sexta-feira, setembro 28, 2012

"My Way - O Mito Além da Música"

Claude François foi um dos mais populares cantores franceses de todos os tempos. Porém sua fama pouco ultrapassou as fronteiras gaulesas, e quando ele teria o reconhecimento periférico, teve uma morte estúpida aos 39 anos de idade. Só que ele entrou para a história universal ao compor aquela que é a música mais famosa de todos os tempos, Comme D'Habitude, conhecida mundialmente na voz de Frank Sinatra como My Way.

O registro desta vida prolífica e efêmera é mostrado no belo "My Way", dirigido por Florent Emilio Siri, e interpretado com maestria e vigor por Jérémie Renier (de O Garoto da Bicicleta) e que ficou extremamente parecido com o cantor. A história é contada de forma linear e didática, mas isso não o diminui. Ela começa no nascimento de Claude na egípcia Ismailia em 1939, filho de um funcionário alfandegário. Passa pela fuga da família do Egito quando da nacionalização do Canal de Suez nos anos 1950 e a adaptação à França. O pai de Claude era metódico, rigoroso e conservador e nunca aceitou a escolha do filho pela vida artítistica - para Aimé François (vivido magistralmente por Marc Barbé), Claude deveria seguir a carreira de bancário. E este conflito entre pai e filho permeia todo o filme - os dois nunca fariam as pazes.

Claude François ou Cloclo para os franceses, era um artista que absorvia de tudo dos outros artistas. Ao ver um show do americano Otis Redding em Londres, uniu o pop francês ao swing americano, e ainda colocou dançarinas negras ao seu lado no palco e também na tevê francesa. Era inovador. E assim criou Comme D'Habitude, que seria adaptada pelo cantor canadense Paul Anka e virar My Way na voz de Sinatra (aliás, um dos momentos chaves da vida de Cloclo foi quando ele esteve a três passos de The Voice e não teve coragem de interpelar o ídolo e dizer: eu sou o autor de My Way). A cena em que Claude e seus parceiros pegam uma sugestão musical e criam Comme D'Habitude é arrepiante. E vendo o filme e prestando atenção nas peças musicais, poderá se ver que muita canção conhecida no Brasil nas décadas de 1970 e 80 foram tiradas da obra de François.

O filme não endeusa Cloclo. Pelo contrário, mostra seu lado podre, tirano com as suas mulheres, familiares e empregados. Porém atento para o lado cultural, financeiro - mesmo que à certa altura da vida tenha ido à falência -, e as fãs, ao ponto de saber o nome e o que faziam as mais ardorosas. "My Way" também destaca-se pela exuberante e cuidadosa reconstituição de época. Claude François morreria de forma estúpida, enquanto tomava banho e tentou consertar uma lâmpada que piscava incessantemente. Ele foi eletrocudado aos 39 anos, quando preparava-se para tomar de assalto a América, após fazer sucesso estrondoso em Londres. Sua morte convulsionou a França, onde até hoje é reverenciado.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Os Infiéis"

Em sete contos curtos, Jean Dujardin, Gilles Lellouche e outros atores e diretores franceses em alta no momento mostram a vida atribulada daqueles homens que traem suas esposas em "Os Infiéis". O resultado acaba sendo irregular. Dujardin, ganhador do Oscar 2012 de melhor ator, e Lellouche vivem personagens diferentes nos esquetes, sempre embalados com muito humor, ironia e sacanagem.

Num dos contos, por exemplo, um cara casado e com uim filho pequeno, prefere curtir a noite parisiense ao lado do amigo solteiro, pegando todas as menininhas, enquanto a mulher fica em casa cuidando da criança. Em outra história, um homem vai a uma convenção de sua empresa em outra cidade. E com inveja de um colega paraplégico, que se dá bem com o sexo oposto, tenta de maneira infrutífera, também transar com alguém. E sua mulher, em casa, fica esperando sua ligação.

A melhor história, no entanto, é aquela onde dois casais conversam após um jantar, e um dos maridos confessa ao outro casal que trai a mulher - que neste momento está em outra parte da casa, lavando a louça. Na saída do encontro, o casal que ouviu a confissão conversa sobre o fato, e a mulher tenta saber se já foi traída pelo marido. Esse nega e ela insiste. Irritado, o cara inventa um caso para agradar o seu par, trazendo consequências traumáticas para a relação.

