quinta-feira, outubro 27, 2011
Rock Brasília - A Era de Ouro
Os anos 1980 foram, sem sombra de dúvida, os mais importantes para a história do rock nacional. E grande força dele veio de Brasília, com bandas seminais como Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e Plebe Rude, que agora têm suas trajetórias contadas no documentário Rock Brasília, do quase octagenário Vladimir Carvalho. O filme é calcado em imagens de época - como o célebre show do Legião em 1988 no Mané Garrincha, em Brasília, e que acabou em quase-tragédia, e entrevistas com os protagonistas daquele período turbulento.
O rock naquela cidade quente e distante e monótona surgiu pelas mãos de garotos entediados, a maioria filhos de diplomatas, professores universitários e outros funcionários públicos que tinham dinheiro e haviam vivido no exterior. Assim, sabiam inglês e tinham condições de adquirir discos que reles mortais dificilmente poderiam ter (lembre-se, estávamos numa era pré-internet, quando baixar música era um sonho impensado). Eram discos de bandas, principalmente punks, como Clash, The Damned, Sex Pistols, Ramones, entre outras. Também podiam adquirir instrumentos e ensaiar nas horas vagas, que diga-se de passagem, eram muitas.
A figura central e um ídolo para todos é Renato Russo, visto como um guru desde o princípio, mesmo que tivesse ataques de prima-dona. O ex-vocalista da Legião Urbana aparece em dois momentos, numa entrevista para o próprio Carvalho em 1988 e em outra para a MTV, em 1994, quando já era portador do HIV, que o mataria dois anos depois. O músico foi, ao lado de Cazuza, o melhor letrista do cenário roqueiro brasileiro. Também dão depoimentos integrantes da Capital Inicial, como os irmãos Flávio e Fê Lemos, e Dinho Ouro Preto, e Phillippe Seabra, da Plebe Rude. É interessante comparar imagens de 25 anos atrás com as de agora dos músicos.
Rock Brasília relembra como foi difícil superar a censura da Ditadura Militar e a intransigência das gravadoras, que queriam aliviar e muito aquele rock nervoso e crítico. Para quem foi adolescente nos anos 1980, o documentário é saboroso, pois faz uma viagem excepcional no tempo. E nos faz pensar de como podiamos usar aquelas roupas e cabelos...mas Rock Brasília peca em não ser um pouco mais didático. Afinal, se deseja alcançar um público mais amplo, como a gurizada de hoje que consome bobagens como Restart e outras que nem é bom citar, faltam situar melhor no tempo e espaço alguns eventos históricos.
Cotação: bom
Chico Izidro
Contágio
Para começar, quem sofre de T.O.C. deve passar longe das salas de cinema. Dito isso, vamos a Contágio, direção de Steven Soderbergh, ex-menino prodígio de Hollywood e que estreou em 1989 com o excelente sexo, mentiras e videotape. A carreira do cineasta é bem eclética, chegando agora ao cinema-catástrofe. Sim, Contágio segue aquela linha apocalíptica, onde seres humanos correm sério risco de sumir do mapa.
Nos anos 1970, houve a onda das tragédias naturais, com terremotos, incêndios e até mesmo navios afundando e aviões desgovernados. Na década seguinte, voltaram os extraterrestes, que já haviam infernizado na década de 1950. Mas a partir dos anos 1990 vieram os filmes sobre os mais variados vírus, como por exemplo o ebola. E o exemplo mais famoso é Epidemia, com Dustin Hoffman. Contágio pega, e o trocadilhos infame é proposital, a febre da gripe suína, a H1N1.
Tudo começa quando uma executiva retorna de uma viagem a Hong Kong, com febre, e morre em poucas horas. Um estranho vírus começa a se espalhar rapidamente por algumas cidades americanas e em outras partes do mundo, matando quase que instantaneamente. As autoridades perdem o controle totalmente da situação, com as pessoas transformando-se quase em selvagens. Começa a procura pela cura. E nisto Contágio discute a questão das empresas farmacêuticas, a corrupção e como o ser humano pode mostrar o seu melhor e o seu pior.
