quinta-feira, agosto 02, 2012

"Além da Liberdade"


Levar às telas a vida de uma personalidade pública e histórica não costuma ser fácil. Corre-se sempre o risco de se cair no didatismo, pedantismo e se esta figura representa os direitos humanos, transforma-la num santo. E sabe-se que nem mesmo Nelson Mandela e Gandhi o eram. Então a vida da ativista política e Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi fica no limite em "Além da Liberdade", um título clichê para o original The Lady ou A Dama, de Luc Besson, diretor de O Quinto Elemento, O Profissional e Cão de Briga.

"Além da Liberdade" mostra de forma não-linear a luta de Suu Kyi, que ganhou o Nobel em 1991, pelo fim da ditadura na antiga Birmânia, hoje Mianmar. Casada com um inglês, o professor de Oxford Michael Aris (o eterno coadjuvante David Thewlis, de Sete Anos no Tibet), Aung San Suu Kyi é filha de um antigo político birmanês assassinado em 1947. Ela passou boa parte da vida no exílio e nos anos 1980, ao voltar ao país para ver a mãe, que agonizava, acabou sendo convencida a entrar na luta pela democratização da Birmânia. Aceito o desafio, entrou num impasse. Foi colocada em prisão domiciliar e seus seguidores perseguidos ou assassinados.

Aung San Suu Kyi até tinha a escolha de deixar o país, mas nunca mais poderia pisar lá novamente. Seu marido foi proibido de entrar na Birmânia - e os dois, democratas - decidiram que ela deveria levar até o final a briga com os militares. Mesmo quando Aris ficou doente, de câncer, Suu Kyi negou-se a abandonar sua casa, sua prisão, na capital Rangoon. Eleita presidente, nunca conseguiu assumir o cargo por causa de um golpe. A situação em Mianmar em 2012 permanece quase inalterada.

Aung San Suu Kyi é vivida com força e magnitude pela atriz malaia Michelle Yeoh, de "O Tigre e o Dragão" e "007- O Amanhã Nunca Morre". Thewlis também está bem. As cenas das manifestações políticas e a trama, empolgam. Besson, porém, foi relapso em outros aspectos: Thewlis também vive o irmão gêmeo de Michael. E as tomadas dos irmãos conversando beiram o amadorismo. Os militares são vividos por atores tão ruins, tão ruins, que soam caricaturais. Ao invés de meter medo quando surgem na tela, provocam o riso involuntário.

Cotação: regular
Chico Izidro

"O Que Esperar Quando Você Está Esperando"


O preconceito impera sim. Ao saber que "O Que Esperar Quando Você Está Esperando" é estrelado por Jennifer Lopez, pensei cá com meus botões: é uma bomba. E a previsão não estava erarda. O filme dirigido por Kirk Jones (A Fortuna de Ned) é baseado em um guia para gestantes, de Arlene Eisenberg, Heidi Murkoff e Sandee Hathaway e lançado em 1984. E um amontoado de clichês e atuações exageradas.

A trama gira em torno de vários casais querendo ter seus rebentos. Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro são o casal latino. Ela é estéril e quer adotar um bebê. Ele tem dúvida se realmente deseja ter um terceiro ser em casa. Elizabeth Banks e o esquisito Rob Huebel esperam um bebê, só que têm de conviver com a concorrência do pai dele, vivido por Dennis Quaid, e da jovem esposa, interpretada por Brooklyn Decker, também grávida. O personagem de Quaid é um ex-piloto de Fórmula Indy, que adora mostrar ao filho o quando é melhor.

Tem ainda a mulher de 40 anos, dançarina e professora de ginástica, Cameron Diaz, que grávida, não para um minuto e não sabe se o seu namorado vai casar com ela. E a garota que encontra um antigo casinho de escola, transa, fica grávida. E o cara, evidente não se sente preparado para ser pai.

