Thursday, June 26, 2008

O BANHEIRO DO PAPA



O Banheiro do Papa (El Baño del Papa), do uruguaio Cesar Charlone (fotógrafo de Cidade de Deus) fala de esperança e desesperança. Um muambeiro, Beto (Cesar Trancoso), que passa os dias traficando mantimentos entre Aceguá, na fronteira gaúcha, com Melo, no Uruguai, vê a chance de tirar o pé da lama com a visita do Papa João Paulo II em 1988. Ele decide construir no quintal de sua casa, numa favela na pequena cidade uruguaia, um banheiro para alugar aos romeiros, e levantar uns trocados para ajudar no sustento da família.
E é dessa esperança que o Banheiro do Papa acaba tocando - como tentar sair da miséria ou pelo menos sobreviver a ela. Para Beto (excepcional atuação de Trancoso, sósia do cantor Belchior), ter uma moto é o maior dos sonhos e assim melhorar as suas entregas. Sua esposa, Carmen (Virginia Mendez, que traduz bem em seu rosto o sofrimento de uma mulher trabalhadora e convivendo com um marido por vezes brutal) quer ter dinheiro para pagar as contas no final do mês, nem que seja a da luz. E para a filha Silvia (a bela surpresa Virginia Ruiz), o maior dos desejos é deixar aquele mundo injusto e partir para Montevidéu para estudar radialismo e fugir do destino de costureira que lhe planejam.
A desesperança está no abandono de quem vive na periferia dessas pequenas cidades, convivendo com o desemprego e tendo de usar de subterfúgios para colocar um pouco de comida na mesa.
Os sonhos, enfim, não se sustentam. Nem mesmo com a chegada de um Papa a lugar tão inóspito.

JOGO DE AMOR EM LAS VEGAS



Alguém disse que Cameron Diaz funciona melhor em comédias do que em dramas. E eu sou obrigado a concordar, depois de ver Jogo de Amor em Las Vegas, de Tom Vaughan, filme em que não dava um centavo furado. E não é que a comédia da ex-modelo e atriz de O Maskara, O Amor Não Tira Férias e As Panteras funciona. Ainda mais tendo ao seu lado o bobalhão Ashton Kuchter, marido de Demi Moore e astro do extinto seriado That's 70'show.
A história é simples, mas rende boas piadas. Após uma bebedeira, os dois acabam se casando em Las Vegas. No dia seguinte, Jack ganha 3 milhões de dólares na roleta. O problema é que a moeda pertencia a Joy. E segundos antes, os dois haviam decidido anular o casamento.
Pois bem um juiz decide que eles terão de conviver juntos, por no mínimo, seis meses, se quiserem ver a cor do dinheiro. Então parece que Jogo de Amor em Las Vegas vai cair no lugar comum, ao citar as diferenças entre homens e mulheres obrigados a coabitar o mesmo ambiente. Ele, um verdadeiro porcalhão e solteiro convicto e a garota, uma arrumadinha. Mas engano. Aí está a graça devido ao timing da dupla e dos coadjuvantes. O final fica meio meloso, mas nem tudo pode ser perfeito.

FIM DOS TEMPOS



Depois de surpreender o mundo com o excelente Sexto Sentido e até brincar de herói com Corpo Fechado, M. Night Shyamalan perdeu o rumo e não fez mais nada que prestasse. E aí cito o estimado Sinais. Agora, ao ver o trailer de Fim dos Tempos (The Happening), pensei, bom, ele se corrigiu. E a primeira meia-hora do suspense promete, quando pessoas começam a se suicidar sem causa aparente no leste dos Estados Unidos. O jeito, pensa o professor de matemática Elliot (Mark Wahlberg, em atuação bisonha) é fugir da cidade grande para o campo com a namorada Alma (Zooey Deschanel, lembrando e muito a sumida Debra Winger) que esconde um segredo conjugal. Mas lá na área rural também ninguém está seguro.
Por momentos, evocamos Alfred Hitchcock e o suspense Os Pássaros - afinal, não há causa aparente para os eventos que estão ocorrendo.
Então Shyamalan surpreende, para o pior. A natureza está aborrecida com os seres humanos e decide se vingar. E fica nisso. "Eu não tenho mais nada para contar", deve ter pensado o diretor, roteirista e produtor. E o filme acaba, deixando todos na sala de cinema se olhando boquiabertos: "Eu paguei por isso?".

