Thursday, March 30, 2017

"O Mundo Fora do Lugar" (Die abhandene Welt)



Sophie (Katja Riemann) se vira como realizadora de casamentos para casais que não querem nada religioso e também é cantora em um restaurante. Mas sua vida vai sofrer mudanças radicais e aproximá-la mais do pai e de um tio, ao descobrir segredos do passado deles, em "O Mundo Fora do Lugar" (Die abhandene Welt), direção de Margaretha von Trotta.

Certo dia, seu pai, Paul (Matthias Habich), encontra na internet uma matéria sobre a cantora lírica Caterina (Barbara Sukowa), que é uma sósia perfeita de sua falecida esposa, Evelyn. Paul fica obcecado em saber mais sobre aquela mulher, e pede que Sophie vá ao encontro dela, no outro lado do oceano, em Nova Iorque. Ele deseja que a filha para tentar convencê-la a visitá-los na Alemanha. Meio a contra-gosto, Sophie decide atender o pedido do pai. E ao chegar e conhecer Caterina, uma musa controladora e irascível, Sophie irá juntar os pontos aos poucos, mesmo que para tanto tenha de fuçar no passado de muitas pessoas.

Atuações soberbas, principalmente de Barbara Sukowa e Katja Riemann, e sequências questionadoras, chegando perto de um filme de detetive sem crime - mas de segredos perturbadores e constrangedores. E aquela coisa que sentimos quando não entendemos o porque de algumas pessoas guardarem rancores por décadas, por motivos muitas vezes, ridículos.

Duração: 1h41min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Mulheres do Século 20" (20th Century Women)



"Mulheres do Século 20" (20th Century Women), direção de Mike Mills, mostra um belo mas perturbador retrato do final dos anos 1970. O filme tem tons bastante autobiográficos e mostra a história de três mulheres de gerações diferentes que dividem uma mesma casa: a mais nova, Julie (Elle Fanning), com 17 anos de idade, a do meio, Abbie (Greta Gerwig), com seus quase 30 e a mais velha, Dorothea (Annette Bening), com 50 e poucos anos e mãe do adolescente de 15 anos, Jamie (Lucas Jade Zumannv), que é o narrador da trama, talvez o alter-ego do diretor.

O filme tem sempre presente Jamie, pois é sempre mostrado o seu ponto de vista. Ele tem uma grande proximidade com Julie, com os dois conversando sobre tudo e com o hábito de dormirem na mesma cama, mas sem rolar sexo entre eles. Já com Abbie, os diálogos mostrados falam sobre bandas de punk rock - a fotógrafa é o retrato da época, final dos anos 1970. E por fim, Dorothea, nascida em meados dos anos 1920, se discorre sobre o passado. Mas ela é uma mãe presente e preocupada com o garoto - que criado sem pai, não aparenta rebeldia, mas sim sede de conhecimento.

O forte de "Mulheres do Século 20", além do visual característico da época, são seus diálogos, fortes e reflexivos, se mostra o principal elemento do longa. Enfim, fica evidente que é um filme quase autobiográfico, sendo possível enxergar o que ocorreu na vida do diretor em sua adolescência, cercado de três mulheres fortes e inteligentes, que moldaram seu caráter.

Duração: 1h59min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Central - O Filme"



"Central - O Filme", direção de Tatiana Sager e Renato Dornelles, baseado em livro-reportagem do próprio Dornelles, "Falange Gaúcha", mergulha no inferno do Presídio Central de Porto Alegre, considerado em 2008 a pior penitenciária do país.

A produção passou mais de dois meses dentro dos corredores fedorentos do lugar, mostrando o pesadelo por que passam condenados, carcereiros, seus familiares. O ambiente é tão horrível, com os presos sendo quase o dobro do que o local suporta, que as celas ficam acertas e são geridas pelos próprios "moradores" do local, onde a Brigada Militar tem a entrada restrita. O tráfico de drogas e armas rola solto, além do que muitos dos presidiários têm de pagar para ficar no local. E muitos deles possuem doenças como tuberculose e HIV.

"Central - O Filme" ainda traz cenas perturbadoras, como uma festa regada a cocaína, com os presos enfileirados, esperando sua vez de pegar a droga, e comemorações de facções quando vencem outras. Os presidiários ainda dão seus depoimentos de como funciona o sistema na cadeia, com muitos familiares tendo de fazer trabalhos para manter seus entes queridos vivos atrás das grades. E não, ninguém é inocente neste mundo. Cruel.

Duração: 1h15min
Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Era o Hotel Cambridge"




"Era o Hotel Cambridge", da diretora Eliane Caffé, narra a trajetória de centenas de pessoas que invadiram um velho prédio abandonado no centro de São Paulo. O hotel do título foi um dos principais do país na década de 1950, quando recebeu várias personalidades nacionais e internacionais, mas com o tempo foi entrando em decadência. Seu proprietário acabou abandonando o prédio.

Dez anos depois, cheio de entulhos, ratos, insetos, pessoas que não tinham onde morar, o ocuparam, fazendo uma reforma geral no local. Foi a senha para que o proprietário pedisse a reintegração de posse. Moram no prédio refugiados recém-chegados ao Brasil e trabalhadores sem-teto, que se organizam numa comuna.