As atuações são histriônicas, principalmente o veterano Dennis Quaid, histérico além da conta. E aquela cena em que um grupo de homens surge no horizonte em câmera lenta - culpa de Tarantino - está lá. No caso, cinco pais e seus filhos à tiracolo, numa profusão de diálogos bobos e repetitivos. Bola fora.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"Aqui é o Meu Lugar"



O personagem principal de "Aqui é o Meu Lugar", o roqueiro sequelado Cheyenne poderia ter caído no caricatural, não tivesse sido interpretado por Sean Penn. A trama, dirigida por Paolo Sorrentino, toda é meio doida, quase absurda, por isso magnetizante.

Cheyenne tem um visual Robert Smith, do The Cure, é deprimido, fala e andar arrastado como Ozzy Osbourne, e vive com a mulher de toda a vida, Jane (Frances McDormand, de Fargo) em sua mansão em Dublin, na Irlanda. É exótico, com seus 50 anos e cabelos desgrenhados e maquiagem pesada. E desde que dois fãs se suicidaram por causa de uma de suas músicas (referência óbvia a Suicide Solution, de Ozzy), parou de cantar e compor. Vive do que amealhou nos anos 1980.

O antigo astro de rock gótico, porém, terá de voltar à vida quando seu pai, a quem não vê há 30 anos, encontra-se à beira da morte, em Nova Iorque. Ele retorna aos EUA, e no leito de morte do pai, fica sabendo que esse passou boa parte da vida tentando capturar um nazista que o torturou em Auschwitz durante a II Guerra Mundial. Sim, Cheyenne é judeu, mas vive longe das tradições de sua religião.

Entã, a partir deste momento, "Aqui é o Meu Lugar" torna-se um road-movie, onde Cheyenne sairá em captura do nazista. Ao mesmo tempo que terá de amadurecer, mesmo que tardiamente. O nome do filme no original em inglês, This Must Be the Place, é tirado da música homônima dos Talking Heads, uma das bandas pop emblemáticas dos anos 1980. E não bastasse a presença de David Byrne, líder e vocalista do grupo, dando uma orientação ao roqueiro, o filme está repleto de referências àquele período. Uma cena mostra o quanto Cheyenne está ligado ao período. Ao tocar a música para um garoto, esse diz ser do grupo Arcade Fire. O roqueiro corrige: "Não, ela é do Talking Heads", ensina. Para ele, Arcade Fire não significa nada.

Cheyenne é vivido com primazia por Sean Penn, mostrando mais uma vez sua extrema versatilidade. Tanto como um roqueiro ultrapassado, quanto um militante homossexual, um pai arrasado pela morte de um filho ou um violento gângster. Ele é o filme.

Cotação: bom
Chico Izidro

quarta-feira, julho 25, 2012

"Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge"




O diretor Christopher Nolan pegou muito bem o espírito do justiceiro mascarado na trilogia que agora se encerra no excepcional "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge".
Um dos heróis preferidos do mundo dos quadrinhos, Batman sofreu muito com suas versões na tela, principalmente a série dos anos 1960, onde virou comédia na pele do ator Adam West - apesar de o seriado ter embalado muito a infância de milhões de fãs pelo mundo, inclusive este que vos escreve. No final do século XX, Batman foi para a telona pelas mãos do diretor Tim Burton, ganhando um ar gótico, mais ainda distante do personagem atormentado que era mostrado nas HQ.

Nolan conseguiu capturar muito bem o tipo recluso, depressivo e violento ao extremo que é Bruce Wayne e também Batman. E isso fica mais expressivo nesta terceira parte, que se passa oito anos após os eventos em que Batman enfrentou o lunático Coringa (vivido por Heather Ledger, que morreria pouco depois das filmagens).

O vigilante mascarado está desaparecido e é visto como um criminoso. Até mesmo Bruce Wayne não aparece mais, vivendo como um ermitão em sua mansão, tal como o bilionário Howard Hugues, que no século passado trancafiou-se em seu palácio, onde passou os últimos anos urinando em garrafas de leite e cultivando unhas de quase 20 centímetros. Wayne não chegou a tal extremo, mas a os boatos em Gotham City fazem a população acreditar que sim.

