quinta-feira, agosto 27, 2009

OS NORMAIS 2







Se a comédia Se eu fosse você 2 era medíocre tanto quanto a sua primeira parte, OS NORMAIS 2 - A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS, de José Alvarenga Júnior, consegue superar o primeiro filme e é tão divertido quanto os episódios da série televisiva - que foram ao ar na Rede Globo na primeira metade desta década.
Em Os Normais 1, Rui (Luis Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres), é mostrado quando a hilária dupla acaba conhecendo-se, quando estavam para se casar com outras pessoas. Agora, em OS NORMAIS 2, o casal, já com 13 anos de noivado, vive a crise de quem está muito tempo junto. Não há mais novidade no relacionamento e está tudo mais do que morno. A palavra certa seria frio, mesmo. Então Rui e Vani decidem fazer um menage a trois, ou seja, sexo a três. E ai que a coisa fica divertida. Eles vão em busca de quem tope participar da festinha. E é a hora de os coadjuvantes entrarem em ação, como Drica Moraes, Danielle Winits, Claudia Raia, Daniele Suzuki, Alinne Moraes e Daniel Dantas.
O "timing" das piadas é excelente, por vezes mal emendando uma na outra, mal dando tempo para que o espectador termine de rir da primeira. E claro, Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres estão ótimos, mostrando que tem uma perfeita sintonia e deixando aquele gostinho de "quero mais" para o espectador. Como disse Fernandinha num programa de televisão: "a gente teve o senso de terminar a série no auge". Isso mantém Os Normais no coração de seus fãs.
Cotação: ótimo
Chico Izidro

SE BEBER, NÃO CASE





Há muito não e via uma comédia tão escrachada e que foge ao estereótipo jovens querendo perder a virgindade ou paródias de filmes de sucesso de Hollywood, SE BEBER, NÃO CASE (The Hangover, de Todd Phillips), quatro amigos partem para Las Vegas para comemorar a despedida de solteiro de um deles, Doug (Justin Bartha, de A Lenda do Tesouro Perdido). Tudo parece correr bem, mas no início da noite, após brindarem, eles apagam e acordam pela manhã num apartamento completamente destruído, com um tigre no banheiro e uma galinha correndo pelos cômodos. E Doug? Ele simplesmente desapareceu.
A partir daí, os três remanescentes: Phil (Bradley Cooper, de Ele não está tão afim de você), Ed Helms (The Office, versão americana) e o paspalhão Alan (Zach Galiafinakis, de Jogo de Amor em Las Vegas) tentam remontar o que aconteceu na noite passada, porém não recordam de nada, simplesmente nada. E tão perdidos quanto eles fica o espectador, que entra na brincadeira. Uma hora eles são perseguidos por uma gangue de chineses, sem entender o porque, noutra encaram o ex-pugilista Mike Tyson e um deles até descobre que na bebedeira perdeu um dente e acabou casando com uma prostituta, a bela Jade (Heather Graham, de Austin Powers). As piadas se sucedem como uma avalanche, mas o melhor está no final, quando o da explicação do que houve na noite da bebedeira. Então, um aviso: não abandone o cinema quando começarem os créditos.
Cotação: ótimo
Chico Izidro

JCVD





Nada melhor do que um astro de Hollywood saber tirar sarro de sua própria decadência. Neste caso, falo de Jean-Claude Van Damme, que estrela o quase depressivo JCVD, de Mabrouk El Mechri. Note que o título do filme remete as iniciais do ator, que teve seu auge entre o final da década de 1980 e a primeira metade dos anos 1990, depois entrando em franca decadência, chegando ao cúmulo de participar de um programa de Gugu no SBT, onde teve uma ereção ao ver uma dança sensual de Gretchen.
Em JCVD, ele interpreta a si mesmo. Sem emprego e quase sem dinheiro, ainda enfrenta um processo de divórcio e briga pela guarda da filha, Jean-Claude Van Damme decide retornar à sua terra natal, Bruxelas. Lá vai a uma agência de correios buscar uma encomenda, mas como tudo na sua vida está dando errado, acaba chegando na hora de um assalto. É feito refém, mas para as autoridades, é visto como o líder do crime. JCVD remonta a Um dia de Cão, com Al Pacino, principalmente na figura de um dos criminosos, que usa o cabelo exatamente como o personagem de John Cazale no clássico policial de 1975. Numa parte emblemática de JCVD, Van Damme fala diretamente para a câmera, desabafando sobre o que deu de errado em sua carreira.
Cotação: bom
Chico Izidro