O filme é um misto de documentário com ficção. Parece que seus moradores interpretaram momentos de suas vidas no prédio, ao lado de atores como José Dumont e Suely Franco. Aliás, a direção de arte foi feita em parceria com alunos da Escola da Cidade, uma experiência pedagógica e artística que explorou as fronteiras entre arquitetura e cinema e entre arte e educação.

A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set criativo da filmagem. Esse coletivo foi composto por quatro frentes principais: núcleo de estudantes de arquitetura da Escola da Cidade, equipe de produção do filme, lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia) e grupo dos refugiados. Por meio de oficinas dentro da ocupação surgiu a matéria-prima para o aprimoramento do roteiro e da direção de arte. A ousadia do experimento garantiu autenticidade e força dramática ao filme.

Recentemente, o edifício Cambridge foi declarado pelo poder público como área de interesse social, à espera de um retro-fit para moradia popular. Mas o ponto forte dessa experiência foi fortalecer o engajamento político dos estudantes e fazê-los sentir a importância e a responsabilidade social do arquiteto, trabalhando nas fronteiras, contaminando e provocando situações e pontos de vistas transformadores.

Duração: 1h39min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"O Ornitólogo"




"O Ornitólogo", direção de João Pedro Rodrigues, é um filme com um pouco dos pés na religiosidade. Vemos a peregrinação do ornitólogo Fernando (Paul Hamy), que está viajando pelo curso de um rio em Portugal pesquisando cegonhas pretas raras. Ele viaja em um caiaque e um dia sofre um acidente, sendo resgatado por duas garotas chinesas que estão fazendo o trajeto de Santiago de Compostela.

Então, o filme se encaminha para algo de terror, com Fernando sendo amarrado pelas duas e sofrendo um certo tipo de tortura. Ao conseguir escapar, o ornitólogo se embrenha mais e mais na mata, onde irá passar por experiências estranhas. Em uma noite ele dá de cara com uma tribo de caretos que fala mirandês e que estão realizando um tipo de ritual. Seguindo seu caminho, Fernando encontra um pastor chamado de Jesus, que cuida de algumas cabras na beira do rio. Os dois acabam se envolvendo romanticamente, mas culminando num final trágico.

E neste ponto do filme, o espectador se pergunta o que está ocorrendo na tela, depois de tanta viagem beirando o alucinógenio, na história. Que parece interminável, apesar da fotografia, que mostra uma paisagem excepcional. Mas a trama é meio sem pé nem cabeça. Ah, mas vou dizer que gostei pois é um filme-cabeça. Não, o filme é ruim e não diz a que veio.

Duração: 1h57min

Cotação: ruim
Chico Izidro

"A Vigilante do Amanhã" (Ghost in the Shell)



Baseado em anime japonês, "A Vigilante do Amanhã" (Ghost in the Shell), direção de Rupert Sanders, traz a bela Scarlett Johansson vivendo uma espécie de robocop - ela tem o corpo construído artificialmente, mas os cientistas preservaram apenas o seu cérebro, que claro, controla todas as suas atividades. Major, a personagem de Johansson, comanda um esquadrão de elite especializado em combater crimes cibernéticos numa cidade futurista em 2029 - seria Tóquio, já que mais da metade das pessoas que surgem na tela são japonesas. Além do que, o visual é flagrantemente calcado em filmes oitentistas, mais evidentemente "Blade Runner".

Mas não é só o visual que remete ao clássico sci-fi. O personagem Major vive aquele conflito - seriam suas memórias reais ou implantadas. E como em "Blade Runner", a personagem caça um outro personagem robotizado, Kuze (Michael Carmen Pitt). E o filme vai empilhando referências, como as lutas e perseguições, muito iguais a "Robocop".

Os efeitos visuais de "A Vigilante do Amanhã" são impressionantes. O diretor apresenta uma fotografia cheia de detalhes. Mas infelizmente, no final das contas, o filme não é muito diferente da maioria dos seus pares de ação. E o espectador pega no sono.

Duração: 1h47min

Cotação: ruim
Chico Izidro

Irmã (Little Sister)



Família não é fácil. Por isso, Colleen (Addison Timlin), que um dia foi uma adolescente gótica, se prepara para se tornar freira. Ainda em dúvidas sobre seu futuro, ela recebe um e-mail da mãe, vivida por uma ainda bonita Ally Sheedy, musa dos anos 1980, de filmes como "Clube dos Cinco" e "avisando que seu irmão voltou da guerra do Iraque severamente machucado. Assim, em Irmã (Little Sister), direção de Zack Clark, Colleen pede alguns dias para a madre superiora e retorna para casa.

Ao chegar em casa, seu quarto adolescente permanece inalterado, como se ela não tivesse passado um dia fora. Crucifixos de cabeça para baixo estão lá, assim como seus discos de rock. E os pais seguem usando drogas e o irmão, Jacob (Keith Poulson) vive enfurnado no quarto, tocando bateria, e com vergonha de encarar o mundo por causa das feridas que deformaram seu rosto.

Colleen tem, então, de lidar com pendências emocionais de seus familiares e dela mesma - que aos poucos vai tentando levar alegria à casa, mas sem pregações religiosas, mas procurando o passado para tentar achar soluções - pinta o cabelo de rosa, participa de festa de Halloween e obriga o irmão a encarar o mundo. Um filme sensível. E a personagem principal lembra muito a jovem Winona Ryder.

