sexta-feira, fevereiro 18, 2022

"UNCHARTED: FORA DO MAPA" (Uncharted)

Uncharted: Fora do Mapa”, dirigido por Ruben Fleischer, é baseado na série de games de aventura da Naughty Dog Uncharted - cuja existência eu desconhecia, pois como já escrevi outras vezes, nunca joguei videogame na vida. A história acompanha o jovem ladrão Nathan Drake, interpretado pelo Tom "Homem-Aranha" Holland, recrutado pelo caçador de tesouros Victor “Sully” Sullivan, vivido por Mark Wahlberg.
Ambos buscam encontrar um tesouro perdido há mais de 500 anos, mas têm de superar o vilão Santiago Moncada (Antonio Banderas), que acredita ser o herdeiro legítimo da fortuna. A aventura percorre quase todo o planeta, em ambientes históricos como Barcelona ou paradisíacos, como ilhas no Oceano Pacífico. Além disso, Nathan tenta encontrar o irmão mais velho, que desapareceu há cerca de 15 anos e sabe-se vivo, porque volta e meia envia cartões postais ao caçula.
O filme, no entanto, é um festival de clichês do cinema de aventura, gênero que serviu como inspiração para os jogos. Se destaca a falta de criatividade do longa, que mistura "Indiana Jones", "Piratas do Caribe", "O Código da Vinci", "A Lenda do Tesouro Perdido", "Tomb Raider" e por aí vai. Não bastasse ser uma mescla descarada de todos estes filmes, ainda existe a facilidade com que os personagens vão descobrindo as respostas para os enigmas. E as atuações são mais um ponto fraco.
Antonio Banderas lidera neste quesito, com seu vilão caricato e de falas nada originais, e cheio de caras e bocas. Mas a vilã vivida por Tati Gabrielle e a mocinha interpretada por Sophia Ali também não ficam muito atrás. E os personagens de Mark Wahlberg e de Tom Holland sofrem igualmente de um mínimo de profundidade. Tempo perdido.
Cotação: ruim
Duração: 1h56min
Chico Izidro

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

"EXORCISMO SAGRADO" (The Exorcism of God)

Desde o clássico "O Exorcista", de William Friedkin, ficou praticamente estabelecido de que quase todo o filme de terror onde alguém é possuído pelo capeta, deve ter a cena de um padre chegando com maleta na mão e chapéu na cabeça, sendo iluminado por uma faixa de luz vindo da casa onde irá executar um exorcismo, com uma escadaria do lado. E não é diferente em "Exorcismo Sagrado" (The Exorcism of God), dirigido pelo venezuelano Alejandro Hidalgo. E este talvez seja o único momento marcante do novo longa-metragem, pois repete a mesma cena do filme de 1973. E era só. No mais, é puro desperdício de tempo.
Na trama, o padre Peter Williams (Will Beinbrink), sacerdote americano que vive no México. E 18 anos antes, ao fazer um exorcismo sem autorização do Vaticano, acabou sendo possuído pelo demônio ao tentar expulsar o tinhoso do corpo de uma jovem local. Só que durante o processo, ele acabou cometendo um sacrilégio, ao acabar abusando sexualmente da jovem que estava possuída Isso o atormentou ao longo dos anos.
Tempos depois, visto como um santo pelos moradores locais, devido a seu trabalho assistencial de ajuda aos pobres, as consequências de seu pecado voltam a atormentá-lo, quando ocorrem novos casos de possessão. E para salvar sua vida, o padre Peter terá de enfrentar novamente o demônio que conhece tão bem suas fraquezas em uma batalha entre o bem e o mal.
O filme tenta fazer uma crítica à igreja católica. Porém derrapa feio na questão originalidade, abusando de diversas outras obras para construir tanto o aspecto visual de sua história, como também a narrativa usada. Evidente que é complicado inovar no gênero de terror, uma vez que praticamente tudo já foi feito e refeito à exaustão. Restou então ao diretor copiar a fórmula sem perdão, dando a desculpa de que "Exorcismo Sagrado" é somente mais um tributo. Fuja.
Cotação: ruim
Duração: 1h38min
Chico Izidro

"MORTE NO NILO" (Death on the Nile)

