quinta-feira, novembro 13, 2014

"Trinta"

Joãosinho Trinta foi um dos maiores carnavalescos do Brasil. Mas até obter a fama, penou muito. "Trinta", dirigido por Paulo Machline, resume a vida do maranhense, que se mudou para o Rio de Janeiro com o objetivo de ser bailarino, para desgosto de sua família. Homossexual, era alvo de chacota dos colegas da repartição pública onde trabalhava antes de conseguir vaga no Balé Municipal no final dos anos 1950. Joãosinho é interpretado com convicção por Matheus Nachtergaele, que não se parece muito com o retratado - até mesmo sua pele foi maquida para mostrar a morenice do caranavalesco. Mas os tiques, os ataques de fúria estão lá.

É no Balé Municipal que conhece o carnavalesco Fernando Pamplona (Paulo Tiefenthaler), marido de uma das colegas de Joãosinho, e que o leva para a esacola de samba Salgueiros, onde se transforma em responsável pelos adereços. Anos depois, Pamplona se desentende com o presidente da escola, e Joãosinho é escolhido como seu sucessor. Ele teria, então, 180 dias para definir o tema e preparar o desfile da escola em 1974. Joãosinho sofreu com boicotes, sabotagens, com descontentamentos e desprezo, principalmente do chefe de barracão interpretado por Milhem Cortez. O filme se fixa neste período da vida de Joãosinho Trinta, tentando fazer suspense com a contagem regressiva dos dias. Será que ele conseguiria colocar a escola na avenida?

Sabe-se que Trinta conseguiu levar a escola a ser campeã naquele ano. Mas o diretor Paulo Machline, de "Natimorto", conseguiu fazer uma boa trama, escudado principalmente nas boas atuações de Nachtergaele, Paulo Tiefenthaler e Fabrício Boliveira como o ajudante de Trinta. Milhem Cortez, às vezes, fica um pouco fora do tom, ao exagerar na caracterização do vilão, que não quer ver o sucesso alheio. No final, o diretor usou imagens reais de arquivo, contando o que ocorreu na sequência da vida de Joãosinho Trinta, que seria campeão mais sete vezes, por outras escolas, e morreria em sua São Luiz natal, em 2011, aos 78 anos.

Cotação: bom
Chico Izidro


"Mil Vezes Boa Noite"

A fotógrafa jornalística Rebecca (Juliette Binoche) é viciada em adrenalina. Gosta de ação e está sempre presente em zonas de conflito. Após quase morrer ao tentar registrar a ação de uma mulher-bomba no Afeganistão, ela volta para casa, na Irlanda, e enfrenta o desespero de sua família, em "Mil Vezes Boa Noite", direção de Erik Poppe.

O marido, Marcus (Nikolaj Coster-Waldau, de Mama e do seriado Games of Thrones) lhe dá um ultimato: ou larga a carreira e se dedica à família (eles têm duas filhas), ou vai se separar. Ele não suporta mais a angústia de ficar esperando aquele telefonema no meio da madrugada que pode ser o da notícia da morte dela. Rebecca até tenta ficar em casa, cuidando das meninas e cozinhando. Mas sabe que a atividade em campo é mais empolgante. Ao receber nova proposta para viajar ao Quênia para um trabalho humanitário, em princípio Rebecca rejeita, mas a própria família insiste que ela vá, já que parece não haver perigo ali. Rebecca viaja e leva a filha mais velha, Steph (Lauryn Canny). E aí que as coisas encrespam de vez.

"Mil Vezes Boa Noite" evoca o oscarizado "Guerra ao Terror", onde o personagem de Jeremy Renner, especialista no desarme de bombas, não consegue se adaptar a vida normal após voltar do campo de batalha do Iraque. É mais ou menos o que acontece com Rebecca. O problema em seu personagem é a interpréte, Juliette Binoche, que não consegue abandonar aquela cara de eterna sofredora, e isso é muito irritante. A atriz tem talento, isso é inconteste, mas se perde nesta dificuldade de mostrar reações, O destaque acaba sendo a jovem Lauryn Canny, que vive a jovem angustiada Steph.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Uma Viagem Extraordinária"

O garoto T.S. Spivet (Kyle Catlett, o filho do serial killer do seriado The Following) é o grande destaque do divertido "Uma Viagem Extraordinária", dirigido pelo francês Jean-Pierre Jeunet, de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" e "Delicatessen". T.S. vive numa fazenda em Montana com uma família disfuncional - o pai acha que é um cowboy do Velho Oeste, a mãe passa o tempo pesquisando sobre insetos e a irmã mais velha só se preocupa com concursos de beleza. Havia ainda o irmão gêmeo, Layton, que morreu num acidente com uma espingarda.