A aposentadoria de Batman termina quando uma ameaça surge sobre Gotham City - a cidade é claramente uma reconstituição de Nova Iorque. O mercenário Bane, que usa uma máscara bizarra, que o ajuda a inalar incessantemente uma droga conhecida como Veneno, toma a cidade e planeja mandá-la pelos ares, junto com seus 12 mihões de habitantes.

"Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" tem quase 3 horas de duração, exatas 2h44min, que não se vê passar. E todos os seus personagens são bem estruturados, cada um tendo o seu tempo para ser explorado na tela - o ator Christian Bale, que surgiu para o mundo no filme de guerra "Império do Sol", parece ter sido talhado para interpretar o mascarado, assim como Michael Caine, oscarizado em 1987 por "Hannah e Suas Irmãs", é o perfeito mordomo Alfred. E Gary Oldman está ótimo novamente como o Comissário Gordon. Também não dá para esquecer Joseph Gordon-Levitt (do seriado 30 Rock From the Sun e de A Origem) como o policial que consegue enxergar dentro de Wayne e que vai se transformar em personagem essencial para a mitologia de Batman.

O melhor de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", no entanto, é Bane, interpretado por Tom Hardy (de Rock'n'Rolla - A Grande Roubada e A Origem). Certamente um dos maiores vilões da história do cinema, próximo, muito próximo de Darth Vader. Assustador, violento e sem o mínimo escrúpulo, mata qualquer um que cruze seu caminho como se estivesse esmagando uma formiga. E as suas cenas combatendo Batman são memoráveis - na primeira do filme, Bane aplica uma surra homérica e horripilante no herói mascarado.

As mulheres também são destaque. A lindinha Anne Hathaway (de O Diabo Veste Prada) está sedutora como Selina Kyle, a Mulher-Gato, e sua ambiguidade. Ora vilã, ora mocinha, ela não sabe se fica ao lado de Batman ou o deixa para os tubarões. E a bela francesa Marion Cotillard (de Piaf, Um Hino ao Amor), tem um ar magnético como a milionária Miranda Tate, alvo romântico de Bruce Wayne.

Enfim, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é um dos melhores, se não o melhor filme de super-heróis já feito. Fiel aos quadrinhos e onde até mesmo os furos de roteiro são perdoados, tal a magnitude do que se vê na tela.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Movimento Browniano"



A holandesa Nanouk Leopold conseguiu superar o mestre Jean-Luc Godard em seu reflexivo "Movimento Browniano". E isto não é um elogio. É ofensa mesmo.

O título refere-se a um termo da física, em que partículas se movem de modo aleatório, sem grandes explicações. E é mais ou menos o que faz a protagonista, que age de forma estranha e sem explicação.

O espectador deve ter muita paciência para assistir o filme em que é mostrado o cotidiano da médica Charlotte (Sandra Hüller) em Bruxelas. Ela é casada com o Max (Dragan Bakema) e tem um filho. O problema é que Charlotte mantém uma vida dupla. É viciada em jogos sexuais com pacientes que encontra no hospital em que trabalha. E todos eles são homens de tipos estranhos. São gordos, peludos, carecas, velhos, usam unhas compridas.

Para transar com eles, alugou um pequeno apartamento - uma garçoniere, como o faziam alguns homens casados em tempos passados. Algumas cenas beiram o pornô, mas sem apelação.

"Movimento Browniano" até tem um tema interessante. Só que é contado de forma cansativa. As tomadas são longas, com closes excessivos na protaganista, que não é uma mulher bonita. Quase não existem diálogos. E por vezes, se exige que o espectador tenha de adivinhar o que se passa na tela. Até um exercício interessante, mas deficiente.

Cotação: ruim
Chico Izidro

quinta-feira, julho 19, 2012

Valente



Nunca os cabelos de um personagem animado foram tão perfeitos quanto os da molecona Merida em "Valente", direção de Mark Andrews e Brenda Chapman. Os longos cachos vermelhos da princesa escocesa se agitam perfeitamente quando ela sai em disparada pelas florestas próximas ao castelo de seu pai, o rei Fergus, cuja perna esquerda foi arrancada por um urso.

