sexta-feira, agosto 16, 2019

"Era Uma Vez em...Hollywood" (Once Upon a Time in...Hollywood)



Como já o fizera em "Bastardos Inglórios", mais uma vez Quentin Tarantino subverte e transforma a história. Deu, é o máximo que posso dar de spoiler de seu novo filme, "Era Uma Vez em...Hollywood" (Once Upon a Time in...Hollywood), onde o diretor foca o final dos anos 1960, mais exatamente em 1969, na meca do cinema mundial, Los Angeles, e na trajetória do ator decadente Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu amigo e espécie de faz-tudo Cliff Booth (Brad Pitt).

Dalton fez sucesso na TV nos anos 1950, mas uma década depois vê a carreira em declínio, aceitando participar de produções como vilão e até mesmo tentar uma carreira no exterior, nos western spaghetti (olha aí homenagem a Clint Eastwood, que tentou a sorte na Itália em meados dos anos 1960). Aliás, o filme é cheio de homenagens e lembranças, como várias séries televisivas e filmes daquela época. Calha ainda de a residência de Dalton ser localizada em Rodeo Drive, ao lado da casa do famoso diretor Roman Polanski e sua jovem esposa, a atriz Sharon Tate, vivida no filme por Margot Robbie. Sim, o famoso e infâme assassinato praticado pela Família Mason serve como pano de fundo.

Brad Pitt está genial, DiCaprio vai bem (uma das melhores cenas é quando ele bate um papo com uma atriz mirim num set de filmagem - a garotinha remete a Jodie Foster). A outra é quando Pitt briga com Bruce Lee (Mike Moh), e que gerou muitos protestos da família do ator, morto precocemente aos 32 anos, em 1973. Toda a hora a tela é invadida por algum personagem famoso, seja Steve McQueen, Polanski, Charles Manson, Mama Cass. Não dá para piscar e também se exige um pouco de conhecimento. Outro destaque é a reconstituição de época, primorosa, detalhada. Está certo, Tarantino reconstrói a história, mas isso faz pensar...e se tais fatos não houvessem ocorrido ou impedidos?

Cotação: ótimo
Duração: 2h41

Chico Izidro

sexta-feira, agosto 09, 2019

"Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro" (Scary Stories to Tell in the Dark)



"Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro" (Scary Stories to Tell in the Dark), tem direção do norueguês André Øvredal, mas foi concebido pelo mexicano Guillermo del Toro. É uma história de terror tendo muitas semelhanças com "It - A Coisa", "Stranger Things", "Goosebumps" e "Super 8". Legal que a trama se passa em 1968, no auge da Guerra do Vietnã, na pequena cidade de Mill Valley.

Todos os elementos clássicos de jovens se metendo com perigos sobrenaturais estão lá. Os amigos Stella (Zoe Margaret Colletti), Auggie (Gabriel Rush) e Chuck (Austin Zajur) vivem em famílias disfuncionais e com problemas na escola e sofrendo bullying. Na noite de Halloween eles fogem dos valentões e se escondem em uma mansão abandonada e considerada assombrada. A eles se junta um rapaz latino, Ramón Morales (Michael Garza), que parece esconder um grande segredo e sofre com o racismo.


Na mansão, eles descobrem um livro e o levam para casa. As anotações eram feitas por uma garota, Sarah, filha da família, que se tornou amaldiçoada. O livro cria suas próprias histórias escritas em sangue nas páginas. E destas páginas surgem criaturas que vão atras da garotada, como um espantalho, um homem torto que se despedaça (parte da cultura mexicana), uma criatura bizarra que se desloca pelos corredores de um manicômio, aranhas que se escondem dentro de uma espinha no rosto de uma garota, um zumbi atrás de seu dedo arrancado. E Sarah, voltando em forma de fantasma.

Apesar de ser um apanhado do que já foi visto e revisto, "Histórias..." consegue prender a atenção, e seus personagens são interessantes, assim como os monstros que aparecem na tela. Como pano de fundo temos a Guerra do Vietnã e até mesmo uma alfinetada no preconceito contra imigrantes, na figura do jovem Ramón, que é perseguido pelo xerife e pelos valentões do colégio local. E fica um gancho para uma sequência.

Cotação: bom
Duração: 1h47

Chico Izidro

"Vermelho Sol" (Rojo)



"Vermelho Sol" (Rojo), direção de Benjamin Naishtat, é um belo filme policial argentino, como só os hermanos sabem fazer. E em sua história, transcorrida no ano de 1975, já traz uma prévia da violenta ditadura militar que se avizinhava no país, e que chegaria no ano seguinte, durando até 1983.

Toda a história gira em torno de um advogado, Claudio (Dario Grandinetti), que se envolve em um bate boca em um restaurante da cidadezinha em que reside no interior argentino. O rapaz que ele discute é um tipo meio lunático, e a discussão não vai terminar bem, para o segundo. No decorrer dos dias, Claudio tenta manter a normalidade ao lado de sua esposa.

