Thursday, April 26, 2012

Sete Dias Com Marilyn

Marylin Monroe é sem sombra de dúvidas, a mulher mais sexy e desejada de todos os tempos. E mesmo assim era uma solitária, carente, e mesmo tendo todos os homens que quis aos seus pés. Em "Sete Dias Com Marilyn", direção de Simon Curtis e com a lindinha Michelle Williams, são lembrados os transtornos das gravações do romântico O Principe e a Corista, de Sir Laurence Olivier, baseado nas memórias do escritor Colin Clark. Ele conviveu com a atriz no período daquelas filmagens.
A musa queria aquela altura de sua carreira, que já possuia muitos sucessos, ser levada a sério como atriz e não como a gostosona da sétima arte. Nas filmagens de O Principe e a Corista, no original The Prince and the Showgirl, Marylin, recém casada com o teatrólogo Arthur Miller, 20 e poucos anos mais velho, ela entra em choque com Sir Laurence Olivier, astro do teatro inglês e que fazia ali uma no cinema como diretor e ator. Vivido por Kenneth Branagh, igualmente egresso do teatro, Olivier cooptou Marilyn para obter maior visibilidade. Mas ela está em um de seus muitos momentos de insegurança e depressão. Aí entra a figura de Colin Clark (Eddie Redmayne, de A Outra), recém saído da faculdade e de uma rica família inglesa. O seu objetivo é entrar no mundo do cinema e então aceita um emprego de boy e uma de suas tarefas é cuidar da moça, cujo astral anda em baixa, mas cometendo o erro fatal de cair de amores por ela.
Muito do que se vê na tela e talvez nas memórias de Colin Clark tenha sido fruto da sua imaginação de pós-adolescente. Talvez aí impere o charme do filme, pois Marilyn já com 30 anos, era uma mulher perdida, com mentalidade de garotinha (chamava um de seus maridos, o ex-jogador de beisebol Joe DiMaggio de paizinho). E nisso está o trunfo de Michelle Williams (da série Dawson's Creek e ex- mulher de Heath Ledger). Ela não faz uma Marilyn sexy, pois não o é. Com sua carinha de guriazinha, mostra o lado carente, meigo e desesperançado da bombshell, que virava a cabeça dos homens, e não conseguia consertar a sua.
No final, O Principe e a Corista foi um sucesso, mas extenuante para todos. E Marilyn, morta aos 36 anos, tornou-se imortal, até hoje vivendo no imaginário popular. Sir Laurence Olivier, o maior ator teatral de todos os tempos, morreu aos 81 anos, em 1989. As novas gerações não o conhecem, mas ele pode ser visto em Spartacus, em 1960, em Hamlet, de 1948, ou Os Meninos do Brasil, de 1978, vivendo Simon Wisenthal, e Maratona da Morte, de 1976, na pele do nazista Dr. Christian Szell.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

12 Horas

O cineasta brasileiro Heitor Dhalia, que dirigiu os enigmáticos Nina e O Cheiro do Ralo, teve a oportunidade de trabalhar em Hollywood. Porém não pode ousar. Teve de ser extremamente convencional no suspense "12 Horas", com a belezinha Amanda Seyfried vivendo Jill, uma garota que num passado não muito distante, foi raptada por um serial killer, só que conseguiu escapar. Anos depois, sua irmã desaparece e Jill suspeita que Molly tenha sido vítima do mesmo criminoso.
O problema é que a polícia não acredita que Jill tenha sido mesmo sequestrada e que tudo não seja fruto de sua imaginação fértil e doentia. A garçonete resolve, então, ela mesma tentar solucionar o caso. Ou seja, tudo muito clichê, sem uma pontinha de inventividade. Entre os atores que vivem os policiais está Wes Bentley, de Jogos Vorazes e Beleza Americana, praticamente sub-aproveitado. Pior ainda Daniel Sunjata, de O Diabo Veste Prada, fazendo apenas caras e bocas. Amanda Seyfried, de Mamma Mia, talvez um dia encontre um filme onde possa demonstrar um pouco de talento. Tirando Meninas Selvagens e Chloé, que são interessantes, a atriz ainda não fez boas escolhas.
E Heitor Dhalia se deixou corromper por estar num mercado riquíssimo, mas que não costuma arriscar muito com diretores novatos e vindos de fora. Ou você se enquadra ou está fora.
Cotação: ruim
Chico Izidro