ARRASTE-ME PARA O INFERNO





Sam Raimi, de Homem-Aranha, decidiu voltar aos anos 1980, quando estreou no cinema com o terrir Uma Noite Alucinante. Desta vez, depois do sucesso do aracnídeo, ele decidiu brindar os seus fãs com um revival, no divertido ARRASTE-ME PARA O INFERNO (Drag me to Hell). A história é atolada de clichês, mas não deixa de pregar os seus sustos e também o de fazer o espectador se mijar de rir na poltrona.
A bonitinha Christine (Alison Lohman, de Os Vigaristas, onde fez parceria com Nicolas Cage) trabalha num banco e sonha em ser auxiliar de gerência. Para tanto, tem de deixar de ser boazinha e negar a extensão de uma hipoteca para uma velhinha cigana, que por vingança, roga-lhe uma praga. Christine tem então, três dias para se livrar do mal. E daí em diante é uma sucessão de objetos voando em direção à heroína, que também é jogada sobre os móveis, é arrastada pela casa por um ser invisível, no melhor estilo Uma Noite Alucinante, além de vômitos, vermes rastejantes. O seu namorado, Clay (Justin Long, de Duro de Matar 4), evidente, acha que a moça está tendo alucinações. No meio de tanta nojeira, quem estiver atento, pode se tocar da pegadinha que dará conclusão ao filme, no melhor estilo M. Night Shyamalan, mas com mais estilo.
Cotação: bom
Chico Izidro

A CULPA É DO FIDEL






Uma garotinha tem a vida mudada na Paris do começo dos anos 1970 depois que os pais decidem largar a vida burguesa e se engajar na luta contra a ditadura de Augusto Pinochet no Chile. Este é o mote de A CULPA É DO FIDEL (La Faulte à Fidel, de Julie Gravas). Para Anna (Nina Kervel-Dey), o comunismo é o culpado de todos os males e sua vida não sofreria as modificações que vem aparecendo. Ela sofre ainda a influência de um empregada, que fugiu de Cuba e vive reclamando de Fidel Castro e sua "ditadura".
Apesar de o filme ser francês e lidar com um tema que agrada aos intelectuais, deixa muito a desejar. A protagonista, a pequena Nina Kervel-Dey não tem empatia e para quem não está familiarizado com o tema pode se achar perdido ou melhor, sente-se perdido. Sim, eu acho que A CULPA É DO FIDEL deveria ser mais didático. Apresenta muitas cenas soltas, sem explicações. Pensando por outra ótica, até podemos nos colocar no papel de Anna - ela, assim como o espectador, está perdido com os acontecimentos.
Cotação: regular
Chico Izidro

A ERA DO GELO 3




Em A ERA DO GELO 3 (Ice Age 3: Dawn the Dinossaurs, do brasileiro Carlos Saldanha), a turma liderada pelo mamute Manny, que prepara-se para ser pai, sai para salvar o desastrado bicho-preguiça Sid, que foi parar num mundo dominado pelos dinossauros. A alusão é clara ao clássico Viagem ao Centro da Terra, de Julio Verne. Mas aqui o filme também trata de amizade, de responsabilidade. Isso para o público infantil e adolescente. E o público adulto também não foi esquecido, com algumas piadas sacanas, uma inclusive aludindo ao suposto homossexualismo de um dos personagens (a criançada passou batida nesta). E não dá para esquecer da eterna briga do esquilo Scrat em tentar capturar aquela noz fujona. E desta vez ele tem a concorrência de uma esquilinha, que aproveita a paixão de Scrat por ela,para fazer gato e sapato do bichinho trapalhão. Já os desenhos estão mais perfeitos, mostrando todo o esmero com que a equipe de Carlos Saldanha trabalhou nesta quase obra-prima da animação.
Cotação: regular
Chico Izidro

