Thursday, May 31, 2012

Branca de Neve e o Caçador

Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? pergunta a linda Charlize Theron no papel da Rainha Má em mais uma versão cinematográfica do clássico Branca de Neve, conto original criado pelos Irmãos Grimm. Só neste ano, a personagem foi transposta para a tela em Espelho, Espelho Meu e no seriado Once Upon a Time.

Agora, a história que trata de vaidade é dirigida por Rupert Sanders em "Branca de Neve e o Caçador", com Charlize Theron e Kristen Stewart, de Crepúsculo, como a heroína.

A trama é conhecida. A Rainha Má deseja a beleza eterna e para isso precisa que sua enteada Branca de Neve (Stewart) tenha o coração arrancado e entregue à ela. Na versão literária, o Caçador é apaixonado e sente pena da garota, libertando-a na floresta e levando para a Rainha o coração de um porco. Branca de Neve se embrenha na floresta e é acolhida pelos sete anões. No filme, Sanders faz várias alterações, mais para o paladar do público atual.
Aqui o Caçador (Chris Hemsworth, que viveu Thor nos Vingadores) não está apaixonado por Branca de Neve. Ele é um viúvo alcoólatra, que após muitas reviravoltas, decide ajudar a garota a fugir.

Muitas batalhas - com direito a Branca de Neve como uma Joana D'Arc rediviva liderando um exército contras as tropas da rainha. Em outra palavra, ridículo.

"Branca de Neve e o Caçador" é bonito visualmente, com efeitos especiais cuidadosos. Observe com atenção o passeio de Branca de Neve pela floresta, cercada de animais e fadas (lembra o desenho animado feito por Walt Disney). Os sete anões são concebidos com a mesma técnica utilizada em O Senhor dos Anéis, com atores tendo suas alturas reduzidas digitalmente - um dos anões é o veterano Bob Hoskins.

Charlize Theron está ótima como a vaidosa e cruel rainha, assim como Hemsworth. Porém Kristen Stewart não possui o estofo e nem a beleza necessária para interpretar a heroína. E na vida real, se Theron fosse perguntar ao espelho qual mais bela, ela ou Kristen, o espelho nunca teria dúvidas. E nem Charlize.

cotação: regular
Chico Izidro

Diário de Um Jornalista Bêbado


Hunter S. Thompson foi o pai do jornalismo gonzo, aquele onde o repórter faz parte viva da ação. Em 1998, o ex-Monty Pithon Terry Gilliam levou às telas Medo e Delírio, com Johnny Depp no papel do jornalista e as experiências lisérgicas durante uma viagem a Las Vegas.

Agora, o eterno Edward Mãos de Tesoura volta a viver Thompson em "Diário de Um Jornalista Bêbado", direção de Bruce Robinson. O longa retrata o período em que o jornalista, aqui batizado como Paul Kemp, viveu em San Juan de Porto Rico, no começo dos anos 1960. O jornalista foi parar lá para trabalhar no quase falido jornal San Juan Star.

Muitas bebedeiras, festas e uso de drogas faziam parte do cotidiano de Paul Kemp, alter ego de Thompson, em San Juan. O repórter ainda se envolve com a namorada de um americano ricaço da ilha, Sanderson (Aaron Eckhardt), que pretende construir um condomínio para turistas americanos numa das ilhas paradisíacas de San Juan. E Sanderson pede que Kemp faça matérias favoráveis ao empreendimento.

Só que o jornalista entra num choque de realidade, pois ao mesmo tempo que verifica os gordos turistas americanos esbanjando, constata a precária situação em que vivem os nativos.

Depp, como sempre, está ótimo, mesmo que já aos 50 anos, interprete um personagem que tem 20 e poucos anos. Os coadjuvantes, principalmente Michael Rispoli como o jornalista desleixado Sala, e Giovani Ribisi no papel do fotógrafo sueco e admirador de Hitler Moburg, também destacam-se, dando um toque mais trash à produção.

Aqueles anos 1960 eram, ainda, uma época em que o jornalismo era romântico, onde se fumava e se bebia sem o mínimo da moderação. E Diário de Um Jornalista Bêbado, no original The Rum Diary, explicita muito bem isso.

Cotação: bom
Chico Izidro

À Espera dos Turistas




Setenta anos após a II Guerra Mundial, os alemães ainda convivem com o estigma de maiores criminosos da história da humanidade. E as novas gerações ainda tentam apagar a mancha nazista de suas vidas.