À Toda Prova

O elenco é de primeira e os atores parecem ou estão mesmo divertindo-se muito. O clima e a reunião feita remete a outros de seus filmes - Onze Homens e um Segredo, Doze Homens e um Outro Segredo e Treze Homens e um Novo Segredo. Sim, falo de Steven Soderbergh no comando de À Toda Prova, em que juntou vários amigos, a exemplo das obras citadas acima. São eles Michael Fassbender, Ewan McGregor, Michael Douglas, Antonio Banderas, Michael Angarano, Bill Paxton e Mathieu Kassovitz. Aqui, tudo parece remeter a um dos filmes da trilogia Bourne, só que visto pelo lado feminino.
A lutadora de MMA norte-americana Gina Carano é que vive Mallory, agente secreta que realiza missões não-oficiais do governo americano em solo estrangeiro. Numa delas, recebe a incumbência de libertar um jornalista chinês sequestrado em Barcelona. Libertado o prisioneiro, ela é enviada para Dublin, para encerrar o trabalho. Mas acaba caindo numa armadilha, passando a ser perseguida por um grupo de assassinos.
A única coisa interessante de se ver em À Toda Prova são as cenas bem coreografadas de luta entre Mallory e seus perseguidores. Ela e Michael Fassbender, de Shame, são os únicos, aliás, que parecem estar levando o filme um pouco a sério. O resto parece estar ali para dar uma forcinha ao amigo Steven Soderbergh, que desta vez errou a mão.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Thursday, April 19, 2012

Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio

Em meados dos anos 1980, quando Raul Seixas fazia um relativo sucesso com a criançada por causa da música Plunct Plact Zum, acabei conhecendo o trabalho anterior do músico baiano e fiquei de queixo caído. Virei fã na mesma hora. E eu tinha um grupo onde todos os sábados à tarde reuníamos para escutar discos de rock, que tão dificilmente conseguiamos comprar. A cada sábado cada um dos membros levava um LP, geralmente de metal, hard rock, punk ou progressivo. Então eu apareci com um do Raul Seixas. Quase apanhei. Não, exagero. Mas fui muito xingado pelo pessoal, pois na cabeça de todos Raulzito era o equivalente a Plunct Plact Zum. Pedi uma trégua e pus o disco para rodar. Ao final da audição estavam todos boquiabertos devido a magnitude da obra do artista. Quem xingou antes, virou fãs.
Bom, quase 30 anos depois de descobrir Raul Seixas, saí emocionado da sessão do documentário Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio, dirigido por Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel. O filme resgata desde a adolescência do cantor em Salvador, quando ele tomou contato com o rock'n'roll aos 16 anos, entrando no fã-clube de Elvis Presley até a sua morte, solitária, em seu apartamento em São Paulo em 1989. Seu fanatismo por Elvis era tão intenso, que Raul imitava os trejeitos e o visual do norte-americano. Cada passo de Raulzito é revivido detalhadamente em cerca de duas horas, como o grupo Os Panteras, a ida para o Rio de Janeiro, o lançamento do germinal Sessão das 10, as várias mulheres e suas puladas de cerca, as filhas com quem pouco conviveu, mas que o veneram, as parcerias, principalmente com Paulo Coelho.
O interessante é que Raul Seixas possuia a cultura de filmar tudo o que pudesse. Por isso, podemos ver diversas imagens das décadas de 1960, 70 e 80. Exímio letrista e compositor, seus discos possuiam músicas de diversos vários estilos, indo do rock ao baião. Seu maior sucesso foi Krig-ha, Bandolo!, de 1973, que trazia Ouro de Tolo, Mosca na Sopa, Al Capone e Metamorfose Ambulante.
O problema de Raul Seixas foi o de que ele não se poupou diante da bebida e das drogas. Bebeu, fumou e cheirou tudo, tanto que morreu cedo demais, apenas aos 44 anos, deixando uma legião de admiradores. As cenas de seu enterro são emblemáticas, com as pessoas desesperadas em volta do caixão.
Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio é permeado de depoimentos de pessoas que conviveram com ele, como Nelson Motta, Paulo Coelho (numa participação hilária, ele se nega a matar uma mosca, pois essa pode ser a reencarnação de Raul, para logo depois desferir um tapa no inseto), Edy Star, Sylvio Passos (amigo, dono de muitas reliquias e presidente do fã do clube do cantor), Marcelo Nova, que foi o seu último parceiro, Pedro Bial e Caetano Veloso. A única pessoa que conviveu com Raul Seixas e se negou a falar foi sua primeira esposa, Edith, hoje nos Estados Unidos. Ela mandou um bilhete, onde diz não querer saber nada do passado, e que está envelhecendo ao lado do homem que ama. Ou seja, isso mostra como Raulzito era único, pois mesmo depois de 20 anos de sua morte ainda incomoda muita gente. A verdadeira mosca na sopa.

