quinta-feira, abril 27, 2017

"Além da Ilusão" (Planetarium)



Passado na Paris dos anos 1930, "Além da Ilusão" (Planetarium), com direção de Rebecca Zlotowski, não é um filme fácil. Tem um tom de farsa, de mistério, mostrando a vida de duas irmãs, Kate Barlow (Lily-Rose Depp, filha do ator Johnny Depp) e Laura (Natalie Portman), que são duas jovens americanas ganhando a vida como médiuns. E nunca fica claro se as duas possuem ou não o dom de se comunicar com os mortos.

Mas a especialidade delas chama a atenção de um produtor de cinema francês, André Korben (Emmanuel Salinger), que decide filmar um evento sobrenatural sem o uso de efeitos especiais, afinal as garotas são médiuns, não é? A trajetória de Laura e Kate é contada paralelamente. Laura, depois da experiência com Korben, acaba abraçando o mundo do cinema, com suas ilusões, amores e charme, enquanto Kate segue em suas sessões de mediunidade, onde seu dom serve para fins de pesquisa. No fundo da trama, política, pois envolvidos com o mistério, as pessoas não se dão conta do perigo do nazismo que se avizinha.

"Além da Ilusão" é um filme repleto de imaginação, mas também onde a realidade se apresenta por vezes. E ainda tem a excelente reconstituição de época, com figurinos, cabelos com cuidadio extremado. As atuações de Natalie Portman e Lily-Rose Depp são deliciosas - a atriz veterana parece estar se divertindo muito e dando um show ao trocar tão facilmente o inglês pelo francês, sempre sem sotaque. Enfim, são atuações explosivas, num filme que merece atenção em dobro.

Duração: 1h48min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Elon Não Acredita na Morte"



"Elon Não Acredita na Morte", dirigido por Ricardo Alves Jr. é meio estranho, com ares de suspense. Cinema brasileiro sem atores conhecidos, sem invenções, sem humor. Um filme onde o personagem principal não tem nada de simpático. Pelo contrário, Elon (Rômulo Braga) é um homem bruto, fechado, nada simpático. E um dia a sua mulher Madalena (Clara Choveaux) simplesmente desaparece, sem deixar pistas. Nem sinal de fumaça.

Elon não vai poupar esforços para descubrir o paradeiro da mulher. Saber o que houve com ela. Ele vai ao trabalho dela, à casa da irmã da esposa e procura até a polícia. Na casa da irmã de Madalena não é bem recebido - ela aliás acha que Elon sufoca a esposa e talvez seja este o motivo de ela ter dado no pé. “Você ama de um jeito muito complicado”, diz a irmã dela para Elon. Mas a busca dele não é facilitada por seu jeito grosso, beirando a estupidez. Ao ser demitido do emprego por faltar, simplesmente arrota na cara do patrão, que decide por uma demissão por justa causa.

Rômulo Braga é o grande mérito do filme. Sua atuação de um homem perturbado e preocupado é excepcional. Elon é um personagem de difícil trato, valorizado pelo rosto bruto do ator, dono de um olhar cansado, quase insone. "Elon Não Acredita na Morte" não é um filme para qualquer espectador. Com longos momentos de silêncio e planos sequência - sempre mostrando o personagem principal de costas, como se quisesse mostrar o afastamento dele do mundo, que lhe é hostil. Mas talvez um mundo que ele deixou assim.

Duração: 1h14min

Cotação: bom
Chico Izidro

quinta-feira, abril 20, 2017

"Paterson"



"Paterson", de Jim Jarmusch, está longe de ser um filme fácil de ser assistido. O público comum vai considerá-lo tedioso, afinal se analisarmos bem, nada acontece em suas quase duas horas de duração. Enfim, um puro clima de cinema alternativo.

No longa, acompanhamos uma semana na vida de Paterson (Adam Driver, de Star Wars: O Despertar da Força), um motorista de ônibus que gosta de escrever poemas. E ele vive na pequena cidade de Paterson, em Nova Jérsei. Basicamente vemos o motorista dirigindo seu ônibus, enquanto escuta a conversa dos passageiros, e nas horas vagas escreve seus poemas. Também vemos o convívio com sua bela esposa, Laura (Golshifteh Farahani), que para ajudar no orçamento da casa, cozinha deliciosos bolinhos - cookies, mas também é pintora e sonha em ser cantora folk.

