Wednesday, February 24, 2010

UM OLHAR DO PARAÍSO



Em UM OLHAR DO PARAÍSO, de Peter Jackson (King Kong e O Senhor dos Anéis), sabemos desde o início que a protagonista, Susie Salmon (Saoirse - pronuncia-se Shãrsa - Ronan) foi assassinada em seis de dezembro de 1973 por um serial killer. Mas nestes primeiros 20 minutos, vemos a vida quase perfeita desta garota de subúrbio, com dois pais amorosos (Mark Walhberg e Rachel Weisz), dois irmãos menores e uma vó desbocada (a sempre excelente Susan Sarandon).
Até que vem o assassinato de Susie, numa cena por demais angustiante, onde o espectador se sente impotente em ver momento tão emblemático. Stanley Tucci, aliás, é o melhor de UM OLHAR DO PARAÍSO, com sua interpretação hipnotizante de um maniaco. Ele pode entrar, tranquilamente, para a galeria dos vilões mais sinistros da história do cinema. Morta, Susie vai parar numa espécie de limbo, onde pode ver o que se sucede com sua ausência. Seu corpo não é encontrado e a família, não aceitando sua morte, começa a viver um processo de desfragmentação.
UM OLHAR DO PARAÍSO cai muito quando das "viagens" psicodélicas de Peter Jackson, com Susie vivendo num mundo paralelo, só podendo assistir o que se passa na terra. E nisso há um equívoco no título nacional, pois a garota não está no paraíso, mas sim num tipo de limbo. Quando Jackson se restringe a contar o assassinato e a investigação do crime, ele cria um excepcional thriller policial.
Cotação: bom
Chico Izidro

Thursday, February 18, 2010

A FITA BRANCA



Nos dias atuais o público não está muito afeito a assistir a um filme de quase 3 horas, em preto e branco e sobre uma aldeia vivendo sob a repressão religiosa e aristocrática de antes do início da I Guerra Mundial. E além do mais, o cinema do diretor austríaco Michael (pronuncia-se Micael) Hanecke não é de fácil "deglutição". A FITA BRANCA (Das Weisse Brand) é tudo isso e nos deixa a pensar ao final da projeção.
A FITA BRANCA se passa numa aldeiazinha no interior da Alemanha, em 1913. Ali vários acontecimentos influenciam uma comunidade que parecia ser normal. Mas é tudo aparência. O vilarejo, que vive da agricultura, é controlado por um barão - que emprega metade dos aldeões - e também sofre com a rigidez moral do pastor da comunidade - pai de quase uma dezena de filhos. Há ainda o médico, viúvo, e que tem um caso com a parteira da vila e a quem humilha frequentemente, além de manter um caso incestuoso com a filha.
De um dia para o outro, a aparente calmaria na aldeia desaba, e tudo começa com um acidente com o médico. Os acontecimentos não passam despercebidos pelo professor do local, Lehrer (Christian Friedel), que ao mesmo tempo engata um tímido romance com a babá dos filhos do barão. Leher, aliás, já idoso, é quem relata as ocorrências estranhas do vilarejo.
Hanecke não explica muito, exigindo do espectador atenção redobrada - e isso faz falta no cinema de hoje, onde tudo é entregue mastigadinho para a audiência. A FITA BRANCA, aliás, significa a pureza, a inocência (o que fica bem explícito em cena emblemática da pastor com sua horda de filhos). A se destacar também as imagens preta e branca - nós, que estamos acostumados a coloridos excessivos. A impressão é que estamos mesmo no começo do século passado e talvez tenha sido mesmo esta a ideia do diretor austríaco. Em nossa memória coletiva, tudo o que é relacionado as primeiras décadas do século XX é lembrado em P&B.
E não posso contar aqui, mas o final de A FITA BRANCA pode surpreender, talvez para quem espere um término conclusivo ao estilo hollywoodiano. Hanecke faz pensar.
Cotação: excelente

