terça-feira, abril 02, 2024

"A Matriarca" (Juniper)

Filmes onde duas pessoas completamente diferentes que aos poucos vão encontrando afinidades não é incomum no cinema. E "A Matriarca", direção de Matthew J. Saville, está nesta linha. Porém, devido a atuação de seus intérpretes, principalmente a magistral atriz inglesa Charlotte Rampling, a obra consegue escapar de armadilhas e clichês.
Charlotte interpreta Ruth, uma antiga correspondente de guerra, que está aposentada, vivendo praticamente reclusa no interior da Inglaterra. E ela sofre um acidente, que a impede de se locomover. E ela só encontra refúgio em suas bebidas. Até que seu neto, Sam (George Ferrier), é expulso da escola e é levado pelo pai para a residência da família, onde se depara com aquela velha mandona e rabugenta. E a missão do garoto é cuidar de Ruth. No começo, muita animosidade entre ambos.
Porém, aos poucos o jovem rebelde e a velha ranzinza vão se entendendo, e passando a compreender um ao outro. As suas vidas acabam se transformando. "A Matriarca" acaba sendo um filme muito terno, e quem teve uma avó ou tia com quem não se identificava, até passar a conviver com ela, vai se ver ali.
O diretor e também roteirista Saville, conta que partiu de experiências pessoais para criar esse seu primeiro longa. “Quando eu tinha 17 anos, minha avó alcoólatra quebrou a perna e se mudou da Europa para morar na Nova Zelândia, na casa de sua família", recordou. "Ela viveu uma vida incrível, esteve na Espanha durante a Guerra Civil Espanhola, enfrentou a África e bebeu gim suficiente para conservar um elefante. Na verdade, quando a conheci, ela bebia dois terços de uma garrafa de gim todos os dias. Ela era afiada, charmosa, engraçada e rude. Ela levou todos nós às lágrimas, mas também às gargalhadas”, contou.
Ruth é, em tese, a sua própria avó transposta para a telona. Saville acrescenta que partiu dessas experiências e de seu relacionamento com a avó para criar um filme que “trata de alguns dos temas mais fortes a que somos confrontados como humanos: vida, amor, morte, tristeza, vergonha e nossa própria mortalidade. Este é um filme sobre a escolha que fazemos como humanos de viver e morrer, como lidamos com a dor e como aceitamos vida. Embora os temas sejam sombrios, seu tom é cômico e o drama não tem nada de sentimentalismo”, completou.
Cotação: ótimo
Duração: 1h35min
Chico Izidro

quinta-feira, março 28, 2024

"Godzilla e Kong: O Novo Império" (Godzilla and Kong: New Empire)

"Godzilla e Kong: O Novo Império" (Godzilla and Kong: New Empire), dirigido por Adam Wingard, traz os dois poderosos titãs lutando junto, depois de terem se enfrentado. Agora, cada um vive em seu território - Godzilla domina os monstros na superfície, enquanto que King Kong governa na “Terra Oca”, um mundo do centro do planeta e local de origem de todas as criaturas gigantes.
Os dois vivem em relativa paz com os humanos, tanto que Kong está lá sossegado. Mas Godzilla vem à tona para brigar com outro monstro que aparece em Roma. E Kong é obrigado a subir depois que o seu dente canino começa a lhe incomodar.
Porém, a equipe que monitora a Terra Oca passa a notar pequenos incidentes, e os humanos, liderados pela cientista interpretada por Rebecca Hall, decidem investigar, seguindo o gorila até a Terra Oca para tentar descobrir o que está acontecendo. E acabam dando de cara com moradores de uma sociedade que se acreditava extinta e um outro macaco gigante, Skar, que está determinado a dominar o planeta. E é aí que os dois titãs acabam unindo forças - e destruindo muitas cidades pelo caminho, inclusive o Rio de Janeiro, colocado a baixo sem dó nem piedade.
"Godzilla e Kong: O Novo Império" apresenta um trabalho impressionante de animação digital e efeitos especiais. Porém, todo este trabalho é desperdiçado numa história mal escrita, com personagens estereotipados (o podcaster vivido por Brian Tyree Henry, o Paperboy de Atlanta é a vítima da vez). Sem contar as cansativas lutas entre os monstros, muitas filmadas em movimentos tão acelerados que é quase impossível saber quem está lutando com quem.
E pensar que há pouco tempo assisti "Godzilla Minus One", produção da japonesa Toho, uma verdadeira obra-prima mostrando o lagartão destruindo Tóquio enquanto um ex-piloto kamikaze tentando reconstruir a sua vida num Japão sofrendo com o final da II Guerra Mundial. O filmaço custou menos de 15 milhões de dólares, enquanto que "Godzilla e Kong: O Novo Império" foi orçado em 135 milhões de dólares. Com o perdão do trocadilho, uma verdadeira bomba.
Cotação: ruim
Duração: 1h55min
Chico Izidro