Cotação: excelente
Chico Izidro

Titanic

Aproveitando os 100 anos do naufrágio do Titanic, em 14 de abril de 1912, o filme de James Cameron, de 1997, retorna às telas, mas desta vez com a tecnologia 3D. A obra, a segunda mais rentável da história do cinema, só perdendo para Avatar, do mesmo diretor, não ganhou cenas adicionais. Continua grandioso, romântico, brega e com cenas extraordinárias do afundamento do então maior navio já fabricado pelo homem.
"Titanic", após uma década e meia, tem uma história conhecida por todos, centrada no casal Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet). Ele, um artista miserável, que ganhou a fatídica passagem para a viagem entre Southampton, na Inglaterra, e Nova Iorque, num jogo de pôquer. Ela, a pobre menina-rica, com ares de rebeldia e fadada a casar com um ricaço esnobe, machista e dominador, Caledon 'Cal' Hockley (vivido por Billy Zane, que teve a carreira meio ofuscada após suspeitas de homossexualismo). Rose e Jack apaixonam-se nos primeiros dias de viagem e ficam pelo navio, fugindo do guarda-costas de Spicer Lovejoy (David Warner). Os diálogos românticos são sofríveis, e outros evocam personalidades do começo do século passado, como quando personagens falam de um tal de Sigmund Freud ou Caledon 'Cal' Hockley afirma que esse tal de Pablo Picasso nunca será nada na vida. E a música irritante de Celine Dion continua lá.
A primeira parte das 3h15min, então, é tediosa. Ganha muito na parte final, quando do choque do transatlântico com o iceberg no meio do Atlântico Norte - revendo o filme, pode-se notar ironicamente que Jack e Rose foram os culpados indiretamente pelo acidente, onde morreram 1500 dos 2200 passageiros.
As cenas do naufrágio são de tirar o fôlego. Pena que o 3D não funciona. Titanic não foi idealizado para tal formato. E as imagens acama ficando escuras - o único inconveniente durante certos momentos em que o espectador tira os óculos é com as legendas, que ficam turvas.
Titanic alavancou de vez a carreira de Leonardo DiCaprio, que àquela altura já havia estrelado bons filmes como Diário de Um Adolescente, Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador e Romeu e Julieta. Kate Winslet, surgida em 1994 com o australiano Almas Gêmeas, já mostrava a grande atriz que viria a ser e sua beleza simples. Hoje é oscarizada pelo filme O Leitor e há pouco brilhou também na tevê com a minisérie da HBO Mildred Pierce.

Cotação: bom
Chico Izidro

Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios

"Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios", dirigido por Beto Brant, tem a musa Camila Pitanga esbanjando sensualidade. E não funciona. No norte do Brasil, no interior do Pará, já que um dos personagens aparece em certo momento com uma camisa do Clube do Remo, um fotógrafo tem um romance com a esposa do pastor evangélico do vilarejo. Aos poucos ficamos sabendo que o trio é formado por perdedores.
Cauby (Gustavo Machado) foge de algo que nunca saberemos. Ganha sua grana tirando fotos de presos da sufocante prisão do local e tem como melhor amigo o colunista do jornaleco da cidade, o homossexual Viktor Laurence (Gero Camilo, que desta vez ficou devendo, pois faz um personagem por demais exagerado). O fótografo se envolve com a bela Lavínia (Camila Pitanga), esposa de Ernani (ZéCarlos Machado), viúvo e ex-viciado em drogas, que insufla em suas pregações a população a protestar contra os abusos das madereiras locais, que estão dizimando a floresta e poluindo o rio. E ela é uma ex-garota de programa, que entrega-se de corpo, mas não de alma, para Cauby. Ele sonha que a garota fuja com ele, mas ela mostra-se dividida, pois tem tremenda dívida de gratidão com Ernani.
Camila Pitanga e Gustavo Machado, fazem um casal de amantes convincentes e suas cenas de nudez e sexo são bem feitas e sem apelação. Gustavo Machado e ZéCarlos trabalharam juntos em As Melhores Coisas do Mundo, onde formavam um casal gay. Aqui, o pastor de Zécarlos ganha mais destaque na segunda parte do filme, quando vemos um Rio de Janeiro de submundo, com suas prostitutas e igrejas evangélicas.
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios teria tudo para ser um bom exemplo de triângulo amoroso. Porém o roteiro se mostra confuso e às vezes sem nexo. E como explicar que Lavínia ande ao lado de Cauby pelo pequeno vilarejo e o marido nunca desconfie? Além disso, o filme tem cortes bruscos e mal feitos, parecendo ter sido feito por amadores.