Duração: 1h31min

Cotação: bom
Chico Izidro

Thursday, March 23, 2017

"T2 Trainspotting"



Vinte e um ano depois, o diretor Danny Boyle apresenta a sequência do clássico dos anos 1990, Trainspotting, onde era mostrada a rotina de quatro amigos viciados em drogas na capital escocesa Edimburgo. Em "T2 Trainspotting", é mostrado o que aconteceu com cada um deles, agora todos quarentões. No final do primeiro filme, Renton (Ewan McGregor) enganava os demais parceiros e escapava com milhares de libras.

Pois vinte anos depois, Renton decide deixar Amsterdã e retornar à cidade natal. Agora um novo homem, com emprego e livre das drogas, ele vai encontrar os antigos camaradas ainda perdidos na vida: Sick Boy (Jonny Lee Miller) dirige um falido bar que era de sua tia, cheira quilos de cocaína, enquanto tenta dar golpes ao lado da prostituta Veronika (Anjela Nedyalkova), Spud (Ewen Bremner) continua viciado em heroína e o violento Begbie (Robert Carlyle) está na prisão, cumprindo pena de 20 anos.

Aos poucos, porém, é mostrado que a vida de Renton não está tão certinha quanto ele tentava transparecer. Logo os golpes passam a fazer parte da rotina dele, ao lado de Sick Boy e Spud, que mostra pendores de escritor, ao resgatar em anotações as lembranças da turma. Mas eles ora cooperam um com o outro, ora um tenta passar a perna no outro, ainda mais que Renton ainda é visto como um traídor pelos antigos parceiros.

O filme é quase como uma homenagem ao seu antecessor, trazendo várias referências, citações e flash-backs da obra de 1996 - que ainda está no coração de toda uma geração. O espectador que nunca viu Trainspotting vai ficar perdido. "T2 Trainspotting" mostra ainda uma Edimburgo completamente diferente, agora mais modernizada em uma parte, mas em outra decadente, com prédios abandonados, lixos por toda a outra parte, muitos imigrantes, desemprego. Não deixa de ser uma crítica social forte.

Duração: 1h57min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Fragmentado" (Split)



M. Night Shyamalan é cineasta que teve um início de carreira extraordinário, principalmente com os longas "O Sexto Sentido", "Corpo Fechado", "A Vila", mas ao longo dos anos veio perdendo força, principalmente com "A Dama na Água", "Fim dos Tempos", e chegando ao buraco com "O Último Mestre do Ar". Ele voltaria a ganhar um pouco de força com o quase desconhecido "A Visita". Mas agora ganha fôlego com "Fragmentado" (Split).

Na trama, temos um homem que sofre com o transtorno dissociativo de identidade (TDI), Kevin (James McAvoy, de X-Men). Um deles, Dennis sequestra três garotas, Márcia (Jessica Sula), Claire (Haley Lu Richardson) e a esquisitona Casey (Anya Taylor-Joy, de A Bruxa), as trancafiando num porão. Elas não têm a mínima ideia dos objetivos do rapaz, se é estuprá-las, matá-las ou apenas confiná-las. Aos poucos, vão tentando encontrar uma maneira de escapar, ao mesmo tempo que vão se defrontando com as várias personalidades dele.

O filme também mostra, em forma de flash-backs, a infância de Casey ao lado do pai e do tio - e aos poucos vamos entendendo porque a menina é completamente quieta, fechada em seu mundo. Mas ao mesmo tempo é a mais esperta das três, com um grande instinto de sobrevivência. Já Kevin, como o aspirante a estilista Barry, é tratado pela psicóloga Karen Fletcher (Betty Buckley), que consegue de certa forma controlar as personalidades, mas desconhecendo as partes psicopatas do paciente.

"Fragmentado" consegue ser assustador, com boas atuações, principalmente James McAvoy, que consegue impressionar com as diversas personalidades que interpreta, mostrando trejeitos e expressões diferentes. Mas Anya Taylor-Joy, que já havia ido excepcionalmente bem em A Bruxa, dá ao seu personagem um ar de uma pessoa perdida, mas que mostra força e já passou por pior do que se avizinha. Shyamalan desta vez vai bem, ainda mais por deixar de lado as suas pegadinhas finais. Mas logo após o final, há uma esperta referência a "Corpo Fechado".

Duração: 1h 57min
Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Power Rangers" (Saban's Power Rangers)



Nunca assisti a série Power Rangers na televisão. Então entrei virgem na sala de cinema para ver o filme "Power Rangers" (Saban's Power Rangers), dirigido por Dean Israelite. E duas horas depois sai da sala completamente aturdido, aborrecido mesmo com tamanha pataquada, usando termo dos quadrinhos da Disney nos anos 1970.

A trama começa na Era Cenozóica, quando vemos o Ranger Vermelho Zordon (Bryan Cranston) tentando impedir que uma de suas parceiras, Rita Repulsa (Elizabeth Banks), mas que se virou para o lado do mal, consiga um cristal que a possibilitará dominar o mundo. Milhões de anos depois, jovens que não conseguem ser aceitos pela sociedade, vivendo por isso vários conflitos, acabam se reunindo quase ao acaso na pequena cidade de Angel Grove: o astro de futebol americano, Jason (Dacre Montgomery), mas que está impedido de jogar depois de ter praticado uma bobagem adolescente, o autista Billy (RJ Cyler), a bonita Kimberly (Naomi Scott), o garoto que cuida da mãe doente, Zack (Ludi Lin) e a rebelde Trini (Becky G.).