Afinal, Hitler e seus asseclas exterminaram mais de 20 milhões de pessoas entre 1933 e 1945, sendo 6 milhões de judeus.
Os jovens nascidos após 1980 consideram não ter a culpa que a geração de seus pais carregava. Mesmo assim ela está lá. E isso é mostrado em "À Espera de Turistas", de Robert Thalheim. Um jovem alemão, Sven (Alexander Fehling, visto em Bastardos Inglórios) tem a opção de escolher entre servir o exército alemão ou fazer um trabalho voluntário. Ele opta pela segunda opção e acaba sendo enviado para Auschwitz, o infame campo de extermínio onde 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas pelos nazistas. Lá Sven vai servir como uma espécie de guia para as pessoas que querem conhecer onde tais crimes foram cometidos.

Hoje um museu, onde pode-se ver os pertences daqueles que pereceram no local, como óculos, malas, sapatos e roupas, terá uma chocante noção de como os poloneses enxergam os alemães. "O exército alemão de novo em Auschwitz", escuta Sven em seu primeiro dia como voluntário no local. Não bastasse isso, ele ainda tem de cuidar de um antigo prisioneiro do campo, o ranzinza e mandão Krzeminski (Ryszard Ronczewski), que perto dos 90 anos parece ter certo prazer em maltratar o jovem, assim como ele o foi no período que viveu no campo de concentração.

Para aliviar um pouco seu dia a dia em ambiente tão pesado, o rapaz se envolve com a guia polonesa Ania (Barbara Wysocka), cujo objetivo é se mandar daquela cidadezinha, conhecida pelos poloneses como Oswiecin.

À Espera de Turistas mostra ainda que as novas gerações não parecem muito preocupadas com o que ocorreu na década de 1940. Isso fica evidente em duas cenas constrangedoras. Numa delas, alguns jovens fazem força para tentar demonstrar o mínimo de interesse nas experiências vividas por Krzeminski. Noutra, o velho começa um discurso e após dois minutos é interrompido abruptamente pela diretora de uma empresa que está se instalando na localidade.

À Espera de Turistas é reflexivo e claramente calcado na ideiqa de que aqueles crimes hediondos, por mais que doam, devem ser lembrados sempre para não serem repetidos no futuro.

Cotação: bom
Chico Izidro

O Homem Que Não Dormia




Alguns diretores não pensam muito na hora de desperdiçar o dinheiro público com projetos ambiciosos e sem noção.
Em "O Homem Que Não Dormia", o diretor Edgard Navarro faz uso do folclore do interior do país para contar a história de cinco moradores de um vilarejo. Eles têm o mesmo pesadelo com um andarilho e um tesouro enterrado naquele rincão perdido do Brasil. Além do mistério, essas pessoas carregam fortes problemas pessoais.

Um deles, por exemplo, é um deficiente mental que vive acorrentado na miserável cabana dos pais, o outro é o padre, sem fé e apaixonado pela mulher de um dos fiéis.

A trama é bem interessante, mas o problema como ela é contada põe tudo a perder. A montagem é equivocada, com cortes abruptos, delírios do diretor (?) ou dos personagens, incluindo cenas gratuitas e desnecessárias de masturbação entre dois homens.

Contando ainda que a atuação dos atores é precária, principalmente Bertrand Duarte, que é o padre sem fé. Ele ainda tem direito a pior cena do filme, onde tem uma visão, sai correndo de cueca pelas ruas do vilarejo durante uma procissão e depois sai voando carregando balões, assim como aquele padre paranaense que caiu no oceano em 2008.
Enfim, o título do filme chega a ser irônico, pois se o espectador for insone, basta assistir ao "Homem Que Não Dormia". O sono virá, com certeza.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Thursday, May 24, 2012

Homens de Preto 3

Há algum tempo desapareceu aquele estigma de que as continuações de filmes de sucesso são ruins. Claro que não é um a regra. Mas "Homens de Preto 3" é tão bom quanto o primeiro. Dirigido por Barry Sonnenfeld, 10 anos após a inferior parte 2, traz de novo Will Smith como J. e Tommy Lee Jones como o sisudo agente K.

