quinta-feira, março 11, 2010

ILHA DO MEDO



A ILHA DO MEDO (Shutter Island) mostra que Martin Scorsese está domando bem Leonardo di Caprio, que tem uma atuação destacada. Baseado em romance de Dennis Lehane, autor de Sobre Meninos e Lobos, este thriller psicológico, passado em 1954, mostra a investigação dos agentes do FBI Teddy Daniels (Di Caprio) e Chuck Aule (Mark Rufalo) num hospital psiquiátrico na tal Shutter Island. A missão da dupla é tentar desvendar o desaparecimento de uma mulher que estava presa por ter assassinado os três filhos.
E quanto mais a investigação se aprofunda, mais Daniels começa a desconfiar existir um complô dos médicos e policiais da ilha. Esses parecem trabalhar para atrapalhar os trabalhos. Ben Kingsley (Gandhi) e Max von Sidow (Minority Report), como dois dos médicos da clínica, não precisam se esforçar muito para mostrar como são excelentes atores. Trabalham quase no piloto automático.
E durante a inevstigação, o detetive também convive com seu pesado passado, pois ainda sofre com a perda da mulher (Michelle Williams, de Brokeback Mountain), morta num incêndio criminoso alguns anos atrás. Daniels acredita que o culpado pela morte da esposa está preso no local.
Scorsese, que pela primeira vez na carreira faz uso de efeitos especiais, mostra-se primoroso ao aplicar uma pegadinha no espectador e que evidentemente não pode ser contada aqui. Mas lembra e muito M. Night Shyamalan e até mesmo o oscarizado Uma Mente Brilhante.
Cotação: bom
Chico Izidro

sexta-feira, março 05, 2010

PRECIOSA



PRECIOSA (Precious, de Lee Daniels) é de uma violência poucas vezes vista no cinema. Não porque tenha tiros e explosões, mas por causa da crueldade com que Claireece Precious (a novata e excelente Gabourey Sidibe) é tratada pela vida. Nascida negra, gorda, num bairro pobre de Nova Iorque, na adolêscencia já é mãe de uma menina com Sindrome de Down, e está grávida do segundo filho. Detalhe: os rebentos são de seu próprio pai, que a estupra sistematicamente desde a mais tenra idade. Além disso, é semi-analfabeta e sofre com os abusos da mãe. Vida pior não poderia ter.
Até que é indicada para uma escola especial, onde pela primeira vez recebe a atenção de alguém, a professora de nome exótico Blu Rain (Paula Patton, de Dejá Vu), que acredita em seu potencial. Claireece se solta, mesmo que aos poucos. Rabisca e une as primeiras letras como nunca havia feito em seus 17 anos.
A atriz e comediante Mo'Nique, desconhecida no Brasil, é quem interpreta a cruel mãe da menina. E que interpretação. Após cinco minutos, já odiamos a mulher com todas as nossas forças. Vive de pensão da assistência social e passa os dias fumando e vendo televisão.
Preciosa sonha em ser alta, esguia e loira e tem momentos de fuga da realidade, quando imagina ter um destino melhor. Porém sempre vem um soco no estômago atrás do outro. Quando as coisas parecem melhorar...sempre pioram.
Quem surpreende é a cantora Mariah Carey, desprovida aqui de qualquer charme, no papel de uma assistente social. Outra participação é do cantor Lenny Kravitz, como um enfermeiro.
PRECIOSA acontece nos Estados Unidos, mas também no Brasil, na Europa, em qualquer lugar do mundo em que pessoas são maltratadas por aquelas que mais lhes deveriam dar uma coisa simples: amor.

quinta-feira, março 04, 2010

O MENSAGEIRO



"O secretário de Defesa lamenta informar..." Esta é a senha para a vida de uma família se desestruturar e o manual que dois soldados utilizam ao comunicar a estas pessoas que seus entes queridos morreram na guerra.
O MENSAGEIRO, de Oren Moverman, aliás, é um dos melhores filmes de guerra da nova safra, em que a guerra passa ao largo. Ela não é mostrada, mas afeta profundamente os seus personagens. Os veteranos do conflito do Iraque, s argento Will Montgomery (Ben Foster), e da Tormenta no Deserto, capitão Tony Stone (Woody Harrelson ), têm como missão avisar o parente mais próximo da morte de um soldado. E eles têm regras que devem ser seguidas à risca - e uma delas é não se afeiçoar a estas pessoas.
As missões são uma pancada no estômago. As interpretações são de uma realidade fascinante. Uma delas, chocante, é quando o personagem interpretado por Steve Buscemi, mais conhecido por atuações em comédias, recebe a notícia da morte do filho. Os minutos em que ele permanece na telona impressionam.
Will, aliás, deixa as regras de lado ao se apaixonar pela viúva de um soldado morto em combate. Abandonado pela ex-namorada, que vai se casar com outro, ele se deixa encantar por Olivia Pitterson (Samantha Morton, de Minority Reporter). E até neste romance acontece o improvável nos filmes atuais, pois Olivia é uma mulher comum, acima do peso e mãe de um garotinho de cinco anos. O momento em que os dois conversam na cozinha da casa de Olivia é também de tirar o fôlego.
Ben Foster, de 30 Dias de Noite e Alpha Dog, tem uma atuação irrepreensível, assim como Woody Harrelson, que estava devendo há um bom tempo, pois seus últimos personagens eram por demais histrônicos. Surpreendente também está Samantha Morton, que foge aos estereótipos de viúva linda e fatal. Um filme para se pensar na inutilidade das guerras.

