quinta-feira, março 30, 2017

"Era o Hotel Cambridge"




"Era o Hotel Cambridge", da diretora Eliane Caffé, narra a trajetória de centenas de pessoas que invadiram um velho prédio abandonado no centro de São Paulo. O hotel do título foi um dos principais do país na década de 1950, quando recebeu várias personalidades nacionais e internacionais, mas com o tempo foi entrando em decadência. Seu proprietário acabou abandonando o prédio.

Dez anos depois, cheio de entulhos, ratos, insetos, pessoas que não tinham onde morar, o ocuparam, fazendo uma reforma geral no local. Foi a senha para que o proprietário pedisse a reintegração de posse. Moram no prédio refugiados recém-chegados ao Brasil e trabalhadores sem-teto, que se organizam numa comuna.

O filme é um misto de documentário com ficção. Parece que seus moradores interpretaram momentos de suas vidas no prédio, ao lado de atores como José Dumont e Suely Franco. Aliás, a direção de arte foi feita em parceria com alunos da Escola da Cidade, uma experiência pedagógica e artística que explorou as fronteiras entre arquitetura e cinema e entre arte e educação.

A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set criativo da filmagem. Esse coletivo foi composto por quatro frentes principais: núcleo de estudantes de arquitetura da Escola da Cidade, equipe de produção do filme, lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia) e grupo dos refugiados. Por meio de oficinas dentro da ocupação surgiu a matéria-prima para o aprimoramento do roteiro e da direção de arte. A ousadia do experimento garantiu autenticidade e força dramática ao filme.

Recentemente, o edifício Cambridge foi declarado pelo poder público como área de interesse social, à espera de um retro-fit para moradia popular. Mas o ponto forte dessa experiência foi fortalecer o engajamento político dos estudantes e fazê-los sentir a importância e a responsabilidade social do arquiteto, trabalhando nas fronteiras, contaminando e provocando situações e pontos de vistas transformadores.

Duração: 1h39min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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