Os cinco acabam descobrindo pedras que os tranformará em pessoas com superpoderes (ops, já vi isso antes, num filme chamado Poder Sem Limites). O grupo, na sequência, encontra a nave de Zordon enterrada numa mina, junto com o robô Alpha 5 ( Bill Hader) e uma representação holográfica de Zordon, que revela a eles que foram escolhidos como Power Rangers, com a missão de salvar o mundo da ameaça proporcionada por Rita. Até aí já se passaram mais de uma hora de filme e muita enrolação.

Só vamos ver os heróis em ação nos minutos finais do longa, usando suas vestes coloridas. Até lá o que temos é uma torturantes história sonolenta, com dramas adolescentes manjados, que tanto já foram usados no cinema. E as atuações são calamitosas, principalmente a de Elizabeth Banks, com suas caretas e risadas maldosas. E vamos combinar, por que os vilões querem dominar o mundo, mas sempre com a intenção de destruí-lo? E o término é aquilo, lutas, e mais lutas, e mais lutas. Foi um alívio quando acabou.

Duração: 2h04min

Cotação: ruim
Chico Izidro

"Fatima"





Um filme que mostra o choque de gerações entre imigrantes. "Fatima", direção soberba de Philippe Faucon, mostra a vida dos árabes vivendo em terras francesas, e como eles tentam se adequar a costumes completamente distintos de sua terra natal.

Aqui, no caso temos a argelina Fatima (Soria Zeroual), que mora há mais de duas décadas na França. Porém, ela nunca conseguiu aprender a falar bem o francês, e não consegue escrever e ler, tornando-se quase uma pária. Mesmo assim, se vira trabalhando como doméstica, e criando duas filhas, Souad (Kenza Noah Aïche), de 15 anos, adolescente rebelde; e Nesrine (Zita Hanrot), de 18 anos, que está começando os estudos de medicina.

Fatima fala o mínimo na língua de seu país de adoção, e sofre com o preconceito das filhas, que têm vergonha dela, principalmente a mais nova. As duas jovens, além disso, não seguem as rígidas tradições árabes - não cobrem o cabelo, são expansivas, dão abertura para qualquer rapaz que chegue para falar com elas. Para desespero de Fatima.

Sem conseguir se comunicar com as filhas, seja no idioma local, seja pelo sentimento, Fatima começa a fazer anotações em árabe sobre tudo aquilo que gostaria de falar às filhas em francês. Enfim, temos aqui uma excelente obra sobre diferenças culturais, geracionais, com atuações simples e tocantes.

Duração: 1h19min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Thursday, March 16, 2017

"Tinha Que Ser Ele?" (Why Him?)




Eu fico me perguntando o que faz um ator como Bryan Cranston embarcar em furadas como esta? Pagar as contas, deve ser. Ou então tentar se desviar dos filmes pesados que fez nos últimos tempos? Bem que ele começou a ser conhecido quando fez a série cômica "Malcolm in the Middle" no começo deste século.

Em "Tinha Que Ser Ele?" (Why Him?), dirigido por John Hamburg, Cranston é Ned, um empresário falido, que na véspera de Natal decide levar a mulher, Barb (Megan Mullally, a Karen, de Will and Grace) e o filho nerd Scotty (Griffin Gluck) para visitar a filha Stephanie (Zoey Deutch), que está estudando em Stanford, na Califórnia, e também conhecer o novo namorado dela, Laird Mayhew (James Franco).

Só que ao chegar no destino, Ned descobre que Laird é um rapaz milionário, graças a um game que criou, mas também excêntrico e extremamente carente. A antipatia por Laird cresce ao saber que o jovem já divide as escovas de dentes e os lençois com a filha há mais de seis meses, e ele ainda quer casar com Stephanie. Então começam as piadas escatológicas, caretas, desentendimentos, até claro, tudo desenbocar no amolecimento de Ned - com direito até a presença de Gene Simmons e Paul Stanley, as cabeças pensantes da banda hard rock Kiss.

A única graça no filme está na presença do auxiliar de Laird, Gustav (Keegan-Michael Key), que aparece em cena revivendo Cato, o ajudante faz tudo de Peter Sellers na cinesérie "A Pantera Cor de Rosa". Gustav sempre aparece repentinamente, testando ops reflexos de defesa do patrão. A certo momento, Ned questiona: "Sério, vocês vão fazer este lance Pantera Cor de Rosa?". Foi uma boa sacada, ainda mais para o público atual, que não tem a mínima ideia de quem tenha sido o genial Peter Sellers. Pesquisem.

Duração: 1h52min

Cotação: regular
Chico Izidro

"La Vingança" (La Vinganza)




Esta comédia, com produção argentino-brasileira, não é de todo ruim. "La Vingança", direção de Fernando Fraiha e Jiddu Pinheiro, é um road-movie e mostra a conturbada relação Brasil-Argentina, cheia de rivalidade no futebol, nas mulheres, na música. A história mostra o dublê Caco (Felipe Rocha, de Vai Que Dá Certo), que pretende se casar com a namorada Julia (Leandra Leal). Mas quando decide tomar coragem, descobre que ela o está traindo com um chefe de cozinha argentino. Depressivo, se tranca em casa.