Como sempre, os agentes governamentais que controlam a vida extraterrestre na Terra têm de salvar o mundo. Só que agora J. é obrigado a voltar aos anos 1960, para evitar que seu parceiro K. seja assassinado, momentos antes da primeira viagem tripulada à lua. Se isso ocorrer, o mundo dos anos 2010 é capaz de não existir como o conhecemos. "Homens de Preto 3" demora um pouco a engrenar. A graça chega quando J. viaja no tempo, chegando à Nova Iorque de 40 anos atrás e encontra K. jovem (Josh Brolin, de Onde os Fracos Não Têm Vez). As piadas rolam sem parar, principalmente as raciais, deixando o politicamente correto de lado.

Afinal, J. vai a uma época onde os negros ainda brigavam por seu espaço na sociedade, sendo vistos com desconfiança pela maioria branca. Quando o agente se preparava para voltar no tempo, ouve a pergunta: "Você tem certeza de que pretende voltar a 1969, afinal aquele foi um ano difícil para seu povo...". Logo depois, já na Nova Iorque sessentista, J. entra em um elevador, onde um pequenino homem branco acha que será assaltado por aquele jovem negro de terno.

Os extraterrestres são outra atração à parte. Divertidos e dos mais variados tipos e sotaques. Will Smith, por sua vez, repete com êxito seu personagem malandro e descontraído. Já Josh Brolin é competente ao extremo ao interpretar o carrancudo K. em seus 28 anos de idade. "Para quem tem apenas 28 anos, você está bastante gasto", debocha em determinado momento J. Acrescentando que Brolin realmente parece com Tommy Lee Jones mais novo.

Cotação: bom
Chico Izidro

Flores do Oriente

A brincadeira é que Christian Bale (Batman) pode viver a sua trilogia oriental. Como criança, em 1987, foi o protagonista de "O Império do Sol", de Steven Spielberg. Agora, adulto, é o ator principal do drama "Flores do Oriente", de Zhang Yimou. Daqui a 20, 30 anos, talvez ele viva um idoso em outra obra passada em período de guerra na Ásia.

"Flores do Oriente" recria momento negro na história do Japão, quando da invasão à China, mais especificamente a cidade de Nanquim, em 1937, durante a Guerra Sino-Japonesa. Naquela ocasião, mais de 200 mil civis e militares foram assassinados e mais de 20 mil mulheres foram estupradas. E é o sofrimento de algumas dessas mulheres que o chinês Zhang Yimou recria, sem poupar cenas fortes, mas também tropeçando, por vezes, no sentimentalismo.

A história inicia quando o agente funerário John (Bale) vai até a igreja católica de Nanking para preparar o funeral de um padre. Só que chegando ao local, acaba encontrando um grupo de estudantes chinesas de 13 anos completamente abandonadas, pois o corpo do padre acabou sumindo após bombardeio. Logo depois, chega à igreja a procura de ajuda um bando de prostitutas, e John, alcoólatra, se vê no meio de um furacão. Afinal, existe o contraponto entre jovens inocentes e mulheres muito, muito experientes. E à procura delas, o exército japonês e seus soldados estupradores. A única solução para que elas se salvem é John e sua neutralidade de ocidental. E o rapaz se traveste de padre para lidar com o exército invasor, que de certa forma respeita sua batina. E essa transformação do agente funerário em homem honrado, no tal herói do dia como passa a ser conhecido, é de certa forma, forçada demais. Os destaques acabam sendo as atrizes Xinyi Zhang, como Shu, uma das estudantes e narradora da história, e a bela Ni Ni, que interpreta Yu Mo, a prostituta por quem John se encanta.

Zhang Yimou é primoroso na reconstituição da invasão nipônica à cidade chinesa, que foi totalmente destruída. Porém exagerado sentimentalismo e algumas cenas longas demais, como a das brigas entre estudantes e prostitutas na igreja, acabam por enfraquecer o filme, que poderia ter muito menos do que seus 141 longos minutos.

A invasão de Nanking pelos japoneses foi melhor retratada no excepcional Cidade da Vida e da Morte, dirigido por Chuan Lu em 2009, todo em preto e branco e com quase 3 horas de duração. Esse é imperdível.

Cotação: regular
Chico Izidro

Girimunho

"Girimunho" não é um documentário, mas aproxima-se de um. Na realidade, os diretores Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr. foram ao sertão mineiro e resgataram um momento vivido por moradores da pequena e isolada São Romão: a viúvez da idosa Maria Sebastiana, conhecida como Bastú. O detalhe é que ela própria interpreta sua vida, ao lado da amiga Maria da Conceição, a Maria do Boi, e de seus netos, a quem cria.

