sábado, janeiro 29, 2011

O Turista



Por toda a expectativa, por toda a produção colocada nele, pelos seus protagonistas, pelo seu diretor, O Turista tinha toda a obrigação de ser "O Filme". Bem, acaba ocorrendo exatamente o contrário. É de uma total decepção e mesmo não querendo ser radical, já o coloco entre um dos piores do ano, mesmo que estejamos apenas em janeiro de 2011.
Em O Turista fica difícil se saber sua categoria. Seria um policial, um suspense, uma comédia? Acaba sendo tudo e nada ao mesmo tempo. Para os astros Angelina Jolie e Johnny Depp não vai pesar muito. Apenas um tropeço. Para o diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck, do sensacional A vida dos outros, um tremendo retrocesso na carreira.
O filme é ambientado na romântica Veneza e é um veículo para o ego de Jolie, que como se sabe, é belíssima, mas seu corpo está esquálido. Ela é Elise, que coloca na maior arapuca um simples professor de matemática interpretado por Depp, que acredita na Itália se falar espanhol. A femme fatale faz com que o paspalho Frank seja confundido com Alexander Pearce, que desfalcou um mafioso em mais de 700 milhões de dólares. Além dos criminosos, ele também tem de escapar da Scotland Yard. Ou seja, o homem errado no lugar errado na hora errada. Tentou-se fazer algo ao estilo Alfred Hitchcock, que deve estar se remexendo no túmulo.
As cenas inverídicas se empilham - preste atenção na perseguição de barcos nas vielas de Veneza. E que tal a cena do baile, onde todos, sim, todos os presentes ficam extasiados com a entrada no salão de Elise? E o que dizer dos diálogos? Simplesmente lamentáveis. Em certo momento, Jolie e Depp, que não conseguiram ter a menor química, olham-se e ela diz para ele: "Queria tê-lo conhecido numa outra vida", e sai. Frank fica abobalhado e quando Elise já está longe, solta a pérola: "Mas eu estou apaixonado por você". Os cantores sertanejos perdem longe.
cotação: ruim
Chico Izidro

quarta-feira, janeiro 19, 2011

A vida e morte de Charlie Saint-Cloud



O tema espiritual está em muito em voga no cinema nos dias de hoje, vide os filmes espíritas brasileiros como Nosso Lar e Chico Xavier, até os hollywoodianos Além da Vida e Um Olhar do Paraíso. Agora chega mais um, que é até mais leve em relação aos outros. O tocante A vida e morte de Charlie Saint-Cloud, de Burr Steers.
Tendo Zac Efron no papel principal, deve fazer muita gente desistir de ir ao cinema. Afinal, o ator tem sua imagem muita ligada ao infanto-juvenil High School Musical. Porém ele surpreende e mostra ter um futuro promissor, não sendo apenas mais um rostinho bonito, usando aquele famoso clichê. Ele é Charlie Saint-Cloud, velejador que perde o irmão mais novo, Sam (Charlie Tahan) num acidente de trânsito. O fantasma do garoto aparece para Charlie e o faz prometer que todos os finais de tarde, aconteça o que acontecer, se encontrarão para jogar beisebol.
Isso faz com que Charlie abandone os estudos, a vida social e até mesmo deixe de velejar. Se torna um quase um ermitão, trabalhando num cemitério. Ele começa a voltar à realidade quando conhece a velejadora Tess (Amanda Crew, cuja mais conhecida aparição foi em Premonição 3). Os dois se apaixonam e Charlie acaba meio que deixando o irmão de lado. A história é envolvente e em certo momento tem uma pegadinha tipo O sexto sentido, que não passa despercebido ao olhar mais atento.
Vale ainda a pena por ver, mesmo que rapidamente, um ícone dos anos 1980, a ainda bela Kim Basinger, de Nove e meia semanas de amor. E ainda Ray Liotta, de Os bons companheiros. Os dois andavam sumidaços.
cotação: bom
Chico Izidro