quinta-feira, agosto 13, 2009

BRÜNO






O comediante inglês Sacha Bahen Cohen já havia subvertido a comédia com o debochado Borat, onde ele interpretava um repórter do Cazaquistão que mostrava o pior dos Estados Unidos. Agora, em BRÜNO, direção de Dan Mazer, Sacha Bahen-Cohen é o repórter gay austríaco de mesmo nome, que circula pelo mundo fashion europeu, até ser demitido. Então ele parte para Los Angeles, com o objetivo de fazer sucesso no meio das celebridades do cinema hollywoodiano. Com falsos alegados 19 anos, fã de Hitler (Bahen-Cohen, detalhe, é judeu) e extremamente afetado, Brüno choca ao fazer um piloto de um programa onde mostra explicitamente suas partes pudendas. As cenas são de corar os mais pudicos e muita gente, com certeza, vai abandonar a sala de cinema nos seus primeiros 15, 20 minutos.
Numa delas, ele transa de todas as formas com seu namorado, usando os equipamentos mais insólitos. Em outra, Brüno entrevista Paula Abdul usando trabalhadores ilegais mexicanos como cadeiras. E a coisa não para por aí. Como em Borat, Brüno faz entrevistas com desavisados, que não sabem da existência do humorista, como um pastor que garante poder curar homossexuais, o líder de um grupo extremista palestino, participa de um swing, onde tenta cantar um dos participantes e numa caçada irrita tanto um dos caçadores, que este quebra a câmera. Mas o melhor está reservado para a parte final, onde Brüno se engalfinha com o amante num ringue de vale-tudo em Arkansas, um dos estados mais preconceituosos dos Estados Unidos. Os dois quase são linchados pela multidão enfurecida. Brüno, enfim, supera as expectativas, é hilário ao extremo, fazendo com quem o assista de mente aberta quase chore de tanto rir.
Chico Izidro

TEMPOS DE PAZ






Com o final da II Guerra Mundial, o planeta passou a ser uma grande alfândega, onde pessoas se deslocavam para todos os lados em busca de um novo lar ou fugindo por causa de crimes cometidos. É neste clima que chega ao Brasil o polonês Clausewitz (Dan Stulbach) no drama TEMPOS DE PAZ, de Daniel Filho. Ele desembarca no Rio de Janeiro, ainda capital do país e respirando os estertores da ditadura de Getúlio Vargas. Sua atitude por deveras alegre, sua facilidade em falar o português levam a polícia da imigração a desconfiar que ali não está um simples agricultor, como ele alega ser, e sim um possível criminoso de guerra. Clausewitz cai, então, nas garras do ex-torturador Segismundo (Tony Ramos), que durante longas horas tentará descobrir quem realmente é o polonês. Stulbach, que é ironicamente chamado de "o Tom Hanks brasileiro", demonstra mais uma vez ser um excelente ator, enquanto que Tony Ramos, com todo o respeito a sua longa biografia na tevê, não convence em nenhum momento, assim como já fora lamentável nos esquecíveis Se Eu Fosse Você I e II. E a história de Daniel Filho pretende ser uma homenagem aqueles que vieram para o Brasil após a guerra, porém se mostra fraca, com vários ganchos mal-resolvidos, como por exemplo o próprio personagem interpretado por Daniel Filho, o doutor Penna. Recém liberto da prisão, ele circula pelo Rio de Janeiro em busca de seu ex-torturador, não se sabe se em busca de vingança, ou se busca olhar nos olhos do policial e perguntar o por quê. E para por aí. Perde-se uma ótima oportunidade para contar com clareza como o Brasil, que no começo da guerra recusou milhares de refugiados e no final, abriu suas portas aos sobreviventes da maior tragédia do século passado.
Chico Izidro