Bastú, após mais de 50 anos casada, perde o marido. Mas como prometera a ele, não chora quando de sua morte. Para espanto do neto, que mora fora da cidade e que a visita frequentemente. Sempre ao lado de Bastú está Maria do Boi, a mulher que mantém a tradição quilombola de São Romão, com seu batuque e conselhos. Bastú também é uma mulher sábia, apesar de inculta, e mesmo com o sofrimento ao se redor, sempre demonstra bom humor, principalmente com as netas Branca e Preta, que desejam sair daquele lugar escondido e estudar na cidade - mas somente uma pode ir embora, e a outra deve ficar ao lado da avó. E Bastú segue seu trajeto, aos poucos tentando apagar o registro de seu falecido marido. "Não é o tempo que para, nós é que paramos", filosofa a heroína.

"Girimunho" no dialeto da região significa redemoinho. E o que Bastú e Maria do Boi observam o fenômeno natural naquelas terras vermelhas e áridas. E é de difícil compreensão, não a história, simples. Mas a maneira de como é contada. Os diretores optaram por um filme cru, com som direto (ou seja, sem dublagem). E entender o que Bastú e Maria do Boi falam exige muita atenção, pois não bastasse a terrível dicção das duas, o dialeto do local é quase intransponível. Sem contar a iluminação, outro grande problema.

Cotação: regular
Chico Izidro

O Corvo

"O Corvo" não é uma refilmagem do filme homônimo de 1994, com Brandon Lee, o filho de Bruce Lee, e que morreu durante as filmagens. O thriller policial de 2012 bebeu na fonte da obra e na vida do escritor e poeta americano Edgar Allan Poe (1809/1849).

Poe, aliás, é o protagonista da trama, que gira em torno de um serial killer que baseia-se nas obras do escritor para cometer seus crimes em Baltimore no final da década de 1840. O diretor James McTeigue não poupou fortes cenas de tortura, esquartejamento, degolamentos e dissecações. Como os assassinatos são idênticos aos escritos de Poe, ele acaba sendo o principal suspeito. Falido, bêbado, Poe poderia estar querendo publicidade para seus livros e recuperar seus dias de fama e casar com a riquinha Emily (Alice Eve, que pode ser vista também em Homens de Preto 3).
Poe, provando ser inocente, é cooptado pela polícia para ajudar a encontrar o serial killer, o que será uma grande surpresa, e nisto está o ganho do filme.

Evidente que a história é totalmente ficcional. E John Cusack exagerou na dose de sua composição de Edgar Allan Poe. O escritor, como mostrado em "O Corvo" era mesmo um alcoólatra e morreu jovem, com apenas 40 anos, encontrado no meio da rua completamente fora de si, sem falar coisa com coisa. Porém no filme, ele ficou muito por demais caricato, e próximo do também errático e histriônico, esse sim, personagem de ficção Sherlock Homes, vivido por Robert Downey Júnior.

Cotação: regular
Chico Izidro

Thursday, May 17, 2012

Os Vingadores

Depois da carreira solo de vários heróis dos quadrinhos no cinema, "Os Vingadores", de Joss Whedon, une a turma recrutada pela agência S.H.I.E.L.D. para combater o vilão Loki, que evidentemente deseja dominar o mundo após roubar um tipo de meteoro, o Tesseract. Esse elemento já havia sido o objeto de desejo de outro vilão, o nazista Caveira Vermelha, em Capitão América, o Primeiro Vingador.
Além do Capitão América, vivido por Chris Evan e que já foi Tocha Humana, Os Vingadores têm ainda Thor (Chris Hemsworth), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner, de Guerra Contra o Terror), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Hulk (Mark Ruffalo, de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.). Cabe, aliás, ao super-herói metálico as melhores piadas do filme. E ele, quando não traja sua armadura, veste uma camisa do Black Sabbath, apesar de quando aparecer em cena espoucarem músicas do AC/DC. O filme não tem uma trama complicada, aliás, simplificaram ao máximo, pois os produtores desejavam atingir públicos de todas as idades. Objetivo alcançado.
A primeira parte de "Os Vingadores" resume-se em reunir todos os heróis e seus egos enormes. Na segunda parte, ocorre o confronto dos mocinhos contra Loki, irmão de Thor, e os seus aliados, uma raça de alienígenas, conhecida como chitauri. Muita pancadaria, excepcionais efeitos especiais e, claro, a destruição de Nova Iorque, a cidade que ao lado de Tóquio, é a mais afetada pelos conflitos entre humanos e extraterrestres na história do cinema. O filme é divertido, mas em certo momento torna-se tedioso, pois repete-se no quebra-quebra corriqueiro neste tipo de blockbuster.
O veterano ator Samuel Jackson vive Nick Fury, o agente da S.H.I.E.L.D.. E ele, como sempre, está se divertindo muito, pois é fã confesso das HQ, já tendo ganhado espaço na nova trilogia de Star Wars e no suspense Corpo Fechado, de M. Night Shyamalan. Scarlett Johansson e Gwyneth Paltrow, apesar do elenco majoritariamente masculino, ganham bastante espaço e esbanjam beleza e sexualidade. Mas o melhor é mesmo Robert Downey Jr. e seu estilo debochado e provocador. Sem contar que desta vez finalmente o Hulk digital funciona a contento, com direito a uma das melhores cenas do filme, quando espanca Loki (Tom Hiddleston, de Cavalo de Guerra e Meia-Noite em Paris, faz um vilão mediano, que não provoca o mesmo temor de personagens como o já citado Caveira Vermelha, ou outros como Magneto, Galactus e Darth Vader).

