domingo, abril 20, 2025

“SOBREVIVENTES”

Foto: Pandora Filmes
“SOBREVIVENTES” é a obra derradeira do cineasta luso-brasileiro José Barahona, falecido em novembro de 2024, aos 55 anos de idade. A trama acompanha um grupo de sobreviventes de um navio negreiro no Século XIX, que naufraga no Oceano Atlântico. No princípio, duas mulheres brancas e quatro homens brancos se encontram numa praia deserta, e passam dias sem saber o que fazer para tentar escapar da morte.
Até que surge outro náufrago, o negro escravo João, visto por todos apenas como um objeto sem valor, sendo apedrejado, cuspido e amarrado pelos brancos – um padre católico chega a dizer que João é apenas um animal, pois os negros não são seres humanos, numa crendice imposta pela igreja católica através da bíblia.
Porém, em gesto de sobrevivência, João toma o controle do grupo, e é com ele que todos sobrevivem. E tentam chegar a um lugar mais seguro da ilha, onde acabam encontrando outros negros sobreviventes do naufrágio e que estão sedentos por vingança.
“Sobreviventes”, com excelente fotografia em preto e branco, é um retrato cruel e fiel do que passaram milhões de pessoas tiradas de suas terras no Continente Africano, e trazidos à força para a América, vistos apenas como mão de obra.
A história de “Sobreviventes” foi criada por Barahona e desenvolvida em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, autor de livros traduzidos em mais de 30 idiomas e vencedor de prêmios como o Independent Foreign Fiction Prize, no Reino Unido, e o Prêmio Literário Internacional de Dublin.
Agualusa é conhecido por abordar em sua literatura as heranças do colonialismo, os cruzamentos entre memória e identidade e as cicatrizes deixadas pela escravidão. Entre seus títulos estão “Nação Crioula”, que imagina cartas escritas pelo personagem Fradique Mendes sobre sua vivência em Luanda e seu amor secreto pela ex-escravizada africana Ana Olímpia; “O Vendedor de Passados”, que investiga a reinvenção das memórias em uma Angola pós-colonial; e “Teoria Geral do Esquecimento”, ambientado no período da independência angolana e centrado na metáfora do isolamento como reflexo da memória coletiva.
O escritor angolano conta que o que mais lhe interessou quando o diretor José Barahona pediu para que contribuísse para a escrita do roteiro do filme “foi trazer a voz dos africanos, trazer a perspectiva desses africanos sobreviventes. Mostrar que eles nunca foram sujeitos passivos da sua história, foram sujeitos ativos dessa mesma história. Os africanos sobrevivem ao naufrágio, mas sobrevivem, sobretudo, a um processo de sequestro. Então, esse foi todo o meu esforço maior”.
A produtora do filme, Carolina Dias, também companheira de Barahona, explica que o projeto foi filmado entre maio e junho de 2022 em Portugal e que o cineasta “sempre teve uma relação íntima com o Brasil, e se questionava sobre o passado de 'glórias' de Portugal. Ele buscava olhar para o outro lado dessas ‘glórias’. A outra versão da história, aquela não contada oficialmente. Nisso ele teve a ideia do filme, um naufrágio com negros e brancos e a possibilidade de, na luta pela sobrevivência, escolher entre reproduzir comportamentos do passado ou criar uma nova estrutura de sociedade”.
A trilha sonora original é assinada por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, e ganha contornos ainda mais emocionais com a participação especial de Milton Nascimento, que empresta sua voz a uma das faixas do filme, ampliando sua dimensão simbólica e afetiva.
Cotação: ótimo
Duração: 1h11min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Zh6Bc_38YqI

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