O LOBISOMEM



O diretor Joe Johnston quis ser simples ao filmar O LOBISOMEM (The Wolfman), baseado no clássico de 1941, com Lon Chaney. Deixou de lado o excesso de efeitos especiais, e isso é louvável. Preocupou-se mais com a maquiagem pesada em Benício del Toro. Ele é o nobre inglês, que vive como ator e que volta para casa após pedido da cunhada Gwen (Emily Blunt), devido ao estranho assassinato brutal do irmão.
Longe da casa há décadas, Lawrence Talbot será amaldiçoado ao ser atacado pela besta humana. A partir daí, sempre nas noites de lua cheia, ele se transforma em um lobisomem, trucidando quem cruzar o seu caminho.
O problema é que O LOBISOMEM não tem suspense. Chega a ser ridículo Lawrence andando pelo castelo, ouvindo rangidos e tremendo de medo, mesmo sabendo ser ele o monstro. Mesmo Anthony Hopkins como Sir John Talbot não parece muito confortável na produção. Parece estar ali por uma graninha para sua aposentadoria. E o que são os uivos da besta no final do filme?
Cotação: ruim
Chico Izidro

Thursday, February 11, 2010

NINE



O musical NINE, de Rob Marshall, tem um grande pecado para...um musical: não possui uma música que se destaque. São todas muito uniformes e fracas. Dá saudade de belos musicais como A Noviça rebelde, Cantando na Chuva ou até mesmo o recente Dreamgirls.
A história não chega a ser original, mas tem seu charme, homenageando o diretor italiano Federico Fellini (1920-1993): o cineasta Guido Contini (Daniel Day Lewis numa atuação fraca e quase caricata) sofre com um bloqueio criativo a poucos dias de começar a filmagem de seu novo filme. Então decide se refugiar num hotel fora de Roma para tentar fugir dos paparazzi e também das pessoas envolvidas com a produção do filme. E neste vendaval todo, ele ainda se vê às voltas com as figuras de nove mulheres que têm significância em sua vida, principalmente sua mulher Luisa (Marion Cottilard, a melhor coisa do filme) e a amante Carla (Penélope Cruz, aqui numa boa interpretação). Quem também se destaca é a sempre excelente Judy Dench, da série 007, como a conselheira e figurinista dos filmes de Guido. Mas um musical sem músicas boas...vamos para a próxima.

cotação: ruim
Chico Izidro

AMOR SEM ESCALAS





Mais um daqueles títulos equivocados de nossas distribuidoras. Up in the Air, de Jason Reitman, transformou-se em AMOR SEM ESCALAS. Para começar, o que menos se vê é amor nesta história de um homem que passa 90% do ano viajando a serviço de uma empresa especializada em demitir funcionários de outras empresas. O homem é Ryan (George Clooney, fazendo o papel dele mesmo, por isso mesmo excelente), um solitário que tenta não se apertar a nana e ninguém. Sua mala é metodicamente arrumada. Seu mundo começa a mudar quando uma jovem, Natalie (Anna Kendrik, excelente), começa a trabalhar em sua empresa e apresenta um novo método para demitir pessoas. Ao invés de ao vivo, pela internet. Isso é um choque para Ryan, que acha a forma desumana - como se qualquer forma de demissão não fosse desumana.
Ao mesmo tempo, ele conhece a executiva Alex (Vera Farmiga, de Os Infiltrados) e até pensa que sua vida pode mudar e ele se ficar com alguém. AMOR SEM ESCALAS faz refletir sobre a vida, sobre a vida solitária, sobre a vida a dois. E tenta quebrar algumas regras, mas por fim se mostra conservador. Não que isso seja desabonador. Afinal, já escrevi isso uma vez e repito: ninguém é uma ilha.

cotação: bom
Chico Izidro

SHERLOCK HOLMES



Os fãs de Guy Ritchie, o ex de Madonna, sabem que ele é afeito a violência quase explícita. Então o diretor inglês tem em suas mãos SHERLOCK HOLMES, com Robert Downey Jr. e Jude Law. E o famoso detetive inglês, além do excepcional poder de dedução, ganha também músculos para solucionar os mais difíceis casos na Inglaterra vitoriana. E o mais grave acontece quando o lorde Blackwood (Mark Strong), com tendências satânicas, decide dominar o país e reconquistar a antiga colônia, os Estados Unidos. Para isso, apela para a magia negra, o que foge do conceito de racionalidade do detetive, que ainda por cima tem de lidar com o abandono do companheiro Watson, que está para se casar, e o ressurgimento de um antigo amor (Rachel McAdams).
Robert Downey Jr. consegue dar brilho e muito humor a uma história fraca, onde não faltam correrias, explosões e claro, um vilão caricato ao extremo. O filme, no entanto, tem seus acertos, como a reconstituição quase perfeita da Londres do século XIX, onde imperava a sujeira e a desordem. Porém temos de pensar que a obra foi feita para os novos tempos, onde pensar muito passa longe da grande massa que acorre para as salas de cinema.

