Saturday, December 29, 2012

"A Filha do Pai"


O ótimo ator francês Daniel Auteuil atua e também dirige o excelente drama "A Filha do Pai", no original "La Fille du Puisatier", ou a filha do poceiro. Profissão do protagonista, monsieur Pascal Amoretti (o próprio Auteuil), viúvo e que cria sozinho seis filhas, com idade entre 25 e três anos. A segunda mais velha, Patricia Amoretti (Astrid Berges Frisbey) é a menina de seus olhos, criada que foi por uma senhora rica em Paris e também num convento. Ou seja, tem educação bem acima da média dos moradores do pequeno vilarejo em que vivem no interior da França nos anos 1930.

Pascal teme que ela se case com alguém de longe - ela que todos os dias leva o seu almoço em algum buraco que ele está cavando ou explodindo. O candidato a desposar a garota é Felipe (Kad Merad, em atuação bela, um tipo rude, mas carinhoso e solitário quarentão), seu ajudante e melhor amigo. Só que a jovem vai dar de cara com o rico, para os padrões da localidade, Jacques Mazel (Nicolas Duvauchelle, de Polissia). Ele é só o filho do dono da loja de ferragens, mas também piloto de avião, e por isso pertencente à elite. Os dois jovens acabam envolvendo-se, ele é enviado para o front no início da II Guerra Mundial, e Patricia aparece grávida. Escândalo, mãe solteira, famíllia pobre. Pascal não quer nada da família de Jacques, só mostrar que a filha foi desonrada. Os pais do piloto não aceitam aquela menina simples, a possível mãe de seu neto. Humilhado, Pascal, simples, mas com inteligente e com pensamentos filosofais - suas tiradas e pensamentos destacam-se no meio de belos diálogos do filme -, não vê outro jeito a não ser mandar a filha embora.

"A Filha do Pai" é baseado em romance escrito por Marcel Pagnol em 1940, e mostra bem como era a França rural, bucólica e muito elitista daqueles anos de sofrimento, onde ter um simples chapéu era a fortuna para uma menina simples. Onde a perda da virgindade podia dizimar uma família.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Negociação"


O cinema americano sempre foi pontual em retratar eventos que ocorrem em suas fronteiras. Desde 2008, começo da atual crise econômica, o mundo financeiro tem estado na crista da onda na telona, vide a continuação do clássico oitentista "Wall Street". Em "A Negociação", dirigido por Nicholas Jarecki, Richard Gere é Robert Miller, empresário bem-sucedido, com jatinho particular, empregados que o veneram, a filha Brooke, seu braço direito nos negócios (a excelente Brit Marling), o filho despreparado e por isso severamente protegido, e a mulher socialite, Ellen (Susan Sarandon, esbanjando beleza com seus 66 anos), e que o faz dedicar-se a atividades filantrópicas. E claro, não poderia faltar a amante jovem e fogosa, Julie (Laetitia Casta), francesa que dirige uma galeria de arte bancada por ele.

A vida de Miller parece ser de certa normalidade. Só que o figurão envolveu-se em um negócio numa mina de cobre na Rússia que está indo para o buraco - o negócio, não a mina. Algo deu errado e um rombo de quase meio bilhão de dólares aparece em suas finanças. O jeito é fazer um empréstimo, e depois tentar vender a empresa antes que uma auditoria revele o tremendo prejuízo. O comprador faz tortura psicólogica para tentar diminuir o preço pedido por Miller. E neste meio tempo, ele envolve-se em um acidente automobislítico que pode provocar a suspensão da venda, além de Miller ir parar atrás das grades. O jeito é conseguir um álibi, envolver o filho de seu ex-motorista no turbilhão que se avizinha. O problema é que o jovem, Jimmy (Nate Parker), negro, tem uma ficha policial não muito limpa. E ele e o garoto começam a ser investigados e perseguidos pelo policial Michael Bryer (Tim Roth), tal qual Jean Valjean era cercado por Javert em "Os Miseráveis". Entram em cena o racismo, coação policial, uma corrupção maior ainda, traições.

Gere, famoso por seus tipos românticos, está perfeito como um cínico Gekko. Mas ele não é uma pessoa má. Apenas quer deixar seus entes queridos com uma vida tranquila e segura. Mesmo que para isso afunde quem passar à sua frente. E isso fica claro numa rígida e tensa conversxa com a filha Brooke, num parque de Nova Iorque, quando ela descobre as falcatruas do pai, a cara e os cabelos do roqueiro Roger Waters. "A Negociação", além de um suspense policial envolvente, prende por não cair na armadilha de diálogos profundos e intraduzíveis para os leigos sobre o mundo financeiro.

Cotação: bom
Chico Izidro

Saturday, December 22, 2012

"O Impossível"


"O Impossível" traz uma das cenas mais empolgantes e assustadora dos últimos tempos. Em 26 de dezembro de 2004 um gigantesco tsunami varreu a costa oeste da Tailândia e levando de carona outros países asiáticos, deixando um saldo de mais de 220 mil mortos. Clint Eastwood já filmara tal tragédia no impactante e espiritual Além da Vida. Sob direção de Juan Antonio Bayona, o tsunami afetag diretamente e agonicamente uma família inglesa que passava as férias de final de ano num resort tailandês.

Maria (Naomi Watts) e Quiqui (Ewan McGregor) e seus três filhos homens acabam caindo, literalmente, no olho do furacão. A cena em que Maria e o mais velho, Lucas (Tom Holland) é fascinante e assustadora. Por longos minutos, os dois duelam para não serem tragados pela força das águas. Os dois tentam nadar, se agarram em árvores ou no que aparece pela frente. Tem os corpos rasgados, enquanto são sugados pela violência da natureza.

Pena que passada esta ação, "O Impossível" transforme-se num tremendo dramalhão, com Maria sofrendo entre a vida e a morte numa cama de hospital, enquanto que Lucas tenta encontrar em meio ao caos o pai e os dois irmãos menores. Mas ressalte-se a excelente reconstituição da catástrofe. Prédios e casas destruidos, as pessoas vagando perdidas por todos os lados, esfarrapadas, ensanguentadas. Só que a paciência acaba na centéssima vez em que Lucas berra o nome dos parentes.

