Em 1999, Hillary Swank levou o seu primeiro Oscar ao interpretar a garota que se passava por homem em Meninos Não Choram. Agora, no francês Tomboy, de Céline Sciamma, a atriz-mirim Zoé Héran mostra talento impar ao viver a garota que deseja ser do sexo oposto. Laure e sua família chegam a um novo condomínio, e ela faz amizade com as crianças do local. No entanto, Laure apresenta-se como Michaël. Bom de briga, de futebol e ainda ganha a atenção especial da garota Lisa. Evidente que situações constrangedoras podem estragar o disfarce de Laure. Por exemplo, como urinar quando toda a gurizada faz o mesmo ao lado da quadra de futebol, ou tirar a camisa para jogar no time dos descamisados? E as aulas se aproximam. O que Laure fará quando chegar na classe e a professora chamá-la pelo seu nome de batismo? Outro grande achado de Tomboy, que significa moleca, é a da irmã menor de Laure, a graciosa Jeanne (Malonn Lévana). A menininha de seis anos rouba cada cena em que participa. É hilária a parte em que Jeanne conversa com os pais sobre o novo amigo que fez, Michaël, olhando debochada para a mana mais velha, que acredita terá seu segredo revelado. Ou quando conversa com outra garotinha sobre a expectativa de ir à escola. Tomboy trata com ternura e também com um pouco de crueldade a questão do homossexualismo. E tenta mostrar que as crianças, como se sabe, podem ao mesmo tempo ser adeptas do bullying como igualmente ser tolerantes com seus iguais. Cotação: ótimo Chico Izidro
quinta-feira, janeiro 12, 2012
Tomboy
O Guarda
Um policial irlandês escuta, junto a vários colegas, uma preleção de um agente do FBI falar sobre traficantes de cocaína que pretendem introduzir vários quilos da droga na Irlanda. Então pergunta se os traficantes são mesmos criminosos, afinal são brancos. O agente, negro, replica que sim. "Ah, mas é que pelo que eu sei todos os traficantes são negros ou mexicanos", dispara xxxx. E continua, para espanto do americano, falando que o racismo faz parte da cultura irlandesa. O policial é Gerry Boyle (Brendan Gleeson, de Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Alfaiate do Panamá) no divertido O Guarda, direção de John Michael McDonagh, e que evita o politicamente correto. Que convenhamos, já está no limite do suportável. Ele terá de ajudar Wendell Everett (Don Cheadle) a encontrar os traficantes e solucionar o assassinato de um morador da pequena cidade onde se passa a história. O problema é Boyle não é nada profissional. Pelo contrário, seus métodos são toscos, antiquados, e não está nem um pouco interessado em trabalhar. Quando as investigações irão iniciar, Boyle diz que não vai, porque é seu dia de folga. Everett, então, tem de encarar a missão sozinho e verá o quanto é difícil, pela cor de sua pele, conseguir que os moradores da localidade colaborem nas investigações. Numa cena, sob forte chuva, ele bate à porta de uma casa e a mulher que atende, espanta-se ao ver um negro ali parado, segurando um guarda-chuva. Então fala em gaélico para o marido. "Tem um negro aqui na porta". E claro que o casal se recusa a ajudá-lo. O Guarda mostra aquele antigo esquema de dois policiais de comportamentos diferenciados tendo de trabalhar juntos. Mas ao contrário, de por exemplo, Máquina Mortifera, onde um era louco e o outro um severo pai de família, este filme se aproxima mais de O Calor da Noite, onde um agente federal tem ao seu lado um xerife racista. Só que no clássico dos anos 1960, com Rod Steiger e Sidney Poitier, a seriedade não concedia espaços para o humor. Cotação: bom Chico Izidro
O Espião Que Sabia Demais