Cotação: bom
Chico Izidro

Thursday, May 10, 2012

Piratas Pirados

Sempre é bom repetir: certos tipos de desenhos animados não são ideais para a criançada. "Piratas Pirados", de Jeff Newitt e Peter Lord, um dos criadores de A Fuga das Galinhas, insere-se nesta tradição. A petizada até se encanta com as cores vivasm, os bichinhos, mas passa batida na trama e nas citações a outros filmes, livros, músicas. Ou seja, os adultos são os agraciados.
"Piratas Pirados" é feito com massinha. Um trabalho elaborado, cuidadoso e que leva muitos, muitos anos para ser concretrizado. Aqui, o Capitão Pirata comanda uma trupe de perdedores que singra os sete mares em busca de tesouros, mas sempre com insucesso. E o sonho do Capitão é conquistar o prêmio de Pirata do Ano. Nunca consegue e vira motivo de deboche dos demais corsários. Ele não sabe, mas tem em seu navio o maior dos tesouros do Século XIX, passando a ser perseguido por Charles Darwin, ele mesmo, o naturalista inglês, e a Rainha Vitória. As duas figuras históricas são os vilões da história. Isso mesmo, os diretores não tiveram pudor em aprontar tamanha iconoclastia.
Sem contar que os diálogos são deliciosos, algumas adaptadas para o público brasileiro - exemplo quando dois personagens citam o clube de futebol Vasco da Gama. E quando escrevo que os adultos são privilegiados neste belo filme. É só falar das aparições da escritora Jane Austen e do Homem-Elefante. E a trilha sonora, com direito a London Calling, do Clash.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

O Exótico Hotel Marigold

Um grupo de ingleses de terceira idade depara-se com diversos percalços em suas vidas. Uma ficou viúva e o falecido deixou várias dívidas, um casal perdeu as economias de toda a vida investindo num projeto furado da filha, um juiz encheu o saco da profissão, um solitário ainda sonha em encontrar o amor de sua vida. E uma velha racista só tem uma solução para resolver um sério problema de saúde.
Todos acabam indo parar na Índia, local mais barato de se viver e morar num hotel que, pelo anúncio, parece ser paradisíaco. Só que ao chegar, descobrem ser um lugar caindo aos pedaços e cujo dono é um sonhador romântico. Em "O Exótico Hotel Marigold", de John Madden, os ingleses se deparam com um buraco no final do mundo, assim como eles enxergam a Índia e seu atraso secular. Claro num drama como este, o choque cultural apresentará todas as suas tintas.
Afinal, você sai de uma organizada Inglaterra e vai parar na Índia, com superpopulação, vacas e disputado espaço nas ruas com ônibus cheios, poeira, sujeira. E não são poucos os comentários preconceituosos dos personagens - o politicamente correto aqui é deixado de lado, pois mostram pessoas idosas que viveram seu auge numa época onde comentários preconceituosos sobre as minorias não eram censurados. Outra coisa é que a Índia pertenceu ao Império Britânico, então os personagens vêm os indianos como inferiores. Ao longo de "O Exótico Hotel Marigold", outros choques culturais vem à tona, como o gerente de hotel, Sonny (o garoto Dev Patel, de Quem Quer Ser um Milionário?), apaixonado pela garota Sunaina, de outra casta, e por isso sendo repreendido pela mãe. Ou de um inglês, gay, que teve um rapaz local como amante.
Apesar de tratar de temas tão difíceis, acaba sendo leve e emocionante. Como diz um dos personagens: quando as coisas têm de dar certo, darão.
Destaque para Bill Nighy (de Simplesmente Amor), Maggie Smith como a velhinha racista, Tom Wilkison e Judi Dench, num surpreendente papel romântico.