terça-feira, janeiro 18, 2011

De pernas pro ar



O cinema brasileiro tem uma diferença brutal para o da vizinha argentina. Enquanto que dificilmente vemos um filme de baixa qualidade feita pelos hermanos, o cinema brazuca consegue nos trazer boas obras como Tropa de Elite, O Bem Amado e As Melhores Coisas do Mundo, ao mesmo tempo que consegue regredir ao trazer para a telona o apelativo De Pernas Pro Ar, direção de Roberto Santucci.
Considero este filme uma pornochancada moderninha, com piadas que pensei não existissem mais. Tudo se baseia em apelações sobre pênis de borrachas e um coelho que provoca o orgasmo na protagonista vivida pela global Ingrid Guimarães. Ela é Alice, uma executiva que é abandonada pelo maridão, João (Bruno Garcia, de Saneamento Básico), por se dedicar demais ao trabalho e deixar a vida em família em segundo plano.
Porém numa reunião em sua empresa, ela acaba demitida após abrir uma caixa cheia de...isso mesmo que você está pensando. Pênis de borracha. O que lhe resta então é virar sócia de uma dona de sex-shop vivida pela histérica Maria Paula (de Casseta e Planeta), para tentar acertar sua vida e ter o marido de volta.
De Pernas pro ar é de uma bobagem tão grande, mas tão grande, que chega a irritar e dar vontade de a gente sair da sala de cinema mais cedo. Só que acaba agradando aquela parte do público que não está nenhum pouco disposto a pensar.
E nunca assisti ao seriado Sob Nova Direção, mas me disseram que Ingrid Guimarães era a parte boa da dupla que ela fazia com Heloísa Perissé. E num quadro que ela fazia no Fantástico, debochando do mundo da moda, até tinha certa graça. Mas a atriz é fraca, só não ficando isso muito destacado porque ela tem ao seu lado a péssima Maria Paula.
Até mesmo as pornochanchadas dos anos 1970 eram mais divertidas. De Pernas pro ar é para esquecer. Rapidinho.
cotação: ruim
Chico Izidro

72 horas



Vou ser sincero. Não dava um centavo furado por 72 Horas, do oscarizado Paul Haggis e com o também oscarizado Russell Crowe. E o filme me surpreendeu, talvez por eu não esperar nada mesmo. E apesar de seu roteiro ser apinhado de furos. No final, um bom cinema pipoca.
72 Horas mostra a desintegração de uma típica e feliz família norte-americana, depois que Laura (Elizabeth Banks, de Pagando bem, que mal tem) é acusada de ter assassinado sua chefe. Ela acaba condenada à prisão perpétua. O maridão John Brennan fica sozinho, criando o filho único. Anos depois, desesperada, Laura tenta o suícidio e John nota que sua mulher não suportará a vida na prisão. Então decide libertá-la.
Aí começam as inverossimilhanças. Da noite para o dia John, um pacato professor universitário, torna-se um estrategista sagaz, capaz de driblar a polícia, o FBI, os piores traficantes e quem mais aparecer pela frente. Porém tudo é colocado de uma forma tão bem simples, que passamos a acreditar na possibilidade de isso acontecer.
E Russell Crowe é um ator capaz de, com um simples olhar, fazer com que acreditemos nele. Seu personagem lembra muito o do policial incansável de O Gângster. Banks, que conhecemos mais de comédias, inclusive séries como 30 Rock, apresenta-se bem neste drama policial. Sua atuação é tão marcante, que sua personagem sempre deixa dúvidas se cometeu ou não o assassinato. Uma simples fala dela, em cena de alta tensão, deixa isso bem explícito.
Ah, 72 Horas é o tempo que John tem para tirar Laura da prisão e fugir do país com ela. Três dias. Nada mais.
cotação: bom
Chico Izidro

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Abutres



Vai ser difícil por um tempo o cinema argentino produzir algo tão maravilhoso quanto O segredo dos seus olhos, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010. Porém Abutres (Carancho), de Pablo Trapero, insere-se na tradição dos bons filmes do país vizinho. E mais uma vez tem como ator principal Ricardo Darín, que em além de O segredo dos seus olhos, pôde ser visto em O filho da noiva, O clube da lua, O mesmo amor, a mesma chuva e Nove rainhas, entre outros.
Em Abutres, ele é Sosa, um advogado impedido de exercer sua profissão, e o personagem em nenhum momento explica o porquê. "Deixa assim", chega a dizer em certo momento. Ganha a vida como abutre, ou seja, ronda hospitais e delegacias de Buenos Aires em busca de pessoas que tenham sofrido acidentes de trânsito. E os convence a buscar indenizações das seguradoras, onde ele e seus sócios ficarão com a parte mais gorda da grana. Os acidentados, claro, levam apenas uma porcentagem e nem ficam sabendo.
Sem escrúpulos, Sosa começa a repensar seu modo de vida quando se apaixona pela jovem médica Luján (a ótima Martina Gusman) e perde o melhor amigo num acidente estúpido quando tentava aplicar um golpe. O advogado tenta, então, sair do esquema, mas verá que não é tão fácil, pois os homens com quem trabalha são mais, bem mais ambiciosos do que ele.
Abutres mostra que o ser humano é inescrupuloso e passa por cima de tudo para se dar bem. E Ricardo Darín está muito bem, fazendo desta vez um papel bem diferente do romântico Benjamín, de O segredo dos seus olhos. O ator mostra versatilidade incrível. E Trapero dirige com destreza, afiado principalmente nas cenas de acidentes de trânsito. E prepara um final que é surpreendente.
cotação: bom
Chico Izidro