Cotação: regular
Chico Izidro

"As Aventuras de Pi"



Antes de tudo, só lembrar que "As Aventuras de Pi", dirigido por Ang Lee, baseia-se no romance The Life of Pi, escrito por Yann Martel. Que por sua vez causou tremenda polêmica quando lançado, pois foi acusado de plágio - a história surgiu após o autor ter lido resenha do livro Max e os Felinos, do gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011). Passadas as considerações iniciais, vamos ao filme com extremo arrebatamento visual.

Ele conta a história do indiano Piscine Patel, que viveu uma aventura quase única e transcendental. Pi (pronuncia-se pai) é o diminutivo de Piscine, batizado assim em homenagem a Piscina Molitor, em Paris, e por isso alvo de bullying na infância. Os pais dele possuiam um zoológico na Índia, mas com dificuldades econômicas decidem mudar-se para o Canadá. A viagem torna-se um desastre. O navio afunda, todo mundo morre, menos Pi, uma zebra, um macaco, uma hiena e um tigre de Bengala. O garoto acaba vendo-se preso num bote com todos estes animais, restando por fim somente ele e o portentoso e feroz tigre, chamado de Richard Parker. A aparição do bicho, em 3D, é assustadora e visualmente bela. O sotaque do indiano ao falar com o tigre é marcante. Poderia ser irritante, mas acaba ocorrendo o contrário.

Pi e o tigre travam uma batalha pelo poder no bote - a história é contada por um Pi já adulto para um jornalista, intrigado com os fatos relatados. Teria sido uma visão, seria fantasia, seria realidade. A fotografia, como já dito no início, é fabulosa e hipnotizante. O filme poderia ser considerado longo, mas não é cansativo - e não dá para esquecer que em "O Náufrago", Tom Hanks fica quase 3 horas conversando com uma bola de vôlei.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Infância Clandestina"


O olhar infantil sobre os anos de chumbo na América Latina já renderam bons filmes, como "Kamchatka", "A Culpa é de Fidel", "O Ano que Meus Pais Saíram de Férias" e "A Culpa é de Fidel". Em "Infância Clandestina", o diretor Benjamín Avil segue a máxima, quase que num tom autobiográfico. Ele mesmo viveu no olho do furacão, sendo filho de uma militante esquerdista na Argentina nos anos 1970, morta pelas forças repressoras, além do que teve um irmão pequeno sequestrado e só encontrado pela avó em 1985.

No belo filme, o menino Juan é filho de dois militantes da organização guerrilheira Montoneros, severamente perseguidos naquele período sombrio argentino. Os pais de Juan (vivido por Teo Gutiérrez Romero) são Horacio (César Troncoso, de O Banheiro do Papa) e Charo (Natalia Oreiro), que após um período de exílio em Cuba e uma rápida passagem pelo Brasil retornam à Argentina em 1979, para tentar derrubar o governo militar. Com 12 anos, Juan tem de assumir outra identidade, e é batizado de Ernesto, uma homenagem a Che Guevara. O menino vive uma vida dupla, tendo de esconder sua realidade na escola, nas ruas, entre os novos colegas e amigos. E isso lhe traz severas restrições. Tem de estudar até um sotaque novo, não pode dizer para a menina por que se apaixona quem realmente é, e até a data de seu aniversário é outra. E Juan tem uma irmã de apenas um ano de idade. E por mais que os dois corram perigo, seus pais, mostrando negam-se a deixá-los aos cuidados da avó.

O diretor Avil também utiliza, de forma muito criativa, animações para retratar duas violentas cenas em que os pais de Juan/Ernesto são atacados pela repressão. O garoto Teo Gutiérrez Romero é uma bela surpresa e cativa com seu jeito doce, assim como a garota Violeta Palukas, que vive a namoradinha Maria. A melhor interpretação, no entanto, é de Ernesto Alterio, que vive Beto, o tio de Juan. Suas aparições são enérgicas, por vezes divertidas, por vezes angustiantes, como na hora em que ele decide levar ao esconderijo a vó de Juan, mesmo contrariado por Horacio. "Infância Clandestina" consegue escapar facilmente de derrapar em momentos melosos, mesmo tendo crianças como protagonistas. É completamente realista, e seu final é um misto de amargura com esperança, sem uma gota de pieguice.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Saturday, December 15, 2012

"O Hobbit - Uma Jornada Inesperada"


Sinceramente, há muito tempo já havia me dado conta ter lido a obra de J. R. R. Tolkien fora de época. Deveria ter o feito aos 15 anos, mas não me senti atraído à época. Aí quando da estreia de "O Senhor dos Anéis", em 2000, resolvi encarar os três volumes de uma só tacada. Tarde. Não curti. Assim como achei tediosas as nove horas da cinesérie.

Bem, agora chega à telona "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada", do mesmo diretor Peter Jackson. Nele, a trama transcorre 60 anos antes dos eventos relatados em "O Senhor dos Anéis", que tinha Frodo como protagonista. Agora quem está à frente da história é o tio de Frodo, Bilbo Balseiro, vivido por Ian Holm na idade adulta e Martin Freeman quando jovem. Ao lado de outros pequeninos, Bilbo é convocado por Gandalf (Ian McKellen) para uma aventura perigosa - voltar as antigas terras do Reino de Erebor, terra dos anões que foi usurpada pelo dragão Smaug.

Tá, os efeitos especiais continuam primorosos, as maquiagens são perfeitas, o visual é arrebatador. Mas isso não é o suficiente. A história é chata, enfadonha. Os anões e o feiticeiro passam quase 3 horas caminhando, fugindo, encontrando os elfos, perseguidos por gigantes, lutando com orcs, subindo montanhas. E são nessas andanças que Bilbo encontra o assustador Gollum, na melhor sequência do filme, e o tal anel enfeitiçado. A impressão que se tem é que nada ocorre de novo, um puro repeteco dos outros três filmes anteriores. Talvez esteja sendo simplista, mas senti-me logrado. E pensar que "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada" é apenas a primeira parte de outras duas continuações.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Na Terra de Amor e Ódio"


Angelina Jolie tinha uma boa história em mãos, com um excelente pano de fundo. Pena que tenha faltado habilidade para a atriz e musa em "Na Terra de Amor e Ódio". A guerra na ex-Iugoslávia foi uma das mais violentas do final do século XX, chegando a deixar em segundo plano conflitos como o de Ruanda, na África. E neste quesito, a reconstituição do período é bem conduzido por Jolie, ela mesma uma ferrenha ativista pelos Direitos Humanos.