Cotação: regular
Chico Izidro

American Pie - O Reencontro

American Pie talvez seja a série sobre adolescentes idiotas em busca de sexo de maior sucesso na história do cinema, tanto que gerou diversas sequências. O primeiro filme, de 1999, mostrava a última semana de um grupo de amigos que pretendia perder a virgindade antes de acabar a high school, o equivalente ao nosso segundo grau, e partir para a universidade. A cena mais marcante é quando um dos personagens, o garoto judeu Jim (Jason Biggs) enfia o pênis numa torta de framboesa, a tal american pie do título.
Treze anos depois, os amigos voltam a se ver em "American Pie - O Reencontro". Agora todos estão com cerca de 30 anos, alguns casados, outros com filhos, alguns são bem sucedidos em suas profissões, outros fracassaram. E retornam para a cidadezinha de suas adolescências para uma festa dos 10 anos da formatura. E claro que temos de novo as cenas escatológicas, as piadas apelativas sobre sexo, o uso abusivo de alcóol e drogas e de nudez gratuita. E a menininha que cresceu e quer perder a virgindade. Básico.
Uma ou outra piada se salva, mas nada que fique na memória tão logo termine o filme. O interessante é verificar o que sucedeu aos atores nesta década em suas carreiras. Jason Biggs, por exemplo, trabalhou com Woody Allen em Igual a Tudo na Vida. Mena Suvari já havia feito Beleza Americana, quando interpretou Heather no primeiro American Pie, Alyson Hannigan fez parte do elenco fixo de How I Meet Your Mother e Tara Reid participou do seriado médico Scrubs. O mais carismático de todos é Seann William Scott, que vive o imbecil Stifler, talvez tenha sido o de maior sucesso ou visibilidade, ao protagonizar vários filmes de relativo sucesso no período, como Premonição e Caindo na Estrada e emprestando a voz para as animações Planeta 51 e Era do Gelo.
American Pie - O Reencontro nada mais é do que um amontoado de baboseiras, uma pornochanchada com grife, da mesma escola de Porky's e A Vingança dos Nerds, mas sem o mesmo charme de O Clube dos Cafajestes, que revelou o falecido John Belushi. Simplesmente esquecível.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Adeus, Primeiro Amor

Um filme europeu clássico, ou seja, naquele estilo lento, contemplativo e reflexivo. "Adeus, Primeiro Amor" é sim, um filme de amor, mas não de todo agradável. A história, dirigida pela francesa Mia Hansen-Løve, se passa num período de dez anos, na vida de Camille (Lola Créton). Aos 15 anos, em 1999, a parisiense é extremamente dependente do namorado Sullivan (Sebastian Urzendowsky), só que o garoto junta dinheiro para fazer uma viagem pela América do Sul com outros amigos. Ele vê isso como crescimento pessoal e viaja mesmo sob a chantagem emocional de Camille.
Com o passar do tempo, o casal acaba separando-se. E ela recomeça a vida, entrando na faculdade de arquitetura e conhecendo um novo amor. Tudo vai se reestruturando, até que um dia Sullivan ressurge das sombras. E a garota vê que ainda não livrou-se daquele amor adolescente. E como fazer agora? Ficar com o novo namorado ou voltar para o passado?
"Adeus, Primeiro Amor" acaba tocando fundo, pois quem com seus 15, 16 anos de idade achou que o primeiro namorado ou namorada seria o único na vida? Quem não chorou desesperadamente quando este relacionamento acabou? O trio central não tem glamour nenhum, por isso mais próximo de gente como a gente. Camille é mignon, chatinha, por vezes irritante. Sullivan é um guri normal, porém mesmo com pouca idade, mostra certa sabedoria. E adulto, um imaturo, que não desocupa a moita. E o novo namorado de Camille, Lorenz (Magne Håvard Brekke) é um daqueles caras que os outros perguntam-se: o que essa mwenina vê nessa figura feia e esquelética?
No final, pura poesia com Camille entrando nas águas do rio Loire, como purificando-se. Enfim, pessoas comuns, sofrendo e vivendo como gente comum.