cotação: regular
Chico Izidro

Thursday, February 04, 2010

INVICTUS



Clint Eastwood, 80 anos, quer deixar um legado importante para as futuras gerações. Por isso, não para mais de trabalhar e sempre produzindo obras agradáveias de se ver, como as últimas Gran Torino e A Troca. Agora, mais uma vez, ele se supera no otimista INVICTUS.
O filme tem como pano de fundo o infame apartheid sul-africano e o rúgbi. Em 1995, Nelson Mandela (Morgan Freeman, excelente), um ano após ter assumido a presidência da África do Sul, tem a difícil missão de se não conseguir unir negros e brancos, ver eles se digladiarem numa sangrenta guerra civil. E um dos motivos que pode evitar o derramamento de sangue é o campeonato mundial de rúgbi, que será disputado exatamente no país. O esporte, de preferência do público branco (os negros são adeptos do futebol), era uma marca da repressão e um garoto negro usar a camisa amarela e verde dos Springboks - espécie de antílope - significava ele ser surrado pelos amigos. Os negros até tentam mudar o nome e o uniforme do selecionado, mas Mandela mostra que isso seria errado, afinal tirar um dos orgulhos dos brancos seria uma forma de vingança que o líder queria evitar. Aquele homem que ficou 27 anos presos conseguiu, enfim, unir um país, mas não foi só o rúgbi. Ele até deixou antigos inimigos em postos-chaves do governo.
Mas retornando a INVICTUS, Mandela consegue o apoio do capitão dos Springboks, François Pienaar (Matt Damon, que consegue uma ótima atuação), vindo de uma família de africanêrs, cujo pai é extremamente radical contra o novo governo. Pienaar mostra aos colegas que ganhar o título seria extremamente oportuno naquela ocasião. E apesar do que mostra o filme, o time não era tão ruim como Clint Eastwood faz mostrar. O selecionado era apenas desconhecido, após anos afastado do grande circuito devido às sanções advindas do apartheid.
As cenas são extremamente bem filmadas e fica a pergunta de que por que o futebol raramente consegue ter produções que transmitam sua beleza estética? O modo com que Clint Eastwood filme o rúgbi faz com quem não conheça o esporte, queria saber mais sobre ele. E quem conhece, se apaixone mais ainda.
Ah, Invictus é um poema que Mandela lia quando estava preso e que o fazia suportar os momentos de depressão.
Cotação: bom
Chico Izidro

GUERRA AO TERROR





GUERRA AO TERROR começa com a morte de um soldado especialista em desarmar bombas numa poeirenta rua da violenta Bagdá. Este temor de ser explodido numa terra estranha vai permear as quase duas horas deste espetacular filme dirigido por Kathryn Biglow, ex-esposa de James Cameron, ele mesmo, de Avatar e Titanic.
O soldado morto (rápida participação de Guy Pearce) faz parte de uma equipe, um trio, que sempre é chamado quando volumes suspeitos são encontrados pelas vias da cidade, que vive diariamente o pânico de atentados terroristas. Para o lugar do sargento Matt Thompson, é convocado o sargento William James (Jeremy Renner), fã de heavy-metal e completamente ensandecido. Ele parece não ter medo dos riscos que corre ao fzer tal trabalho. Por vezes, chegando a colocar em perigo a vida dos colega, que em determinado momento, acabam nutrindo uma certa antipatia por ele.
O desconhecido, pelo menos para os brasileiros Jeremy Renner, de Extermínio 2 (onde também interpreta um intrépido soldado), tem uma atuação segura, demonstrando aos leigos o que deve ser o temor diante do risco de morte. Os coadjuvantes não deixam por menos. Interessante também é ver atores consagrados como Ralph Fiennes e Guy Pearce em papéis completamente secundários, sem se importar com isso. Devem ter se divertido muito.
GUERRA AO TERROR se coloca na linha de frente dos novos filmes de guerra, tendo muito de Valsa com Bashir, do israelense Ari Folman, e também por ser árido, modorrento, remetendo a Soldado Anônimo, de Sam Mendes, ótimo filme sobre a primeira guerra dos Estados Unidos com o Iraque, no início da década de 1990. E mostram soldados longe de casa, vivendo o perigo iminente da morte.
Cotação: excelente
Chico Izidro