A guerra foi quase fatrícida, com vizinhos e amigos, da noite para o dia, se exterminando. Os sérvios eram cruéis, fato, e agiram como os nazistas na II Guerra Mundial, eliminando sem dó nem piedade os bósnios-muçulmanos, tal como os judeus o foram no Holocausto. Mulheres foram estupradas, crianças assassinadas, e homens definhando de fome nos campos de concentração ou fuzilados e enterrados em valas comuns. Aproximadamente 100 mil pessoas pereceram entre 1992 e 1995. A cidade de Sarajevo, uma das joias da Iugoslávia e sede dos Jogos de Inverno em 1984 - e um cartaz em determinada cena lembra este fato -, ficou sitiada por quase 3 anos pelos sérvios. Franco-atiradores nas colinas vizinhas fuzilavam os moradores que tentavam fugir ou se expunham em busca de comida ou lenha. Até aí nota 10.

"Na Terra de Amor e Ódio", no entanto, perde força na outra parte, que é o romance Romeu e Julieta entre a artista muçulmana Ajla (Zana Marjanovic, de bela atuação) com o militar sérvio Danijel (Goran Kostic). Os dois se conhecem antes da guerra, flertam, mas com o início dos conflitos se encontram em lados opostos. E o início da guerra é simplesmente mal contado. Depois, Ajla será feita prisioneira, mas escapará das crueldades dos sérvios tornando-se protegida de Danijel, agora um conceituado líder, questionador dos métodos utilizados por seus pares contra as outras etnias, e sofrendo a pressão de seu pai, o radical Nebojsa (Rade Serbedzija, mais uma vez vivendo um vilão caricato).

O filme está repleto de nós desatados. No começo, a diretora evita mostrar a cena de alguns homens sendo fuzilados por uma patrulha, mas não deixa de escandalizar com o estupro coletivo de algumas mulheres, ou de cabeças sendo explodidas por tiros. Um personagem, de certa forma, importante para a trama, desaparece da história sem explicações. E Ajla é uma espiã, certo? Em nenhum momento alguma ação sua nesse sentido aparece. "Na Terra de Amor e Ódio" tem boas intenções, porém isso mostra não ser o suficiente.

Cotação: regular
Chico Izidro

"O Homem da Máfia"


Nos últimos tempos, vários atores conhecidos por serem os mocinhos, resolveram dar uma guinada e mostrar o seu lado sombrio. O caso mais recente é o de Brad Pitt em "O Homem da Máfia", de Andrew Dominik. Antes de Pitt, já haviam passado para o lado obscuro Matthew McConaughey em "Killer Joe - Matador de Aluguel", Tom Cruise em "Colateral", ou Leonardo DiCaprio, no ainda inédito "Django". Sem contar as inúmeras aparições vilanescas de Bruce Willis.

Bem, falando de "Django", "O Homem da Máfia" tem uma estética bem tarantinesca, e trazendo também referências a obras de Scorsese - nada mais mafioso do que o diretor nova-iorquino, inclusive escalando Ray Liotta, um dos atores ícones do clássico "Os Bons Companheiros". Nele, Brad Pitt é um assassino profissional contratado para eliminar dois ladrõezinhos baratos que roubaram 100 mil dólares de um cassino clandestino. Liotta vive o dono do tal cassino, que um golpe uma vez, safou-se, mas ficou marcado, e passa a ser o suspeito de ter comandado o novo roubo. Os dois ladrões são dois perdedores, fedorentos, viciados, azarados. E Brad Pitt faz o assassino clássico, frio, calculista, cínico. A gente sabe que ele vai matar, mas quando o fará? Ele conversa com suas vítimas, as tranquiliza. E então dispara.

Ou seja, o filme é excitante. E mostra aquele lado americano paupérrimo, ainda mais sendo a história sendo situada em 2008, em pleno começo da crise econômica. De pano de fundo também as eleições presidenciais. A todo momento aparece Obama discursando em alguma televisão. Porém "O Homem da Máfia" peca em alguns diálogos sem imaginação. Tentou-se recriar os bate-papos que Tarantino utiliza magistralmente em seus filmes. Tentativa frustrada, pois sem a mesma verve, e as citações pops, cai no marasmo. Induz ao sono.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Rota Irlandesa"


O diretor Ken Loach está em seu habitat tradicional em "Rota Irlandesa". O cineasta já tratou em sua obra as revoluções irlandesas e espanholas. Desta vez o foco político é no Iraque, reduto de mercenários após a queda de Saddam Hussein em 2004. A trama é ambientada três anos depois, e foca em dois grandes amigos de Liverpool, o irascível Fergus e o amável Frankie (John Bishop), que em uma missão acaba sendo morto na tal rota, trajeto perigoso nas rodovias iraquianas.

Ao separar o espólio de Frankie, Fergus (Mark Womack, em atuação soberba), acaba descobrindo que a morte do amigo tem forte ligação com o assassinato de uma inocente família iraquiana. Ao ir fundo na investigação, ao mesmo tempo que envolve-se com a mulher do amigo, Fergus começa a colocar para fora mais e mais a sua fúria, e a sentir uma profunda depressão. "Rota Irlandesa" não deixa de ser um filme de guerra, mas é um libelo contra ela - ao mostrar, mais uma vez, - que não existem inocentes e que ninguém, mesmo à distância homérica dela, consegue ficar fora de seu alcance.

Cotação: bom
Chico Izidro

"César Deve Morrer"


"César Deve Morrer" é impactante. Filme dirigido pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, utiliza como atores detentos da prisão de segurança máxima Rebibbia, em Roma. O trabalho social pretende aliviar um pouco a vida de homens embrutecidos e lhes é dada a oportunidade de encenar a peça "Júlio César", de William Shakespeare. Se aqueles presos tivessem canalizado seu potencial para outros meios, talvez não estivessem cumprindo sentença. Ou talvez não estivessem presos, nunca saberiam do potencial que teriam como atores.