AGENTE 86



Agente 86 era uma das comédias preferidas de minha infância, ao lado de A Feiticeira e Jeannie é um Gênio. A Feiticeira, com o tempo, notei ser uma visão machista e racista da década de 1960. Já Jeannie embalou os primeiros sentimentos sexuais de muito garotinho, com aquele umbigo de fora, e pasmen, ainda sobrevive ao tempo (afinal, qual homem não quer ter uma garota que faça tudo por ele, sem questionar?). E Agente 86 fazia a gente dar risada com suas trapalhadas, seus tombos, seu sapato-fone... A série, do gênio Mel Brooks, durou de 1965 a 1970 e ainda hoje vai ao ar (agora pelo canal pago Nickelodeon) e a caixa com a 1ª temporada acaba de ser lançada em DVD. Por isso, Hollywood foi mexer no vespeiro. E convenhamos, sua transposições de séries clássicas para a telona invariavelmente acabvam fracassando. Agora temos Agente 86 (Get Smart), de Peter Segal.
E não é fácil, sem os roteiros de Brooks, fazer graça com Maxwell Smart, Agente 99 e seus serviços pelo C.ON.T.R.O.L.E., que combatem os terroristas da K.A.O.S. E para quem não sabe, as siglas em inglês não representam absolutamente nada, por mais que os criadores da série pensassem em algo engraçado.
Ah, e antes que alguém corneteie, a série teve dois filmes fracassados nos anos 1980 e uma temporada perdida em meados da década de 1990.
O novo filme acertou na escolha do protagonista - Steve Carell, o chefe sem noção do seriado The Office e também do engraçado O Virgem de 40 Anos. E ele precisava deste refresco, depois do péssimo A Volta do Todo Poderoso. O ator até lembra fisicamente o Agente 86 original, Don Adams. E ganhou uma 99 arrasa-quarteirão, Anne Hatthaway, que surgiu na série Caia na Real (início do século XXI na Fox) e que brilhou ao lado de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada.
O novo Agente 86 tenta não fugir muito do clima do original, mantendo os mesmos inimigos, o C.O.N.T.R.O.L.E. contra a K.A.O.S., esta liderada por Siegfrid (o sempre bom Terence Stamp), um ex-nazista que sonha em destruir o mundo.
E para isso, Maxwell Smart (daí o Get Smart ou Fique Esperto do original) é promovido de analista CDF para espião - já que todos os outros espiões tiveram suas identidades reveladas ou foram mortos devido a um agente infiltrado. E ele tem de, ao lado de 99, acabar com as pretensões do amalucado terrorista, que tem como capanga um gigante de 2,18m - o ator indiano Dalip Singh e que é a cara de Richard Kiel, o Jaws, de 007 Contra o Foguete da Morte. E o espião mais famoso do mundo é parodiado com os ternos bem cortados e as parafernálias tecnológicas. Algumas piadas são espertas mesmo, desculpem o trocadilho, e outras deixam a desejar. E o filme erra quando tenta apelar para o sentimentalismo e também em uma boba perseguição de carros, caindo no lugar comum dos filmes de ação e desrespeitando o lado escrachado da série. Mas no geral diverte e faz relembrar aquela fase da vida em que éramos felizes e não sabiamos.

A OUTRA



Primeiro: os tituladores nacionais deveriam ter, mesmo, mais cuidado com o nome dos filmes. A Outra remete a obra de Woody Allen, em filme de 1988. Este A Outra (no original The Other Boleyn Girl ou A Outra Garota Bolena), de Justin Chadwick, recria a trama que levou Ana Bolena ao trono da Inglaterra no século 16.
O filme é extremamente cuidadoso com os detalhes da época, que enchem os olhos. Não bastasse isso, ainda tem no elenco duas das maiores beldades do cinema atual - Natalie Portman, cruel como nunca o foi no cinema no papel de Ana Bolena, e Scarlett Johansson como a meiga Maria Bolena. Só que Eric Bana não parece muito confortável como o Rei Henrique 8º. E pena que Kristin Scott Thomas (Quatro Casamentos e Um Funeral) seja sub-aproveitada como a mãe das garotas que fizeram a Inglaterra romper com o catolicismo e abraçar o anglicanismo. Mas no geral, é um belo filme, que deve ser acompanhado com atenção, para não se perder nas tramas palacianas.

