de barco com a namorada dele, Trudy (Isabella Rosellini).
Ela acaba criando um esfregão que evita os cortes nas mãos das donas de casa. Após um começo vacilante, onde teve problemas de comercializá-lo, Joy começa a ter sucesso após convencer o executivo Neil (Cooper), que ela mesma deve aparecer na tevê para vender sua invenção.
Só que desta vez faltou algo para que o filme embalasse. Ele é repleto de personagens estereotipados, por mais que se baseie em fatos reais. A mãe de Joy é uma viciada em televisão, passando o dia deitada na cama assistindo uma soap-opera com ares mexicanos, o pai é um mulherengo incorrigível, e o ex-marido é um cantor frustrado que mora no porão da casa da família, mesmo após a separação.
Jennifer Lawrence, porém, consegue convencer, mesmo com seus 25 anos, no papel de uma mulher que cria dois filhos, e sustenta a família. Mas nem ela consegue salvar o filme, que é fraco, convencional, e contando uma biografia, não consegue inovar em nada. Faltou algo...
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=jbiMQqKGTxY
Duração: 2h04min
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Irmãs" (Sisters)
As comediantes provenientes do Saturday Night Live Tina Fey e Amy Poehler protagonizam a comédia de altos e baixos “Irmãs” (Sisters), direção de Jason Moore. O filme mostra o relacionamento de Kate e Maura, que chegam aos 30 e poucos anos frustradas. A primeira, vivida por Fey, mal consegue sobreviver como manicure e cuidar da filha adolescente, enquanto que Maura, interpretada por Poehler, sempre deu azar no amor e está saindo de um divórcio difícil.
As duas sempre foram muito diferentes. Mas resolvem se unir quando descobrem que a casa onde passaram a infância e a adolescência em Orlando, na Flórida, foi colocada a venda pelos pais delas. Para se despedir do lugar, elas decidem promover uma festa e chamar aquelas pessoas que cresceram com elas. Agora todos passados dos 30 anos, entediados e com filhos.,
A festa, aliás, é a melhor coisa do filme. Depois de um começo meio xoxo, onde ninguém sabe o que fazer, a turma acaba caindo na bebedeira e nas drogas, quase destruindo a casa. O humor funciona a contento aqui, ainda mais com a presença engraçada do gordinho Alex (Bobby Moynihan), também egresso do SNL. Sob efeitos de álcool e drogas, ele fica completamente insano. Além do que Tina Fey e Amy Poehler tem um tremendo “time” nos diálogos, repletos de trocadilhos e tiradas inteligentes.
Mas pena que no final, o diretor Jason Moore, perca a mão, transformando uma comédia arrasa-quarteirão num dramalhão convencional, apelando para o sentimentalismo barato e totalmente fora de propósito. Deixou de ser divertido para ser piegas.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=NYASryd1xNw
Duração: 1h57min
Cotação: regular
Chico Izidro
"A 5ª Onda" (The 5th Wave)
A Terra mais uma vez está sendo invadida por extraterrestres. Em "A 5ª Onda" (The 5th Wave), direção de J. Blakeson, o ataque vem em cinco fases, com o objetivo de exterminar os humanos. Na primeira onda, a eletricidade é desligada e nada mais funciona. Na segunda onda, 40% da população morre após um tsunami. A terceira onda chega através de um vírus transmitido pelas aves, que matam mais humanos. Na quarta onda, os extraterrestres descem à Terra e se infiltram na população restante.
O que seria a quinta onda? O extermínio total da raça humana. A adolescente Cassie (Chloe Grace Moretz), que perdeu os pais, tem de resgatar o irmão mais novo, que está com o exército, que está formando um grupo de crianças para tentar salvar a Terra. O problema é que os militares não são tão inocentes como se imagina.