Paterson é um personagem calmo. Leitor voraz, escreve seus poemas num caderninho que carrega para todos os lados. Mas ele está satisfeito com seu destino, e não pensa em nada mais a não ser dirigir seu ônibus e após o serviço, levar o cachorro buldogue para passear - depois passa sempre num pub, que é outro achado, com seus frequentadores mais estranhos um do que o outro. A paixão de Paterson pela poesia é tão impar, que a certo ponto, uma garotinha também poeta, olha para ele, e diz: "Estranho, um motorista de ônibus que gosta de Emily Dickinson".

Jarmusch, enfim, consegue captar com toda a sensibilidade, muito mais do que a vida de um motorista de ônibus. E isto que torna extraordinário neste filme, de um homem comum, com uma vida comum, mas mostrando muito mais do que isso. Um belo retrato do cotidiano.

Duração:

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Joaquim"



Um Brasil colonial com homens sujos, maltrapilhos, pensando em uma forma de enriquecer de qualquer forma. É o que vemos em "Joaquim", direção de Marcelo Gomes, e que mostra como se iniciou a formação do alferes Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), que ficou conhecido como Tiradentes, já que costumava prestar serviços dentários para o povão. E o filme estreia propriamente na semana em que acontece o feriado que homenageia o protagonista.

Não vemos aqui Joaquim em sua luta contra o domínio de Portugal. A história transcorre anos antes de sua conversão a salvador da pátria, tendo como palco um vilarejo no sertão mineiro, onde Joaquim (Júlio Machado) faz parte de uma unidade militar, ao mesmo tempo que mantém um romance com a escrava Preta (a atriz portuguesa Isabél Zuaa), a quem promete comprar a liberdade. Preta é propriedade de um escravo liberto, que a maltrata, e ela não vê a hora de se ver livre de seu dono.

Joaquim aqui ainda não havia tomado a consciência que o faria se tornar um mártir. São cenas fortes, cruas, numa terra inóspita - em certo momento do filme, ele, ao lado de outros soldados, recebe a missão de se embrenhar ainda mais no sertão para tentar encontrar ouro.

"Joaquim" apresenta uma belíssima fotografia, pesquisa histórica aprimoradíssima e uma direção de arte encantadora. E tem ainda interpretações magníficas de Júlio Machado, Isabél Zuaa e Welket Bungué, de Guiné-Bissau, e que interpreta seu escravo João. Só que o filme deixa um pouco a desejar - sendo uma obra história, deveria ser um pouco mais didática - quem não conhece a vida de Tiradentes - que tem uma cena perturbadora dele arrancando o dente de um homem apenas com os dedos sujos e um alicate - ficará boiando um pouco.

Duração: 1h37min

Cotação: bom
Chico Izidro

"Paixão Obsessiva" (Unforgettable)



Tem certos filmes que não deveriam ser feitos. "Paixão Obsessiva" (Unforgettable), dirigido por Denise DI Novi, é um deles. A história lembra aquelas feitas à profusão nos anos 1980 e 1990. Um personagem psicótico, que começa a atormentar a vida de outro, que procura ajuda, mas ninguém acredita nele, apesar de as evidências estarem ali, à frente de todos.

Aqui, no caso, quem sofre é Julia (Rosario Dawson), uma editora de um site de histórias de amor, que larga tudo para ir morar com o noivo David (Geoff Stults) numa pequena cidadezinha na Califórnia. Mas ela tem um passado a esquecer - era abusada fisicamente pelo antigo namorado, agora sumido devido a uma restrição judicial. E claro que ela Julia não conta para o seu novo parceiro. Que tem uma filha pequena com a ex-mulher, Tessa (Katherine Heigl).