A obra mostra desde os testes para a escolhoa de elenco da peça shakesperiana, e nesta parte é mostrada, de forma crua, o crime e a sentença de cada um. Muitos deles se envolveram com a Máfia, outros com tráfico de drogas, alguns com crimes passionais. Algumas penas chegam a ser desanimadoras - prisão perpétua. Mas os prisioneiros não se importam e passam a respirar a peça dia e noite, até deixando alguns outros presos à beira de um ataque de nervos. Uma bela obra.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"O Moinho e a Cruz"


"O Moinho e a Cruz", dirigido pelo polonês Lech Majewski, não é de fácil assimilação. A história é contada tomando por base o quadro O filme propõe uma recriação inédita e em movimento do quadro "A Procissão para o Calvário" (1564), de Pieter Bruegel, que conta a paixão de Cristo durante a ocupação espanhola na região que hoje conhecemos como Bélgica.

O filme traz três protagonistas, três ícones do cinema. Rutger Hauer vive Bruegel, Michael York é um colecionador de arte amigo do pintor e Charlotte Rampling é a inspiração para a Virgem Maria do quadro. E este praticamente ganha vida em cada fotograma, mostrando o cotidiano dos camponeses do século XVI. O colorido, as vestimentas, a precariedade com que viviam as pessoas. Os diálogos praticamente inexistem, assim como pouco se utiliza a trilha sonora. O moinho é a principal força motriz do vilarejo, pois dali se tira o alimento, o pão, que é dividido com as mãos do dono da casa. E a cruz significa a religiosidade e também a pureza, pois o criminoso é crucificado, tal qual Jesus no Gólgota. Impactante e hipnotizante.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Saturday, December 01, 2012

"Os Penetras"


Até quando o humor no cinema nacional vai se apegar ao ultrapassado Zorra Total? Bem, esse programa global faz sucesso nas noites de sábado. E o que acontece? Este tipo de humor acaba sendo o chamariz de "Os Penetras", que é dirigido, sim por Andrucha Waddington, o mesmo de "Eu, Tu, Eles" e "Casa de Areia". Então não entende-se como ele conseguiu perder a mão neste filme protagonizado por Marcelo Adnet, Eduardo Sterblitch, Mariana Ximenes e Stepan Nercessian.

Adnet é o principal astro da MTV, ótimo humorista e imitador, mas infelizmente não funciona no cinema, onde já fez várias participações, quase sempre como coadjuvante, vide "Podecrer!", "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" e "Heleno". Eduardo Sterblitch é conhecido do grande público por interpretar o Freddie Mercury Prateado no humorístico televisivo Pânico. Em "Os Penetras", Adnet é Marco Polo, vigarista vivendo de pequenos golpes no Rio de Janeiro, e Sterblitch é um carinha ingênuo que chega do interior em busca da namorada, que lhe deu um belo pontapé na bunda. E com a carteira cheia de dinheiro parece ser a presa fácil para Marco Polo. Os dois, porém, criam uma relação de amizade quando circulam pelo Rio de Janeiro em busca da namorada de Beto, e como antecipa o título, invadindo festas da high society carioca.

"Os Penetras" pretende-se uma comédia de erros, com vários reviravoltas. Lembra, muito de longe, o hilariante "Os Safados", dirigido em 1988 por Frank Oz, com Steve Martin e Michael Caine, onde dois vigaristas se desafiam, tentado dar um golpe numa milionária, também uma escroque. Só que em "Os Penetras" as piadas são tão ruins, as atuações tão caricatas e forçadas, provocando no máximo aquilo que chamamos de "constrangimento alheio". A única coisa interessante do longa é a beleza de Mariana Ximenes, vivendo uma garota de programa, não poupando vestidinhos curtos e generosos decotes.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"A Origem dos Guardiões"


Quando é que você parou de acreditar nas suas tradições infantis? O Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa? Ainda hoje em dia com toda a tecnologia e a maturidade da petizada chegando mais cedo, a inocência ainda tem seu espaço. E é disso que trata o delicado "A Origem dos Guardiões", animação dirigida por Peter Ramsey, de "Monstros vs. Alienígenas". Nele, a criançada de uma pequena cidade americana curte sua infância alegremente. Todos têm seus sonhos tranquilos e sem preocupações. E nestes detalhes é que encaixam-se as características de quatro personagens característicos - o Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa, a Fada do Dente, aquela que deixa uma moeda embaixo do travesseiro em troca de um dente que caiu, e o Sandman, o mestre dos sonhos.

Mas uma dessas lendas se sente esquecido, o brincalhão Jack Frost, mestre da neve e do frio, e cuja existência é ignorada pela criançada. Isso faz dele um ser depressivo - e este detalhe permeia quase todo o filme. Querendo não passar apenas de uma citação dos pais para os filhos: "Cuidado com Jack Frost". Jack vai se unir as outras lendas na luta contra o boogie-man, ou para nós o bicho-papão, ser que considera-se menosprezado, e que deseja impor o pavor entre as crianças, e fazer com que elas deixem de acreditar em seus mitos de infância. "Eles acreditam em mim, mas não me temem", reclama o vilão. "A Origem dos Guardiões", apesar de cativante e tocante, está muito longe do folclore brasileiro. Tirando Papai Noel, aqui um homenzarrão mais parecendo um viking e empunhando duas espanhas, e o Coelhinho, vitaminado e com jeito de lutador de MMA, os outros guardiões fazem parte unicamente do imaginário anglo-saxão. Se bem que no Brasil já se comemora Halloween e nosso Natal não tem neve...

Cotação: bom
Chico Izidro

"As Palavras"


"As Palavras" é um filme surpreendente. Discute ética, conciência, amor. Dirigido por Brian Klugman e Lee Sternthal, traz um elenco que mostra-se afiado, principalmente Jeremy Irons, como um velho amargurado, um cínico Dennis Quaid, e uma insinuante Olivia Wilde. Mas quem rouba a cena é Bradley Cooper, como um escritor atormentado. A história de "As Palavras" fala de um livro mágico, que cativa as pessoas por mostrar o amor intenso de um soldado americano por uma jovem francesa na Paris no final da II Guerra Mundial.
Tudo começa quando um outro escritor, Clay Hammond (Quaid), faz uma leitura de sua obra intitulada exatamente "As Palavras", onde narra a vida de um aspirante a escritor, Rory Jansen (Bradley), que sem conseguir publicar e frustrado, acaba encontrando em uma pasta velhja os manuscritos escritor por um desconhecido, há décadas passadas. Ele acaba fazendo um gesto tresloucado, pegando para si os créditos da obra. Vai ficando famoso, rico. Só que pagará um preço caro por isso, começando por arriscar o casamento, passando pela credibilidade perante o público. Cooper está excelente na caracterização do escriba atormentado. E deverá ele confessar ou calar-se? O que acarretará seus atos?
"As Palavras" também acerta nas três histórias paralelas, que cruzam-se indiretamente. O cuidado com a reconstituição da Paris dos anos pós-guerra é outro belo trunfo, deixando ainda mais um ar superromântico neste belo filme.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Sunday, November 25, 2012