O Incrível Hulk




Há cinco anos, Ang Lee dirigiu uma super-produção de Hulk que se transformou num verdadeiro fiasco, tal amadorismo de roteiro e efeitos especiais. Agora, a missão de levar para a telona as aventuras do monstro verde foi entregue a Louis Leterrier.
E Hulk 2008, começa acertando com o elenco, que inclui Edward Norton, Liv Tyler, William Hurt e Tim Roth, bem superior ao anterior, me perdoem Eric Bana e Jennifer Connelly. Porém, não fica imune a imperfeição. O monstro verde, no entanto, foi melhor digitalizado e seus movimentos são perfeitos. O roteiro também foi aperfeiçoado e se fez mais fiel aos quadrinhos, mesmo que Hulk nunca tenha pisado no Rio de Janeiro. Sim, tudo começa na Favela da Rocinha, onde o Dr. Bruce Banner (Norton) se esconde do Coronel Ross (um maléfico Hurt) e tenta descobrir a cura para o mal espalhado em seu sangue pelos raios-gama e que o transformam no Hulk sempre que alguém o deixa irritado.
E mesmo que nós, brasileiros, achemos "legal" ver o Brasil numa super-produção, há de se lamentar o descuido da produção. Os atores brasileiros são pessimamente dublados, o português de Norton é mais do que sofrível e, pior, um comando do exército americano consegue entrar na favela e não ser importunado pelos traficantes...
E o filme continua com suas licenças poéticas, como a facilidade de Bruce Banner de atravessar fronteiras sem dinheiro, passaporte e até mesmo roupas...
Mas o filme diverte e homenageia os antecessores do papel, como o grandalhão Lou Ferrigno, que fazia o Hulk na tevê, e que aqui aparece como um vigia de um campus universitário e Bill Bixby (já morto, mostrado na telinha de uma televisão).
O melhor, no entanto, é o baixinho irado Tim Roth, que vira uma arma secreta do exército e que no final protagoniza uma sangrenta batalha pelas ruas de Nova Iorque com o Hulk. Na média, 7,5.

Sunday, June 08, 2008

Sex and the City - O filme



Quero fugir do clichê de escrever que Sex and the City - O filme é um episódio extendido da série televisiva sobre as quatro amigas nova-iorquinas, que fez enorme sucesso entre 1999 e 2004. Porém o é. Com direção de Michael Patrick King, o filme acerta em seu início, ao resumir as seis temporadas em poucos minutos e isso ajuda até quem não era iniciado no seriado, transmitido por aqui pelo canal Multishow, canal 42 da Net.
Nas 2h15min da trama, sim, é longo, temos Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker, que por vezes é feia, e outras é bonita, se é que me entendem) envolvida em seu, finalmente, casamento com o namorado Mr. Big (Chris Noth, da série Law and Order). Enquanto isso, suas amigas estão a volta com os problemas de sempre - Miranda (Cynthia Nixon, que na vida real assumiu sua homossexualidade) anda em crise com a vida sexual com o marido Steve (David Eigenberg, ator por demais fraco e que parece perdido nas cenas que aparece). Já Samantha (a cinquentona enxuta Kim Cattrall) vive em Los Angeles e sente falta de sua vida poligâmica, depois de cinco anos envolvida emocionalmente com o ator Smith Jerrod (o insosso Jason Lewis). Charlotte (a bonita, mas estérica Kristin Davis) é a única que parece ter tudo certo em sua vida, seja sexual quanto familiar.
Carrie nunca é vista trabalhando - como ela consegue manter aquele padrão de vida? Seu cotidiano se resume a desfilar modelitos famosos por Manhattan e tomar coquetéis com as amigas em restaurantes chiques. Em Sex and the City - O filme, no entanto, se permite um pouco mais de liberalidade que não era vista na televisão, como cenas ardentes de sexo e nus quase frontais, que deixam a mulherada quase em polvorosa.
Mas lá pelas tantas, o filme passa do ponto, se esticando demais e quase se repetindo em cenas desnecessárias. Talvez se mantido em sua forma original de seriado, não chateasse tanto. A favor - lá estão alguns diálogos afiados e que fazem a gente soltar boas gargalhadas. E um erro crasso - pelas barbas do profeta: o tradutor conseguiu a façanha de chamar Library de livraria...faltou a essa aula de inglês.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal



Uma vez o Barão de Itararé vaticinou: onde se espera alguma coisa, é aí mesmo que não sairá nada. Dito isso, será que valeram quase 20 anos de espera pelo quarto filme de Indiana Jones, agora com o sub-título O Reino da Caveira de Cristal, direção de Steven Spielberg.
Não, a espera não valeu de nada.
O que mudou, a não ser a idade e as rugas no rosto do herói interpretado por Harrison Ford, hoje com 65 anos de idade? E os vilões? Antes, nazistas sedentos por peças arqueológicas que lhes dessem poderes místicos. Agora, em plena Guerra Fria, são os soviéticos em busca das tais caveiras de cristal.
E o herói, professor nas horas vagas e arqueólogo em tempo integral, foge, foge, apanha, apanha, mas sempre se safa. E a música tema, em determinado ponto, começa a martelar de tal maneira, que irrita o espectador. E o que dizer de alguém que sobrevive a uma explosão nuclear se protegendo dentro de uma geladeira? Passo...

As Crônicas de Nárnia - O principe Caspian



As Crônicas de Nárnia - O principe Caspian, direção de Andrew Adamsom e baseado em livro escrito pelo britânico J.S. Lewis nos anos 50 do século passado, está na mesma seara de obras como A Bússola de Ouro, As Crônicass de Spiderwick e Ponte Para Terabítia, ou seja, bebem na fonte de O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, transposto para a telona no começo desta década por Peter Jackson. Em Crônicas, o mundo humano se vê envolvido com seres mágicos - animais, árvores que falam, ou seja, nada original. Aqui, o principal Caspian (o fraco e completamente insosso Ben Barnes é jurado de morte pelo tio Miraz (o ator espanhol Sergio Castelitto, caricato e com um nariz de Cirano de Bergerac), que pretende dominar o reino de Tarminia.
Caspian, então, é ajudado pelos irmãos Pevensie, que retrocedem 1200 anos no tempo. E dê-lhe batalhas semelhantes ao já citado O Senhor dos Anéis. Quando o filme completa duas horas, o público já está enfarado.

LONGE DELA



Se alguém próximo a você ficasse seriamente doente, principalmente sua esposa de mais de quatro décadas, qual seria a sua opção? Você largaria esta pessoa ao seu destino ou cuidaria dela, sem pestanejar? Em Longe Dela (Away from Her), direção sensível da novata Sarah Polley, atriz de Minha Vida Sem Mim e A Vida Secretas das Palavras, a veterana Julie Christie interpreta Fiona, que começa a sentir os efeitos do Mal de Alzheimeir. Após 44 anos de uma bela convicência com o marido Grany, ela decide que deve se internar para tratar da doença.
E aí o filme é de Gordon Pinsent, que no papel de Grant e com seu olhar perdido, mostra todo o desespero de quem está perdendo o melhor bem de sua vida. E para piorar, Fiona a cada dia que passa, esquece quem ele é, ao mesmo tempo que cria laços com outro paciente da clínica, Aubrey (Michael Murphy, de X-Men). E não dá para falar de Longe Dela sem Julie Christie, que levou um Oscar pela sua intrepretação, e aos 66 anos de idade, ainda traz traços de sua beleza, que estarreceu o mundo no clássico Dr. Jivago, de 1965. Enfim, um filme belo e sensível e que nos faz sair do cinema refletindo sobre o futuro de nossas vidas.