Merida é uma rebelde, na verdade, uma feminista na Idade Média. Seu destino casar com o filho primogênito de um dos líderes dass três clãs aliadas de seu pai. O problema é que a garota é feliz com seu arco e flecha e seu cavalo..... O casamento não está em seus planos. E isso trará consequências trágicas, quanto ao tentar escapar do seu destino indesejado. Merida pede a ajuda de uma feiticeira para que enfeitice a mãe, defensora ferrenha das tradições e que não aceita de forma alguma a rebeldia da filha. Só que o feitiço acaba dando errado e transformando a rainha Elinor.

Se em sua primeira parte "Valente" foca na insatisfação de Merida, em sua segunda parte, ele muda totalmente. Vira quase um filme de terror, com a aparição de um monstro odiado por Fergus, e que certamente vai assustar muita criança que irá ver o desenho. E por fim, mostra que a união faz a força, quando mãe e filha têm de unir forças para que a paz reine no reino. A excelência do trabalho da Pixar é inquestionável. Os desenhos são perfeitos e em determinados momentos até podemos ficar em dúvida se é mesmo um desenho, tal a magnitude dos cenários.

Cotação: bom
Chico Izidro

Menos que Nada



O diretor Carlos Gerbase fez um excelente filme em 2000, o policial Tolerância, com Maitê Proença, Roberto Bomtempo e Maria Ribeiro. Desde então tenta emplacar um grande filme. Fracassou com Sal de Prata e 3 Efes. Este foi lançado nos mais variados meios de comunicação simultaneamente - cinema, tevê e dvd. O filme era ruim, destacando-se, no entanto, pela forma original como chegou ao público.

Sua nova obra, "Menos que Nada", recebe o mesmo tratamento. E também deixa a desejar. Apesar da grande atuação do protagonista Felipe Kannenberg e de trazer três belas mulheres, Rosanne Mulholland, Branca Messina e Maria Manoella.

Dante (Kannenberg) está internado num sanatório, onde passa os dias como um zumbi, simulando sexo com uma cadeira e cavando enorme buraco. A médica residente Paula (Branca Messina) se interessa pelo caso, e resolve cavocar o passado dele para tentar ajudá-lo. Entrevistando pessoas próximas ao jovem, acaba sabendo que ele era um estudante de arqueologia, retraido, que morava com o pai, um ex-policial, além do que estava envolvido na descoberta de fósseis pré-históricos nas terras de uma conhecida de infância, Berenice (Maria Manoella, de A Mulher Invisível).

E em Berenice é que pode estar a possível cura para Dante. Os dois eram amigos de infância e a religiosa mãe do garoto o fez se separar da coleguinha, que não veria por quase duas décadas. Ao mesmo tempo que a amiga volta à sua vida, Dante também envolve-se romanticamente com a arqueológa René (Rosanne Mulholland). No escavar a terra pode estar a resposta para a doença do jovem.

O problema é que em "Menos que Nada", e desculpe o trocadilho, falta melhor aprofundamento da trama, que deixa pontas soltas. A produção também deixa a desejar, sem contar aquela triste constatação de que alguns atores são mal-dirigidos ou são ruins mesmos - parecem teatrais em demasia e não se mostram naturais diante das câmeras, como por exemplo Artur José Pinto, que interpreta o chefe de Paula, ou o caricato Ciro, vivido por Alexandre Vargas.

Felipe Kannenberg, no entanto, sobressai com uma atuação comovente e convincente, mostrando ter feito grande trabalho de laboratório. Branca Messina e Maria Manoella também estão bem, mas Rosanne Mulholland, apesar da beleza e de ser extremamente sexy, não convence como a intelectual e desprovida de caráter René.

Cotação: regular
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

Foto: Universal Pictures "Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale), direção de Simon Curtis, promete ser o últ...