"Curvas da Vida"

O octagenário Clint Eastwood havia garantido, após "Gran Torino", que só atuaria a partir dali atrás das câmeras. A promessa é quebrada em "Curvas da Vida", direção de Robert Lorenz. Aqui o ator e diretor interpreta um decadente olheiro de beisebol, o esporte por excelência dos americanos, ranzinza, nem um pouco afetuoso e que está ficando cego. Por isso está em vias de ser colocado de lado, pois a nova geração de olheiros se investe de estatísticas e computadores para cooptar as novas promessas da modalidade. Numa missão derradeira, Gus Lobel tem de avaliar as qualidades de um arrogante rebatedor de uma liga menos, que se aprovado, integrará o elenco do Atlanta Braves, da Major League Baseball (MLB).

Ao mesmo tempo que percorre os poerentos vilarejos do sul dos Estados Unidos e seus campinhos, Gus entra num embate com a filha Mickey (Amy Adams), batizada assim em homenagem ao astro do beisebol Mickey Mantle. Ela é advogada, mas também expert no esporte, e não sendo levada a sério pelo meio machista. Nesta excursão, a garota tenta extrair do pai o por que de ter sido desde sempre rejeitada. Discute-se em "Curvas da Vida" o amor entre pai e filha, e o novo e o antigo. Legal. As atuações são boas, principalmente Amy Adams, extremamente sexy, John Goodman, como o dirigente dos Braves e amigo de todo o sempre de Gus, e até mesmo Justin Timberlake mostrando mais uma vez sua evolução, e que não é apenas um cantor de música pop medíocre - e aqui não falo de seu sucesso como cantor, mas de sua música pouco trabalhada e facilmente assimilável por ouvidos pouco exigentes.

Clint Eastwood repete o mesmo personagem de "Gran Torino", um velho ranzina, preconceituoso, intransigente e insensível. Repetitivo, mas com certo charme. A atração, porém, é o ator o gordinho Joe Massingill, que interpreta o rebatedor Bo Gentry. Sabe aquele personagem asqueroso e arrogante que ganha a nossa antipatia imediata? O problema de "Curvas da Vida" é sua extrema previsibilidade e de tratar de um esporte chato em demasia. Cada cena entrega mastigadinho o que acontecerá na sequência, deixando tudo meio óbvio e entediante.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Arena - A Construção de um Sonho"


O documentário "Arena - A Construção de um Sonho", dirigido por Eduardo Muniz, não trata apenas de registrar a construção do novo estádio do Grêmio, que será inaugurado em 8 de dezembro, em jogo com o alemão Hamburgo. A produção preocupou-se em buscar através de depoimentos de personalidades ligadas ao clube e imagens de arquivo a história das outras duas casas do Tricolor, a Baixada no Moinhos de Vento, e o Olímpico.

O estádio localizado no bairro Azenha, que será demolido em 2013, foi local de várias das principais conquistas do time, desde sua inauguração em 1954. Dirigentes e ex-dirigentes como Paulo Odone, Paulo César Verardi e Hélio Dourado, e os ex-jogadores Tarciso, André Catimba, Milton Kuelle e Airton Pavilhão (morto em meados deste ano), falam de seus envolvimentos com o estádio. Kuelle tem uma trajetória impar nas casas gremistas, pois jogou na Baixada, esteve presente na inauguração do Olímpico, onde fez 90% de sua carreira, e participará da inauguração da Arena. "Não quero jogar cinco minutos, quero jogar quase os 90 minutos", disparou o ex-meia de 79 anos.

O documentário consegue emocionar, especialmente os torcedores gremistas, principalmente quando mostra um jogador histórico como Airton Ferreira da Silva contando como foram seus anos no Olímpico. Ele que foi trocado por uma quantia em dinheiro e a arquibancada do estádio da Baixada, conhecida como "Pavilhão". Por isso, ganhou o apelido. O lado histérico de "Arena - A Construção de um Sonho" fica por conta do jornalista e escritor Eduardo Bueno, o Peninha, que parece estar sempre ligado numa tomada de 220 volts, disparando provocações ao rival Inter. Em sua parte final é que finalmente o filme trata de falar do novo estádio gremista, que no início do projeto, em 2006, parecia uma ideia de loucos, e que muita gente achava nunca saíria do papel. E que agora será o estádio padrão-Fifa mais moderno da América Latina.

Cotação: bom
Chico Izidro

Saturday, November 24, 2012

"Amanhecer - Parte 2"


Finalmente chega ao fim a saga Crepúsculo com "Amanhecer - Parte 2", de Bill Condon. Nele, finalmente a jovem Bella (Kristen Stewart), começa a sentir os primeiros efeitos de sua transformação em vampira, enquanto vê o crescimento acelerado da filha que teve com Edward (Robert Pattinson). A pequena Renesmee, aliás, desenvolve uma ligação com o lobisomem Jake (Taylor Lautner), que era apaixonadíssimo por Bella e agora muda seu foco de atenção. Nesta sequência final, o romance idílico de Bella com Edward está para virar de ponta cabeça, pois os Volturi acreditam que Renesmee, uma mutante e por isso com poderes diferentes, pode ameaçar a existência dos vampiros italianos, que decidem matá-la. Deu, está aí o resumo.

Apesar de custar mais de 130 milhões de dólares, e atrair milhões de pessoas ao cinema, a série continua pecando pela precariedade em seus efeitos especiais e por atuações beirando o medíocre. O bebê Renesmee chega a ser rísivel. É tosco o trabalho digital no rosto do boneco. Não muito pior são os lobos, criados digitalmente e que deixam à mostra o cromaqui. E o que dizer da maquiagem dos vampiros? Uma base branca no rosto dos atores, e só no rosto, pois do pescoço para baixo a cor da pele aparece naturalmente.