segunda-feira, março 11, 2024

"Garra de Ferro" (The Iron Claw)

"Garra de Ferro" (The Iron Claw), direção de Sean Durkin, fala sobre o mundo da luta livre - quem viveu os anos 1960 e 1970 vai se lembrar do famoso "Ringue 12", com seus lutadores fantasiados, em combates roteirizados entree mocinhos e vilões. O filme foca a história real da família Von Erich, que ficou famosa nos Estados Unidos entre os anos 1970 e 1990, cujos integrantes eram profissionais do wrestling (luta livre roteirizada).
A família era comandada com braço de ferro pelo pai, Fritz (Holt McCallany, do seriado Mindhunter), ele mesmo fracassado no esporte, fazendo os filhos entrarem com tudo no cenário, os treinando com rigor. Kevin (Zac Efron), Kerry (Jeremy Allen White), David (Harris Dickinson) e Mike (Stanley Simons) foram do céu ao inferno, ensinados pelo pai a não sentirem medo de nada. Mas sem conhecer outra vida, praticamente vivendo uma relação tóxica entre pai e filhos. Os Von Erich também achavam ser amaldiçoados, pois alguns tiveram mortes trágicas - dois deles, inclusive, se suicidaram.
Garra de Ferro, aliás, era o golpe final das lutas criado pelo patriarca Fritz Von Erich.
Os destaques de "Garra de Ferro" são Holt McCallany e Zac Efron, que ainda é o narrador da história e único sobrevivente da família - não é spoiler, pois é uma história real. No final, é mostrado como Kevin vive hoje, ao lado da mulher, dos filhos e netos. Voltando a Efron, sua atuação é espetacular, contida, sem excessos. O lado feminino também é forte, com Maura Tierney interpretando a matriarca do clã, e Lily James como a esposa de Kevin.
O filme, além de reproduzir muito bem o ambiente do wrestling, com suas armações, rivalidades falsas dos lutadores, também tem uma ótima reconstituição de época, destacando uma baita trilha sonora, incluindo Blue Öyster Cult, Rush, Tom Petty and The Heartbreakers, Rolling Stones, Journey, entre outros clássicos.
Cotação: ótimo
Duração: 2h12m
Chico Izidro

quinta-feira, março 07, 2024

"Apaixonada"

