sexta-feira, julho 21, 2006
Crash - No Limite (por Carol Witczak)
Premiado com o Oscar e do Globo de Ouro, Crash - No Limite, inicia com um rapaz negro dizendo que em Los Angeles, as pessoas não se tocam mais e que para sentir alguma coisa, elas se chocam. Na hora, pensei, estranha teoria. Então, troca de cena, Jean, a personagem de Sandra Bullock e seu rico marido são assaltados em uma avenida da cidade californiana. No que essas duas cenas podem relacionar-se?
Para mim, segundo o diretor, Paul Haggis, o que ele queria mostrar era como pessoas desconhecidas podem afetar-se em suas vidas sem se olharem, se tocarem e mesmo saber que a outra existe. No desenrolar da história, os destinos de vários personagens se cruzam. Como o de um chaveiro hispânico, trabalhador de classe média baixa, que havia se mudado com sua família parea um bairro mais calmo, para fugir dos tiros. Há uma cena encantadora em que ele vai dar aquela espiadinha na filhinha, de aniversário, antes de dormir e a pequena se encontra em baixo da cama. Ela pergunta: Papai, as balas correm longe? E se aquela bala que passou pode chegar até aqui? O pai, então, conta a ela que havia ganhado da sua fada madrinha uma capa, e que podia dar à sua filha quando completasse 12 anos. Uma capa por onde não passava bala alguma. Seu melhor presente de aniversário. É comovente.
Há também o diretor de cinema e sua mulher, que, voltando de uma premiação e que são submetidos à uma situação de total humilhação por policiais que tiveram um dia de fracasso. Um dos tiras faz com que o cineasta, negro, assista a sua mulher ser submetida a uma revista que beira o estupro. Assim, situações de humilhação e preconceito vão intercalando-se. É um racismo intrínseco, o racismo que tem a mesma motivação dos preconceitos com estrangeiros, com homossexuais, com deficientes: o desejo humano de padronizar, de excluir e de incluir.
Crash nos passa que a culpa de tanta intolerância é do coração humano, insatisfeito e magoado por natureza. Depois de tantos documentários sobre o tráfico e sobre como funciona a vida das pessoas que são submetidas àquele modo de vida, não cabem mais as visões preconceituosas. Nesse caso, Los Angeles é a célula de foco, mas num país como o Brasil, as coisas não são diferentes. Talvez, agora, eu comece a entender que alguns artifícios realmente são utilizados para que possamos espantar o vazio, se em L.A. os indivíduos não se tocam, aqui tocamo-nos até demais, no país do futebol, carnaval, mulher pelada, cerveja...
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