quarta-feira, janeiro 05, 2022

"O FESTIVAL DO AMOR" (Rifkin's Festival)

Nos últimos anos, todos os filmes de Woody Allen lançados no Brasil vinham com o título do original em inglês ou então traduzidos literalmente, vide "Match Point", "Cafe Society", "Rainy Days in New York", "Blue Jasmine", entre outros. Mas nos anos 1970, as distribuidoras realizavam um verdadeiro assassinato ao batizar os longas. O próprio diretor, hoje com 86 anos de idade, disse que por aqui os nomes de suas obras são "terríveis", "sem charme" e "sem imaginação", ao descobrir que filmes como Annie Hall, ganhou o nome de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" no Brasil, sendo que no filme de 1977 não existe nem noivo nem noiva na história. Já para "Take The Money and Run" (1969) [Pegue o Dinheiro e Corra], em nosso país foi batizado de "Um Ladrão Muito Atrapalhado".
O diretor afirmou que "o título original é divertido na Inglaterra e nos EUA, mas Um Ladrão Muito Atrapalhado não mostra nenhuma imaginação, porque já diz o que o personagem é. É um título sem charme", criticou.Outro exemplo canhestro é "A Última Noite de Boris Grushenko", no original "Love and Death". O octagenário nova-iorquinho completa, lamentando não poder fazer nada em relação ao nome de suas obras. "Algumas distribuidoras mudam os títulos de forma sofisticada. Outras mudam para tentar chegar ao título mais comercial e lucrativo que podem, mas não posso fazer nada quanto a isso", analisou. "Geralmente, não gosto dos títulos que outros países dão aos meus filmes", finalizou.
Bem, depois de tudo isso, chegamos ao novo filme de Woody Allen, mantendo a média de um por ano desde os anos 1970. E mesmo que venha sofrendo boicote nos Estados Unidos, com diversos atores e atrizes se recusando a trabalhar com ele, ainda devido a polêmica da acusação feita por sua ex-mulher, Mia Farrow, de ter abusado da filha mais nova deles, Dylan, em 1992, e depois ter tido um caso e depois casado com a enteada, Sun-Yi. Detalhe: Farrow acusou o diretor de ter transado com uma menor de idade, mas quando rolou o romance, Sun-Yi já tinha 22 anos de idade.
Agora chega ao país, o 50º longa de sua carreira, "Rifkin's Festival", que pasmém, no Brasil recebeu o horrível título de "O Festival do Amor", todo ele gravado na Espanha, e onde Allen homenageia seus grandes inspiradores, como Jean-Luc Godard, François Truffaut, Federico Fellini, Ingmar Bergman e Luis Buñuel, e fazendo citações de obras como "Jules e Jim" (1962), "Persona" (1966) "8 e ½" (1963), "Cidadão Kane" (1941), "Acossado" (1960) e "O Sétimo Selo" (1957).
Com seu humor afiado, e tendo como protagonista Wallace Shawn, presente em filmes de Woody Allen desde "Manhatan" (1979), no papel de Mort Rifkin, escritor frustrado e ex-professor de cinema especializado nos clássicos, mas também (assim como o próprio Allen) hipocondríaco, ranzinza e neurótico, e cheio de problemas existenciais. Ele viaja para o Festival de San Sebastián, no País Basco, para acompanhar a mulher, Sue (Gina Gershon), alguns anos mais nova e assessora de diretores de cinema. Na bela cidade, Mort começa a desconfiar de que a sua esposa está tendo um caso com Philippe (Louis Garrel), um atraente diretor francês. Sem conseguir deixar de lado sua paranoia, o protagonista acaba procurando ajuda médica e conhece a bela médica Jo Rojas (Elena Anaya), também infeliz no casamento, e fica encantado por ela - que de certa forma o faz rejuvenescer e voltar a acreditar no amor.
“Eu já estive no Festival de San Sebastián e me lembrei de como a cidade é linda, então decidi escrever uma história que se passasse lá”, lembrou Woody Allen a respeito da escolha da locação para o filme, que é mais uma ode maravilhosa do grande cineasta à sétima arte.
Cotação: ótimo
Duração: 1h32min
Chico Izidro

Nenhum comentário:

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...