Até que seu melhor amigo, Vadão (Daniel Furlan) o obriga a sair de casa. Os dois tomam um porre, e quando Caco acorda, está dentro do Opala 72 de Vadão, em direção a Argentina! Vadão quer que o parceiro se vingue de Julia e do chefe de cozinha, transando com todas as argentinas que encontrar pelo caminho. Mas Vadão não sabe que Julia está em Buenos Aires, e o objetivo de Caco, já na estrada, é encontrar a ex-namorada e tentar uma reconciliação com ela.

Pelo caminho, os dois vão encontrando percalços, mas também pessoas solidárias. Vadão é um personagem verborrágico, que solta uma pérola atrás da outra - algumas piadas são geniais, mas outras beiram o ridículo. E Caco é aquela pessoa bipolar. Em determinado momento está bem, e no outro arrasado. O filme trata de amizade, reconciliação, aventura. Alguns momentos beiram o absurdo e em determinado momento, passa a ser completamente previsível. Porém, ao contrário das comédias brasileiras que abusam das piadas físicas e exageradas, este tenta primar pelos seus diálogos. E assim, assistível.

Duração: 1h30min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Jonas e o Circo Sem Lona"



O documentário "Jonas e o Circo Sem Lona", dirigido pela estreante Paula Gomes mostra o dia a dia de Jonas, um artista-mirim que sonha em manter vivo o circo que ele mesmo criou no quintal de sua casa, na periferia de Salvador. O garoto reúne amigos e vizinhos para o cast do circo, mas sofre por não se aplicar aos estudos e pela incompreensão da mãe.

O filme levou dois anos para ser finalizado, e foi gerado através de uma pesquisa da diretora, iniciado em 2006. Paula Gomes procurava por circos itinerantes pelo interior da Bahia quando conheceu a família de Jonas, formada por artistas tradicionais de circo. O garoto teve a ideia de criar o seu próprio circo, utilizando materiais que restaram do circo que seus familiares haviam deixado para trás.

"Jonas e o Circo Sem Lona" também discute a educação no Brasil através dos problemas de Jonas. Ele não tem nenhum incentivo da escola e dos professores, e quer abandonar os estudos para se se dedicar totalmente à vida circense - ele chega a arranjar emprego em um circo. O dono é entusiasta de Jonas, mas a mãe do garoto quer que ele siga os estudos para ter um futuro melhor. Um belo retrato do Brasil antigo e presente.


Duração: 1h22min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Com os Punhos Cerrados"



Quarto longa-metragem dirigido coletivamente por Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti, "Com os Punhos Cerrados" parece ter sido feito por pessoas que fumaram muita maconha quando começaram a filmá-lo. Não é possível que ao ver o trabalho final, os produtores não tenham pensado em refazer totalmente este longa nacional, que é completamente absurdo.

A história mostra três amigos, Eugenio, Joaquim e João, que mantém uma rádio-pirata em Fortaleza. Eles utilizam a emissora para pedir por liberdade - como se já não tivessem -, enquanto planejam uma revolução! Sim, é isso mesmo! Os radialistas interferem nas transmissões das rádios oficiais da capital cearense, lendo poesias, colocando músicas de seus gostos duvidosos, e provocando as autoridades a todo o momento.

Aos poucos, eles começam a incomodar os poderosos da cidade. Um deles, Franco, empresário influente e magnata do forró, decide acabar a qualquer custo, com a rádio e a vida dos infratores. Quando a rádio passa a correr sério risco, os três ganham o apoio de Salomé, uma ouvinte que quer se unir a eles na revolução. E as cenas e diálogos sem noção vão dando o tom para este erro cinematográfico.

Duração: 1h14min

Cotação: ruim
Chico Izidro

"Fome de Poder" (The Founder)




"Fome de Poder" (The Founder), dirigido por John Lee Hancock, mostra a história da ascensão do restaurante McDonald's, e como um homem lutou para que seus sonhos se tornassem realidade: Ray Kroc, interpretado com perfeição por Michael Keaton. Kroc era um vendedor de Illinois, que descobre, em meados dos anos 1950, no sul da Califórnia uma pequena lanchonete de dois irmãos, Richard (Nick Offerman) e Maurice "Mac" McDonald (John Carroll Lynch).

Ao invés de roubar as ideias revolucionárias dos irmãos de servir lanches rápidos e baratos (fast food), Kroc propõe parceria com eles e com a ideia de expandir o McDonalds para outras localidades, no que é conhecido como franquias. Visionário, Kroc vai aos poucos eliminando os irmãos da rede, conseguindo se tornar milionário e transformando o McDonalds no império mundial que hoje conhecemos. Em certo momento, Kroc é perguntado o por que de lutar tanto pela marca e não ter criado o seu próprio restaurante, podendo simplesmente ter roubado a ideia dos McDonalds. "Imaginem um local chamado Kroc. Quem iria comer lá? Já McDonalds é um nome forte, americano", explica ele, que teve uma batalha judicial com os irmãos, venceu e nunca passou o valor devido a eles.

"Fome de Poder" (The Founder) é daquela linha de filmes americanos que mostram homens batalhadores, criadores, que nunca desistem diante das adversidades. Keaton, verborrágico, dá ao seu personagem muito carisma e energia. Kroc é bom de conversa, galanteador, arrogante. Enfim, um típico homem de sucesso.