Cotação: bom
Chico Izidro

Battleship - Batalha dos Mares

Não assistia tamanha patriotada desde Independence Day. Até que chegou "Battleship - Batalha dos Mares", dirigido por Peter Berg (de O Reino e Hancock). Nele, os extraterrestres voltam a ameaçar o Planeta Terra, mas claro que são vencidos, desta vez pela marinha americana, unida com a japonesa. Detalhe: a história começa em Pearl Harbour, onde ocorreu o histórico Dia da Infâmia, onde o Japão destruiu a frota americana em dezembro de 1941, além de matar mais de 5 mil soldados. Agora, Battleship - Batalha dos Mares faz com que as duas nações se unam para acabar com os aliens.
A história é contada aos atropelos. Só para dar uma ideia, o herói Hopper (o fraco Taylor Kitsch, de Serpentes a Bordo e John Carter, que afundou os estúdios Disney), em pouco tempo passa de um vagabundo, dormindo no sofá da casa do irm a marinheiro e noivo de Sam (Brooklyn Decker, de Esposa de Mentirinha) e filha do Almirante Shane (Liam Neeson, que desistiu de vez dos filmes sérios). E mais rápido ainda Hopper passa a ser comandande do navio USS John Paul Jones, nome do baixista do Led Zeppelin. A ação é direta, com bons efeitos especiais e boas cenas de batalhas. Porém, assim como a rápida ascenção de Hopper, é difícil de engolir os humanos, com tecnologia muito inferior, vencendo os alienígenas, até mesmo no braço. E a cantora Rihanna está lá, como uma soldado braço-direito de Hopper. Sem um pouquinho de feminilidade.
Battleship tenta se manter sério até certo momento, quando um grupo muito especial de soldados humanos é convocado para a tal batalha final, e não vou revelar aqui qual é esta turma. Mas é absurdamente rísivel.
O melhor de tudo fica sendo a trilha sonora, com AC/DC.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Um Homem de Sorte

Os livros românticos de Nicholas Sparks são um fenômeno mundial e alguns já foram levados à tela, sendo o mais exitoso Diário de Uma Paixão. Em comum, todos têm um tom lacrimoso e final água com açucar. Em "Um Homem de Sorte", dirigido por Scott Hicks, a trama gira em torno de um veterano da guerra do Iraque, Logan, vivido por Zac Efron, de High Music School. Durante boa parte do tempo em que esteve no conflito no Oriente Médio, Logan encontrou a foto de uma garota, que ele tomou como amuleto da sorte. De volta à casa e traumatizado, Logan parte à procura da mulher da foto - quem seria ela, o que faria, a quem pertenceria a foto?
Ele nutre uma intensa paixão platônica por ela e vasculha o sul dos Estados Unidos até encontrá-la, se apaixonar e tentar que não é apenas um maluco. Tudo é muito inverossímel e Logan não é um homem deste planeta, talvez de nenhum. O cara é bonito, músico, filósofo, marceneiro, mecânico, bom de cama e ainda por cima um bom padrasto, já que Beth Clayton (Taylor Schilling) é separada e o ex-marido, o xerife da cidade, é um verdadeiro psicopata mimado e se achando ser ainda mais acima da lei por ser o filho do prefeito.
Zac Efron, que fora bem em As Vidas de Charlie, decepciona profundamente. Inexpressivo, é superado facilmente pela estreante Taylor Schilling e até pelo garotinho Riley Thomas Stewart, que interpreta Ben Clayton, outro personagem excepcional, pois aos sete anos é exímio enxadrista e músico. "Um Homem de Sorte" é uma profusão de clichês, como a vó compreensiva, confidente e racional, e o ex-marido, violento e fascista. Sem contar as paisagens idílicas, dignas de um comercial de margarina. Dessa vez nem os corações apaixonados vão cair de amores por este cara afortunado.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Anjos da Lei