O filme até começa bem, com o suspense permeando cada passo dos alienígenas e da jovem Cassie, que é obrigada a cair na clandestinidade para sobreviver. Detalhe é que não se sabe mais quem é humano ou ET, pois esses assumem a forma de seus subjugados. A trama, de repente, passa a se resumir a um romance mau-resolvido entre a garota e um jovem que a salvou da morte. E nada é convincente. A facilidade com que Cassie carrega uma metralhadora, apesar do corpo mirrado é absurda. Ou de como os humanos resistentes conseguem entrar no esconderijo alienígena de forma tão fácil. E vão se encontrando pelos corredores na maior tranquilidade. Será que conseguirão acertar nas próximas duas partes?
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=DxCntPIs38U
Duração: 1h57min
Cotação: regular
Chico Izidro
"Ausência"
O garoto Serginho (Matheus Fagundes) com seus 14 para 15 anos, não tem uma adolescência comum. Sua mãe é alcoólatra e mantém o apartamento fazendo bolos por encomenda, além de cuidar ainda do irmão menor. O jovem se vira na feira, onde ajuda um tio em sua barraca de vegetais, para ajudar em casa.
“Ausência”, direção de Chico Teixeira, não é um filme fácil. Pois mostra a vida de Serginho, que sofre, como diz o título, com a ausência do pai, que abandonou a família e encontra-se em lugar incerto e não sabido. E também com uma vida comum, própria para a sua idade.
Enquanto se vira para ajudar em casa com os trocados que ganha na feira – ele sonha que o tio assine a sua carteira -, Serginho começa a conhecer o amor com uma japonesinha que também trabalha na feira. E encontra no professor Ney (Irandhir Santos), um cliente para quem Serginho faz entregas, o substituto para seu pai. Ele é um homem paciente, solitário, que escuta as lamúrias do garoto, sempre com um conselho.
Porém tanta carência cobrará um preço para a amizade de Serginho e Ney, em cena tensa e angustiante. O garoto Matheus Fagundes é um achado, dando força a este filme, que mostra uma São Paulo melancólica, vazia. Gilda Nomacce, que vive a mãe de Serginho, também está muito bem, reforçando nas cenas em que aparece bêbada ou deprimida, o buraco que é a vida do garoto. Um ótimo filme realista.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=SmoJh9bwtNY
Duração: 1h27min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Vai Que Dá Certo 2"
Já escrevi isso antes, mas ratifico. Uma comédia tem de fazer rir. Se não consegue, é porque fracassou redondamente. É o caso de "Vai Que Dá Certo 2", direção de Maurício Farias, que também tentou aumentar o leque, colocando momentos de ação e suspense no longa.
Ocorre um tropeço tremendo. Em cerca de 90 minutos, não existe nada que faça a gente dar uma mísera risada. Sem contar que as cenas de ação não funcionam. O filme é uma continuação de 2012, em que um grupo de amigos tentava enriquecer após a tentativa de aplicar um golpe. Agora, eles continuam quebrados, vivendo como adolescentes tardios.
E surge a chance de ganhar uma grana quando cai nas mãos de Rodrigo (Danton Mello), Tonico (Felipe Abib) e Amaral (Fábio Porchat) um vídeo com cenas de sexo de Elói (Vladimir Brichta) com uma garota. Detalhe: Elói iria dar o golpe do baú em uma milionária, e o vídeo destruiria seus planos. Só que, evidente, as coisas dão erradas e eles passam a ser perseguidos pelo vilão e também por dois policiais corruptos.
O resultado é um filme pobre, com diálogos forçados, muitos deles rebuscando o mundo pop, como por exemplo, citações a 007. Enfim, “Vai Que Dá Certo 2” não consegue ser engraçado, traz o pior de Fábio Porchat, histérico e repetitivo, enquanto que Danton Mello parece viver num drama, passando o tempo todo com cara triste e sofrida. O primeiro “Vai Que Dá Certo” cativava, com um humor ágil, boa história. Aqui fizeram tudo ao contrário.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=9UoCQnaTQSE
Duração: 1h30min
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, janeiro 14, 2016
“Creed – Nascido Para Lutar” (Creed)
Em 1976, Sylvester Stallone criou o personagem que se tornaria um ícone pop, o boxeador Rocky Balboa. O americano saiu das sombras, ganhou fama e fortuna. Pois 40 anos depois, o pugilista segue sua trajetória, agora no sétimo filme da cinesérie, “Creed – Nascido Para Lutar” (Creed), direção de Ryan Coogler.