Pois T.S., apesar de ter somente dez anos, acaba criando uma geringonça e é premiado pelo Instituto Smithsonian, em Washington D.C. Só que no instituto não sabem que ele tem só dez anos. A história, então, restrita à fazenda, acaba tornando-se um road-movie, com o garoto fugindo de casa para buscar o prêmio. E nesta viagem que o filme ganha graça, com T.S. embarcando num trem e depois pegando carona com um caminhoneiro, sempre se escondendo das autoridades, afinal, ele é considerado fugitivo.

O garoto, além de superdotado, tem uma imaginação fértil e daí o diretor tem boas sacadas, mostrando os pensamentos viajandões de T.S., que tem na atuação de Kyle Catlett seu trunfo. O visual do filme, com seu forte colorido, e seu tema de fuga lembra muito o também ótimo "Moonrise Kingdom".

Cotação: ótimo
Chico Izidro

quinta-feira, novembro 06, 2014

"Interestelar"

"Interestelar", dirigido por Christopher Nolan, de "O Cavaleiro das Trevas" e "A Origem", trata de apocalipse, de esperança, de desespero. Ficção científica de quase três horas, traz visual arrebatador e trilha sonora poderosa e, às vezes, angustiante. Num futuro não tão distante assim, a subsistência do ser humano se resume a milho, nada mais. E mesmo este vem sendo devastado por violentas tempestades de areia. A população mundial está sendo dizimada. O jeito encontrado é buscar um outro planeta que possa receber os humanos. E é aí que entra Cooper (Mathew McConaghey), ex-piloto, que agora viúvo, vive numa fazenda com o sogro (John Litgow) e os dois filhos, Tom, de 15 anos (Timothée Chalamet), e Murph, de dez anos (Mackenzie Foy). Os dois não têm muitas expectativas. O garoto pode, segundo análises da escola, apenas seguir a profissão de fazendeiro. Já a esperta Murph é considerada encrenca na escola por tentar mostrar aos colegas que o homem já pisou na lua, o que a professora considera um absurdo.

Cooper aceita a missão da Nasa de partir para o espaço, mesmo que isso possa custar nunca mais ver os seus filhos. Ele aceita e viaja junto com Brand (Anne Hathaway) e outros dois astronautas, vasculhando planetas que possam ser habitáveis. Nessa jornada, a linha espaço-tempo é acentuada - a idade de Cooper é ampliada e de repente, ele passa a ter a mesma idade de sua filha, para mais adiante, ela ficar mais velha do que ele. Murph, que na adolescência é vivida pro Mackenzie Foy, passa a ser interpretada por Jessica Chastain na idade adulta. E ela, devido a sua inteligência superior, busca achar na Terra uma forma de salavar o destino da humanidade.

O elenco de "Interestelar" mostra-se afiado, com atuações que beiram a perfeição. O filme abraça teorias científicas reais, mas não testadas. No final, Nolan quase deixa a maionese desandar, ao criar uma solução fantasiosa demais. Mas do jeito que o mundo está sendo tratado, é de se temer o que "Interestelar" prega. É legal ainda ver a presença de veteranos como Michael Caine, como o projetista da viagem de Cooper, e
Ellen Burstyn vivendo Murph idosa.