O escritor inglês John Le Carré é um dos maiores best-sellers da literatura de espionagem no mundo em todos os tempos. Já teve transposto para o cinema obras como O Espião Que Saiu do Frio, O Alfaiate do Panamá e A Casa da Rússia, entre outros. Suas histórias são intrincadas. E o filme O Espião Que Sabia Demais, direção do sueco Tomas Alfredson, não foge da paternidade. Simplesmente é proibido piscar, pois se isso acontecer, já era o entendimento da trama, que traz o alter-ego de Le Carré, o espião George Smiley (vivido por Gary Oldman sob uma forte maquiagem que o envelheceu mais de 15 anos). Oldman, aliás, após muito tempo deixa de interpretar personagens psicóticos e careteiros. Seu Smiley é um cara tranquilo, observador. E retirado da aposentadoria para tentar desmarcarar um traidor infiltrado no Serviço Secreto Inglês. O agente duplo, e são quatro os suspeitos, vem há anos destruindo com as missões inglesas na Europa em plena Guerra Fria. A história passa-se nos anos 1970, e começa em Budapeste, com a morte de um espião inglês, passando por Istambul, e claro a Londres. Tudo numa reconstituição de época surpreendente. O Espião Que Sabia Demais, porém, peca no excesso de cortes, que são bruscos. O diretor tenta, afinal, colocar na tela mais de uma dezena de personagens e suas atividades e seus nomes e codinomes. Virou uma verdadeira salada de frutas. Nos livros, tal estilo de trama funciona, pois as obras de Le Carré são verdadeiros calhamaços. No cinema, o tempo é escasso. Seria mais apropriado uma mini-série ou então reduzir o numero de personagens. O elenco é fortíssimo, e muitos acabam sendo sub-aproveitados, contando com, entre outros, Colin Firth, Tom Hardy e John Hurt. Cotação: regular Chico Izidro
As Aventuras de Agamenon - O Repórter
A turma do Casseta e Planeta modificou o humor brasileiro no final dos anos 1980. Porém, com o tempo, como é comum em tudo o que acontece no mundo, a magia desgastou-se, tanto que o programa televisivo deles saiu do ar. E no cinema, eles nunca acertaram a mão. O primeiro foi A Taça do Mundo é Nossa, em 2003. Depois veio Seus Problemas Acabaram, em 2006. Agora com roteiro de Marcelo Madureira e Hubert, foi tentada a transposição para as telas da vida de Agamenon, jornalista e colunista fictício do jornal O Globo. A coluna do personagem é publicada todos os domingos no jornal carioca. E como brincam eles, Agamenon escreve diariamente todos os domingos. É o máximo de humor obtido. Em As Aventuras de Agamenon, o Repórter, direção de Victor Lopes, é contada em forma de documentário a vida do jornalista, que teria participado dos principais eventos históricos do Século XX, como por exemplo a II Guerra Mundial e o suicídio de Getúlio Vargas. E também entrevistado as principais personalidades mundiais e até tido um caso com Eva Braun, amante de Adolf Hitler. Tudo, porém, contado de uma forma medíocre, com colagens malfeitas e atuações piores ainda de Hubert, Marcelo Adnet (que ainda não conseguiu reproduzir no cinema a graça que obtém na MTV) e Luana Piovani. E ainda é constrangedor ouvir a narração do filme na voz de Fernanda Montenegro. Outros atores, músicos e escritores toparam, ainda, pagar mico, concedendo depoimentos fictícios sobre Agamenon, como Caetano Veloso, Ruy Castro, Jô Soares e Pedro Bial. Bem que este já é o rei da mediocridade em sua participação no lixo chamado Big Brother Brasil. Cotação: ruim Chico Izidro
Inquietos
Gus van Sant tem uma enorme facilidade em dirigir jovens, obtendo resultados excelentes, como constatado em Elephant e Paranoid Park. Em Inquietos, o diretor americano se sai bem mais uma vez. E outra vez lidando com um tema que lhe é tão comum, a morte. Neste belo filme, o solitário Enoch (Henry Hooper, filho de Dennis Hopper) passa o tempo frequentando funerais de desconhecidos. O seu personagem, sombrio, lembra muito Harold (Bud Cort) no inesquecível Ensina-me a Viver. Num desses funerais, o jovem conhece a bela Annabel (Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton). A menina dá um novo sentido a Enoch, que não trabalha, não estuda, vive com a tia, já que seus pais morreram em um acidente de carro. Para piorar, ele tem como único amigo um piloto japonês, Hiroshi (Ryo Kase), com quem