"Anjos da Lei" ou "21 Jump Street" foi o seriado televisivo da segunda metade da década de 1980 que lançou o hoje astro mundial Johnny Deep. Policial com cara de adolescente, ele e o parceiro Peter DeLuise (filho do comediante Don DeLuise), infiltravam-se nas high schools, ou escolas de ensino médio, para desbaratar criminosos juvenis. A série tinha tons dramáticos e pegava pesado. Pois bem, passadas duas décadas e seguindo tendência de levar para a telona seriados de sucesso, chegou a vez de "Anjos da Lei.
Antes de "Anjos da Lei", tivemos Perdidos no Espaço, que fracassou redondamente; As Panteras, que ganhou ares de modernidade e era divertido com beldades como Drew Barrymore e Lucy Liu. E não dá para esquecer a tragédia que foi Starsky & Hutch, policial dos anos 1970, que foi destruído por Ben Stiller e Owen Wilson em 2004.
O drama policialesco virou comédia escrachada nas mãos dos diretores Phil Lord e Chris Miller. Os heróis são o gordinho nerd Schmidt (Jonah Hill, de O Homem que Virou o Jogo e Superbad) e Jenko (Channing Tatum, um dos novos queridinhos de Hollywood e que pode ser visto em À Toda Prova e Querido John). Na escola, os dois viviam em turmas opostas, um sofrendo bulliyng e o outro provocando. Adultos e sem muitas alternativas, entram para a academia de policia e acabam tornando-se amigos. Formados, mostram-se um fracasso, até que são cooptados para trabalhar como tiras infiltrados numa escola, com o objetivo de descobrir uma gangue que trafica drogas sintéticas.
Daí em diante, o filme mostra dois adultos vivendo como garotos tardios, em festas, bebedeiras, chapadeiras, garotas boazudas e piadas rasteiras e sem nenhuma graça. Os protagonistas da série original Johnny Depp e Peter DeLuise ainda aparecem numa rápida aparição, que talvez seja o único momento bem sacado da comédia, que fica engatilhada para uma continuação.

Cotação: ruim
Chico Izidro

As Idades do Amor

Para falar de amor, nada como os italianos e os franceses. O melhor filme deste século sobre o assunto, por enquanto é o reflexivo O Último Beijo, do italiano Gabriele Muccino, de 2004. Pois tratando-se de amor, a cinesérie "As Idades do Amor", no Brasil, ou "Manuale D'Amore 3" na Itália, nos deixa co aquela sensação no coração de que todos precisam de alguém para amar. Em 3 curtas dirigidos por Giovanni Veronesi, a visão sempre romântica e engraçada de nossos irmãos latinos em várias fases da vida.
A primeira história, no entanto, é fraca, contando a dúvida de um jovem advogado que noivo, faz uma viagem a negócios, conhece outra mulher e fica em dúvida se deve ou não casar ou ficar com a loira ardente que lhe tirou do sério. O segundo conto é hilário, onde um apresentador de tevê, já com seus 60 anos, casado há décadas envolve-se com uma bela morena, Micol (Laura Chiatti). Ela, porém, é maniaco-depressiva e passa a perseguí-lo e chantageâ-lo depois de uma transa, onde Fabio (o divertido Carlo Verdone) imita alguns animais para satisfazer o desejo da garota.
O grande trunfo de "As Idades do Amor", chega na terceira história, onde Roberto de Niro interpreta seu melhor papel em muitos anos, sem apelar para aquelas suas caretas. Ele vive Adrian, um professor de história que após a aposentadoria e já beirando os 70 anos, vai morar em Roma, acreditando que nunca mais irá se envolver com nenhuma mulher. A única que tenta algo com ele é prontamente rechaçada.
Só que suas convicções vão por água abaixo quando ele conhece a filha do zelador do prédio onde reside. E ela é nada mais, nada menos do que Viola (Monica Belucci, que aos 40 anos esbanja beleza e sensualidade). Duas cenas valem muito a pena. Numa, De Niro finge fazer jogging pela Cidade Eterna para impressionar Viola numa manhã de sol escaldante. E em outra, maravilhosa, ele faz um streaptease sob o comando de Viola, uma ex-dançarina de pool dance.

