quarta-feira, fevereiro 17, 2016
"Lobo do Deserto" (Theeb)
Theeb (Jacir Eid) tem cerca de nove, dez anos de idade, e vive no deserto da Província de Hejaz, localizado no Império Otomano, no começo do século passado. Seus dias são passados brincando com o irmão mais velho, Hussein, que está ensinando-o a atirar. O filme é "Lobo do Deserto" (Theeb), direção de Naji Abu Nowar.
Os dois são filhos de um xeique, e quando o oficial britânico Max e seu guia Marji, chegam a aldeia, pedindo para que sejam levados a um poço no meio do deserto, Hussein é escalado para a tarefa. Theeb, porém, não aceita ser deixado para trás, e segue o trio. E as coisas não serão tão simples, pois o ambiente, mesmo para nativos, é perigoso e hostil.
Theeb é um garoto curioso e inquieto, que não respeita os conselhos dos mais velhos. "Não ande aí", não mexa nisso", "fique aqui". Tudo ele desrespeita. Mas o filme mostrará seu crescimento, numa jornada de conhecimento. Por vezes, "Lobo do Deserto" vai para o lado do sentimentalismo. Mas o garoto Jacir Eid é muito bom, com seu olhar espantado e curioso.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=3_vbG89CxuQ
Duração: 1h40min
Cotação: bom
Chico Izidro
quinta-feira, fevereiro 11, 2016
“Deadpool” (Deadpool)
“Deadpool” (Deadpool), direção de Tim Miller, segue uma tradição do cinema de ação: é simplesmente um filme sobre vingança. Mesmo que ele seja embalado por muito humor, deboche e tiradas sobre sexo. E muitos, muitos corpos despedaçados.
O personagem da Marvel é um grande desconhecido do grande público. Mas muito conhecido dos aficionados dos quadrinhos. Foi criado em 1991 e chegou a ter uma aparição horrível em “X-Men Origens: Wolverine” em 2009, interpretado por Ryan Reynolds, que agora volta a viver o super-herói, não tão herói assim, pois está mais para assassino serial. E é o papel da vida de Reynolds, que fracassara na pele de “O Lanterna Verde”, em 2011.
Deadpool é a identidade secreta do ex-militar e mercenário Wade Wilson. A história é contada em presente e passado, com o personagem contando sua vida ao espectador. Detalhe: olhando no olho do espectador. A sua atribulada vida havia acabado de entrar nos eixos e ele ficara noivo da ex-prostituta Vanessa (a atriz brasileira Morena Baccari, de Homeland, irresistível). É quando descobre ter câncer terminal.
Ele encontra a possibilidade de cura em uma experiência científica – ele recebe sangue mutante e fica extremamente forte e com o corpo com a possibilidade de regeneração. Mas seu rosto acaba deformado e ele jura vingança para Ajax ou Francis (Ed Skrein), que antipatizando com Wade, o transformou num monstro.
E Deadpool sai numa caçada infernal atrás de Francis. E sempre se dirigindo à plateia, soltando dezenas de piadas por minuto. Numa delas chega até a brincar com o próprio ator que o interpreta. Noutra visita a mansão dos X-Men, encontra os mutantes Colosso e Míssil Adolescente Megassônico e pergunta: “Porque só vejo vocês dois? A produção do filme não tinha mais dinheiro para colocar mais um X-Men em cena?”. Hilário.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
“A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl)
Eddie Redmayne talvez não leve o Oscar, seu segundo consecutivo, porque a ficha está nas mãos de Leonardo DiCaprio em “O Regresso”. Mas sua atuação em “A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl), direção de Tom Hooper, o ator inglês, que brilhou em “A Teoria de Tudo”, na pele de Stephen Hawking, está novamente fantástico.
Ele vive o pintor Einar Mogens Wegenar, que seria a primeira pessoa no mundo a se submeter a uma cirurgia de troca de sexo, isso no começo dos anos 1930. O artista era casado com a também pintora Gerda (Alicia Wikander). Um dia, uma modelo não compareceu a sessão de pintura de Gerda, que pediu ao marido que colocasse um vestido e posasse para ela. Ali renasceu no íntimo de Einar um sentimento que ele havia represado ainda na adolescência, a sua homossexualidade.