BEM-VINDO






O garoto Bilal (Firat Ayverdi) tem dois grandes sonhos na vida: chegar à Inglaterra para jogar pelo Manchester United e também encontrar a namorada, Mina (Derya Ayverdi), que não vê há vários meses. O problema é que ele está ilegal na França, depois de passar três meses caminhando entre o Iraque e o país europeu. Agora, um problema à sua frente: cruzar o Canal da Mancha. Este é o mote de BEM-VINDO, de Phillipe Lioret. O drama de Bilal retrata bem o que sofrem os imigrantes na Europa, principalmente com o preconceito. Numa cena emblemática, após um grupo de imigrantes ser impedido de entrar num supermercado, sob o olhar indiferente das pessoas, um dos personagens centrais da trama diz para outro: "Por que você não fez nada?" e ouve como resposta: "O que eu poderia fazer e além do mais não quero arranjar problemas", para ouvir em seguida: "Acho que terei de comprar um livro de história para você!". Chocante.
Voltando a Bilal, ele quer atravessar o Canal da Mancha, que separa a França da Inglaterra, e ganha o apoio do professor de natação Simon (o ótimo Vincente Lindon), que mesmo sabendo estar indo contra a lei e com uma separação incômoda em sua vida, não desiste de ajudar o garoto de 17 anos. Bilal, não bastasse a perseguição na França, ainda vem de uma etnia perseguida no natal Iraque, ele é curdo, povo perseguido cruelmente no período da ditadura de Sadam Hussein.
O término de BEM-VINDO é marcante, mostrando um jogode futebol entre o Manchester United e o Lyon francês. Pode-se ali fazer uma leitura de que apesar da crescente xenofobia na Europa, o futebol, com sua crescente importação de jogadores de todas as partes do mundo, supera as barreiras do preconceito. Pelo menos dentro das quatro linhas...Chico Izidro

O GUERREIRO GÊNGIS KHAN






O cineasta russo Sergei Bodrov criou um épico à moda antiga, que recorda muito aqueles clássicos dos anos 1960 como Lawrence da Arábia, El Cid e Dr. Jivago, entre outros. O GUERREIRO GÊNGIS KHAN, que pretende o diretor transformar em trilogia, retrata a ascenção do mongól Temudjin (na infância Odnyam Odsuren e na fase adulta o excelente ator japonês Tanadobu Osanu), que aos nove anos já mostrava ter muita personalidade. Primeiro, contraria o pai e escolhe a própria noiva. E depois, ao ficar órfão, após o assassinato do pai, foge, pois passa a ser jurado de morte por aqueles que passaram a dominar sua tribo. A vida de Temudjin passa, então, a ser um turbilhão, prisões, escravidão, fugas, mais prisões. Porém sua determinação em ser um homem livre e ter sua própria clã, além de recuperar sua noiva, a bela Borte (Khulan Chuluun), o fazem superar todos os percalços.
O filme vai somente até Gêngis (que significa ferocidade) Khan unir várias tribos, após uma épica batalha contra outras tribos mongóis. Como se sabe, depois ele conquistaria a maior parte do mundo conhecido na época, entre os séculos XII e XIII. O GUERREIRO GÊNGIS KHAN prima por excepcionais cenas das estepes da Mongólia - e vale a pena citar que apesar de ser um dos maiores países em extensão territorial do mundo, ele tem hoje apenas 3 milhões de habitantes -, com batalhas filmadas em câmera lenta, o que por muito diminui o impacto da violência para aqueles que não suportam sangue. A música também é algo a destacar, com seu canto gutural típico da região, que perpasa cada minuto deste belo filme de guerra, sangue, amor e vingança (desculpem-me o clichê). Chico Izidro

quinta-feira, agosto 06, 2009

KILLSHOT - TIRO CERTO



O deformado Mickey Rourke, que foi um galã nos anos 1980, havia voltado com tudo no ótimo O Lutador, onde interpretava um profissional da luta livre. Agora, em KILLSHOT- TIRO CERTO (KILLSHOT, de John Maden), Rourke e Blackbird/Armand, um índio e assassino de aluguel, que após um trabalho onde cometeu um equívoco, tem de se esconder. Ao mesmo tempo, ele conhece o jovem marginal Richie Nix (Joseph Gordon-Levitt, do seriado Third Rock From the Sun e do filme G.I. Joe, A origem de Cobra), que ao conviver com Blackbird, revela ser um serial killer e por demais tagarela. Os dois tentem um golpe contra uma imobiliária, que sai errado. Mas são vistos por Wayne e Carmen Colson (Thomas Jane, de O Justiceiro, e Diane Lane, linda nos seus 50 anos), que está em processo de separação. O casal passa a ser perseguido pela dupla de criminosos, num verdadeiro jogo de gato e rato, lembrando os melhores momentos dos filmes de Joel e Etan Coen. A trama, apesar de não guardar muitos segredos para o seu final, é instigante e não deixa ninguém tirar o olho da tela por nenhum momento.
Chico Izidro