Duração: 1h 55min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Versões de Um Crime" (The Whole Truth)



"Versões de Um Crime" (The Whole Truth), dirigido por Courtney Hunt, é um bom filme de tribunal. O problema talvez seja seu personagem principal, Ramsey, interpretado por Keanu Reeves - ele é um ótimo ator para filmes de ação, mas não consegue convencer como advogado. E é uma pena ver como Renée Zellweger, que um dia foi tão bonita, tenha estragado o seu rosto com cirurgias plásticas incompreensíveis.

A trama mostra o adolescente adolescente Mike (Gabriel Basso) é acusado de matar o pai Boone, pessoa agressiva e abusiva (Jim Belushi) para proteger a mãe, Loretta (Renée Zellweger). O advogado Ramsey (Keanu Reeves), que é amigo próximo da família, é encarregado de defender o garoto. Mas o problema é que Mike se nega a falar qualquer coisa. Permanece em silêncio durante o julgamento, dificultando a sua defesa.

A tensão criada é muito boa. São mostradas diferentes versões para o que poderia ter acontecido no dia em que Boone foi esfaqueado e morto. A faca tem as digitais de Mike, não parecendo provável que ele não tenha sido o autor do crime. Ramsey, porém, é um estrategista notável. E quando Mike finalmente fala, surgem evidências estarrecedoras. O final, também, é bem sacado e surpreendente. Boa trama.

Duração: 1h34min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Papa Francisco: Conquistando Corações" (Francisco: el Padre Jorge)



Tudo bem que o Papa Francisco é uma boa pessoa, mas este filme transcede a chapa branca. Ninguém é tão perfeito quando demonstra "Papa Francisco: Conquistando Corações" (Francisco: el Padre Jorge), dirigido por Beda Docampo Feijóo. A obra, evidente, é argentina, como o santo padre. Então tudo é levado a décima potência de bom-mocismo, integridade, etc, etc, etc.

A trama mostra Jorge Bergoglio (Darío Grandinetti) desde a sua infância em Buenos Aires, sua paixão pelo San Lorenzo de Almagro, e sua decisão de ser padre, contrariando a sua mãe, que sonhava em ele ser médico. "Sim, mama, cura de almas", diz ele, para sua progenitora. E nem mesmo as meninas arrastando as asas para Jorge o fizeram mudar de posição.

E a sua vida eclesiástica é vista sob a ótica de uma jornalista, que recebe a incubência de acompanhar a sua carreira na arquidiocese de Buenos Aires. Ana (Silvia Abascal) acaba se tornando grande amiga de Jorge. E o personagem interpretado por Dario Grandinetti é uma pessoa por demais santa, que dá enjoo. Infalível, batalhador, incorruptível. O filme engrandece o Papa, transformando-se numa daquelas obras sem profundidade. Enfim, "Papa Francisco: Conquistando Corações" (Francisco: el Padre Jorge) tem o claro objetivo de representar a vida e os valores do Papa Francisco.

Duração: 1h44min

Cotação: ruim
Chico Izidro

Thursday, March 09, 2017

"Kong: A Ilha da Caveira" (Kong: Skull Island)



Um dos monstros ícones do cinema, com sua estreia no clássico de 1933 e com duas refilmagens, em 1976 e 2005, King Kong volta às telonas em "Kong: A Ilha da Caveira" (Kong: Skull Island), direção de Jordan Vogt-Roberts. E esta nova versão difere muito dos anteriores, pois não tem mocinha loira raptada e muito menos Nova Iorque aparecendo. Mas tem um clima de já vi isso em algum lugar. E sim, claro, o clássico "Apocalipse Now" é fonte direta, pelo visual, trilha sonora, selvagens acolhendo um militar.

A trama é ambientada em 1973, quando os Estados Unidos se preparavam para retirar seus soldados do Vietnã. E neste clima, o cientista Bill Randa (John Goodman) e o geólogo Houston Brooks (Corey Hawkins) recebem permissão do senado americano para realizar uma expedição a uma ilha misteriosa na Costa do Pacífico, sendo escoltada por militares que já se preparava, para voltar para casa. Randa acredita que a ilha é local onde habitam seres monstruosos. A escolta do exército é liderada pelo oficial Preston Packard (Samuel L. Jackson), o guia James Conrad (Tom Hiddleston) e a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson).

Ao chegar a ilha, não demora muito para a expedição dar de cara com o gigante gorila King Kong, que mata metade dos homens - que acreditam ser a fera uma ameaça a todos, mas na realidade, e os sobreviventes vão descobrir aos poucos, estava ela apenas protegendo a ilha de criaturas mais perigosas que habitam em seus subterrâneos.

Lá pelas tantas, o grupo encontra o ex-piloto Hank Marlow (John C. Reilly), que está na ilha desde 1944, vivendo com os nativos locais - e o ator é a melhor parte do filme, com tiradas sensacionais, e uma cara de doido fantástica. Vivendo assim no meio da selva, protegido pelos "selvagens", remete direto ao personagem de Marlon Brando em "Apocalipse Now", o Coronel Walter E. Kurtz. Aliás, outra referência ao filme de Francis Ford Coppola é quando os helicópteros surgem na ilha, tocando rock'n'roll direto.

As citações acabam funcionando muito bem, além do suspense. E sem contar que a trilha sonora é espetacular, passando por Jefferson Airplane, Creedence Clearwater Revival, The Hollies, Black Sabbath, Iggy Pop e David Bowie, entre outros.