Taylor Lautner mais uma vez tira a camisa, para delírio das menininhas, e seu talento parece resumir-se a isso, enquanto que Kristen Stewart e Robert Pattinson permanecem com aquelas caras de tontos, inexpressivos. Nem mesmo o bom ator britânico Michael Sheen, como o líder dos Volturi, salva-se. Passa o filme a fazer caretas. Bem, pelo menos ganhou o dinheirinho dele.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Friday, November 16, 2012

"De Volta Para Casa"


Um homem chega ao serviço com um olho roxo. No banheiro é interpelado por um colega, e devolve a provocação com um soco, deixando o outro desacordado. Ele sai da obra em que trabalha, pega o carro e retorna para casa, abre uma portinhola e de lá sai uma jovem. "Vá", diz ele. A menina, assustada, corre até o portão, para, olha para trás, e depois volta a correr. Logo saberemos que ela, Gaëlle, foi raptada quando criança por Vincent Maillard (Reda Kateb), o homem do olho roxo. Ficou quase uma década prisioneira, mas nunca aceitou o seu destino e não se conformou enquanto não se viu liberta em "De Volta Para Casa", de Frédéric Videau.

Acompanharemos então a tentativa de Gaëlle Faroult (a ótima Agathe Bonitzer) em retomar a sua vida, a convivência com os pais, que devido às circusntâncias acabaram se separando. Sem seguir esquema rígido, "De Volta Para Casa" vai e volta no tempo - mostrando sua relação ora com a mãe, depois com o pai, ora com o seu raptor, e as tentativas de se esquivar da imprensa sensacionalista, que deseja saber detalhes de sua história trágica. O filme faz pensar, mas o problema é que em nenhum momento explica os motivos de o porque Vincentter raptado Gaëlle e passado anos com ela. Se havia atração física - ele chega a dizer que não abusará dela, o que não cumpre. Ou se é mais uma coisa paternal. Tudo que Gaëlle pede, ele corre atrás. Em certo momento, Gaëlle exige um CD do U-2 e leva o "The best 1980-1990", além de livros, histórias em quadrinhos, tinturas para cabelo. Gaëlle Faroult troca a cor de suas melenas a todo momento.

"De Volta Para Casa" é totalmente baseado na história da menina austríaca Natascha Kampusch, que viveu aprisionada durante oito anos (dos dez aos 18 anos), pelo engenheiro Wolfgang Priklopil, em Donaustadt, nas proximidades de Viena. Quando Natascha escapou, Priklopil matou-se, jogando-se embaixo de um trem. No filme, o sequestrador se enforca. Mas em "De Volta Para Casa", existem outros elementos de casos semelhantes, alguns da literatura, como "O Colecionador", de John Fowles, ou "O Iguana", de Alberto Vázquez-Figueroa. Na vida real, além de Natascha Kampusch, outros casos semelhantes, como o da americana Jaycee Lee Dugard, que ficou prisioneira de Phillip Craig Garrido durante 18 anos de sua vida, dos 11 aos 27 anos, tendo dois filhos com ele. E o caso da também austríaca Elisabeth Fritzl, talvez o mais horripilante dos últimos anos, mantida em cárcere pelo próprio pai, Josef Fritzl, pelo período de 24 anos no porão da casa da família, e com quem teve sete filhos.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Friday, November 09, 2012

"Argo"


Ben Affleck é severamente criticado quando diante das câmeras, porém quando dirige o cara é alvo de elogios, vide Atração Perigosa. Isso fica comprovado no excelente "Argo", que reconstitui evento político ocorrido entre 1979 e 1981 entre os Estados Unidos e o Irã, quando da queda do xá Reza Pahlevi e da ascenção do aiatolá Khomeini na batizada Revolução Islâmica. Os americanos apoiavam o governo ditatorial de Pahlevi. Derrubado, ele se refugia nos EUA e o novo governo persa pede sua extradição. Com a recusa do democrata Jimmy Carter, cria-se um clima beligerante entre os dois países. Que vai acarretar na invasão da embaixada americana em Teerã, e mais de 60 funcionários são feito reféns.

Porém seis conseguem escapar, refugiando-se na embaixada do Canadá. A missão da CIA é tirar esses funcionários do Irã - ao contrário dos reféns na embaixada, eles podem ser considerados espiões e, por isso, imediatamente executados. Mas a questão é como entrar em Teerã e resgatar o sexteto? O agente Tony Mendez (Ben Affleck) bola um plano arriscado e ridículo: criar um filme falso, com a ajuda de produtores de Hollyqood, vividos magnificamente por John Goodman e Alan Arkin, que têm diálogos saborosos, principalmente sobre a farsa que é Hollywood. Surge "Argo", uma ficção científica inspirada no então popular "Guerra nas Estrelas". Teerã serviria como uma das locações para o filme de mentirinha. Mendez, com passaporte canadense, entra na capital iraniana, transforma os seis fugitivos em cineastas - fazendo-os escapar da hostil cidade. Vejam, isso não é um spoiler, é história.

Affleck consegue fazer um filme, mesmo com final conhecido, com muita tensão (detalhes do plano vieram a público no governo Bill Clinton, em 1997). A cena do aeroporto mostra-se uma das mais eletrizantes dos últimos tempos. O clima de tensão da época é fielmente reproduzido, mesmo que o maniqueísmo mostre as caras. Todos os iranianos são mal-encarados ou estúpidos. A caracterização dos fugitivos é outro trunfo. Os atores ficaram muito, mas muito semelhantes aqueles a quem representaram. A exceção é Affleck, pois Mendez era, na realidade, descendente de mexicanos. A reconstituição de época ainda viu-se beneficiada com a utilização de telejornais daqueles anos tortuosos, e a trilha sonora com Rolling Stones, Van Halen, Dire Straits e Led Zeppelin.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Marcados Para Morrer"


Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, pregava Glauber Rocha. A máxima
nos últimos 12 anos tem sido fortemente utilizada nos filmes de terror
como "A Bruxa de Blair" e "Atividade Paranormal", onde um personagem
registra tudo à sua volta com uma câmera. O seriado "Cops", sucesso nos
States é outro exemplo, copiado aqui no Brasil com "Polícia 24h", ganha
uma versão cinematográfica em "Marcados Para Morrer", de David Ayer.