Porém agora Rocky, vivido pelo próprio Stallone, aos 69 anos, é um coadjuvante de luxo na história.
A peça principal é o jovem Adonis Johnson (Michael B. Jordan, que também viveu o novo Tocha Humana em Quarteto Fantástico). Ele é simplesmente o filho de Apollo Creed, no início adversário feroz e depois grande amigo de Rocky e que seria morto no filme número 4 pelo russo Drago (Dolph Lundgren). Pois Apollo morreu sem nunca reconhecer o filho, fruto de um relacionamento extraconjugal.
Agora, com seus quase 30 anos, Adonis trabalha no mercado financeiro em Los Angeles, tendo sido criado pela esposa oficial de Apollo, Mary Anne (Phyllicia Rashid, que vivia a esposa de Bill Cosby no famoso seriado dos anos 1980). Só que em suas veias corre o sangue de um lutador e não de um yuppie. Então ele larga tudo e parte para a Filadélfia, onde deseja ser treinado por Rocky e se tornar um pugilista profissional. Mas ele não quer ser reconhecido como o filho de Apollo, que era interpretado por Carl Weathers, de “Predador”, pois não deseja ter privilégio e fugir de comparações.
No meio disso tudo, ele se envolve com a cantora e compositora Bianca (Tessa Thompson). E apesar de sua prepotência e confiança, Adonis verá que não é tão fácil assim vencer no meio do boxe.
“Creed – Nascido Para Lutar” segue a escola americana de filmes sobre o esporte chamado nobre, com cenas muito bem filmadas. Note quando a câmera fica ao lado dos boxeadores no ringue, com closes espetaculares. Claro que, às vezes, o filme escorrega para o sentimentalismo e soltando umas frases de auto-ajuda. Mas nada que cause náuseas. E é bom ver que “Creed – Nascido Para Lutar” é repleto de ótimas piadas e auto-referências.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=8VTQPTu6AQU
Duração: 2h14min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Carol" (Carol)
O filme é baseado em livro lançado por Patricia Highsmith em 1950 sob o pseudônimo de Claire Morgan. Claro, a trama é forte e para aquela época completamente contestatória. Em "Carol" (Carol), dirigido por Todd Haines, vemos um relacionamento lésbico entre a dona de casa Carol Aird (Cate Blanchett) e a vendedora de uma loja de departamentos em Nova Iorque Therese Belivet (Rooney Mara).
Tudo começa quando Carol vai comprar um presente de Natal para a filha pequena e conhece Therese. Aos poucos, as duas vão criando uma amizade - e Carol ainda está se separando do marido, Harge (Kyle Chandler). O problema é que Carol tem um passado onde já havia tido um relacionamento homossexual. E isso é motivo para que ela possa perder a guarda da filha. Ainda mais que estamos nos anos 1950, cuja reconstituição de época é primorosa, e em que a sociedade ainda não estava pronta para aceitar este tipo de amor.
Então assumir o relacionamento não era fácil. E sendo que tudo é novo para Therese, que se sente compelida a ir para os braços de Carol, mesmo que não se sinta lésbica. As cenas de amor entre as protagonistas não são agressivas para olhares mais conservadores. É tudo mostrado com delicadez.