As histórias são curtas, não deixam o espectador entediado. O problema é a irregularidade entre elas. Uma, de um marido tentando arrumar a casa, apagando os traços da amante, enquanto que a mulher e as crianças sobem as escadas, é muito boba, que se mostra indispensável. Porém, Dujardin e Lellouche são ótimos atores e mostram versatilidade nos diversos papéis que interpretam.

Ah, a última história tira sarro total de dois homens que vão farrear em Las Vegas, e ficam deslumbrados com a riqueza da cidade da jogatina, que acabam ultrapassando os limites de sua amizade.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Dredd"

Muita violência, corpos dilacerados, sangue jorrando na tela. Tudo isso pode ser visto no frenético filme de ação "Dredd", de Pete Travis. O personagem dos quadrinhos já foi visto na telona na década de 1990 com Silvester Stallone no papel do policial que tem o poder da vida e da morte sobre os malfeitores. Uma das características do juiz Dredd era o de nunca mostrar o rosto sob o capacete - sendo Stallone o superastro que é, esse tabu foi quebrado.

Agora, vivido por Karl Urban (de Star Trek e A Supremacia Bourne), o rosto do herói nunca é mostrado, no máximo o queixo e a boca. A trama, passada num futuro apocalíptico, com as cidades superpovoadas, mostra o juiz Dredd em um prédio, na realidade uma favela vertical, ao lado de uma novata mediúnica, combatendo uma gangue de traficantes liderados pela ex-prostituta Madeline "Ma-Ma" Madrigal (Lena Headey, do seriado As Crônicas de Sara Connor), e conhecida por seu sadismo. O roteiro é mínimo. Dredd e sua parceira Cassandra Anderson (Cassandra Anderson, de Juno) vão investigar um assassinato e se vêm cercados pelos vilões no cortiço, sendo caçados e caçando pelos corredores imundos do prédio, onde habitam quase 70 mil pessoas.

Dredd tem o título de juiz por ser um policial que ao prender um bandido, no ato já decide a sentença do indivíduo, se a prisão ou a morte. Ele é uma espécie de Robocop, mas sem o mesmo glamour. Sendo só um ser humano, ao contrário do outro, que era um híbrido, não demonstra nunca sentimentos, e mata sem piedade. Se você quiser pensar pouco, ou aliás, nada, "Dredd" é um prato feito.

Cotação: regular
Chico Izidro

sábado, setembro 22, 2012

"Ted"

Sabe aquela hora em que você deve deixar a infância para trás e crescer? Em formato de fábula moderna, "Ted", de Seth MacFarlane (criador do iconoclasta seriado Family Guy), explicita bem isso. Sem amigos, o pária social John Bennett (Mark Wahlberg), com oito anos ganha um ursinho de pelúcia, de seus pais no Natal. Então ele pede que o brinquedo ganhe vida e isso acaba acontecendo, e os dois acabam tornando-se amigos inseparáveis. Até demais.

Duas décadas depois e meia depois, os dois continuam tão ligados, que passam o dia a fumar maconha e ver velhos filmes na tevê, como o famigerado "Flash", de 1980. John não evoluiu como homem. Por dentro continua uma criança, não aprofundando o seu relacionamento com a bela Lori (Mila Kunis, de Cisne Negro) e com um emprego chimfrim numa locadora de carros. John só começará a ver as coisas diferentes quando correr o risco de perder a namorada. E isso remete a deixar Ted e seus vícios de lado.

Ted, aliás, não tem nada de fofinho. É um urso machista, drogado, dono de um palavreado chulo e totalmente arrivista. A sua voz é feita pelo próprio diretor, Seth MacFarlane, que interpreta ainda o chefe mau-caráter e assediador de Lori. O modo como Ted conquista a sua namorada, a caixa de supermercado Tami-Lynn (Jessica Barth) é hilário e beirando o pornográfico. Sim, o urso age como um ser humano qualquer. "Ted" mostra, em forma de comédia, que a vida não é brincadeira, estando na mesma linhagem de outros filmes sobre o amadurecimento masculino, como "O Grande Garoto" e "O Último Beijo".

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Poder Paranormal"

O diretor espanhol Rodrigo Cortés havia acertado a mão no claustrofóbico "Enterrado Vivo", com Ryan Reynolds. Em sua segunda incursão hollywoodiana na área de terror, ele escorregou no fraco "Poder Paranormal". O filme trata sobre a tentativa de dois professores universitários, Margareth (Sigourney Weaver, de Alien, o Oitavo Passageiro) e Tom (Cillian Murphy, de A Origem e O Preço do Amanhã), de desmascararem pessoas que se passam por paranormais, tirando proveito dos desavisados.