O CONTADOR DE HISTÓRIAS



Vou começar com aquela frase clichê: baseado em fatos reais, O CONTADOR DE HISTÓRIAS, de Luiz Villaça, conta a história real do ex-garoto de rua Roberto Carlos Ramos( aqui interpretado pelos atores Marco Antônio Ribeiro na infância, Paulo Henrique Mendes na adolescência e Clayton dos Santos Silva no começo da fase adulta). Inácio Araújo, crítico da Folha de S. Paulo, arrasou o filme, classificando-o como ruim. Não cheguemos a extremos. Não é uma maravilha, mas está longe de ser um péssimo filme. O CONTADOR DE HISTÓRIAS inicia-se em 1978, quando a mãe de Roberto Carlos, acreditando numa propaganda da Febem de que a instituição poderia ajudar o garoto, já que ela com 10 filhos, não conseguia "dar conta" de criar todos. O menino, sonhador, também imaginava que estaria entrando num mundo mágico, com palhaços, brincadeiras, até ver a realidade cruel. A Febem, no entanto, não era nada daquilo que as propagandas governistas pintavam. Roberto Carlos acaba se perdendo e vai parar nas ruas, é preso, volta para a instituição, foge de novo e assim sua vida segue pelas ruas de Belo Horizonte, numa boa resconstituição de época.
O destino de Roberto Carlos começa a mudar no dia em que ele conhece a pedagoga francesa Margherit (a portuguesa Maria de Medeiros, de Henry e June), que acreditava poder salvar o menino da marginalidade. Ele, no começo, se mostra irrecuperável, mas vai cedendo aos poucos, após descobrir o mundo dos livros, principalmente 20 mil léguas submarinas e a paciência da francesa com ele.
O CONTADOR DE HISTÓRIAS tem momentos repetitivos e quase cansativos, como por exemplo o garoto se tranca no banheiro da casa de Margherit. Porém isso simbolicamente siginifica a paciência e a persistência da pedagoga. Outra cena emblemática é quando ela e a diretora da Febem (Malu Galli) fumam durante longos minutos e colocam as bitucas no cinzeiro: o final de uma era? Entre altos e baixos, O CONTADOR DE HISTÓRIAS se salva. Detalhe: a história é narrada em off pelo próprio Roberto Carlos, hoje quarentão e pai de 13 filhos adotivos, todos ex-garotos de rua. E é considerado um dos 10 maiores narradores de histórias do mundo, dando palestras e fazendo apresentações em empresas e escolas.
Chico Izidro

G.I. JOE - A ORIGEM DE COBRA



Existem filmes para guriazinhas e para os cuecas. G.I. JOE - A ORIGEM DE COBRA, de Stephen Sommers, é feito sob medida para os meninos. As mulheres vão odiar. G.I. JOE é o famoso Comandos em Ação, que fez sucesso em versão animada na década de 1980. Nada de novo por aqui. O vilão McCullen (o careteiro Christopher Eccleston) quer dominar o mundo e para isso, pretende destruir as principais cidades do planeta. Para isso, aplica um golpe na Otan, que financia um projeto seu. Para deter o vilão e seus asseclas, entram em ação, ops, o grupo especial, capitaneado pelo general Hawn (Dennis Quaid). A trupe de integrantes como Duke (Channing Tatum), Ripcord (Marlon Wayans) vai combater o grupo onde destaca-se a vilã Ana (a maravilhosa Sienna Miller), que protagoniza um "cat fight" com Shana Ohara (Rachel Nichols), de deixar os homens endoidecidos. Muitos efeitos especiais, explosões e um dos vilões que é uma cópia descarada de Darth Vader, inclusive com a respiração ofegante. Olha, é bom para se ver numa sessão da tarde e era isso.
Chico Izidro