O ator e diretor norte-irlandês Kenneth Branagh já havia transposto para a telona "Assassinato no Expresso Oriente" em 2017, e agora lança "Morte no Nilo" (Death on the Nile). Coincidentemente, estes dois livros da dama do crime já haviam virado filmes, em 1974 e em 1978, primeiro com Albert Finney vivendo o detetive belga Hercule Poirot, e depois Peter Ustinov. Branagh decidiu ele mesmo nas novas versões interpretar o astuto detetive, e se sai muito bem, mostrando claramente estar se divertindo muito em cena.
Na trama, passada em 1937, Poirot está de férias no Egito, e é convidado pelo jovem e novo casal Simon e Linnet Ridgeway a fazer uma viagem pelo rio Nilo no navio Karnak, que, em 1937. Os dois estão celebrando o recente casamento, ao lado de parentes, amigos e empregados da milionária. Mas antes de se chegar ao Egito, ocorre uma introdução, mostrando primeiro como Poirot desenvolveu seu famoso bigode e depois, como o casal se conheceu. Então no luxuoso navio, que percorre pontos turísticos ao longo do estuário, acontece um crime. A suspeita inicial é Jacqueline de Bellefort, antiga noiva de Simon, que a abandonou por Linnet.
Afinal, a garota rejeitada perseguia e ameaçava Linnet e Simon, além de carregar uma arma na bolsa, e apareceu no barco sem ser convidada. Poirot, porém, está convenientemente no Karnak para montar o quebra-cabeça que vai durar até a conclusão do caso. E ao longo da viagem ocorrem mais assassinatos a bordo.
O filme tem imagens belíssimas do Egito, mesmo que os cenários no Egito tenham sido construídos por computador. O enredo é intrigante, mas para quem leu o livro ou assistiu a versão de 1978 não traz surpresas. Talvez as atuações sejam melhores. Além de Kenneth Branagh como Hercule Poirot, estão presentes Gal Gadot e Armie Hammer como os recém-casados bonitões Linnet e Simon, Annette Bening, Russell Brand, Sophie Okonedo, Rose Leslie, Emma Mackey, entre outros. Detalhe: "Morte no Nilo" foi rodado em 2019, antes da pandemia do Coronavírus, e o diretor manteve fidelidade ao romance de Agatha Christie, acertando na intriga que tem como eixo principal a investigação cerebral do detetive Hercule Poirot, igual aos livros, um homem maniático, chato, cheio de toques e arrogante.
Cotação: ótimo
Duração: 2h07
Chico Izidro

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

"MOONFALL - AMEAÇA LUNAR" (Moonfall)

Um dos mestres do cinema-desastre volta a atacar. O diretor alemão, responsável por, entre outros, Independence Day, 2012 e O Dia Depois de Amanhã, ataca agora com "Moonfall - Ameaça Lunar" (Moonfall), onde desta vez a Terra passa a ser ameaçada não por aliens, ou calendários maias ou meteoros (aí a pessoa recorda do ótimo Não Olhe Para Cima, para logo depois deparar com esta tragédia cinematográfica).
O filme até começa bem para uma obra do gênero, quando se verifica que uma ameaça vinda do espaço pode acabar com a vida terrestre. Mas logo começam a imperar os clichês, como o astronauta que testemunhou um acidente espacial, mas é visto como louco, e o nerd que descobre a ameaça, porém é ignorado pelas autoridades. E só vai piorando, muitas vezes provocando humor involuntário.
A história ainda tem soluções milagrosas, diálogos rasteiros e atuações de doer. Halle Berry segue quase 20 anos depois com a maldição do Oscar, pois nunca mais conseguiu fazer nada de destaque, Patrick Wilson até se esforça, e o terceiro personagem principal, vivido por John Bradley, é a vítima perfeita para momentos gordofobia e nerdfobia. O garoto que faz o papel do filho de Berry parece estar olhando para o teleprompter enquanto solta as suas falas. O quase sempre ótimo Michael Peña caiu de paraquedas na produção, e Donald Sutherland faz uma rápida aparição, talvez para pagar o aluguel.
"Moonfall: Ameaça Lunar" tenta divertir, não se levando a sério, porém mergulha no exagero e no ridículo. Sempre me pergunto ao assistir a algumas obras, o que os roteiristas fumaram para escrever certas coisas. Lá pelas tantas se descobre que uma força alienígena atacou a Lua, que assim passa a se deteriorar…Talvez quem queira apenas perder duas horas, assistindo o filme e sua ficção científica caótica, boa sessão.
Cotação: Ruim
Duração: 2h
Chico Izidro

sexta-feira, janeiro 21, 2022

"EDUARDO E MÔNICA"

