sábado, dezembro 15, 2012

"Na Terra de Amor e Ódio"


Angelina Jolie tinha uma boa história em mãos, com um excelente pano de fundo. Pena que tenha faltado habilidade para a atriz e musa em "Na Terra de Amor e Ódio". A guerra na ex-Iugoslávia foi uma das mais violentas do final do século XX, chegando a deixar em segundo plano conflitos como o de Ruanda, na África. E neste quesito, a reconstituição do período é bem conduzido por Jolie, ela mesma uma ferrenha ativista pelos Direitos Humanos.

A guerra foi quase fatrícida, com vizinhos e amigos, da noite para o dia, se exterminando. Os sérvios eram cruéis, fato, e agiram como os nazistas na II Guerra Mundial, eliminando sem dó nem piedade os bósnios-muçulmanos, tal como os judeus o foram no Holocausto. Mulheres foram estupradas, crianças assassinadas, e homens definhando de fome nos campos de concentração ou fuzilados e enterrados em valas comuns. Aproximadamente 100 mil pessoas pereceram entre 1992 e 1995. A cidade de Sarajevo, uma das joias da Iugoslávia e sede dos Jogos de Inverno em 1984 - e um cartaz em determinada cena lembra este fato -, ficou sitiada por quase 3 anos pelos sérvios. Franco-atiradores nas colinas vizinhas fuzilavam os moradores que tentavam fugir ou se expunham em busca de comida ou lenha. Até aí nota 10.

"Na Terra de Amor e Ódio", no entanto, perde força na outra parte, que é o romance Romeu e Julieta entre a artista muçulmana Ajla (Zana Marjanovic, de bela atuação) com o militar sérvio Danijel (Goran Kostic). Os dois se conhecem antes da guerra, flertam, mas com o início dos conflitos se encontram em lados opostos. E o início da guerra é simplesmente mal contado. Depois, Ajla será feita prisioneira, mas escapará das crueldades dos sérvios tornando-se protegida de Danijel, agora um conceituado líder, questionador dos métodos utilizados por seus pares contra as outras etnias, e sofrendo a pressão de seu pai, o radical Nebojsa (Rade Serbedzija, mais uma vez vivendo um vilão caricato).

O filme está repleto de nós desatados. No começo, a diretora evita mostrar a cena de alguns homens sendo fuzilados por uma patrulha, mas não deixa de escandalizar com o estupro coletivo de algumas mulheres, ou de cabeças sendo explodidas por tiros. Um personagem, de certa forma, importante para a trama, desaparece da história sem explicações. E Ajla é uma espiã, certo? Em nenhum momento alguma ação sua nesse sentido aparece. "Na Terra de Amor e Ódio" tem boas intenções, porém isso mostra não ser o suficiente.

Cotação: regular
Chico Izidro

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