Só que o adogado começa a ser investigado por um detetive chileno, Sinclair (Alfredo Castro). Afinal, o jovem qus discutiu com Claudio desapareceu sem deixar rastros, e os indícios apontam que o advogado teria algo a ver com o sumiço.

A trama é tensa, mostrando um certo conservadorismo presente na sociedade, que acabaria facilitando a tomada de poder pelos militares. "Vermelho Sol" se destaca, ainda, pela fantástica reconstituição de época. Tudo foi cuidadosamente realizado - as roupas, os cortes de cabelo, os carros, o linguajar da época. É um filme forte.

Cotação: ótimo
Duração: 1h49

Chico Izidro

"Rainhas do Crime" (The Kitchen)



Rainhas do Crime (The Kitchen), direção de Andrea Berloff, é baseado em HQs do selo Vertigo, da DC, e tem nos papéis principais Melissa McCarthy, Tiffany Haddish e Elisabeth Moss. A presença, aliás, de McCarthy poderia indicar ser uma comédia. Mas não é. A história é ambientada entre os anos de 1978 e 1979 no bairro de Hell’s Kitchen, em Nova Iorque, o mesmo onde vive o Demolidor (Dare Devil), mas que claro não está presente aqui, apesar de a Máfia dar os seus ares.

O filme tem muito de "As Viúvas", onde as protagonistas acabam perdendo os seus maridos. Se no primeiro, eles eram mortos durante um assalto, neste caso, eles são mafiosos que acabam presos. Sem ter como manter as suas casas por causa de falta de grana, as personagens de Melissa McCarthy, Tiffany Haddish e Elisabeth Moss pedem a ajuda para outros mafiosos, que não estão muito afim de dar uma mãozinha para elas.

O que as três decidem fazer? Ora, assumir elas mesmas o controle de proteção no bairro, passando a ganhar fortunas com o dinheiro das extorsões. Numa época onde as mulheres ainda eram apenas coadjuvantes, "As Rainhas do Crime" mostra elas assumindo um protagonismo único - tanto que no original o título faz um trocadilho com o bairro e a situação das mulheres, cujo único lugar onde deveriam ficar era na cozinha.

A ambientação dos anos 1970 é muito fiel, desde as locações (Nova Iorque era uma cidade imunda e sem segurança à época) até cortes de cabelo, e roupas escandalosas e coloridas. Outro atrativo é a trilha sonora, destacante Lynyrd Skynyrd, Heart, Fleetwood Mac, Kansas e Montrose, num belo retrato sonoro do período. O que incomoda e muito é a glamourização do crime, como se ele fosse a solução para a solução dos problemas.

Cotação: bom
Duração: 1h43

Chico Izidro

sexta-feira, agosto 02, 2019

"Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw" (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw)



A franquia Velozes e Furiosos, iniciada em 2001, já chegou a quase dez filmes, e vai aos poucos perdendo a sua essência, que era o de explorar corridas ilegais de rua, com carros turbinador. Aos poucos foram aparecendo espiões e vilões querendo dominar o mundo. Agora, em "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw" (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw), direção de Rob Cohen, a ficção científica tomou conta, em um vilão robotizado, com poderes sobre-humanos.

Na trama, o agente federal Luke Hobbs (Dwaine Johnson) e do mercenário Deckard Shaw (Jason Statham) precisam trabalhar juntos, mesmo que a contragosto, no velho esquemão hollywoodiano de duplas que não se suportam, mas têm de se acertar para cumprir a missão. Os dois são convocados para localizar a agente do MI6 Hattie (Vanessa Kirby), falsamente acusada de roubar um vírus mortal após sua equipe ter um fatídico encontro com Brixton (Idris Elba), um criminoso que usa tecnologia cibernética para adquirir força e reflexos sobre-humanos.

The Rock e Statham funcionam bem, com uma ótima química, no meio de diversas tiradas cômicas e trocas de ofensas machistas. Outro destaque é a linda Vanessa Kirby, que já havia sido vista, sem o mesmo barulho, em Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018) e também como a princesa Margareth no seriado "The Crown" - ela tem uma tremenda presença em cena, com muito carisma e charme. O vilão de Idris Elba mete medo, reencarnando um tipo exterminador do futuro.

"Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw" (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw) acerta e traz de novo aquelas cenas improváveis e humanamente impossíveis de serem realizadas e que desafiam as leis da Física. Duas cenas são eletrizantes, uma perseguição pelas ruas de Londres, e outra numa ilha em Samoa - apenas para justificar porque o filme se insere dentro da mitologis Velozes e Furiosos.

Cotação: ótimo
Duração: 2h16

Chico Izidro

"No Coração do Mundo"



"No Coração do Mundo", direção de Gabriel Martins e Maurílio Martins, é uma obra realista, que mostra moradores da periferia da mineira Contagem, na Grande Belo Horizonte. O foco está em Marcos (Leo Pyrata), jovem meio sem rumo, que quer acabar com a rotina de trabalhar apenas com bicos e a prática de pequenos crimes. Ele está apaixonado por uma garota e quer dar um jeito de arranjar uma grana.

A luz no fim do túnel surge quando a pequena trambiqueira Selma (Grace Passô, excelente) propõe a realização de um roubo. De acordo com ela, é coisa grande, mas o risco de serem pegos aparenta ser pequeno. Mas o assalto é apenas parte da trama, surgindo quase no final do filme. Até lá, o cotidiano de várias pessoas de Contagem é mostrado, de forma natural e sem pressa: a garotinha brincando com o jabuti no quintal, a moça que cuida de um idoso que não pode sair da cama, a MC obesa que busca uma vida de sucesso fora dali. Sobra espaço ainda para a cobradora de ônibus que acha que aquela vida não é para ela, ou o comerciante preocupado com o futuro de seu irmão caçula. O problema é que por vezes estas histórias paralelas não ajudam e nem se encaixam na trama, deixando aquela pergunta no ar: "qual o propósito de mostrar cenas assim?"

O grande destaque acaba sendo Grace Passô, que já havia arrasado em "Praça Paris", de Lúcia Murat, e volta a chamar a atenção. É segura e dona das cenas.

Cotação: bom
Duração: 1h50

Chico Izidro

"As Rainhas da Torcida" (Poms)



"As Rainhas da Torcida" (Poms), direção de Anne Émond, é uma comédia, mas também tem drama e apresenta muita sensibilidade. Enfim, a lição é de que você nunca é velho o suficiente para fazer o que sempre quis. Que ninguém pode ser escanteado ou criticado por querer se manter ativo e se divertindo. Tipo um cara como eu, que aos 53 anos ainda joga futebol todas as semanas, e têm gente que fica enchendo a paciência: "ah, mas você tá velho para isso. Devia sossegar e ficar sentado na poltrona vendo televisão". Sim, apodrecendo em vida.

Bem, feito o desabafo, vamos a Martha, vivida por Diane Keaton, a eterna Annie Hall. Uma mulher de 70 e poucos anos, e que tem câncer, mas não que receber o tratamento. Então decide abandonar Nova Iorque e ir morar num condômínio de terceira idade, chamado Sun Springs. Quanda chega na comunidade, fica sabendo que a administração local impõe a todos os moradores a participarem de clubes. Mas Martha não se encaixa em nenhum deles, então ao lado da vizinha que no início não suportava, Sheryl, interpretada por Jacki Weaver, cria o dela, onde mulheres da terceira idade se tornam Lideres de Torcida, e até mesmo participar de concursos.

Mas no novo clube, as duas e as outras parceiras precisam enfrentar as barreiras da idade, pessoas conservadoras, e provar que nunca é tarde demais para seguir os seus sonhos. O filme tem um roteiro simples, mas bem estruturado, cujos acertos estão na temática sobre a terceira idade, as problemos decorrentes e os sonhos a serem realizados. "As Rainhas da Torcida" faz rir, mas também emocionar e pensar, trazendo boas lições sobre determinação e realizações não importa a idade que você tenha.

Cotação: ótimo
Duração: 1h30

Chico Izidro

"Abaixo a Gravidade"



"Abaixo a Gravidade" é o terceiro longa-metragem de Edgard Navarro. A história acompanha o dia a dia de Bené (Everaldo Pontes), um fotógrafo aposentado, que vive no interior baiano, em Capão, na Chapada Diamantina. Ele é um homem que ajuda a todos, considerado sábio e também atuando como curandeiro local.

A sua vida pacata vai se transformar quando ele conhece Letícia, jovem grávida por quem se apaixona, platonicamente. Algum tempo depois do parto (que ele mesmo faz, ajudado por uma parteira), a moça retorna para Salvador. Alegando precisar tratar da doença - ele realmente está doente, sofrendo da próstata, Bené vai atrás dela, conhecendo na cidade a irmã de Letícia, Malu (ambas interpretadas por Rita Carelli).

Na capital baiana, além de Malu, Bené entra em contato com vários tipos estranhos, como o irascível Galego (Ramon Vane), o sonhador Mierre (Fabio Vidal) e Maisselfe (Bertrand Duarte), um homem da classe média em crise. Ao mesmo tempo, asteroide denominado Laetitia se aproxima da Terra e poderá provocar a perda momentânea de gravidade na região da Baía de Todos os Santos.

“Abaixo a Gravidade” até inicia bem, mostrando o jeito de viver do velho homem. Mas aos poucos a trama, repleta de misticismos, rituais religiosos e superstições, vai se perdendo. O diretor inclui cenas sem nenhum sentido, e o decorrer do filme passa a ser como uma tortura para o espectador, que só resta olhar o relógio e torcer para que acabe logo. A obra não é para todos os públicos. Muito alternativo.

Cotação: ruim
Duração: 1h49

Chico Izidro