BAADER-MEINHOF GROUP



O Baader-Meinhof Group foi um dos vários grupos terroristas que agitaram o mundo nos anos 1970, ao lado das Brigadas Vermelhas na Itália, do ETA, na Espanha, dos palestinos da OLP. O diretor alemão Uli Edel, de Christiane F., Drogada e Prostituída, pisou na ferida ao tocar em assunto tão grave para a Alemanha naquele período, ao contar a história do grupo em BAADER-MEINHOF KLOMPEX desde o seu surgimento, no final dos anos 1960 até 1978. Os seus integrantes seguiam cegamente os líderes Andreas Baader (Moritz Bleibtreu, excelente como o terrorista fanático que não media as consequências de seus atos) e a jornalista Ulrike Meinhof (Martina Gedeck), que largou uma vida de classe média e duas filhas pequenas para entrar no submundo. Mesmo depois de presos após cometerem crimes violentos na Alemanha, eles continuaram a ter seguidores na Alemanha, que continuaram com atentados, assassinatos e sequestros. O objetivo do BMG era o de tentar impedir que a Alemanha se transforma-se num estado policial, como o fora na época do nazismo. E isso só poderia ser alcançado através da luta armada, mesmo que custasse a vida de inocentes. O grupo, com o tempo, ficou sem razão de ser. Em 2008, um de seus últimos integrantes foi solto após 25 ano de prisão.
Os líderes se suícidaram na prisão, primeira Ulrike em 1976, e depois Baader em 1977, este depois que uma tentativa de sequestro de um avião naufragou. A reconstituição de época é primorosa, desde aquele figurino kitsch do período, os personagens fumando sem parar e descarregando filosofias jurássicas da luta da esquerda contra a direita. Aí fica uma pergunta que pode ofender muita gente: se os integrantes do BMG eram contra o sistema capitalista, por que não se mudaram para o outro lado do muro, onde então imperava a então Alemanha Oriental?
Chico Izidro

HALLOWEEN - O INÍCIO



No ano passado chegou aos cinemas a origem do psicopata Jason Vorhees. Agora é a vez da origem de outro serial killer que usa máscara: Michael Myers. HALLOWEEN - O INÍCIO, de Rob Zombie (líder da banda metal White Zombie), mostra a infância perturbada de Myers numa família disfuncional. O garoto (Daegh Faersh) vive usando uma máscara de palhaço e sofrendo com a estupidez do padrasto e da irmã mais velha. Seu suporte é a carinhosa mãe (Sheri Moon Zombie) e a irmãzinha caçula. Numa noite de Halloween, ele, que costumava torturar e matar animais, como o fazem trocentos psicopatas, mata os familiares que lhe incomodavam e vai parar numa instituição, onde passa a ser supervisionado pelo médico Samuel Loomis (Malcolm McDowell, de Laranja Mecânica). Após 15 anos e com mais de dois metros de altura, Myers foge do manicômio e vai em busca da irmãzinha, que foi adotada por uma família de classe média. E no caminho vai deixando uma trilha de assassinatos brutais. E nada de novo. Como em todos os filmes da série, a questão é (e isso já escrevi antes) saber quem será a vítima da hora. HALLOWEEN - O INÍCIO ainda sofre com cortes abruptos em várias cenas, pois elas teriam sido consideradas fortes demais (são cerca de 20 minutos, para poder adequar a censura de 18 para 14 anos). Porém quem se propõe a ver um filme desses não precisa quem lhe diga o que deve ou não deve ver. Enfim, é um filme que não acrescenta nada e chega a irritar com tantos berros e correrias.
Chico Izidro

INIMIGOS PÚBLICOS



INIMIGOS PÚBLICOS (PUBLIC ENEMIES, de Michael Mann, de Colateral, Miami Vice e Fogo Contra Fogo) nos remete à década de 1930, em plena era da depressão norte-americana. Era um período em que a máfia prosperou, principalmente com Al Capone. Um ladrão de bancos ficou famoso na época, John Dillinger, que aqui é interpretado por Johnny Depp, sempre competente e sem fazer muita força, pois parece ter nascido para fazer papéis de "gauches" na vida. Queridinho da imprensa por ser um ladrão que roubava bancos, mas não tocava no dinheiro dos clientes que estivessem na agência na hora dos roubos, era chamado de Robin Hood. Bom vivant, acaba caindo de amores pela mestiça de mãe índia com pai francês Billie Frechette (Marion Cotillard, de Piaf, um Hino ao Amor). E Michael Mann fixa muito suas história neste romance, que acabará sendo um dos principais culpados pela queda de Dillinger. O ladrão teria uma morte que remete a Bonnie e Clide, com Warren Beatty e Faye Dunaway. INIMIGOS PÚBLICOS é violento, assim como era àquela época, com cenas bem-feitas de tiroteiros, fuzilamentos, assaltos a bancos. O diretor bebeu bem nas fontes como o já citado Bonnie e Clide, além de O Poderoso Chefão e Os Intocáveis. Só que é um filme que não dá vontade de ver outra vez. Acabou. Passemos para a próxima.
Chico Izidro