O filme "Eduardo e Mônica" é uma comédia romântica inspirada nos personagens populares criados por Renato Russo para a música homônima presente no segundo disco da banda Legião Urbana, "Dois", de 1986. A faixa permanece sendo um grande hit, mais de 35 anos depois de seu lançamento. O filme é dirigido por René Sampaio, que reedita a parceria com a produtora Bianca De Felippes - os dois são responsáveis também por “Faroeste Caboclo” (2013), longa que também se baseou em outro grande sucesso da banda brasiliense.
Nos papéis principais estão Gabriel Leone e Alice Braga, e foi gravado em Brasília, no Rio de Janeiro e na Chapada dos Veadeiros durante oito semanas em 2018. A trama é bem conhecida por todos. Quem não conhece deve ter morado em Marte nestas últimas três décadas. Fala da relação de um casal completamente diferente, com Mônica sendo uma garota mais velha, já quase se formando na faculdade, namorando um garoto de 16 anos, ainda no ensino médio. A leitura que se pode fazer é de que o amor supera tudo, inclusive diferenças extremas.
Renato Russo, que faleceu em 1996, vítima da AIDS, admitiu em entrevistas que o casal em que se baseia Eduardo e Mônica existiu, mas que não podia revelar quem eram, por um pedido próprio da dupla em que ele se baseou para fazer a letra. "O filme é uma delicada história de amor que fala, entre outras coisas, sobre como é possível amar e respeitar quem pensa muito diferente de você. Em alguma medida, todos já foram o Eduardo ou a Mônica em alguma relação", definiu o diretor René Sampaio. "Era muito importante para a gente ser fiel ao espírito do Renato. Das músicas compostas por ele, esta é a mais solar. Então, a ideia era manter essa energia", acrescentou Bianca De Felippes.
Além de Gabriel Leone e Alice Braga, também estão no elenco Otávio Augusto (como Bira, avô de Eduardo), Juliana Carneiro da Cunha (Lara, mãe de Mônica), Victor Lamoglia (Inácio, amigo de Eduardo), Bruna Spínola (Karina, irmã da Mônica) e Fabrício Boliveira (que foi o João de Santo Cristo de Faroeste Cabloco) em participação especial.
"Eduardo e Mônica" é um filme que emociona, ainda mais para quem cresceu escutando a música no rádio ou em seu toca-discos. E ainda por cima tem momentos tristes, pois pega pesado em questões como solidão e luto. "Quem um dia irá dizer que não existe razão, nas coisas feitas pelo coração...E quem me irá dizer que não existe razão...".
Cotação: ótimo
Duração: 1h54min
Chico Izidro

quarta-feira, janeiro 05, 2022

"O FESTIVAL DO AMOR" (Rifkin's Festival)