O filme “Apaixonada”, direção de Natalia Warth, é inspirado no livro “Apaixonada aos 40”, de Cris Souza Fontes. O longa-metragem apresenta a história de Beatriz (vivida pela bela Giovanna Antonelli), que aos 40 anos, vê a sua vida mudar completamente. A filha de 21 anos decide estudar em Buenos Aires e o marido, Alfredo (Danton Mello) resolve acabar com o casamento de mais de duas décadas.
Sozinha, Beatriz acha que não deve deixar a peteca cair, e ao lado de dois amigos inseparáveis, Dora (Polly Marinho) e Jeff (Pedroca Monteiro), resolve que está na hora de redescobrir a alegria de viver. Ela se envolve com um vendedor de sorvetes, Pablo (Rodrigo Simas), que tem a metade de sua idade, e até encara uma viagem para a capital argentina para reencontrar sua filha e ter um rápido caso com um portenho.
“Não foi tão difícil achar o equilíbrio entre o romance e a comédia. É algo que já havia no livro, e o roteiro é muito bem escrito, então consegui debater muito com a equipe cada passagem, e afinamos uma história que emociona e faz rir – como a vida. É uma comédia divertida, e, às vezes, algo triste até te faz rir”, afirmou a diretora Natalia Warth.
Dito isso, "Apaixonada" é é uma comédia romântica fraca, apesar de até sentirmos empatia com alguns personagens, gente como a gente, tentando encontrar a felicidade na vida. Porém, é uma história tão batida, com algumas situações forçadas demais. É mais do mesmo.
Cotação: fraco
Duração: 95 min
Chico Izidro

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

"Bob Marley: One Love" (One Love)

Não gosto de Reggae, mesmo sendo a música vinda da Jamaica uma das mais influentes do mundo. Mas assistindo a cinebiografia "Bob Marley: One Love" (One Love), dirigido por Reinaldo Marcus Green, comecei a ter outra perspectiva. Pelo menos em relação ao trabalho de Marley. O filme conta a jornada do músico até se tornar o maior nome do estilo, em uma vida curta, ceifada pelo câncer com apenas 36 anos de vida.
Ao estilo das atuais obras cinematográficas retratando a vida de alguma personalidade, a trama foca em apenas determinado período da vida de Bob Marley, que ficou conhecido por sua pregação pela paz, o amor e a fé rastafari. Mais especificamente entre 1976 e 1981, ano de sua morte. E desculpem o trocadilho, com direito a alguns flash-backs ao longo da história.
O roteiro foca especialmente nos anos turbulentos na Jamaica, quando o país era controlado por gangues e com problemas governamentais. Em 1976, Bob Marley foi vítima de um atentado a tiros ao lado da esposa Rita e de amigos músicos. Os criminosos dispararam mais de 80 tiros e acertaram a cabeça de Rita e do empresário Dom.
"Nós não queríamos fazer algo do berço ao túmulo", disse o diretor. "Queríamos mostrar uma janela da vida de Bob. Escolhemos de 1976 a 1978 porque havia ali sua criação, sua genialidade, durante um momento de extrema violência política e desordem civil na Jamaica. Foi um período muito rico. Há cenas de sua infância e juventude, mas mais para apoiar a história que estávamos contando do que para tentar dar conta de sua vida", concluiu.
O astro acabou saindo do país, se refugiando em Londres, dando partida para o seu disco clássico "Exodus" (1977), o álbum de Reggae mais vendido de todos os tempos. E de onde saíram os sucessos "Three Little Birds" e "One Love/People Get Ready".
Marley é interpretado belíssimamente pelo ator britânico Kingsley Ben-Adir, mas não canta as músicas, e sim as dubla, enquanto que Rita é interpretada por Nia Ashi e Lashana Lynch, já na fase adulta. "One Love" não é um filme maravilhoso, tem seus defeitos, porém faz o que acho essencial: querermos saber mais sobre o músico - que teve infância pobre, sofreu com a ausência do pai, um norte-americano branco.
Foca também e muito no seu ativismo político. Mais preocupado com a música e a política, talvez estivesse vivo se se preocupasse com o câncer, diagnosticado cedo. Mas Marley não buscou ajuda.
Cotação: bom
Duração: 1h47min
Chico Izidro

segunda-feira, fevereiro 05, 2024

"Argylle: o Superespião" (Argylle)