KAPO



KAPO (KAPO, do diretor esquerdista italiano Gillo de Pontecorvo) é um filme menor na filmografia do cineasta, e lançado agora no Brasil em DVD. Não que o filme seja ruim, ao contrário. Trata do holocausto e perde sua força em relação as centenas de filmes feitos sobre o tema sobre o maior crime do século XX - o extermínio dos judeus pelos nazistas. A trama gira em torno da adolescente Edith (Susan Strasberg, filha do diretor Lee Strasberg), que para sobreviver num campo de trabalhos forçados muda de identidade, graças a ajuda de uma prisioneira e de um médico. De judia, ela passa a condição de prisioneira-criminosa, usando um triângulo preto no lugar da Estrela Amarela, que identificava os judeus. E quando as coisas pioram - se é que num campo de concentração as coisas podiam ficar piores -, a garota aceita o cargo de kapo, ou seja, guarda das prisioneiras, que recebe algumas mordomias, como maior ração e alojamento melhor. A atriz Susan Strasberg é fraca e não consegue transmitir a desesperança de uma prisioneira num campo de morte, ao contrário dos atores coadjuvantes. Algumas mulheres parecem mesmo ter saído direto de Auschwitz para os sets de filmagem. Em KAPO, porém, Gillo de Pontecorvo semeava as plantinhas paar sua obra, A Batalha de Argel, clássico esquerdista de 1966, que tratava da independência da Argélia da França em 1962.
Chico Izidro

A PROPOSTA



A PROPOSTA (THE PROPOSAL, de Anne Fletcher, 2009) é daqueles filmes que não acrescentam nada em nossas vidas. Tá, vá lá, talvez uma hora e meia de relax na sala de cinema e só. Totalmente previsível, mostra a relação belicosa entre Margaret Tate (Sandra Bullock, repetindo o mesmo personagem cruel de Meryl Streep em O Diabo veste Prada, mas sem a mesma força) e o secretário Andrew (Ryan Reynolds). Da noite para o dia, a bruxa, como é chamada por seus subordinados, fica sabendo que será deportada para seu país natal, o Canadá, pois seu visto de permanência não foi renovado. Para evitar a expulsão dos Estados Unidos e obter a cidadania, ela praticamente obriga Andrew a mentir para o departamento de imigração que eles mantém um relacionamento e pretendem casar. O rapaz, com medo de perder o emprego, cede e a dupla passa a ser investigada, para ver se o namoro não passa de uma farsa. Para aumentar a mentira, os dois têm de passar um final de semana juntos, com a família dele...no Alasca. E aí você já pode prever o que vai se suceder, entre umas boas piadas, principalmente quando surge a avó de Andrew, Betty White (a Rose, do clássico seriado dos anos 1980 As Supergatas). Mas tão logo as luzes do cinema se acendem, o filme é rapidamente esquecido.
Chico Izidro

EFEITO BORBOLETA: REVELAÇÃO



Existem cineséries que não justificam sua existência. É o caso de EFEITO BORBOLETA: REVELAÇÃO, de
Seth Grosmann. Este é o terceiro filme da série. A história, para quem viu a primeira ou segunda partes, é conhecida. Um personagem tem o poder de se teletransportar para o passado. O problema é que ele não pode interagir com ninguém, pois isso altera os acontecimentos futuros. Nesta terceira parte, Sam (o fraco Chris Carmack, a cara de David Beckham) ajuda a polícia na solução de crimes. Até que recebe o pedido de ajuda da irmã de uma antiga namorada sua, assassinada há 10 anos, e cujo possível matador está no corredor da morte e será executado em uma semana. A jovem traz provas de que o assassino possa ser inocente. No início Sam se mostra reticente em aceitar o caso, mas acaba cedendo e isso vai alteraldo, incessantemente, os fatos, até que ele passa a ser o suspeito de vários crimes praticados pelo Assassino da Serra. Lá pela quarta, quinta viagem no tempo, a história se esgota, tornando-se cansativa e claro, repetitiva. Se você não ver este filme, não perderá nada.
Chico Izidro