Cotação: bom
Chico Izidro

Beleza Adormecida

Emily Browning, conhecida por sua participação em Sucker Punch e Desventuras em Série, e já escrevi isso, possuidora de um dos lábios mais lindos de Hollywood, atravessou o oceano e foi filmar na Austrália o estranho "Beleza Adormecida", direção de Julia Leigh. A bela garota vive Lucy, uma universitária que faz de tudo para sobreviver e poder pagar os estudos e o aluguel. Trabalha como garçonete, cobaia em laboratório, num escritório tirando cópias de xerox, entre outras atividades. Com sua beleza e seu corpo, pode faturar ainda mais num emprego que talvez imaginasse, mas que nem passava pela sua cabeça: apenas com roupas íntimas, servir jantares para ricaços. Mais grana chega ainda quando aceita outro método de dar prazer a um bando de velhos cheios de nota. Lucy vai a uma casa de campo, onde uma agenciadora lhe dá um tipo de sonífero. Ela dorme profundamente, enquanto que um homem deita com ela, podendo fazer o que quiser com Lucy, mas nunca com penetração.
A Beleza Adormecida do título vem daí. Profundamente sedada, a estudante não sabe o que acontece naquele período de tempo e passa a querer saber o que se sucede. Com traços de Saló, 120 Dias de Sodoma e Gomorra e A Bela da Tarde, Beleza Adormecida é cansativo, tedioso. Enfim, chato. E inexplicável. Afinal, quantas horas tem o dia de Lucy?

Cotação: ruim
Chico Izidro

Um Método Perigoso

No início do século passado, o psicanalista suíço Carl Jung começa um tratamento inédito e polêmico com uma paciente e fará parceria com Sigmund Freu. O trabalho é retratado em "Um Método Perigoso", de David Cronenberg, e tem a participação de um dos mais requisitados atores do momento, o alemão Michael Fassbender, e o queridinho do diretor, Viggo Mortensen, além de Keira Knightley. O filme exige atenção total, pois tem diálogos inteligentes e cada cena é cuidadosamente trabalhada, destacando-se também a reconstituição de época e o figurino.
A trama começa em 1904, quando Jung recebe no hospital onde clinica a paciente judia-russa Sabina Spielrein. Deprimida, histérica, reprimida sexualmente, a jovem acabará unindo Jung e Freud num primeiro momento. Ao pegar uma paciente com tais características naquele período, o que outros médicos fariam seria o tratamento de choque, entre outras agressões ao corpo humano. Jung propõe a cura pela conversa.
Anos depois, os dois romperiam, quando Jung colocaria elementos religiosos em seus trabalhos. O suíço, aliás, terá um romance com sua paciente, mesmo sendo casado e pai de quatro filhos. Sua esposa era uma mulher rica, mas subserviente.
Fassbender aparece em quase 90% das cenas, e segura as pontas com categoria, mostrando ser um excelente ator. Seu Jung tem elementos brincalhões, mas também de um homem atormentado. Mas quem rouba cada cena que surge é Viggo Mortensen como Freud. E ele deve ter feito um trabalho de desintoxicação, pois Freud fumava compulsivamente um charuto atrás do outro. Tanto que morreria de câncer em Londres em 1939, exilado, pois havia sido expulso de Viena pelos nazistas um ano antes.
Keira Knightley, no entanto, acaba sendo o elo fraco como Sabina Spielrein. Ela extrapola em sua caracterização, e foi duramente criticada nas exibições do filme na Europa. E com razão. Keira chega ao limite da irritação, principalmente quando puxa o queixo para a frente e mostra os dentes. Um exagero desnecessário num belo filme.