Aos poucos, ele vai se travestindo, arriscando a passeios furtivos pela Copenhague. Sua esposa meio que entra no jogo e até o batiza como Lili, e Lili se mostra mais forte que Einar. Até que o artista começa a se sentir incomodado naquele corpo masculino e sonha em fazer a transformação, em uma época que este tipo de cirurgia ainda era uma utopia.
Eddie Redmayne, que já havia feito um trabalho corporal excepcional em “A Teoria de Tudo”, aqui confere ao seu personagem muita feminilidade – desde o andar, os trejeitos, a voz. Temos ali a sensação de que não assistimos a um travesti, mas sim uma mulher presa num corpo masculino.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
“Brooklin” (Brooklyn)
Apesar de retratar uma história romântica, “Brooklin” (Brooklyn), direção de John Crowley, não é um filme piegas. Mostra o melhor e o pior de dois mundos, sob a visão da jovem irlandesa Ellis Lacey (Saoirse Ronan) nos anos 1950. Ela mora com a mãe e a irmã na aldeia irlandesa de Enniscorthy e trabalha num mercadinho dirigido por uma megera.
Sem muitas perspectivas de futuro, as coisas começam a mudar quando ela recebe uma oferta de trabalho nos Estados Unidos. Ellis decide largar a vida modorrenta e se muda para Nova Iorque, mais exatamente no bairro do Brooklyn, onde vai morar numa pensão para mulheres. O emprego é numa loja de departamentos e ela também aproveita para fazer a faculdade de contabilidade.
Sozinha, meio triste, Ellis acaba se encantando durante um baile pelo descendente de italianos Tony (Emery Cohen). Os dois se apaixonam e acabam casando, até que um incidente faz com que ela tenha de retornar para a Irlanda por algumas semanas. E aí as coisas se estremecerão, com o seu coração acabando por ficar dividido entre permanecer em Enniscorthy ou retornar para o marido em Nova Iorque.
“Brooklyn” brilha muito, principalmente ao trabalho de seus atores e a uma perfeita reconstituição de época. O filme se passa em 1952, e estão ali os vestidos, os cabelos, os carros, os pensamentos – hoje vistos como retrógrados e que até assustam – de alguns de seus personagens. Saoirse Ronan, revelada em “Desejo e Reparação”, de 2007, agora aos 21 anos, dá a sua Ellis uma atuação interessante, por ora melancólica, por ora cheia de vivacidade.
Cotação: bom
Chico Izidro
quarta-feira, fevereiro 03, 2016
"O Regresso" (The Revenant)
Diretor de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), Alejandro González Iñárritu mostra em "O Regresso" (The Revenant), uma obra radical sobre o homem, sua luta pela sobrevivência e um forte desejo por vingança. Toda a ação se passa no meio de um ambiente hostil, mas ao mesmo tempo belo. Nevascas, rios, montanhas, florestas.
Leonardo DiCaprio entrega uma das grandes interpretações de sua vida, ao viver Hugh Glass, que em 1822 atua como guia para americanos que caçam animais para vender suas peles, em uma região inóspita dos Estados Unidos, onde vivem índios nem um pouco pacíficos. Atacado por um urso, numa das cenas mais espetaculares e angustiantes do cinema (são quase dez minutos da agressão do animal), Glass fica severamente ferido e é abandonado pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy), que não satisfeito, ainda mata o filho de Glass. Uma outra cena a destacar é a queda de Glass e seu cavalo de um penhasco.