TONY MANERO



O título enganou e espantou muita gente do cinema, que pensou TONY MANERO, de Pablo Larraín, tratar da infame época disco, imortalizada nas telas por John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite. Bem, TONY MANERO foca-se mesmo nos meados dos anos 1970, porém numa Santiago do Chile sufocada pela ditadura de Augusto Pinochet. Nela, vive o solitário Raúl (o ótimo Alfredo Castro), que tem como maior sonho ganhar um concurso de dança na televisão como melhor imitador do personagem de Travolta. Ele sabe todas as falas do filme americano, que vê seguidamente, num cinema vazio. Raúl veste-se como seu ídolo e quando perguntam a ele qual sua profissão, ele repete: "Sou ele, ele, Tony Manero". Só que neste mundo há um porém muito grave, tão grave quanto a ditadura, que matava os seus inimigos e os atirava no Rio Mapocho, que corta a capital chilena: Raúl é um serial killer, que mata suas vítimas friamente (tá, qual serial killer não mata suas vítimas friamente alguém vai perguntar...). Numa cena emblemática, ele assiste televisão calmamente com uma velhinha, quando passa a socá-la até a morte e depois volta a assistir o programa, como se nada tivesse acontecido. Em certo momento, TONY MANERO fica arrastado, deixando o espectador um pouco sonolento. Na parte final, no entanto, ele ganha novo fôlego e volta a prender a atenção do espectador. Certamente é um filme para ser revisto.
Chico Izidro

A GAROTA IDEAL



Nos primeiros minutos, você até pode achar que é uma comédia das mais descerebradas. Só que enquanto vai rolando o filme, dá para notar que A GAROTA IDEAL (Lars and the Real Girl), de Craig Gillespie, é muito mais do que isso. Numa atuação sensível de Ryan Gosling (o judeu nazista de TOLERÂNCIA ZERO), vemos como comporta-se uma pessoa que tem total horror ao contato com outros seres humanos. Seu personagem, Lars, não consegue relacionar-se com ninguém, nem mesmo com o irmão e a cunhada, que passa o tempo todo querendo que ele tome o café da manhã ou jante com eles. Nem mesmo a paixonite de uma colega de trabalho, Cindy (Karen Robinson), o emotiva. Lars só acaba saindo de sua toca quando compra uma boneca de silicone de tamanho humano e imagina ter uma relação com ela. Conversa com ela, mas nunca faz sexo com Bianca e sim planos para o futuro com a boneca, que para ele é uma missionária que foi criada por freiras e tem metade brasileira, metade nórdica. No começo, todos à sua volta acreditam que ele pirou, mas depois de consultarem uma médica, Dagmar (Patricia Clarkson, da série Frasier e do ótimo filme Fatal, com Ben Kinsgley), é que vem que só entrando no jogo dele é que talvez encontrem a cura para Lars. Uma cena emblemática é quando a médica tenta tocá-lo e Lars arrepia-se todo, dizendo para Dagmar que sua pele está queimando: "Dói, dói", diz ele, que só consegue interagir com Bianca, que sabe ele ser algo irreal e que nunca irá machucá-lo.
Chico Izidro

HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO



Posso estar exagerando, mas HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO (IL Y A LONGTEMPS QUE JET'AIME, de Phillipe Claudel) é até agora o melhor filme do ano. Para começar, tem uma atuação marcante da inglesa Kristin Scott-Thomas como Juliette. Após 15 anos, ela sai da prisão e é acolhida na harmoniosa casa de Léa (Elsa Zylbertein), sua irmã caçula, e com quem teve pouco contato em todo o período em que esteve encarcerada. Juliette cometeu um crime que cria repulsa nas pessoas. Um exemplo é quando vai a uma entrevista de emprego e o possível empregaxdor a expulsa da sala após saber o que ela cometeu. Scott-Thomas, de uma beleza clássica, cria uma personagem fria distante das pessoas e que tem dificuldades de ser tocada. O que lhe amolece o coração é uma das flhas adotivas de Léa, a garotinha vietnamita P'tit Lyz (Lise Ségur), que é outro grande achado do longa. HÁ QUANTO TEMPO QUE TE AMO é sensível, com cenas contemplativas, mas nunca tediosas e que além da beleza de uma pequena cidade francesa, Lorraine, também nos traz outros aspectos da cultura, como literatura, o próprio cinema, música e pintura. Pintura que é este belo filme.
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...