Cotação: bom
Chico Izidro

Jogos Vorazes

"Jogos Vorazes", de Gary Ross, é mais um desses filmes baseados em séries de livros de sucesso, como Crepúsculo e Harry Potter. E supera os dois por, apesar de ser dirigido ao público infanto-juvenil, traz elementos com um perfil mais adulto, devido a sua violência. Em Crepúsculo, os vampiros não querem saber de sangue, enquanto que em Jogos Vorazes ele jorra facilmente.
Saído dos livros da escritora Suzanne Collins, retrata um futuro próximo, onde as guerras não existem mais. Só que agora os Estados Unidos estão divididos em 13 distritos, que têm de mandar um casal de jovens para uma série de batalhas, onde só um sobreviverá. A adolescente Kitness Evergreen (Jennifer Lawrence, de Inverno da Alma) se sacrifica no lugar da irmã mais nova, que havia sido a sorteada em seu distrito, ao lado do garoto Josh Hutcherson (Peeta, de O ABC do Amor, Amanhecer Violento e Zathura, ) e que esconde uma paixão por ela. Os dois são de uma comunidade paupérrima, de mineiros, mas por isso mesmo com grande instinto de sobrevivência.
Os jogos são como um big brother, onde todos os jogadores são largados numa floresta, observados por câmeras, têm romances incentivados e a violência e as traições são extremas. Numa cena chocante, um garoto de oito anos é degolado e seu olhar perante o assassinato é de arrepiar.
Jogos Vorazes é bem feito, com bons efeitos, tem ingredientes kitch - essencialmente com a população da capital, com suas roupas e perucas super-coloridas. E como nada se cria, tudo se copia, o filme bebe na fonte de filmes como O Sobrevivente, de 1987, com Arnold Schwarzenegger, Fahrenheit 451, de 1966, dirigido por François Truffaut, e Rollerball, de 1975, de Norman Jewison e com James Caan.
Enfim, Jogos Vorazes é surpreendente por juntar o novo e o antigo, com a adolescência e suas crises como pano de fundo.

Cotação: bom
Chico Izidro


A Dançarina e o Ladrão

Os filmes protagonizados pelo argentino Ricardo Darín costumam ser exemplares de bom cinema, vide O Segredo dos Seus Olhos, Abutres, O Clube da Lua e por aí vai. Não podemos esperar o mesmo de A Dançarina e o Ladrão, dirigido por Fernando Trueba, não é ruim, mas não empolga muito. Na história, dois ladrões recém-saídos da prisão no Chile querem mudar suas vidas.
Um deles é o famoso ladrão de bancos Nicolás Vergara Grey (Ricardo Darín), que pretende recuperar a sua família e pagar uma grana que um antigo sócio lhe deve. Já Ángel Santiago (Abel Ayala) pretende dar um grande golpe e deixar a vida miserável. Ele tenta convencer, a todo custo, que Vergara se una a ele. E seu objetivo vira quase obsessão ao conhecer e se apaixonar pela bela bailarina Victoria (Miranda Bodenhofer), que é muda por causa de um trauma.
Sim, a trama transcorre nos anos 1990, quando o governo chileno concedeu anistia a vários presos comuns. Pouco antes acabara a ditadura de 17 anos de Pinochet. E Victoria teve os pais mortos pelos agentes repressores, fechando-se em seu mundo particular. A dança é seu modo de expressão. E ela vive na escola de dança da professora Danza (uma bela participação da veterana dançarina brasileira Marcia Haydée).
O problema de A Dançarina e o Ladrão é a atuação exagerada e caricata de Abel Ayala, que acaba estrangando belas cenas. O filme tem seu lirismo, como o passeio a cavalo do casal protagonista pelas ruas de Santiago do Chile. E o realismo também é deixado de lado, ao misturar o passado e o presente, através de máquinas de escrever, celulares de última geração e carros dos anos 2000.