"Argylle: o Superespião" (Argylle), direção de Matthew Vaughn, é uma comédia de ação misturada com filme de espionagem. Além do que, coloca realidade e ficção correndo juntas. Lá pelas tantas me lembrou um filme que assisti ainda criança, "O Magnífico", de 1973, onde um escritor interpretado por Jean-Paul Belmondo se coloca na pele de sua criação, o agente secreto Bob Saint-Clar.
O diretor Matthew Vaughn começou bem, com obras cinematográficas de ação muito boas e que caíram no gosto dos cinéfilos, como "Kick-Ass", "X-Men: Primeira Classe" e "Kingsman: Serviço Secreto". Mas então já tropeçou "King's Man - A Origem", muito decepcionante. E agora com Argylle: o Superespião", foi ladeira a baixo.
O filme mostra a escritora de livros de espionagem Elly Conway (Bryce Dallas Howard) colhendo os louros com uma série de romances de sucesso com o espião Argylle (Henry Cavill). Porém, lá pelas tantas ao ser interpelada por um espião de verdade, Aidan White (Sam Rockwell), Elly descobre que as suas histórias são fruto de aventuras vividas por ela mesma, uma espiã que estava em estado vegetativo.
Então o filme, que já estava ruim, fica pior ainda, com cenas de ação sofríveis - a da patinação no petróleo é uma das coisas mais lamentáveis dos últimos tempos, reviravoltas no roteiro sem pé nem cabeça. As atuações são fracas, caricatas. Bryan Cranston, o sr. Walter White de Breaking Bad, parece que está ali só para pagar o aluguel. E o espectador sofre com as quase duas horas e meia de filme. Tortura.
Cotação: ruim
Duração: 2h19m
Chico Izidro

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

"Pobres Criaturas" (Poor Things)

Baseado na obra de Alasdair Gray, em "Pobres Criaturas" (Poor Things), com direção de Yorgos Lanthimos, temos a história de Bella Baxter (Emma Stone, excelente), uma mulher que cometeu suicídio, mas foi pelo cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe) na Londres da Era Vitoriana, e reanimada, numa obra que remete diretamente ao clássico Frankenstein.
Trazida de volta à vida pelo cientista maluco e visto como um monstro por seus alunos na universidade, já que seu rosto é totalmente coberto de cicatrizes, ela está longe de ser vista como uma monstruosidade. Bella estava grávida ao morrer - por isso o suícidio -, e o cérebro de seu filho é implantado no lugar do seu.
Então vemos Bella como um bebê em plena fase de desenvolvimento, com coordenação motora e fala limitada. E para ajudar a verificar os avanços da garota, o cientista contrata um aluno, Max McCandless (Ramy Youssef), para fazer as anotações necessárias e ser o acompanhante de Bella, que não pode nunca sair da mansão. Em determinado momento, Baxter pede que McCandless se case com ela, mas com a condição de continuarem vivendo na mansão.
Para escrever o contrato de matrimônio é chamado o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo, também excepcional no papel de um canalha e interesseiro), que se encanta com a criatura, e decide fugir com ela. E Bella, disposta a conhecer mais do mundo e dos seres humanos, aceita a proposta. Os dois partem para Lisboa e depois Grécia.
E na viagem, começa a florescer o lado sexual de Bella, que primeiro com Duncan e depois com outros homens, começa a descobrir o prazer, experimentando sensações e sentimentos. O engraçado da coisa é que Bella pensa como uma criança, ingênua, e isso encanta as pessoas - me lembrou remotamente ao filme "Muito Além do Jardim", onde o personagem vivido por Peter Sellers é um idiota, mas que cativa os poderosos com seu pensamento simples.
A trama de "Pobres Criaturas" é ousada, com toques de bizarrice. As cenas de sexo são fortes, mas nunca apelativas - atente quando Bella descobre o prazer solitário da masturbação. Talvez Emma Stone esteja em seu melhor papel.
Cotação: ótimo
Duração: 2h21min
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

Foto: Universal Pictures "Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale), direção de Simon Curtis, promete ser o últ...