Nele, os policiais Taylor (Jake Gyllenhaal e Zavala (Michael Peña) fazem
ronda pelos bairros pobres de Los Angeles, principalmente os habitados por
negros e mexicanos. Toda a rotina dos dois é filmada por Taylor, que estuda
Direito e em uma das cadeiras opcionais é Cinema. Então por que não filmar
ele e o colega, quase irmão, pelas perigosas ruas? Sem filtros e sem
censura, Taylor não desperdiça nada. Agressões a perturbadores da ordem,
apreensões de drogas, tiroteios e prisões de assaltantes. A dupla não é
certinha, mas também não é corrupta. Violentos quando devem ser, amáveis
na hora certa, os dois acabam jurados de morte, como antecipa o título do
filme, após atrapalhar os negócios de um cartel mexicano, que está
traficando seres humanos.

"Marcados Para Morrer" remete ao revolucionário "Colors", clássico de
1988, com Sean Penn e Robert Duvall, onde dois policiais se encontram no
meio da guerra das gangues angelinas Bloods e Creeps, que aqui reaparece, desta vez como inimiga mortal dos mexicanos. Apesar de filmado no esquema câmera subjetiva, não em sua totalidade, e mostrar a correria e as loucuras de Los Angeles, não temos aquelas imagens
distorcidas e rápidas, que deixam o espectador com um nó no estômago.

Cotação: bom
Chico Izidro

"A Arte de Amar"


É difícil a certa altura da vida arranjar um namorado (a). Mais difícil ainda é manter um relacionamento. De forma irregular, várias histórias e personagens se cruzam no francês "A Arte de Amar", de Emmanuel Mouret. O foco principal fica na tímida Isabelle (Julie Depardieu), sem transar há mais de um ano, e com sua amiga Zoé (Pascale Arbillot) tentando quebrar a seca dela, nem que seja cedendo o próprio namorado. Há também o solteirão Achille (François Cluzet, de Intocáveis), querendo fisgar a chatinha e indecisa nova vizinha (Frédérique Bel), que recém separou-se. História que acaba ficando sem conclusão no emaranhado que se cria. Ou ainda a cinquentona Emmanuelle (Ariane Ascaride), que começa a desejar e ser desejada por outros homens, e por isso quer largar o marido.

Uma cena resume bem o destino de muitos casais. Amélie (Judith Godrèche) chega em casa, e encontra o namorado Ludovic (Louis-Do de Lencquesaing), amuado, atirado no sofá. Ela tenta de tudo pata agradá-lo: "Vamos sair para jantar?"
"Não", ouve como resposta. Ela sugere um cafuné, massagem, um sanduíche. Nada anima o cara, que garante só ficar quieto em seu canto. Ela tenta uma última cartada e corre para o quarto, onde se despe e chama ele, que vai contrariado. Ao vê-la na cama, ele continua mostrando-se insatisfeito, e o telefone toca. Um amigo o convida para um choppinho. Ludovic sai correndo para encontrar o parceiro. "Ele precisa ser confortado".

O que vemos na tela também costumamos ver na vida real. Porém o modo como é contado, a falta de carisma de alguns personagens, apesar de bons diálogos, acabam por estragar o que nas mãos de alguém mais habilidoso, seria reflexivo e espetacular.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Elefante Branco"


Buenos Aires sem flores. É o que assistimos em "Elefante Branco", de Pablo Trapero (Abutres), mostrando a vida dura de uma enorme favela na cidade hermana. O filme teve locações na localidade de Ciudad Oculta, onde está o enorme prédio abandonado, que nos anos 1950 estava sendo construído para ser o maior hospital da América Latina. Deixado de lado, serve de moradia para os despossuídos e para os viciados em crack.

E é ali onde o padre Julián (Ricardo Darín) ajuda a comunidade a se estabilizar, construindo mais moradias e até um restaurante popular. O personagem do ótimo Darín é baseado no padre Carlos Mugica, assassinado em 1974 por forças peronistas devido ao seu envolvimento com as lutas populares, e visto como um santo na Argentina. Ao lado dele está a assistente social Luciana (Martina Gusmán, mulher de Trapero). Doente, Juliám recruta o sacerdote belga Nicolas (Jérémie Renier, de My Way) para trabalhar na favela e também ser preparado para sucedê-lo. Os três terão dificuldades extremas para tocar em frente seus projetos, devido a burocracia estatal e a interferência de dois grupos de traficantes que usam a favela como quartel-general.

"Elefante Branco" discute ética no sacerdócio, vocação religiosa e o papel social da Igreja. Mesmo sendo transcorrido em uma favela, Trapero fugiu habilmente da violência crua e nua. Ela aparece, mas de forma realista - o assassinato de um sobrinho do líder do tráfico é muito bem conduzido, com a câmera percorrendo as vielas escuras e sujas de Ciudad Oculta, local habitado por argentinos, bolivianos, peruanos, paraguaios, todos vivendo no limite da marginalidade.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Se Vivêssemos Todos Juntos"


"Se Vivêssemos Todos Juntos", direção de Stéphane Robelin, tem todos os ingredientes para tornar-se um daqueles hits quem ficam um bom tempo em cartaz em Porto Alegre. Atores veteranos e carismáticos e um excelente roteiro, retratando a vida na terceira idade. A obra resgata a musa sessentista Jane Fonda, ainda linda, e Geraldine Chaplin, filha dele mesmo, Charlie Chaplin.

Cinco amigos - dois casais, um formado por Jeanne (Jane Fonda) e Albert (Pierre Richard), e o outro por (Annie) Geraldine Chaplin e Jean (Guy Bedos), e o solteirão galinha Claude (Claude Rich), reúnem-se sempre para brindar a vida, agora septuagenária. Num jantar, o socialista Jean sugere que todos passem a morar sob o mesmo teto, o que é rapidamente refutado. Até o dia em que Claude sofre um infarto, e é colocado num asilo pelo filho. Ao visitá-lo e ver a decadência do local, Jean decide: "Chega, vamos todos morar juntos!". Claro que as coisas não são tão simples assim. Como é sabido, quanto mais envelhecemos, mais manias ficamos. Sem contar os problemas de saúde os segredos de décadas que começam a vir à tona. Albert sofre de Alzheimer, Jeanne tem câncer e se nega a operar, Jean é teimoso e Claude sofre com a impotência, ele que sempre foi um garanhão. Já Annie é a mais comedida do grupo, porém é materialista e ciumenta, contrastando com os ideais de seu marido.