Nos últimos anos, todos os filmes de Woody Allen lançados no Brasil vinham com o título do original em inglês ou então traduzidos literalmente, vide "Match Point", "Cafe Society", "Rainy Days in New York", "Blue Jasmine", entre outros. Mas nos anos 1970, as distribuidoras realizavam um verdadeiro assassinato ao batizar os longas. O próprio diretor, hoje com 86 anos de idade, disse que por aqui os nomes de suas obras são "terríveis", "sem charme" e "sem imaginação", ao descobrir que filmes como Annie Hall, ganhou o nome de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" no Brasil, sendo que no filme de 1977 não existe nem noivo nem noiva na história. Já para "Take The Money and Run" (1969) [Pegue o Dinheiro e Corra], em nosso país foi batizado de "Um Ladrão Muito Atrapalhado".
O diretor afirmou que "o título original é divertido na Inglaterra e nos EUA, mas Um Ladrão Muito Atrapalhado não mostra nenhuma imaginação, porque já diz o que o personagem é. É um título sem charme", criticou.Outro exemplo canhestro é "A Última Noite de Boris Grushenko", no original "Love and Death". O octagenário nova-iorquinho completa, lamentando não poder fazer nada em relação ao nome de suas obras. "Algumas distribuidoras mudam os títulos de forma sofisticada. Outras mudam para tentar chegar ao título mais comercial e lucrativo que podem, mas não posso fazer nada quanto a isso", analisou. "Geralmente, não gosto dos títulos que outros países dão aos meus filmes", finalizou.
Bem, depois de tudo isso, chegamos ao novo filme de Woody Allen, mantendo a média de um por ano desde os anos 1970. E mesmo que venha sofrendo boicote nos Estados Unidos, com diversos atores e atrizes se recusando a trabalhar com ele, ainda devido a polêmica da acusação feita por sua ex-mulher, Mia Farrow, de ter abusado da filha mais nova deles, Dylan, em 1992, e depois ter tido um caso e depois casado com a enteada, Sun-Yi. Detalhe: Farrow acusou o diretor de ter transado com uma menor de idade, mas quando rolou o romance, Sun-Yi já tinha 22 anos de idade.
Agora chega ao país, o 50º longa de sua carreira, "Rifkin's Festival", que pasmém, no Brasil recebeu o horrível título de "O Festival do Amor", todo ele gravado na Espanha, e onde Allen homenageia seus grandes inspiradores, como Jean-Luc Godard, François Truffaut, Federico Fellini, Ingmar Bergman e Luis Buñuel, e fazendo citações de obras como "Jules e Jim" (1962), "Persona" (1966) "8 e ½" (1963), "Cidadão Kane" (1941), "Acossado" (1960) e "O Sétimo Selo" (1957).
Com seu humor afiado, e tendo como protagonista Wallace Shawn, presente em filmes de Woody Allen desde "Manhatan" (1979), no papel de Mort Rifkin, escritor frustrado e ex-professor de cinema especializado nos clássicos, mas também (assim como o próprio Allen) hipocondríaco, ranzinza e neurótico, e cheio de problemas existenciais. Ele viaja para o Festival de San Sebastián, no País Basco, para acompanhar a mulher, Sue (Gina Gershon), alguns anos mais nova e assessora de diretores de cinema. Na bela cidade, Mort começa a desconfiar de que a sua esposa está tendo um caso com Philippe (Louis Garrel), um atraente diretor francês. Sem conseguir deixar de lado sua paranoia, o protagonista acaba procurando ajuda médica e conhece a bela médica Jo Rojas (Elena Anaya), também infeliz no casamento, e fica encantado por ela - que de certa forma o faz rejuvenescer e voltar a acreditar no amor.
“Eu já estive no Festival de San Sebastián e me lembrei de como a cidade é linda, então decidi escrever uma história que se passasse lá”, lembrou Woody Allen a respeito da escolha da locação para o filme, que é mais uma ode maravilhosa do grande cineasta à sétima arte.
Cotação: ótimo
Duração: 1h32min
Chico Izidro

quinta-feira, dezembro 16, 2021

"AZOR"

“Azor”, filme de estreia do diretor suíço Andreas Fontana, é um forte drama político, que lembra e muito o clássico “Missing” (1982), de Costa-Gavras, em que um pai norte-americano investigava o sumiço de seu filho logo após o golpe de Pinochet no Chile, em setembro de 1973. Em “Azor”, a trama também transcorre na América Latina, mais especificamente na Argentina, no começo dos anos 1980.
À época, o país vizinho vivia sob forte ditadura militar, e onde desembarca o banqueiro suíço Yves (o excelente Fabrizio Rongione), ao lado da esposa Inés (Stéphanie Cléau). Os dois chegam a Buenos Aires, onde ele tem uma missão: reconquistar a clientela de seu banco depois do desaparecimento de seu sócio René, até então responsável pelas contas. A primeira cena é forte, mostrando dois jovens sendo interpelados por militares, enquanto que Yves e Inés observam tudo, de dentro do táxi, sem entender muito o que está acontecendo.
Outra cena marcante é quando o suíço é recebido em uma sala pelos poderosos, que vão se apresentando um por um, e colocando para fora os seus pensamentos conservadores e elitistas. Um soco no estômago. E aos poucos, Yves vai tomando conhecimento da situação crítica do país, e convivendo com os ricos e poderosos argentinos, vai mudando a sua percepção das coisas. A elite vive em uma bolha, e rale-se, para não escrever coisa mais forte, o resto da população. O jovem banqueiro vem de um país democrático, e se questiona muito do sumiço de René – afinal, o que houve com ele? E se sabia na Argentina que as pessoas desapareciam dia e noite, para nunca mais serem vistas.
“Azor” é um belo thriller político, que faz pensar e analisar período obscuro do continente. Cinema que pouco se faz hoje em dia.
Cotação: ótimo
Duração: 1h40min
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

Foto: Universal Pictures "Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale), direção de Simon Curtis, promete ser o últ...