Contágio, porém, tropeça ao não dar profundidade a alguns de seus personagens e por vezes a história parece não ter sentido. Sem contar que a explicação sobre como o vírus teve início é risível. A trilha sonora é boa e deixa o clima de suspense empolgante.
E apesar do elenco milionário, que inclui Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Lawrence Fishburn, Marillon Cotillard, Jude Law e Kate Winslet, só esta tem uma atuação digna de nota. Law, aliás, foi enfeiado, com direito a dente torto e podre, para interpretar um repórter investigativo e desleixado. E Damon está no piloto automático, com a mesma cara para tudo.
Cotação: regular
Chico Izidro
Meu País
Meu País, de André Ristum, não trata de um tema fácil. Fala de reencontrar as raízes familiares e com elas segredos desagradáveis. O brasileiro Marcos (Rodrigo Santoro) vive em Roma com sua mulher italiana e trabalha com o sogro milionário. Repentinamente se vê obrigado a retornar ao Brasil por causa da morte do pai, vivido por Paulo José. E o veterano ator permanece não escondendo suas dificuldades locomotoras provenientes do Mal de Parkinson. Já em casa, terá de lidar com o irmão festeiro e viciado em jogos Tiago (Cauã Reymond), e que põe em risco todo o patrimônio da família.
A missão mais árdua, no entanto, é aprender a conviver com o diferente. E isso vem na figura da irmã com problemas mentais Manuela (Débora Falabella). A garota tem a mentalidade de uma criança de cinco anos e a clínica onde ela vive não a quer mais. Assim, Marcos levará Manuela para casa, apesar da contrariedade da esposa Giulia e de Tiago. Ristum alivia um pouco a questão da deficiência mental, ao escalar Débora para o papel de Manuela. A atriz não deixa ser bela e meiga, mesmo com um personagem tão difícil. Às vezes, aliás, até soa distoante, pois a imagem de um deficiente não costuma ser agradável.
Cauã Reymond não tem dificuldades em fazer um canalha. Então fica claro que o papel mais difícil é mesmo de Santoro, que aparece em quase todas as cenas, ao contrário de suas incursões hollywoodianas, onde invariavelmente entra mudo e sai calado.
Cotação: bom
Chico Izidro
quarta-feira, outubro 26, 2011
Um Dia
No dia da formatura em 1988, Emma Morley e Dexter Mayhew vão para a cama, mas não transam. Acabam conversando por toda a noite e depois dormem entrelaçados, mesmo que tenham queda um pelo outro, criam uma forte amizade que irá se estender pelos próximos 20 anos. Os filmes românticos têm sido pouco imaginativos nos últimos tempos. Então Um Dia, de Lone Scherfig, e baseado em romance do inglês David Nicholls, vem como um sopro de entusiasmo neste marasmo. Um dos melhores filmes do ano, sem sombra de dúvida.
As duas décadas são mostradas sempre no mesmo dia, 15 de julho de cada ano. E esta data é tradicional para os britânicos, pois marca o Dia de São Swithin - se chover, cairá água nos próximos 40 dias. Se fizer sol, serão 40 dias de sol. E há cada novo 15 de julho, vemos como estão Emma e Dexter, vividos espetacularmente por Anne Hathaway (de O Diabo Veste Prada) e Jim Sturgess (de Across the Universe). A garota é absurdamente apaixonada pelo galinha Dexter, que coleciona namoradas como troca de roupa e tenta resistir aos encantos da amiga, que transforma-se de patinho feio em uma bela mulher.