Isso é um modo de vida para os dois, mas Tom é obcecado pelo médium cego Simon Silver (Robert de Niro), que ele culpa pela morte de sua mãe. Ela tinha câncer, porém o médium diagnosticou apenas uma gastrite, com isso a mãe de Tom não procurou ajuda médica, acabando por morrer. O protagonista terá a oportunidade de tentar desmascarar Simon, quando este, milionário, sai de sua aposentadoria para uma série de apresentações e também para se submeter a testes na universidade onde Tom e Margareth trabalham.

"Poder Paranormal" não foi feito para provocar sustos. Tem cenas interessantes, como as que explicam como alguns golpes são aplicados nos incautos fiéis. A história é contada de forma vagarosa e detalhada, e tropeça ao mostrar os personagens de forma quase superficial. E em seu final, para explicar tudo o que se sucedeu nas suas duas horas anteriores, Cortés apelou para as pegadinhas ao estilo criado por M. Night Shiamalan em "Sexto Sentido", "Corpo Fechado" e "A Vila".

Cilliian Murphy segura bem o protagonismo do filme, tendo ao seu lado a ótima Sigourney Weaver, que infelizmente sai de cena rapidamente. Porém Robert de Niro mostra mais uma vez ser um ator careteiro, parado no tempo. E pensar que um dia ousaram tentar fazer uma disputa para saber quem era melhor ator, se de Niro ou Al Pacino. Al Pacino até hoje deve achar graça.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Paranorman"

Em outras oportunidades, escrevi que muitas animações, a maioria delas, não são mais produzidas visando o público infantil ou adolescente. E ao assistir "Paranorman", direção de Chris Butler e Sam Fell, a constatação é completa. O desenho é puro terror, contando a vida do pequeno e solitário Norman, garoto com poderes paranormais: ele pode ver e falar com os mortos.

Claro que ninguém acredita no garoto, visto apenas como um esquisito e vítima de bullying na escola. Até mesmo os seus pais desconfiam de sua sanidade. As coisas mudam quando Norman se vê na obrigação de salvar a cidade de uma maldição rogada por uma bruxa à época da perseguição as feiticeiras no Século XVII. E não bastasse isso, zumbis saem das profundezas da terra para aterrorizar a cidade. Bruxas e zumbis, sério, as crianças no cinema entram em pânico. E os adultos se deleitam com a animação, a trilha sonora vigorosa e tétrica.

Aliás, o climax de "Paranorman" é um dos melhores já realizados em termos de animação, quando Norman e a tal bruxa entram num embate. Mas nada de socos, explosões, monstros. Nada disso. Numa cena assustadora e emotiva, Norman e a feiticeira filosofam sobre solidão, injustiça, amor e carinho.

Cotação: excelente
Chico Izidro

"Referendo"

O ano de 2005 foi meio nebuloso para mim devido a uma violenta depressão. Então o que me recordo daquele período é o que anotei em cadernos e blocos. Tudo o mais se perdeu na poeira do tempo. E foi o ano em que o povo brasileiro foi às urnas para votar pelo "sim" ou "não" em relação ao desarmamento. Não recordo no que votei, mas devo ter votado pelo desarmamento por não gostar de armas. Só que não recordo se até mesmo cheguei a votar.

Feitas as considerações inicias, vamos a "Referendo", de Jaime Lerner, homônimo do político paranaense, analisa aquele período, colhendo depoimentos de pessoas que por um motivo ou outro engajaram-se naquela questão: "O comércio de armas e munição deve ser proibido no Brasil?". O diretor o faz de forma instigante, com os depoimentos intercalados, espaçados e aos poucos vamos entendendo a motivação de cada entrevistado, focando principalmente nos gaúchos. Aqui, afinal existe uma forte tradição armamentista, guerreira e, lembrado bem, fazemos fronteira com outros povos belicosos.

Temos o depoimento de um ex-secretário de segurança do Rio Grande do Sul, de uma professora, de um artista plástico, de um assaltante de bancos, de um estancieiro e também de donos de indústrias armamentistas. Um dos personagens entrevistados, por si só, daria um outro excepcional documentário, por causa de sua história singular e surpreendente. Não cabe aqui contar qual a história dessa pessoa, pois a surpresa é chocante. E nos faz refletir se é certo ou errado possuir armas. Mas uma coisa é certa, apenas o cidadão comum usa armas, muitas obsoletas. Os marginais possuem equipamentos, que por vezes, são de uso restrito das Forças Armadas e policiais.

Cotação: bom
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

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