Cotação: bom
Chico Izidro

"O Último Ato"

Al Pacino está excelente em "O Último Ato", dirigido por Barry Levinson. Ele é Simon Axler, ator shakesperiano, que ao chegar aos 65 anos, entra em crise e acredita ter perdido a capacidade de atuar. Após tentativa frustrada de suicídio, ele vai para uma clínica de repouso, onde encontra um dos melhores personagens do filme: uma mulher que deseja encontrar alguém para matar o marido, que abusou da filha deles, e Simon é visto como a solução, pois afinal interpretou um assassino em um filme. "Mas aquilo era interpretação", avisa ele para a doida. "Aquilo foi tão real", insiste ela.

Ao voltar para casa, Simon é procurado por Pegeen (Greta Gerwig), filha de um casal de amigos que ele não vê desde quando ela era pequena. E a garota, agora uma trintona e envolvida num relacionamento lésbico, confessa ter sido apaixonada por ele na adolescência. Os dois então acabam engatando um relacionamento. O romance entre eles é tenso, cercado de desentendimentos e discussões, mas vai mudar o jeito de Simon ver e mudar a vida caótica que levava.

Al Pacino brinca bem com a questão da idade, e o ator na vida real já está com 75 anos. É hilária a cena em que Simon vai a uma clínica para fazer um teste de fertilidade, pois pretende engravidar Pegeen. Ou a aparição louca da mãe de Pegeen, Diane Wiest, descontente com o namoro dos dois. A máxima é "a idade pesa, e como".

Cotação: bom
Chico Izidro

"Sétimo"

"Sétimo" é um surpreendente thriller de suspense argentino dirigido por Patxi Amezcua e protagonizado por Ricardo Darín, excelente. Na trama, o advogado Sebastián (Darin), em vias de se separar da mulher Delia (Belén Rueda), tem o costume de levar os filhos para a escola. E entre eles existe uma brincadeira - Sebastián desde de elevador a partir do sétimo andar, onde está o apartamento da ex e das crianças, enquanto Luna (Charo Dolz Doval) e Luca (Abel Dolz Doval) vão pelas escadas, numa disputa para ver quem chega mais rápido ao térreo. Só que num dia decisivo para Sebastián, que tem de defender um cliente poderoso no tribunal, ao brincar com os filhos, elas não aparecem. Simplesmente evaporam no ar.

Sebastián começa a conversar com alguns moradores, refazer os passos e nada. Aos poucos, o advogado começa a entrar em pânico, enquanto recebe ligações de seus chefes, que exigem sua presença no tribunal o quanto antes. Darín mostra a cada olhar, a cada passo, a angústia que vai tomando conta de seu personagem.

"Sétimo" perde um pouco o fôlego quando é revelado o que aconteceu com Luna e Luca, mas logo volta a entrar nos trilhos quando Sebastián começa a desvendar o mistério, deixando o espectador tenso - e quem tem filhos sente mais a angústia de ver duas crianças desaparecem.

Cotação: bom
Chico Izidro

"November Man - Um Espião Nunca Morre"

Pierce Brosnan vive um espião e matador exímio em "November Man - Um Espião Nunca Morre", dirigido por Roger Donaldson. A história começa em 2008, em Montenegro, quando Peter Devereaux e seu pupilo David (Luke Bracey) falham numa missão. Um pulo de cinco anos e Peter, a esta altura aposentado, recebe o pedido de um amigo, o chefão da CIA Hanley (Bill Smitrovich) de ir à Rússia ajudar na escapada de uma espiã, Lucy Tara Jevrosimovic), infiltrada no gabinete do general Arkady Federov (Lazar Ristovski), que pretende chegar à presidência do país.

Só que as coisas não saem como Peter imaginava, e logo ele está sendo caçado por seu ex-pupilo David, enquanto tenta com a ajuda de uma assistente social Alice Fournier (Olga Kurylenko) encontrar uma refugiada que pode revelar podres de Federov durante a invasão russa na Chechênia.

O filme é movimentada, com cenas de ação incessantes. O problema é que apresenta um amontoado de clichês, com o personagem de Brosnan quase sendo um super-homem, pois nunca é atingido por uma bala, apesar dos fortes tiroteios em que participa, e sempre um passo à frente de seus perseguidores, um bando de incompetentes. Acaba cansando.

Cotação: regular
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

Foto: Universal Pictures "Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale), direção de Simon Curtis, promete ser o últ...