Um Dia retrata os sucessos e frustrações de ambos, que mesmo longe, estão sempre perto um do outro, seja por carta, seja por telefone, seja no coração. Legal também é ver como os personagens transformam-se ao longo do período - a maquiagem é perfeita. A destacar também a evolução tecnológica. Pense bem, em 1988 tinhamos a máquina de escrever e nos anos 2000 os computadores invadiram de vez nossas vidas. A trilha sonora é igualmente interessante, com as músicas marcantes destas duas décadas, mesmo que nela se inclua a chata Tracy Chapman.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
quinta-feira, outubro 13, 2011
A Hora do Espanto
Às vezes é melhor deixar quieto. Acho já ter escrito isso antes. Não importa. A Hora do Espanto, lançado em 1985, tinha um charme especial. Trazia na medida certa humor, terror e erotismo adolescente. Agora é refilmado e em 3D. Com direção de Craig Gillespie (que esteve à frente do ótimo A Garota Ideal), a nova versão de A Hora do Espanto é basicamente a mesma. O jovem Charlie (Anton Yelchin, de O Exterminador do Futuro: A Salvação) mora com a mãe, tem uma das garotas mais desejadas da escola e um amigo nerd. Até o dia que surge na casa ao lado um vizinho sexy e as pessoas da vizinhança começam a desaparecer. E na realidade, o tal morador da casa ao lado é um vampiro, que ainda por cima se interessa pela namorada de Charlie. O jeito é o garoto pedir socorro ao apresentador de um programa de vampiros da tevê, Peter Vincent (saquem bem, Peter, de Peter Cushing, e Vincent, de Vincent Price, dois dos maiores atores do cinema de terror de todos os tempos).
Na versão original, Peter Vincent era um ator decadente e medroso vivido por Roddy McDowall, famoso por interpretar o Cornelius, de O Planeta dos Macacos. E Charlie um fã inconteste do programa Fright Night, título original do filme. Agora o herói não dá a mínima para filmes. E o vampirão era Chris Sarandon (de Um Dia de Cão e que faz uma rápida aparição nesta versão, como uma das vítimas do vampiro), que à época deixou os corações das menininas derretidos. Agora, Colin Ferrell vive o vilão. E os problemas do novo A Hora do Espanto são vários. Começando pela falta de empatia dos personagens, sendo que David Tennant nos faz sentir uma tremenda saudade de McDowall. Além disso, a ação transcorre vertiginosamente, não deixando espaço para o mistério, que era um dos fortes na década de 1980.
Cotação: regular
Chico Izidro
Capitães da Areia
Capitães da Areia foi o primeiro livro que li de Jorge Amado. Escrito na década de 1930, é a obra mais vendida do escritor baiano. E agora tem sua versão cinematográfica nacional (houve uma norte-americana em 1971). E eu digo: fico com as versões para a tela grande de Gabriela, Cravo e Canela, e Dona Flor e Seus Dois Maridos. Ambos dirigidos por Bruno Barreto há mais de 30 anos e com muito menos recursos são muito superiores ao seu irmão mais novo. A explicação, talvez, seja na qualidade de seu diretor e dos atores.
Tudo bem que Capitães da Areia seja feito por novatos. Só que seu resultado deixa muito a desejar. A neta do escritor, Cecília Amado, dirige conjuntamente com Guy Gonçalves o filme em que um bando de garotos vive pelas ruas de Salvador nos anos 1930 praticando pequenos furtos para sobreviver. O grupo é liderado por Pedro Bala (Jean Luis Souza de Amorim), que tem como fiel escudeiro Professor (Romário Santos de Assis, um dos poucos a mostrar boa desenvoltura). Os dois irão viver um chocho triângulo amoroso com a pequena Dora (Ana Graciela Conceição da Silva). Os atores foram selecionados na periferia da capital baiana. Porém é evidente a falta de direção de elenco. As atuações são quase teatrais, com a garotada por vezes declamando o texto em frente às câmeras.
Capitães da Areia também sofre com os intensos cortes bruscos em suas cenas. A primeira hora transcorre rapidamente e os personagens, tirando os três principais e Paulo Raimundo Abade Silva, o Gato, que namora uma prostituta, não são adequadamente aprofundados.