Duração: 1h58min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Negação" (Denial)




Um de meus assuntos preferidos é o Holocausto, uma das maiores tragédias da humanidade e perpetrado pelos nazistas nos anos 1930 e 1940. E mesmo com todas as evidências até hoje registradas, ainda tem gente que costuma negar o ocorrido - o brasileiro mais notório foi o gaúcho S.E. Castan, que na década de 1980 escreveu o absurdo Holocausto Judeu ou Alemão? Nos Bastidores da Mentira do Século.

Pois na Inglaterra tem outro idiota, David Irving. E no final do século passado, ele decidiu processar a escritora e historiadora judia Deborah E. Lipstadt, que o chamou de mentiroso em uma de suas obras. Agora o incidente virou o filme "Negação" (Denial), dirigido por Mick Jackson, que mostrou os bastidores desta luta jurídica. O longa é baseado no livro “History on Trial: My Day in Court With a Holocaust Denier”, publicado em 2015.

Deborah é uma das mais respeitadas estudiosas do Holocausto, mas teve de ir para os tribunais, por causa de David Irving, que lhe processou. Sua personagem acaba ficando em segundo plano na trama, dando mais ênfase no advogado Richard Rampton (Tom Wilkinson), que simplesmente destruiu Irving (Timothy Spall) durante o julgamento. As discussões e argumentações mostradas durante o filme são fortes, mas ficamos imaginando o por que de se discutir e levar a sério pessoas como Irving, que não tem nenhuma estrutura histórica para contestar fatos provados e documentados. Um de seus argumentos é: "mostre-me onde Hitler escreveu que queria a morte dos judeus", como se não bastassem seus discursos. É um filme para se pensar.

Duração: 1h51min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Silêncio" (Silence)




Martin Scorsese vai ao Japão do Século XVII em seu novo filme, "Silêncio" (Silence), onde discute a perseguição aos religiosos. Naquela época, o país oriental estava recebendo muita influência ocidental e muitos nipônicos estavam aderindo ao cristianismo, para terror das autoridades. O filme é baseado em romance de título homônimo de Shusaku Endo escrito em 1966.

E é neste retrato de perseguição aos cristãos que o padre português Cristóvão Ferreira (Liam Neeson) desaparece misteriosamente. Então dois de seus seguidores, padre Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e padre Francisco Garupe (Adam Driver) entram clandestinamente no Japão para tentar encontrá-lo. Eles são recepcionados por aldeões cristãos, que os escondem em suas humildes choupanas.

A trama é narrada por Rodrigues, que acabará sofrendo os mesmos percalços por quais passou o seu mentor, Ferreira. São cenas nada agradáveis de se ver, com fiéis sendo torturados e tendo de demonstrar para seus perseguidores que renegavam a Cristo - eles tinham de pisar em imagens, caso contrário eram mortos impiedosamente. A fotografia é espetacular, e o filme cresce mais ainda com a atuação convincente de Andrew Garfield, que vive a melhor fase de sua carreira. Ele já havia se destacado como o protagonista no excelente "Até o Último Homem', de Mel Gibson. Ele mostra grandeforça na sua interpretação, com um personagem repleto de conflitos pessoais. E Liam Neeson quase que repete o seu personagem visto no épico "A Missão", de 1986, dirigido por Roland Joffé.

Duração: 2h40min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Insubstituível" (Médecin de Campagne)




"Insubstituível" (Médecin de Campagne), dirigido por Thomas Lilti, tem muito de outro longa recentemente lançado, "Bem-Vindo a Marly-Gomont", onde um médico africano tenta ser aceito numa comunidade rural na França dos anos 1970. Aqui a luta é da recém-formada em medicina Natalie (Marianne Denicourt), que foi enfermeira por 10 anos, mas enfrenta a resistência não só dos moradores de uma pequena cidade do interior francês, mas também do médico titular do posto, que a trata com mau humor e sem paciência.

O médico, Jean-Pierre Werner, é vivido por François Cluzet (do fantástico Intocáveis). Ele descobre estar com câncer, mas resiste a fazer tratamento. É quando recebe a oferta de ser ajudado por Natalie, e aí reside outra resistência de sua parte. Afinal, o médico trata dos moradores da localidade há várias décadas, e eles não estão dispostos a ser atendidos por uma novata. Werner é, como diz o título nacional, insubstituível. A obra mostra o amor pela profissão - os dois não tem hora e nenhuma indisposição para atender seus pacientes, mostrando um profissionalismo que não vemos aqui no Brasil, por exemplo.

Cluzet brilha em seu papel, onde vive um homem carrancudo e azedo, mas sempre amoroso com os seus clientes de décadas - só não dá para entender é a personagem de Marianne Denicourt, que mesmo com tudo o que vê ao seu redor, e trabalhando com um colega vítima de câncer, aparecer em cada cena sempre segurando um cigarro.

Duração: 1h42min

Cotação: bom
Chico Izidro

“Eu, Olga Hepnarova’’ (Já Olga Hepnarová)




A jovem Olga Hepnarova era um verdadeiro saco de pancadas na Tchecoslávaquia dos anos 1970. Tanto desprezo por seu ser provocou uma tragédia no país, sendo ela a última mulher condenada a morte, por enforcamento, em 1975, com apenas 23 anos de idade.