Cotação: regular
Chico Izidro

Fúria de Titãs 2


"Fúria de Titãs 2" é um típico caso para psicanálise, para pessoas que tem problemas familiares. Feita a piada, vamos ao filme, dirigido por Jonathan Liebesman, e que faz uma verdadeira salada de frutas com os deuses gregos. Perseu, filho de Zeus e que preferiu viver entre os humanos, numa aldeia de pescadores, junto com o filho Helius, é chamado para salvar o pai.
Zeus é feito prisoneiro pelo outro filho, Ares, e o irmão Hades. Perseu, então, junta-se a guerreira e deusa Andrômeda, para resgatar Zeus e também a humanidade, pois como sempre os vilões querem acabar com o mundo. Ares, interpretado por Edgar Ramirez, é revoltado por não ser o preferido de Zeus, que tem Perseu como xodó, e por isso se volta contra o pai.
As maquiagens continuam terríveis - as barbas postiças de Liam Neeson, que vive Zeus, e Hades (Ralph Fiennes) são de uma precariedade impar. E Sam Worthington, de Avatar, permanece, como se dizia antigamente, um tremendo canastrão. Além do mais, o 3D é mais um chamariz para se cobrar mais pelo ingresso, pois o sistema não funciona. Assim como o filme num todo.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Thursday, April 05, 2012

Habemus Papam


O cardeal Melville (o francês Michel Picolli) é eleito, após muito debate, Papa. Só que ele não está preparado para o cargo e tem uma crise de pânico. Em "Habemus Papam", a eleição para o chefe da Igreja Católica é vista com muita ironia e perspicácia, mas nunca de forma debochada pelo diretor italiano Nanni Moretti. O filme faz refletir sobre alguém ter de assumir uma função a qual não se sente preparado.
Melville não deseja assumir o cargo e um famoso psicanalista, o próprio Moretti, é chamado ao Vaticano para tentar solucionar o problema. Encontrará um velho perdido em si e que descobre tardiamente ter desperdiçado muito de sua vida. E aceitando o papado, o dono do cargo se vê obrigado a permanecer na função até seus últimos dias, mesmo não tendo mais condições físicas e até mesmo psiquicas, vide João Paulo II, que no final da vida era um pastiche de si mesmo. Seria a renúncia uma opção?
Melville (homônimo do escritor Herman Melville, autor de Moby Dick) se vê tragado por uma baleia, ao chegar o balcão da Basílica de São Pedro, ver aquela multidão lá embaixo esperando sua saudação. E o que sai de seus lábios? Ele diz não poder aceitar e sai correndo, para espanto dos outros cardeais. Melville acaba escapando pelas ruas de Roma, onde conviverá com os outros mortais e lembrar seus tempos de jovem, onde sonhava em ser ator, objetivo abortado por seu pai. Sua caminhada pela Cidade Eterna lembra muito o filme As Sandálias do Pescador, originado do livro homônimo de Morris West, e interpretado por Anthony Quinn.
Enquanto isso, no Vaticano, os fiéis esperam pacientemente pela revelação do novo Papa, e o psicanalista, ateu convicto, como o diretor, sabendo da identidade do novo chefe da Igreja, se vê impossibilitado de deixar o local. Ele acaba passando o tempo vendo um bando de religiosos medrosos, inseguros e que até acabam entrando num torneio de vôlei criado pelo psicanalista (personagem sem nome), e que mostra, alegoricamente, as diferenças entre os continentes. Será que haverá um dia um Papa africano, ou um da Oceania?
Michel Picolli está ótimo com sua cara de desespero, mas quem rouba o filme são Jerzy Stuhr, como o porta-voz, e Ulrich von Dobschütz no papel do Cardeal Brummer, com desejo intenso de assumir o papado, mas desprezado pelos demais. Divertido é o momento em que são contados os votos e ele questiona o porque de não aparecer na lista. Mais não conto. Habemus Papam trata, enfim, sobre a vocação e o livre arbítrio.