Conseguindo, milagrosamente sobreviver, Glass, um personagem que realmente existiu no começo do Século XIX, começa uma árdua busca para se vingar de John Fitzgerald. Tom Hardy, aliás, está muito bem, quase irreconhecível. Todos os outros personagens são bem explorados e desenvolvidos. O filme, enfim, mescla muito bem cenas espetaculares de ação e contemplação de belos lugares.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=S4PpYv9n0ko
Duração: 2h36min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"O Filho de Saul" (Saul Fia)
Auschwitz foi um dos campos de concentração onde os nazistas perpetraram o maior crime da história, o assassinato de seis milhões de judeus. Naquele local, na Polônia, cerca de dois milhões de pessoas perderam a vida em suas câmeras de gás ou fuziladas ou enforcadas. E é ali que se passao o claustofóbico "O Filho de Saul" (Saul Fia), direção de László Nemes.
A história se passa durante um dia e meio de 1944. Saul (Géza Röhrig, ótimo) é um sonderkommando, aquele judeu que era obrigado a trabalhar nos fornos crematórios, carregando e cremando os corpos dos gaseados. Eles mesmo não tinham muito tempo de vida - sua função durava quatro meses, quando também eram executados.
Um dia, após o gaseamento de um grupo de judeus hungáros, Saul e seu grupo descobre que um garoto sobreviveu às câmaras de gás, mas logo ele é morto por um oficila nazista. Saul passa a acreditar que aquele menino é seu filno. E não vai sossegar enquanto não conseguir enterrar o corpo, ao invés de cremá-lo. Para poder recitar o kadish, a oração para os mortos, Saul precisa da ajuda de um rabino. E ele fica obcecado por sua missão.
A câmera, em longos planos sequência, segue Saul por entre os corredores das câmaras de gás, pelo campo. Muitas vezes, as imagens ficam desfocadas, e de modo intencional. Para evitar mostrar os corpos dos mortos, ali jogados, insepultos. Numa cena angustiante, os judeus são colocados à beira de uma vala e executados com um tiro na nuca. A pergunta que fica no ar é se o garoto é mesmo filho de Saul ou se ele pretende, dando um enterro decente ao menino, recuperaria um pouco da dignidade perdida naquele campo dos horrores?
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=qXHs5jMV_eg
Duração: 1h 47m
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Suíte Francesa" (Suite Française)
Baseado no romance homônimo da nobre russa Irene Nemirovsky, que judia, foi morta em Auschwitz em 1942, "Suíte Francesa" (Suite Française), dirigido por Saul Dibb, mostra a história de um amor impossível na França devastada pela II Guerra Mundial. A jovem Lucile Angellier (Michelle Williams) vive com a sogra, Madame Angellier (Kristin Scott Thomas), enquanto espera pelo retorno do marido, prisioneiro de guerra na Alemanha, após a derrocada da França em 1940.
Só que a aldeia onde elas moram é invadida pelos nazistas. E um oficial Bruno von Falk (Matthias Schoenaearts) vai morar na mansão de Madame Angellier, por determinação do novo governo alemão. E ele e Lucile descobrem algo em comum, a música, que os aproxima. Além disso, vai crescendo entre eles uma paixão incontrolável. Ao mesmo tempo, Lucille esconde o fazendeiro Benoît Labarie (Sam Riley), que matou um outro oficial alemão e está sendo caçado pelo exército invasor.
O filme incomoda por se passar em um vilarejo francês, mas onde todos falam inglês fluente. Desde os camponeses até os alemães. Claro, isso é uma exigência do mercado cinematográfico, mas que soa estranho. Michelle Williams não consegue convencer em seu papel, levando um "banho" de interpretação da sempre excelente Kristin Scott Thomas. Schoenaerts também vacila, ao não conseguir passar emoção em seu personagem. Mesmo vivendo uma paixão ardorosa, ele é sempre frio.
Os coadjuvantes se saem melhor, como Sam Riley e Lambert Wilson, que vive um conde francês, que entra numa fria. Também muito boa a reconstituição de época, a debandada dos parisienses nas estradas, fugindo da invasão nazista, o dia a dia do vilarejo sob ocupação inimiga.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=azoDJwdhaWI
Duração: 1h48min
Cotação: bom
Chico Izidro
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