Cotação: bom
Chico Izidro

Jovens Adultos

Chega uma hora em que você tem de esquecer o passado e seguir em frente. Este momento, no entanto, parece não ter chegado à escritora Mavis Gary (Charlize Theron) em "Jovens Adultos", drama de Jason Reitman, que já havia dirigido os bons Amor Sem Escalas e Juno. Frustrada por sua série de livros infanto-juvenis ter sido cancelada, solteira e sem filhos aos 38 anos, Mavis decide retornar para sua pequena cidade natal e tentar recuperar o amor de sua vida.
O problema é que Buddy Slade (Patrick Wilson, de Esquadrão Classe A) está casado e recém tornou-se pai. Só que isso não entra na cabecinha de Mavis, que tentará de todas as formas ficar com sua antiga paixão. O título Jovens Adultos vem bem a calhar, pois ela não entende que o mundo seguiu em frente. E acha que todos devem cair a seus pés, assim como o era na época do colégio, quando era a gostosona e poderosa do local, fazendo gato e sapato de todos. Inclusive Mavis encontra um ex-colega, o gordinho Matt Freehauf (Patton Oswalt, do seriado King of Queens), que ficou aleijado após ter levado uma surra dos valentões da escola, por simplesmente ter olhado para ela. Oswalt, aliás, não é a grande surpresa do filme, pois ele já é um veterano, mas sua atuação é a melhor, num elenco que mostra-se azeitado.
A questão é saber se Mavis irá se regenerar e Charlize Theron faz bem este papel de dondoca sofrida e ao mesmo tempo cruel. E como em Monster - Desejo Assassino, a atriz não se envergonha de parecer, por vezes, uma mulher feia e velha. Será que o ensino médio foi um inferno para todos?


Cotação: bom
Chico Izidro

Bad Ass

Danny Trejo é uma figuraça. O ator americano descendente de mexicanos e primo do cineasta Roberto Rodriguez conheceu a fama tardiamente em filmes como Era uma Vez no México e Um Drink no Inferno, apesar de estar na labuta desde o início dos anos 1980. Até que ganhou um filme para chamar só de seu, o violento Machete, onde viveu um justiceiro que luta pela dignidade dos imigrantes mexicanos. Em "Bad Ass", algo como Fodão, dirigido por Craig Moss, Trejo, de 67 anos, praticamente repete seu personagem de Machete.
Ele é Frank Vega, veterano herói da guerra do Vietnã, que nunca foi reconhecido pela sociedade. Vivendo à beira dela, da noite para o dia transforma-se em celebridade após defender um senhor negro do ataque de dois neonazistas num ônibus. Dias depois, seu melhor amigo, Klondike, é morto e como a policia nada faz para solucionar o caso, Vega sai na busca dos assassinos. Com isso, vai deparar com um empresário do setor imobiliário, vivido por outra figuraça do cinema, o queixudo Ron Perlman, de Hellboy, que tem planos ambiciosos para o bairro violento e humilde onde reside o justiceiro.
O filme não poupa cenas violentas, mas também tem seus momentos de romance, quando Vega encontra o amor de sua vida, depois de 3 décadas solitário.

Cotação: bom
Chico Izidro

O Principe do Deserto

Incrível, que saudade que tive do genial Lawrence da Arábia, de David Lean e estrelado por Peter O'Toole. Tanto que à saída de "O Principe do Deserto", fui direto comprar o clássico de 1962. "O Principe do Deserto", do francês Jean-Jacques Annaud (diretor de Sete Anos no Tibete e O Nome da Rosa), tem como ambiente o Oriente Médio no começo dos anos 1930. Nele, é discutido o embate entre o tradicionalismo e o moderno, quando é descoberto petróleo em determinado trecho do deserto no atual Emirados Árabes.
É interessante a contradição a que é obrigado a viver o jovem Auda (Tahar Rahim, revelado em O Profeta), por causa do radicalismo de seu pai, o Sultão Amar (Marc Strong) e a ganância de seu tutor, o Emir Nesib (Antonio Banderas, beirando a canastrice). Só que no meio disso tudo e de belas cenas de batalhas filmadas no deserto (as locações foram na Tunísia), é colocada uma melosa história de amor entre Auda e a princesa Leyla (Freida Pinto, a morenaça de Quem Quer Ser um Milionário?), filha de Nesib. Aliás, vários momentos do conflito no deserto são uma referência explicita a Lawrence da Arábia, a mais forte quando vários árabes atravessam o ambiente inóspito para tentar surpreender o inimigo do outro lado, já que nunca se esperava que os guerreiros fossem arriscar a vida cruzando aquela vastidão árida.

Cotação: regular
Chico Izidro