Cotação: bom

Chico Izidro

Xingu

A banda heavy metal Iron Maiden descreveu muito bem o que aconteceu com os índigenas americanos em Run to the Hills, do disco The Number of the Beast, de 1982 - "o homem branco veio pelo mar, nos trouxe dor e miséria, matou nossas tribos, matou nossas crenças..."
Enfim, o homem branco dizimou quase toda a população de índios no continente americano. No Brasil, na década de 1940, os sílvicolas caminhavam para a extinção quando os irmãos Villas Bôas decidiram desbravar o interior do país - que até hoje, devido a sua dimensão, ainda é imensamente desconhecido. Orlando, Claudio e Leonardo largaram as suas vidas na cidade grande e optaram por viver no meio da mata. E em 1962, foram pilares fundamentais na criação do Parque Nacional do Xingu, território localizado no Mato Grosso, onde ficam até hoje abrigadas diversas etnias indígenas.
A tajetória dos irmãos é vista em Xingu, de Cao Hamburguer, o mesmo diretor de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. As interpretações de João Miguel, do filme Estômago, Felipe Camargo, das novelas globais e ex-marido de Vera Fischer, e Caio Blat, de Batismo de Sangue, são primorosas, com destaque para João Miguel como Claudio, o mais radical dos irmãos. Ele é quem mais se empenha em conhecer a cultura índigena, inclusive aprendendo os diversos dialetos usados pelas tribos, enquanto que Orlando (Felipe Camargo) é o encarregado de fazer a ponte com o governo. O lado mais fraco é o de Leonardo (Caio Blat), que acaba quebrando uma regra determinante, o de se envolver com uma índia, tendo um filho com ela e sendo expulso do projeto pelos irmãos mais velhos. Deprimido, acabaria morrendo devido a problemas cardíacos um pouco antes da criação do parque.
A fotografia do filme é lindíssima e primorosa. E a ressaltar a participação dos índios que moram no parque e que viveram os seus antepassados - a cena em que o cacique viaja pela primeira vez de avião é divertidíssima.
O problema de Xingu é uma certa falta de didatismo em certos momentos. Cao Hamburguer teve o cuidado de colocar na tela datas, locais, mas pecou em não deixar claro quem eram determinadas pessoas mostradas no longa. Um exemplo é a aparição do ex-presidente Jânio Quadros, que só é reconhecido por quem conhece um pouco mais a fundo a história.

Cotação: bom
Chico Izidro

Wednesday, April 04, 2012

Heleno

Dizem que só tem coisas que acontecem com o Botafogo de Futebol de Regatas. E o clube teve os dois primeiros jogadores problemas do país: Heleno de Freitas e Garrincha. E de origens completamente opostas. O Anjo das Pernas Tortas vinha de família pobre e era analfabeto. Já Heleno era um dândi. Rico, advogado, preferiu jogar futebol e aprontar todas nos anos 1940, época em que ser jogador era visto com maus olhos pela "família brasileira". O atacante vivia cercado de belas mulheres, festas no Copacabana Palace e apreciador de óperas. Esta sua vida é retratada em Heleno, filme dirigido por José Henrique Fonseca e interpretado com esmero por Rodrigo Santoro, que chegou a emagrecer 12 quilos paar viver a fase terminal deste personagem singular do futebol no Brasil.
Antes mesmo de Adriano, Edmundo, Renato Gaúcho, Vampeta e Ronaldinho Gaúcho, Heleno desrespeitava as regras futebolísticas. Fumava, bebia, transava com qualquer rabo de saia que lhe cruzasse à frente. Mas em campo se doava e exigia o mesmo de seus companheiros, muitas vezes não sendo entendido. Ironicamente nunca foi campeão pelo Botafogo, seu clube do coração. Só o seria no Vasco em 1949, antes de ser vendido ao Boca Juniors, onde não se adaptaria. Seu sonho de disputar uma Copa do Mundo se esvaneceu, pois a competição não foi disputada em 1942 e 1946 por causa da II Guerra Mundial e época em que Heleno estava no auge. Em 1950, no Brasil, o craque já mostrava os sinais da sífilis que o mataria nove anos depois e por isso não foi convocado. Ele poderia ter sobrevivido à doença, mas não quis se tratar, temendo perder a agilidade em campo e ficar impotente. Acabou ficando louco.
O interessante em Heleno, apelidado de Gilda de forma provocativa pela torcida do Fluminense por causa de seu gênio explosivo e referência ao filme de 1946 de Charles Vidor e estrelado pela musa Rita Hayworth, é o futebol ficar em segundo plano. Pelo menos não caiu-se na armadilha de tentar-se filmar cenas de jogos, o que sempre acaba sendo constrangedor. E a história ficou mais centrada no apogeu e na queda do ídolo e seus romances atribulados com a jovem da sociedade Silvia (Alinne Moraes) e a cantora Diamantina (a bela colombiana Angie Cepeda, de Pantaleão e as Visitadoras). Alguns diálogos mostram-se fracos, mas não comprometem o belo trabalho em preto e branco, que reconstitui magnificamente o Rio de Janeiro daquele período. Os momentos finais do craque num sanatório no interior de Minas Gerais também são bem explorados e nunca derrapam para o sentimentalismo.
Cotação: bom
Chico Izidro