Cotação: ruim
Chico Izidro
Contra o Tempo
O militar americano Colter Stevens acorda no corpo de um desconhecido e tem exatos oito minutos para descobrir quem é o terrorista que plantou uma bomba em um trem. A bomba, no entanto, explode, matando todos a bordo, inclusive ele. Corta. Colter desperta novamente e é orientado a continuar sua missão - e ele tem exatos oito minutos antes que a explosão ocorra de novo. O oficial volta ao mesmo ponto, com os mesmos fatos se repetindo indefinidamente. Só que então o militar vai montando o quebra-cabeça no ótimo Contra o Tempo, de Duncan Jones.
A história até lembra, em certo ponto, A Origem, devido as idas e vindas no tempo. Mas enquanto no filme de Christopher Nolan, a viagem de Leonardo diCaprio se dava através dos sonhos, aqui ela acontece através de um experimento do governo americano. Como todo thriller de ação tem seus tropeços: afinal por que o terrorista planeja detonar um trem primeiro ao invés de tentar explodir de vez uma cidade com uma bomba nuclear que transportava numa van? Não seria mais fácil mandar a cidade de vez para os ares?
No mais, Jake Gyllenhaal é um bom ator-camaleão, tanto que vai do filme de uma temática mais pesada como Brokeback Mountain ao apocalíptico O Dia Depois de Amanhã e a aventura O Principe das Trevas, sempre dando confiabilidade aos seus personagens, tipos simpáticos, confiáveis, mas nem por isso enjoados. Vera Farmiga, de O Amor Está no Ar e Os Infiltrados, é por sua vez, uma militar que acompanha os passos de Colter, que acredita estar em uma missão no Afeganistão, mas na realidade está em coma, diagnosticado com morte cerebral, por isso utilizado na missão que trabalha com o subconsciente.
Cotação: bom
Chico Izidro
Copacabana
Não. Copacabana, direção de Marc Fitoussi, não transcorre no Rio de Janeiro. Porém, tem um "ar" brasileiro no objetivo da personagem interpretada por Isabelle Hupert: conhecer a Cidade Maravilhosa. A ótima atriz francesa, de Uma Assunto de Mulheres e A Professora de Piano, é Babou, uma perdedora por natureza e rejeitada pela filha (Lolita Chammah e filha de Huppert na vida real). Sempre desempregada e vivendo de bicos, opta por arranjar um emprego como vendedora de apartamentos num balneário belga. Como tem boa iniciativa, inicialmente se sai bem, porém acaba por atrair a inveja dos colegas. E seu estilo irreverente também lhe trará prejuízos após ajudar um casal de hippies. Copacabana acaba sendo um filme para não conformistas, mostrando que as pessoas devem ir atrás de seus sonhos. Isso é legal. E no final, um escorregão, quando o diretor apela para o clichê de sambistas brasileiras e suas fantasias coloridas e "penosas". Porém um escorregão perdoável.
Cotação: bom
Chico Izidro
Amizade Colorida
Amizade Colorida, de Will Gluck, infelizmente é mais uma daquelas comédias românticas previsíveis e dispensáveis que invadem as salas de cinema. Ele segue a mesma linha de Amor, Sexo e Outras Drogas” e “Sexo Sem Compromisso”. Nele, o até simpático casal formado pela bela ucraniana Mila Kunis, de “Cisne Negro” e do seriado That’s 70 Show, divide os lençois com Justin Timberlake. O astro pop vem cada vez mais fazendo incursões cinematográficas. Foi muito bem em A Rede Social, Alpha Dog e até mesmo na comédia de humor negro A Professora Sem Classe, com Cameron Diaz.
Frustrados em seus últimos namoros, Jamie (Kunis) e Dylan (Timberlake) decidem manter apenas um relacionamento sexual. Apaixonar-se está proibido. Claro que o objetivo não vai prosperar e um deles cairá de amores pelo parceiro, que tentará fugir da história até se dobrar ao “amor de sua vida”. Enfim, Amizade Colorida acaba sendo um desperdício de tempo e mesmo tentando ser moderninho, mostrando belas cenas de danças coreografadas pelas ruas de Nova Iorque, não diz ao que veio.
Cotação: ruim
Chico Izidro
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