sexta-feira, novembro 16, 2012

"De Volta Para Casa"


Um homem chega ao serviço com um olho roxo. No banheiro é interpelado por um colega, e devolve a provocação com um soco, deixando o outro desacordado. Ele sai da obra em que trabalha, pega o carro e retorna para casa, abre uma portinhola e de lá sai uma jovem. "Vá", diz ele. A menina, assustada, corre até o portão, para, olha para trás, e depois volta a correr. Logo saberemos que ela, Gaëlle, foi raptada quando criança por Vincent Maillard (Reda Kateb), o homem do olho roxo. Ficou quase uma década prisioneira, mas nunca aceitou o seu destino e não se conformou enquanto não se viu liberta em "De Volta Para Casa", de Frédéric Videau.

Acompanharemos então a tentativa de Gaëlle Faroult (a ótima Agathe Bonitzer) em retomar a sua vida, a convivência com os pais, que devido às circusntâncias acabaram se separando. Sem seguir esquema rígido, "De Volta Para Casa" vai e volta no tempo - mostrando sua relação ora com a mãe, depois com o pai, ora com o seu raptor, e as tentativas de se esquivar da imprensa sensacionalista, que deseja saber detalhes de sua história trágica. O filme faz pensar, mas o problema é que em nenhum momento explica os motivos de o porque Vincentter raptado Gaëlle e passado anos com ela. Se havia atração física - ele chega a dizer que não abusará dela, o que não cumpre. Ou se é mais uma coisa paternal. Tudo que Gaëlle pede, ele corre atrás. Em certo momento, Gaëlle exige um CD do U-2 e leva o "The best 1980-1990", além de livros, histórias em quadrinhos, tinturas para cabelo. Gaëlle Faroult troca a cor de suas melenas a todo momento.

"De Volta Para Casa" é totalmente baseado na história da menina austríaca Natascha Kampusch, que viveu aprisionada durante oito anos (dos dez aos 18 anos), pelo engenheiro Wolfgang Priklopil, em Donaustadt, nas proximidades de Viena. Quando Natascha escapou, Priklopil matou-se, jogando-se embaixo de um trem. No filme, o sequestrador se enforca. Mas em "De Volta Para Casa", existem outros elementos de casos semelhantes, alguns da literatura, como "O Colecionador", de John Fowles, ou "O Iguana", de Alberto Vázquez-Figueroa. Na vida real, além de Natascha Kampusch, outros casos semelhantes, como o da americana Jaycee Lee Dugard, que ficou prisioneira de Phillip Craig Garrido durante 18 anos de sua vida, dos 11 aos 27 anos, tendo dois filhos com ele. E o caso da também austríaca Elisabeth Fritzl, talvez o mais horripilante dos últimos anos, mantida em cárcere pelo próprio pai, Josef Fritzl, pelo período de 24 anos no porão da casa da família, e com quem teve sete filhos.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Nenhum comentário: