quinta-feira, março 28, 2019

“Pastor Cláudio”




Em “Pastor Cláudio”, documentário escrito e dirigido por Beth Formaggini, o ministro evangélico Cláudio Guerra, com uma Bíblia na mão, conta ao psicólogo e ativista Eduardo Passos, com frieza e riqueza de detalhes as operações na guerra suja nos anos da ditadura militar no Brasil. Ele é um ex-delegado, que cometeu crimes bárbaros e nunca foi punido, beneficiado pela Lei da Anistia, em 1979.

Hoje se diz arrependido dos atos bárbaros que cometeu. Cláudio revelou ter cometido nove execuções de guerrilheiros e incinerados outros 12 corpos - num momento do filme, ele conta de forma natural como disparou um tiro na cabeça de um preso, para poupá-lo do sofrimento. O ex-policial agia entre Minas Gerais, São Paulo, Viória-ES e Campos dos Goytacazes-RJ, para onde levava os corpos a uma usina para queimá-los e não deixar provas das atrocidades. O agora pastor evângélico dá nome a ex-colegas, recorda com exatidão os nomes de alguns presos.

Entre detalhamentos, conta como a curiosidade era aguçada em relação aos corpos dos torturados. Cláudio lembra que abriam os sacos para ver os rostos dos mortos - curiosidade mórbida. Em todo momento ele diz ter sido frio nas execuções - não havia emoção. Ao mesmo tempo, revela ter recebido muitas benesses dos militares, tanto financeiramente, como carros e outras ajudas. Cláudio ainda relata saber detalhes de mortos famosos na ditadura, como a estilista Zuzu Angel, que conforme conta, incomoda muito o sistema, e o jornalista Vladimir Vlado Herzog, cuja morte foi um tiro no pé dos milicos.

Enfim, "Pastor Cláudio" é um relato forte, esclarecedor e aterrador. Mostra como foi um período terrível, uma guerra suja mesmo. Aula de história.

Duração: 1h16
Cotação: ótimo

Chico Izidro

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