E claro que Tessa não fica nenhum pouco feliz ao saber que o ex-marido vai se casar de novo, além do que ficará cuidando da filha dela com David. E ela decide sabotar a nova mulher do ex-marido, que para fugir do ex, não tem redes sociais. E claro, Tessa cria um facebook falso para Julia, some com suas joias, e planta várias pistas falsas para tentar destruir o relacionamento dos dois.

Só que tudo no filme é tão artificial, com roteiro repleto de furos, que chega a ser risível - no climax final, os espectadores diante de tantos absurdos que veem na tela, não se seguram e soltam gargalhadas. E as atuações? Uma pior do que a outra, com destaque para Katherine Heig, vivendo o papel de uma barbie plastificada de tanto botox. Fuja.

Duração: 1h40min

Cotação: ruim
Chico Izidro

“Stefan Zweig - Adeus, Europa” (Vor der Morgenröte)



Em 2002, o diretor brasileiro Sylvio Back já havia levado a vida de Stefan Zweig à telona com o filme "Lost Zweig". Agora, a vida do escritor volta à tona em “Stefan Zweig - Adeus, Europa” (Vor der Morgenröte), direção de Maria Schrader. Áustriaco nascido em 1881, ele foi um dos principais escritores do começo do século XX. De família judia, foi obrigado a deixar o seu país quando da ascenção do nazismo nos anos 1930, começando a perambular pelo mundo até vir aportar no Brasil no começo da década seguinte, onde escreveria a obra seminal "Brasil, o País do Futuro".

A trajetória da vida de Zweig, vivido por Josef Hader nos é contada de forma linear, mostrando seu exílio ao lado da mulher Lotte (Aenne Schwarz) primeiro na Argentina, onde surge uma bela cena com dezenas de refugiados de vários países e nações discutindo o perigo iminente do nazismo.
pontuando seu refúgio primeiro na Argentina. Também aparece a estada de Zweig nos Estados Unidos, onde se encontra com a sua irmã, a também refugiada Friderike (Barbara Sukowa).

Mas o filme centra é mesmo no período em que Stefan Zweig passou no Brasil, país que adotou e conviveu com os populares. Sua residência acabou sendo em Petrópolis, no Rio de Janeiro. A diretora mostra o dia a dia do escritor, que era muito querido por todos. Mas ele nunca conseguiu esquecer, que apesar de estar em terreno seguro, os horrores praticados pelos nazistas. E não é spoiler, mas frustrado como o mundo encarava a II Guerra Mundial, ele e sua esposa acabaram se suicidando em 22 de fevereiro de 1942. “Stefan Zweig - Adeus, Europa” é um ótimo filme para se conhecer um homem e seu tempo.

Duração: 1h46min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Marguerite & Julien - Um Amor Proibido" (Marguerite & Julien)



"Marguerite & Julien - Um Amor Proibido" (Marguerite & Julien), direção de Valérie Donzelli, não conta uma história muito convencional. Pelo contrário, se aprofunda num tema deveras espinhoso, o incesto. A trama vai sendo explicada ao espectador direto de um orfanato, onde um grupo de meninas escutam atentas a trajetória de dois irmãos, que dão nome ao longa.

Passado em vários períodos - os personagens são mostrados no século XVII, mas também no presente, com cenas com helicópteros e carros -, vemos Marguerite (Anaïs Demoustier) e Julien de Ravalet (Jérémie Elkaïm), que desde pequenos nunca desgrudam, mostrando um imenso amor entre eles. Já na adolescência, os pais notam que algo diferente ocorre ali, e mandam Julien estudar fora, na esperança de que os jovens acabem se envolvendo incestuosamente. Mas quando Julien retorna, a paixão se mostra mais intensa. E Marguerite é obrigada a casar com outro homem, mas sem nunca esquecer o amor pelo irmão, que fará de tudo para resgatá-la.

O filme, apesar de seu tema chocante, por vezes se mostra entediante. Mas as atuações de Anaïs Demoustier e Jérémie Elkaïm são muito boas, principalmente da atriz. “Marguerite & Julien” ganha pontos, ainda, por sua cuidadosa fotografia e caracterização de época, e também bons momentos de cenas de sexo entre os irmãos, o que é um avanço, já que o tema é tabu.

Duração: 1h45min

Cotação: regular
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

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