Opondo-se a experiência e as manias do quinteto, surge o alemão Dirk (Daniel Brühl, de Adeus, Lênin e Bastardos Inglórios). O jovem namora uma francesinha ciumenta e possessiva, e começa a conviver com os velhos, para concluir sua tese de mestrado. Suas conversas com Jane Fonda sobre o amor, relacionamentos e até sexo na terceira idade são saborosos. Mesmo com um final previsível, o roteiro é bem trabalhado e encerra com classe.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Friday, November 02, 2012

"007 - Operação Skyfall"



Completando 50 anos da franquia, o agente secreto britânico 007 se vê obrigado à renovação. Afinal de contas, acabou a Guerra Fria, os soviéticos não metem mais medo. E James Bond e seus colegas do MI6 começam a ser vistos como velharias que devem ser aposentadas. Por isso, "007 - Operação Skyfall" faz uma ponte entre o antigo e o novo. Dirigido com competência por Sam Mendes, "007 - Operação Skyfall", o novo filme do espião com licença para matar, o terceiro protagonizado por Daniel Craig, continua reestruturando a mitologia do personagem, inserindo novos elementos, mas sem fugir da estrutura narrativa imortalizada pela cinesérie.

A ação começa sempre em um país exótico, onde James Bond tenta pegar um vilão, segue com a abertura em forma de clipe, onde uma música interpretada por um cantor/cantora do momento antecipa o que se verá nas próximas duas horas. Depois o encontro de 007 com seu chefe, recebendo as orientações da missão, o aparecimento da Bondgirl, ela fica em perigo. E no fim, o confronto do agente com o vilão, que quase sempre deseja conquistar o mundo.

Desta vez a história começa na Turquia, onde 007 persegue um espião que roubou um chip contendo a lista de agentes da OTAN infiltrados em organizações terroristas. A perseguição como sempre é esquizofrênica, e Bond leva um tiro e é dado como morto. Entra a canção de Adele, Skyfall, aliás, boa canção. Em Londres, a chefe de Bond, M. (Jude Dench) oficializa o óbito de 007, e a sede do MI6 - o serviço secreto britânico - sofre um atentado. Logo James Bond retorna do mundo dos mortos, e se verá que M. está na mira do vilão Silva (Javier Bardem), que deseja vingar-se dela, após ter sido traído numa missão. Ele é um ex-agente do MI6. O confronto final de Bond com Tiago é o diferencial dos outros filmes da franquia. Aqui, ao invés de Bond infiltrar-se no covil inimigo, ele é que será atacado em seus domínios. E este final é o mais empolgante de todos os tempos, com James Bond, M. e Kincade (Albert Finney) encurralados num pequeno castelo na Escócia.

Fica evidente em "007 - Operação Skyfall" a forte influência dos novos filmes de ação e espionagem que chegaram às telas nos últimos anos. A franquia 007 necessitava disso para se renovar. Matt Damon e seu Bourne é a principal inspiração. Tanto que diversas cenas do espião desmemoriado são utilizadas em "007 - Operação Skyfall" sem o mínimo pudor. A cena do personagem principal boiando na água, as cenas de perseguição de moto e no metrô, a caçada no meio do mato, só para dar alguns exemplos. Claro que como foram feitas depois, as de 007 puderam ser melhor elaboradas. O aluno aprendeu bem a lição.

Apesar do clima de renovação, o novo 007 não seria aprovado sob uma análise mais rigorosa. Principalmente os planos do vilão Silva em matar M. Ele faz todo um projeto mirabolante para o assassinato. Se pararmos para pensar, bastaria invadir o apartamento dela à noite. Bem, aí não teríamos filme.

As duas Bondgirls apresentadas também carecem de carisma. A negra Eve (Naomie Harris, a feiticeira de Piratas do Caribe) sabe-se, irá ganhar mais espaço nos próximos filmes. Bérénice Marlohe é bonita, o alvo sexual de Bond, mas sub-aproveitada, não tem tempo para provar se poderia entrar no roll das deusas que foram parar na cama de Bond, que encontra em Daniel Craig um ótimo 007 - ele encarna bem o personagem, acabando com as dúvidas e críticas surgidas quando de sua primeira participação, em "007 - Cassino Royale".

Cotação: bom
Chico Izidro

"Frankenweenie"


Tim Burton acertou em "Frankenweenie". Bela homenagem aos filmes de terror. Até mesmo na escolha das imagens, em preto e branco - deixando aquele climão retrô na história do pequeno Victor Frankenstein. Sim, aqui o criador do Monstro está entrando na adolescência, é solitário, como todo bom nerd, e tem como único amigo o cão Sparky. Que morre atropelado. Victor, inconsolável, acaba trazendo o bichinho de volta à vida por meio de uma experiência científica. Ele aproveita o fato de ter de apresentar um projeto escolar pedido pelo seu professor de ciências, Mr. Rzykruski, que é a cara de Vincent Price, homenageado pelo diretor. O ator foi um dos ícones do terror nos anos 1950 e 1960 e participou da obra-prima de Burton, "Edward Mãos de Tesoura".

Reanimado, Sparky continua dócil, amigo e mais brincalhão do que nunca. O que não acontece quando os coleguinhas de Victor descobrirem o segredo do pequeno cientista e tentarem, eles, também trazer de volta os seus animais de estimação. Esses voltarão monstruosos, trazendo confusão à pequena e conservadora cidade de Nova Holanda. É magistral o discurso que o professor dispara contra a ignorância dos pais dos alunos quando está prestes a ser demitido por fazer os pequenos pensarem e não ficarem restritos a tabus científicos.

"Frankenweenie" traz um manual completo da história do terror, além de evidenciar ser uma obra com grandes referências autobiográficas. Não é à toa que Burton seja tão fúnebre em sua filmografia. Até mesmo alguns personagens são batizados com nomes de personalidades do gênero, como a tartaruga Shelley. E as citações a diversos filmes clássicos estão lá, como "Frankenstein", "A Noiva de Frankenstein", "Godzilla", "Gremlins", "A Múmia", “Os Goonies” e até mesmo "Carrie, A Estranha". As referências estão escondidas em cada cena. Até mesmo "Bambi" é lembrado.

Cotação: ótimo
Chico Izidro