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Machete



Todo Mundo já escreveu ou falou que Quentin Tarantino é doido por pés e em seus filmes faz questão de destacar esse fetiche. Pois seui melhor amigo, Roberto Rodriguez, adora mulheres nuas. E não deixa escapar uma oportunidade para colocar na tela uma garota em roupas mínimas ou sem nenhuma.
Pois em Machete, Roberto Rodriguez encontra o veículo ideal para por em prática sua tara. E Machete, interpretado pelo feioso Danny Trejo, 66 anos, é um festival de nudez, sangue e tripas. E não é para ser levado a sério de maneira nenhuma. Tudo é exagerado propositalmente. Um escracho puro.
Machete ou facão em português, é um ex-policial mexicano que se torna imigrante ilegal nos Estados Unidos após ter a família morta pelo chefão do tráfico interpretado por Steven Seagal, tirando sarro de si mesmo, e chamando seus inimigos de puñeta. Na terra do Tio Sam, Machete acaba envolvido nuim esquema para assassinar um deputado anti-imigração (Roberto de Niro, abusando da canastrice), que costuma ir à fronteira matar mexicanos que tentam entrar nos Estados Unidos ilegalmente.
Machete, já vivendo no submundo, envolve-se então com combatentes chicanos liderados por Michele Rodriguez, que numa das cenas aparece com roupas curtíssimas e de tapa-olho. Tara maior impossível. Já Jessica Alba é uma sexy policial da imigração. E Trejo pega as duas! E Lindsey Lohan, fazendo piada de si mesma, é a filha junkie de um congressista, que em certo momento veste um hábito de freira.
Todo mundo parece estar se divertindo em Machete, que em seus momentos finais mostra uma batalha entre mexicanos e caçadores de imigrantes. E aparecem enfermeiras gostosas portando potentes metralhadoras. Enfim, um filme que exala sexo e carnificina.
cotação: bom
Chico Izidro

terça-feira, janeiro 11, 2011

Além da vida




Clint Eastwood resolveu mexer com a espiritualidade em seu novo filme, onde repete a parceria com Matt Damon, iniciada em Invictus. Só que desta vez os dois astros acabam tropeçando clamorosamente no irregular Além da vida (Hereafter). A história mostra a vida de três pessoas, duas que têm de lidar com perdas recentes em suas vidas e um vidente que deseja se libertar do que considera ser uma "maldição" poder se comunicar com os mortos.
Além da vida tem um início arrasador. São talvez os 15 minutos mais eletrizantes do cinema desde a invasão da Normandia retratada em O resgate do soldado Ryan (1998). Aqui, no caso, é feita a reconstituição, perfeita, da tsunami que varreu a costa asiática em dezembro de 2004.
A devastação é presenciada pela jornalista Marie Lelay (Cécile De France), que está na Tailândia em férias com o namorado. Os dois sobrevivem e ela chega a ser dada como morta após se afogar. E enquanto está inconsciente, acaba tendo uma visão. Na volta a Paris, entra em licença e prepara-se para escrever um livro sobre o ex-presidente francês François Mitterrand, mas decide escrever sobre sua experiência traumática e cai em descrédito. Ao mesmo tempo, em Londres, o garotinho Marcus (Frankie McLaren) perdeu o irmão gêmeo num acidente e não consegue mais levar uma vida normal. Seu objetivo passa a ser tentar se comunicar com o irmão Jason.
Enquanto isso, o vidente George (Matt Damon, sem o menor traquejo) se considera uma aberração e tenta levar uma vida normal como trabalhador braçal. É um solitário e tenta engatar um namoro com a bela Melanie (Bryce Dallas Howard), que acaba frustrado quando ela descobre os poderes dele.
Sem contar mais, Além da vida é arrastado, dando a impressão de que Clint Eastwood não soube o que exatamente transmitir. Existem cenas desconexas e um final completamente inverossímil. O bom é que sabemos que o diretor tem crédito e que na próxima virá com um filmaço, para compensar este tropeço. Afinal não dá para acertar sempre.
cotação: ruim
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...