Cate Blanchette está ótima no papel da mulher de sociedade que não consegue segurar seus impulsos, mesmo que isso custe perder tudo o que conquistou. E Rooney Mara vai ganhando fôlego ao longo do filme. Ah, não é spoiler, mas por ser um filme baseado em história de Patricia Highsmith, fica-se esperando que ocorra algum crime. Que não acontecerá.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=EH3zcuRQXNo
Duração: 1h58min
Cotação: bom
Chico Izidro
"Boi Neon"
A vida nas lidas campeiras não é fácil. O vaqueiro de curral Iremar (Juliano Cazarré) tem como função preparar os bois para os rodeios. Seu dia a dia é passado ao lado do colega Zé (Carlos Pessoa),
a motorista de caminhão Galega (Maeve Jinkings) e a filha desta, Cacá (Alyne Santana). Eles moram no caminhão que também serve de transporte para os bois.
Em "Boi Neon", direção de Gabriel Mascaro, é mostrada a luta diária destes trabalhadores, que viajam pelo interior da Paraíba, sem as mínimas condições de conforto, para ajudar na realização das vaquejadas. Eles não têm muitas perspectivas de vida. Cacá, por exemplo, não quer estudar e sonha em conhecer o pai, mas não se desgruda daquele caminhão. Já Iremar tem um sonho que foge do estilo machão do meio em que vive: habilidoso com linhas e agulhas, ele quer ser estilista e passa as horas vagas desenhando vestidos para Galega, que à noite faz strip para ganhar uns trocos a mais.
Apesar deste clima rural mostrado em "Boi Neon", o diretor Mascaro não poupa em cenas de forte conteúdo sexual. Há um demorado momento em que Iremar transa com uma mulher grávida em uma fábrica de roupas. O personagem de Cazarré também é quase um fetiche, sendo seguido pelas câmeras no chuveiro, nu entre vários homens que se banham e urinando. Meio que desnecessário.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=HNbqCsAwXgw
Duração: 1h41min
Cotação: bom
Chico Izidro
“Steve Jobs” (Steve Jobs)
Depois da mal-sucedida cinebiografia de Steve Jobs protagonizada por Ashton Kutcher, chega nova versão da vida do gênio da informática, batizada exatamente de “Steve Jobs” (Steve Jobs), direção de Danny Boyle, e com o alemão-irlandês Michael Fassbender no papel principal.
Ao contrário de “Jobs”, que focava a vida do personagem em ordem cronológica, desde o final da sua adolescência até a morte em 2011, “Steve Jobs” decidiu pela reprodução de três momentos importantes na vida do personagem. E de como ele era um homem de difícil trato.
A história começa em 1984, com o lançamento do Macintosh. Depois pula para 1988, com o surgimento do NeXT Computer e finaliza em 1998, com o surgimento do Ipod. Entre estes fatos, Boyle mostra o difícil relacionamento com a filha Lisa, que ele se recusava a reconhecer a paternidade. Mas o diretor também não esquece os parceiros de Jobs, como a diretora de marketing Joanna Hoffman (interpretada por Kate Winslet), e os parceiros Steve Wosniak (vivido por Seth Rogen) e o auxiliar Andy Hertzfeld, que ele maltratava impiedosamente.
Fassbender está longe de se assemelhar com Steve Jobs – neste quesito Ashton Kutcher levou de barbada, faltando um pouco de cuidado da produção. Porém a interpretação apresentada por Fassbender é tamanha que até conseguimos enxergar Jobs em sua pele. E o retrato mostrado de Jobs não é dos mais elogiosos, pois é mostrado como um homem cínico, egoísta e egocêntrico. A versão não agradou muito os seus familiares. Mas está lá na telona.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?list=PL7SRsnf63welcMZcV0pL-pC55WlPzoRvF&v=DYCABywVKBw
Duração: 2h02min
Cotação: bom
Chico Izidro
“A Grande Aposta” (The Big Short)
Em “A Grande Aposta” (The Big Short), direção de Adam McKay, baseado em romance homônimo de Michael Lewis, mostra o mundo da especulação imobiliária, que iria quebrar em 2008. O filme mostra especuladores e investidores que sonham com bilhões de dólares em suas contas bancárias.
O filme, porém, não é de fácil assimilação. Principalmente devido aos termos técnicos utilizados pelos personagens, que vão do antissocial roqueiro e dono de uma empresa Michael Burry (Christian Bale), que trabalha de camiseta e short e ao som de thrash metal, ao dono de uma corretora, Mark Baum (Steve Carrell, em ótima atuação, como um homem cansado, mas insistente em seus objetivos e vivendo à sombra do suicídio de um irmão).
Tem ainda o corretor Jared Vennet (Ryan Gosling), que por vezes narra os acontecimentos do filme, mostrando extrema arrogância e ganância. Dos grandes nomes, aparece Brad Pitt, que vive Ben Rickert, um especialista em investimento que é procurado por dois jovens que pretendem entrar no concorrido mundo de Wall Street.
“A Grande Aposta” é daqueles filmes que devem ser vistas mais de uma vez, tal detalhes mostrados a cada cena, além da dificuldade para se compreender o esquema que investe na bancarrota do sistema financeiro para se lucrar. Destaca-se no entanto, a poderosa trilha sonora, que prioriza bandas como Metallica, Pantera, Mastodont e Guns N’Roses.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=4UKz8fyPIEE
Duração: 2h11min
Cotação: regular
Chico Izidro
"Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme" (The Peanuts Movie)
Para começar, você tem de pensar como uma criança de oito anos de idade para curtir "Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme" (The Peanuts Movie), dirigido por Steve Martino. Ele traz os personagens criados por Charles M. Schulz nos anos 1950. A história, na realidade são duas, gira em torno do azarado Charlie Brown, dono do cão Snoopy, que tem como melhor amigo o pássaro Woodstock.
O garoto, por mais que tenha boas intenções, faz tudo dar eerrado. E ele acaba se apaixonando pela garota nova da escola. Só que sem o menor traquejo social, não sabe como chegar nela para bater um simples papo. Ele simplesmente congela e piorando as coisas com a sua timidez.
Em paralelo, Snoopy, que tenta entrar na escola, se passando por humano e sendo sempre expulso, viaja ao se imaginar sendo um piloto durante a I Guerra Mundial e combatendo o piloto alemão Barão Vermelho para salvar a cadelinha Fifi.
Filme leve, divertido e com uma história bonita e final dos mais esperançosos para os tímidos.
Veja o trailer: http://www.foxfilm.com.br/peanuts-o-filme
Duração: 1h28min
Cotação: bom
Chico Izidro
“Tigre Branco” (White Tiger)
Frente russa na II Guerra Mundial. O motorista de um tanque sobrevive milagrosamente ao ter 90% de seu corpo queimado durante uma batalha. Ele se recupera, mas perde a memória, não sabe seu nome, de onde veio, mas não perde suas habilidades na direção de um tanque. Então ao se recuperar é requisitado para uma missão, ao lado de outros dois soldados. Rebatizado de Naydenov (Aleksei Vertkov), uma espécie de João Ninguém em russo, ele tem de tentar localizar e eliminar um tanque alemão que está dizimando as tropas soviéticas.
“Tigre Branco” (White Tiger), direção de Karen Shakhnazaro, mostra uma Europa em seus últimos dias de guerra. A Rússia avança forte e vigorosa para entrar na Alemanha, mas o tanque alemão, uma espécie de fantasma, pois surge do nada e após eliminar tropas do Exército Vermelho, some misteriosamente. Então Naydenov e seus parceiros têm de encontrá-lo e eliminá-lo.
