A parceria da cineasta Margaretha von Trotta com a atriz Barbara Sukowa já havia dado certo há mais de duas décadas com o histórico "Rosa de Luxemburgo". E agora acertam de novo a mão em "Hannah Arendt", onde é retratado um dos momentos mais polêmicos na vida da filósofa judia-alemã, autora do seminal "As Origens do Totalitarismo".
A maior parte da ação, ou falta de, transcorre durante o julgamento do nazista Adolf Eichmann, capturado em Buenos Aires, e julgado em Jerusalém dois anos depois. A filósofa, que em sua juventude foi amante do grande filósofo convertido ao nazismo Martin Heidegger, cobriu os nove meses do julgamento pela revista New Yorker, biblia dos intelectuais americanos principalmente naqueles turbulentos anos 1960. E a sua visão de que Eichmann não era um indivíduo mal, mas apenas um burocrata estúpido e carreirista, e de que os próprios líderes judeus contribuiram para o holocausto quase destroçaram a sua carreira.
"Hannah Arendt" é um filme de diálogos, passado em boa parte em escritórios enfumaçados - os personagens fumam sem parar. E também no tribunal em Jerusalém. E aí uma bela sacada da diretoria Von Trotta, ex-companheira do cineasta Völker von Schlondorff as cenas de Eichmann são as registradas realmente no julgamento, em preto e branco - mostram aquele homenzinho feio e míope dentro de uma gaiola de vidro, cheio de tiques nervosos, e num terno surrado nem de longe parece um daqueles nazistas assustadores da SS. A participação de Arendt, que também é mostrada em flash-back em seus anos universitários ao lado de Heidegger, gerou o estupendo livro "Eichmann em Jerusalém: A Banalidade do Mal".
Cotação: ótimo
Chico Izidro
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