O filme dirigido pela dupla Petr Kazda e Tomás Weinreb, acompanha a vida desta garota, interpretada com excelência pela atriz polonesa Michalina Olszanska, muito parecida com Natalie Portman). Olga era uma menina pequena, tinha problemas de relacionamento com seus pais, com os colegas da escola, e trabalho – a responsável pelo seu pagamento costumava deixar de pagá-la, alegando não ter mais dinheiro. E os seus colegas motoristas de caminhão a desprezavam por ela ser lésbica. E convenhamos, sua sexualidade não era entendida naquela época, pesando mais por ser um país comunista e retrógrado.

Olga se sentia tão deslocada neste mundo, que tentou o suicídio algumas vezes. E tanto desespero fez com que ela, numa tarde de 10 de junho de 1973 jogasse seu caminhão sobre várias pessoas que esperavam o ônibus num ponto de ônibus em Praga. Dos 25 atropelados, oito morreram. Ao ser questionada pelo guarda que foi atender a ocorrência, garantiu não ter adormecido ao volante e sim ter feito o atropelamento de propósito.

Antes de perpetrar o ataque, muito semelhante ai atentado do Estado Islâmico em Nice, em 14 de juilho de 2016, ela escreveu uma carta: “Eu sou uma solitária. Uma mulher destruída. Uma mulher destruída pelas pessoas… Eu tenho uma escolha – me matar ou matar outras pessoas. Eu escolho me vingar de quem me odeia. Seria muito fácil deixar este mundo como uma vítima anônima de suicídio. A sociedade é muito indiferente a isso, e com razão. Meu veredito é: Eu, Olga Hepnarová, a vítima de sua bestialidade, sentencio vocês à morte”.

O filme é muito forte, e se faz urgente ainda com a sua fotografia em preto e branco. Temos a impressão de estarmos realmente nos anos 1970, quando o PB ainda fazia parte de nossa memória visual.


Duração: 1h45min


Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Jovem Rainha" (The Girl King)




"A Jovem Rainha" (The Girl King), direção de Mika Kaurismäki, é um drama de época, um pouco arrastado, mas uma aula de história. Nele, temos a vida da rainha da Suécia no Século XVII, Cristina I (Malin Buska). Ela influenciou religiosamente e culturalmente o seu país, e morreu virgem, com 60 e poucos anos, apesar de ter tido um romance homossexual com a condessa Ebba Sparre (Sarah Gadon).

A rainha Cristina I era a única filha legítima do rei Gustavo Adolfo. Foi criada recebendo aulas de esgrima e leitura dos grandes clássicos da literatura universal, e sucedeu o pai com apenas seis anos de idade, sendo coroada quando completou 18 anos. O filme apresenta uma recriação excepcional da história, mostrando o direcionamento religioso da Suécia e a amizade da rainha com pensadores, como o francês René Descartes. Tendo como protagonisty a atriz sueca Malin Buska e com atuações ótimas da bela sSrah Gadon e de Michael Nyqvist, o filme dá uma boa aula de história.

Devido a sua educação singular, Cristina difere do pensamento de autoridades de seu reino, como o chanceler Axel Oxenstierna (Michael Nyqvist). Uma de suas lutas era tentar acabar com a Guerra dos 30 anos e desenvolver a cultura na Suécia. Ela também se meteu em confusões ao se apaixonar pela condessa Ebba Sparre (Sarah Gadon). E o envolvimento delas não tem nada de apelativo, com cenas bonitas. Enfim, "A Jovem Rainha" tem um elenco de destaque e um clima épico, apresentando um bom filme, mesmo que com um ritmo lento demais.

Duração: 1h46min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Mistério na Costa Chanel" (Ma Loute)



"Mistério na Costa Chanel" (Ma Loute), direção de Bruno Dumont, é a elegia do exagero, da caricatura - os personagens, principalmente os coadjuvantes, deste longa parecem ter sido tirados de filmes de Federico Felini. Gente estranha e esquisita. Estamos em 1910, no norte da França, em uma pequena cidade litorânea, onde moram duas famílias completamente distintas, os ricos Van Peteghems, cujo patriarca é interpretado por Fabrice Luchini, e os Bréforts, pobres pescadores.

E entre eles, dois policiais, o gorducho Alfred Machin (Didier Despres) e Malfoy (Cyril Rigaux) tentam descobrir o que está provocando o desaparecimento de muitas pessoas no vilarejo. E um dia, o jovem Ma Loute Bréfort (Brandon Lavieville) se apaixona por Billie Van Peteghem (Raph), que gosta de se vestir como um garoto e é filha de Aude Van Peteghem (Juliette Binoche), uma mulher extremamente dramática e preconceituosa com os pobres do local. Com o romance improvável dos jovens, o diretor tenta mostrar as diferenças sociais do período. E um segredo da família Bréfort, que pode explicar o sumiço dos moradores.

Todo o filme é mostrado com cenas exageradas, repletas de humor negro e caricaturais. André Van Peteghem, o personagem de Fabrice Luchini, é corcunda, e anda como um dos personagens do filme "O Sentido da Vida", do Monte Python, Aude faz caretas e bocas e se joga no chão, mas é um papel totalmente diferente daqueles que Binoche costuma interpretar - o de mulheres sofridas e depressivas.

Duração: 2h03min

Cotação: bom
Chico Izidro