O filme é típico de guerra, com fortes cenas de batalhas. Mas seu suspense é diferente. Afinal, o tanque alemão é um mistério que perturba os adversários. Seus tripulantes nunca são mostrados, e eles deixam um rastro de destruição e morte por onde passam. Enfim, “Tigre Branco” foge dos estereótipos do gênero.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=UimQy3onnts
Duração: 1h44min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
“Eu Sou Ingrid Bergman” (Jag är Ingrid)
Se vivesse hoje, ela seria um astro das redes sociais, arregimentando um grande séquito de seguidores, tanto que gostava de registrar a sua vida. A atriz sueca de “Casablanca” teria completado cem anos em 2015. Em “Eu Sou Ingrid Bergman” (Jag är Ingrid), documentário realizado por Stig Björkman utilizou imagens e fotos feitas pela própria Ingrid, além de cartas e de seu diário, traçando um excelente perfil da atriz.
Ela perdeu os pais ainda cedo e registrar os fatos de sua vida era como mantê-la sempre em evidência, para não esquecer o que havia ocorrido. Iniciou no cinema ainda figurante no final dos anos 1920, e logo se sobressaiu. Inquieta, foi para Hollywood no final da década seguinte e em 1942 estrelaria o clássico “Casablanca”, onde formou par inesquecível com Humphrey Bogart. Anos depois escandalizou a sociedade ao abandonar o marido e a filha e se unir ao cineasta italiano Roberto Rosselini, com quem fora filmar na Itália. Com ele teria outros três filhos, entre eles Isabella Rosselini. Mas Ingrid não sossegaria, pois anos depois deixaria também Roberto para se unir ao produtor de cinema Lars Schimidt. Tudo era registrado incansavelmente pela bela atriz.
O documentário também traz depoimentos de seus quatro filhos, que apesar de terem sido abandonados pela mãe, não mostram nenhum rancor. Pelo contrário, lembram dela como uma mulher alegre, divertida, amável e inquieta. Por isso, as trocas de parceiros, a mudança de países – ela morou em sua Suécia, nos Estados Unidos, na Itália, na França e na Inglaterra.
Ingrid Bergman morreria em 1982, exatamente no dia de seu aniversário, 29 de agosto, aos 67 anos, vítima de câncer. Mas deixou um ótimo registro de sua vida, muito bem aproveitado por Stig Björkman.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=LZCIrkKx7yM
Duração: 1h54min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
“Diplomacia” (Diplomatie)
O trabalho de direção do alemão Volker Schlöndorff está perfeito em “Diplomacia” (Diplomatie), puro teatro filmado, mas sem aquela rigidez costumeira em filmes que seguem este estilo. A obra é baseada em peça homônima escrita por Cyriil Gely, que ficou dois anos em Paris, utilizando os mesmos atores que agora estão na telona, Niels Arestrup e André Dussolier, e se passa em agosto de 1944, em Paris.
A Cidade Luz está em suas últimas horas sob o domínio nazista, depois de quatro anos de ocupação. Derrotados e vendo os aliados às portas da capital francesa, os alemães, comandados pelo general Dietrich Von Choltitz (Niels Arestrup), recebem a ordem de Hitler: colocar a cidade abaixo, destruindo tudo, pontes, prédios históricos, monumentos e fazendo o rio Sena avançar sob as ruas, afogando boa parte da população.
Baseado no hotel Le Meurice, com vista para a Torre Eiffel, Choltitz recebe a inesperada visita do diplomata sueco Raul Nordling (André Dussolier). E este tentará convencer Choltitz a não seguir as ordens do ditador nazista. Os dois passam horas discutindo sobre os horrores da guerra, ética, moral e a beleza de Paris.
O interessante do filme é manter a atenção do público, pois afinal já sabemos o que aconteceu. Paris não seria destruída e está lá até hoje. Arestrup e Dussolier estão excelentes em seus papéis, realizando um excepcional duelo. O filme tem 90% de suas cenas dentro do escritório do general, mas em nenhum momento se mostra desinteressante. Pelo contrário, é repleto de vigor, por causa das atuações e dos diálogos inteligentes e afiados.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=M1ssnjycalo
Duração: 1h24min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
quarta-feira, janeiro 06, 2016
"Os Oito Odiados" (The Hateful E ight)
"Os Oito Odiados" (The Hateful Eight) é o melhor filme de Quentin Tarantino. Ponto. Passados alguns anos após o término da Guerra Civil Americana, mostra oito pessoas confinadas em uma cabana durante uma violenta nevasca nos confins do Wyoming.