costuma jogar batalha naval e trocar confidências. O problema é que Hiroshi não existe. É um piloto kamikaze criado pela sua mente perturbada. Annabel, por sua vez, tem câncer e apenas três meses de vida. E é o contrário de Enoch. Animada, risonha, amante de livros sobre pássaros. E os dois iniciam uma amizade que se transformará em amor. E eles têm de viver este período de forma intensa. E apesar do tema, van Sant consegue fugir espertamente da depressão. Graças também a graciosa interpretação de Wasikowska. A bela trilha sonora, com suaves canções pop, e o instrumental de Danny Elfman, ex-Oingo Boingo, igualmente são fundamentais para o delicado filme. Que mostra que a vida deve ser vivida intensamente. Cotação: ótimo Chico Izidro
O Gato de Botas
As botas significam na Idade Média e começo da Contemporânea um símbolo de honra e dignidade. Ou seja, só os nobres e oficiais e alguns soldados podiam usá-la. Os pobres andavam de pés descalços mesmo. Então, após um ato de bravura, um felino ganha o direito de calça-las. Surge aí O Gato de Botas, direção de Chris Miller, e baseado no conto do francês Charles Perrault. O personagem também é um dos mais populares da série Shrek. O bichano, em seu filme solo, é envolvido inocentemente em um crime praticado por seu melhor amigo, o Ovo, e tem de provar sua inocência. E claro que o nosso herói não deixará de, em determinado momento, abusar de seu olhar pidão, que deixa todos cativados. O jeito é ao lado de uma bela gatinha e do Ovo, que está tentando se regenerar, tentar achar o pé de feijão mágico, subir aos céus e encontrar a gansa dos ovos de ouro, e obter dinheiro para recuperar sua dignidade no povoado em que foi criado. A história contada por Chris Miller é bem enganchada, com boas piadas - umas até adultas demais para parte do público a que se destina, pois utilizam-se do duplo sentido. Sim, O Gato de Botas agrada tanto aos piás quanto aos seus pais. A animação é perfeita, como tem acontecido na maioria dos filmes atuais. Cotação: bom Chico Izidro
domingo, janeiro 01, 2012
Embargo
Embargo é a proibição da comercialização com um determinado país de determinado produto. Agora seguimos. A história mais conhecida de José Saramago transposta para o cinema é Ensaio Sobre a Cegueira, dirigida por Fernando Meirelles. Aliás, a literatura do escritor português não é comum na telona, por ser considerada complexa demais. Porém o cineasta patrício do Nobel de Literatura de 1998, António Ferreira, dirigiu o divertido, melâncólico e estranho Embargo. No filme, o vendedor de sanduíches Nuno (Filipe Costa) é um inventor, que criou uma máquina para escanear pés e assim revolucionar a indústria calçadista de Portugal, país que vive um embargo comercial de petróleo. Os carros não circulam nas ruas, exceto o de Nuno, que rouba gasolina de alguns incautos. Ele, no entanto, é um azarado e tudo dá errado em sua vida, inclusive com a mulher Guida, que lhe cobra sempre mais responsabilidades. Nuno começa a ver uma luz no final do túnel quando consegue uma reunião com um empresário disposto a investir na produção em série de seu invento. Aí o surrealismos entra em campo - ele sofre um acidente e fica, inexplicavelmente, preso em seu carro. Ou seja, tudo o que começa a fazer dali em diante terá de ser feito dentro do veículo. Pateticamente, Nuno circula pelas ruas vazias da cidadezinha sem conseguir dizer para ninguém que não consegue se desvencilhar. Enfim, o carro embarga sua vida. E tudo o que o inventor passa a querer é se livrar daquela situação, voltar para a família e conseguir um coelho de pelúcia para a filha pequena. Embargo se passa em um período incerto, pois os elementos presentes mostram o passado, o presente e o futuro. Os televisores, as roupas, os carros remontam à década de 1970. Mas Nuno carrega consigo um celular e um computador. Cotação: bom Chico Izidro
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