Entre eles está o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell), que está levando a criminosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para uma cidade onde ela será enforcada e ele embolsará 10 mil dólares. No caminho da cabana, Ruth aceita meio que a contragosto, dar carona para outro caçador de recompensas, o negro Marquis Warren (Samuel L. Jackson), e o bronco e racista Chris Mannix (Walton Goggins), que se diz o futuro xerife da cidade para onde Daisy está sendo levada.
Ao chegar na cabana, eles irão se deparar com o general sulista Sanford Smithers (Bruce Dern), o carrasco e falante Oswaldo Mobray (Tim Roth), o cowboy silencioso Joe Gage (Michael Madsen) e o mexicano Bob (Demian Bichir), que alega estar cuidando do local enquanto os donos foram viajar por alguns dias. Só que Ruth é desconfiado por natureza e acha que alguns deles podem estar ali para tentar libertar a garota.
E o filme vai se transformando numa espécie de "O Caso dos Dez Negrinhos", com os personagens sendo eliminados aos poucos, e se tentando descobrir quem está aliado de Daisy. Tudo isso imendado por rápidos e furiosos diálogos. E muito mistério, deixando claro que um banho de sangue se aproxima. Tarantino também faz uso do flash-back para esclarecer o que ocorreu antes da chegada de todos aquela afastada cabana. O racismo também está presente, ainda mais que ainda reina ressentimento pela vitória do norte sobre o sul. Atente para a cena em que o personagem de Samuel L. Jackson entra na cabana e observa todos aqueles rostos brancos o mirando com ódio e desprezo.
Veja o trailer: / https://www.youtube.com/watch?v=aR38_FXwvJ8
Duração: 2h48min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Spotlight: Segredos Revelados" (Spotlight)
Um filme que é uma lição de jornalismo investigativo, na mesma linha do hoje clássico "Todos os Homens do Presidente", dirigido por Alan J. Pakula em 1976 e estrelado por Dustin Hoffman e Robert Redford. Trata-se de "Spotlight: Segredos Revelados" (Spotlight), direção de Tom McCarthy. Assim como seu irmão mais velho, ele retrata uma história real, que é a pedofilia na Igreja Católica.
Em 2001, os jornalistas do periódico Boston Globe, de Boston, Estados Unidos, começam a investigar casos de abusos de padres contra menores, e os eventos remontam aos anos 1960. Spotlight é como é chamada a equipe de repórteres investigativos do jornal, formada por quatro jornalistas, que se dedicavam a reportagens especiais. Eles saem a campo para desmascarar os crimes, que eram acobertados por autoridades políticas e religiosas. Os padres, quando eram denunciados, não eram punidos, sendo apenas transferidos de paróquias, perpetuando seus abusos.
O interessante é notar que em tempos como os nossos, onde a pressa é dona das ações, a equipe Spotlight tinha todo o tempo do mundo para fazer seu trabalho, não se questionando gastos e outras necessidades. Mas os jornalistas também quase não tinha vida pessoal, vivendo praticamente para o jornal.
O chefe da equipe Walter Robinson é vivido por Michael Keaton, que em determinado momento é obrigado a reconhecer ter ignorado aviso de vítimas dos padres, pois recém havia chegado no jornal e não soube fazer a leitura dos fatos. Ele chefia o incansável repórter Michael Rezendes (Mark Ruffalo, ótimo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian d'Arcy James), que chega a descobrir uma casa de refúgio dos padres pedófilos a poucos metros de sua casa.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=zgicIR5Skwc
Duração: 2h08min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
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