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS



No ótimo O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de sus Ojos), do diretor argentino Juan José Campanella, o oficial de justiça Benjamín Esposito (o sempre ótimo Ricardo Darín) aposentou-se e decidiu escrever um romance sobre um caso ocorrido há mais de 25 anos e que sempre lhe tirou o sono, o estupro e assassinato de uma jovem professora recém-casada. Para começar a escrever, ele procura a amiga e juíza Irene Menéndez Hastings (a bonita e excelente Soledad Villamil), por quem nutre uma paixão platônica.
A história é contada em forma de flash-back, começando em 1974, quando a Argentina já começava a se preparar para entrar numa ditadura terrível. Esposito suspeita que o assassino seja um rapaz que em várias fotos observa atentamente a vítima - aí a explicação do segredo de seus olhos. Então ele e seu parceiro, o alcoólatra Sandoval (o impagável Guillermo Francella, que tem os momentos cômicos e que cômicos do filme), saem em busca do suspeito, chegando a burlar as normas jurídicas vigentes no país, para irritação de superiores.
Numa cena extremamente bem filmada, começando por uma vista aérea, a câmera penetra em um estádio lotado, onde torcedores gritam o nome do time de futebol Racing. E de repente vemos a dupla de detetives em busca do suspeito, Gómez (Javier Godino), numa correria pelas galerias do estádio. Cena de perder o fôlego.
O SEGREDO DOS SEUS OLHOS acaba de forma surpreendente, pegando de sobreaviso o mais atento do espectador.
Cotação: excelente
Chico Izidro

SIMPLESMENTE COMPLICADO



Ver um filme com Meryl Streep é sempre agradável (desde que aí não seja incluído o terrível O Rio Selvagem). SIMPLESMENTE COMPLICADO (It's Complicated, de Nancy Meyers) é um desses casos. Uma comédia desprentensiosa, mas com seu charme. Meryl Streep é Jane, dona de uma confeitaria, que após dez anos divorciada e sem namorado, começa a se ver na iminência de ficar sozinha. Uma filha vai para a faculdade, outra vai se casar e o filho se formou e certamente não morará com ela. A alegria dela é se reunir com as amigas uma vez por semana e se embebedar.
As coisas começam a mudar para Jane quando na formatura do filho, ela acaba, depois de muitas garrafas de vinho, tendo uma recaída com o ex-marido, Alex Baldwin, engraçadissimo. O problema é que ele está casado com uma mulher mais jovem e tem um enteado de cinco anos, um verdadeiro pentelho. Jane e Jake iniciam um caso, com todos os percalços que se possa imaginar e tendo de esconder a situação da família.
Com Jake de volta, começa a "chover na horta" de Jane, que conhece um arquiteto, o tímido e reservado Adam (Steve Martin, quase repetindo aqui o personagem de A garota da vitrine, e isso é um elogio). Apaixonado por Jane, Adam fará com que ela repense a vida. Uma cena imbatível da dupla é quando fumam um baseado escondidos, como se fossem dois adolescentes, numa festa. O final, claro, não anteciparei aqui. Mas foge um pouco ao convencional. E mostra que o amor pode, sim, aparecer para as pessoas que não creem mais nele.
Cotação: bom
Chico Izidro

ZUMBILÂNDIA



Temos o terror e o terrir nos filmes de zumbis. Na primeira, clássicos como A Noite dos Mortos-Vivos, Madrugada dos Mortos e Extermínio. Já no terrir temos pérolas como A Volta dos Mortos-Vivos e Todo Mundo Quase Morto. Agora outro engraçado filme sobre os zumbis chega até nós: ZUMBILÂNDIA (Zombieland), de Ruben Fleischer.
O filme já começa arrancando gargalhadas ao som de Metallica e um gordinho tentando escapar de um zumbi num campo de futebol americano. E a primeira regra: esteja em forma para escapar dos mortos-vivos caso contrário você será devorado. Logo depois somos apresentados ao herói da trama, o neurótico Columbus (Jesse Eisenberg), que só vem sobrevivendo ao caos que tomou conta dos Estados Unidos por causa de várias regras que adotou. Ele acaba se unindo a um malucão, Tallahasse (Woddy Harrelson), que vaga pelas estradas a lá Mad Max matando zumbis e atrás de uma guloseima que sumiu das prateleiras dos abandonados supermercados.
Logo se unem a dupla duas garotas, a bonitinha Wichita (Emma Stone, de É Hoje- Superbad) e Little Rock (Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine). As irmãs sobrevivem aplicando pequenos golpes e os dois bobalhões serão vítimas das duas em algumas ocasiões divertidissimas. Aliás, os personagens usam nomes de cidades, pois esta é uma regra: nunca dar seu nome verdadeiro.
A melhor parte de Zumbilândia é quando a trupe chega a Beverly Hills, em Los Angeles, e vai parar na mansão de Bill Murray, no papel dele mesmo. O ator está vivo porque se maquiou de zumbi e segundo ele, zumbis não atacam iguais. Em certo momento, Murray diz que até sai para jogar golfe e ter encontrado Eddie van Halen. "E como ele está?", é questionado. "Ora, ele virou um zumbi". Talvez uma piada interna, com o fato de a banda há anos não fazer nada de novo. O que vem a seguir não posso contar aqui, mas é uma das partes mais hilárias desta comédia, que não é inovadora, mas é por demais divertida.
Cotação: bom
Chico Izidro

IDAS E VINDAS DO AMOR



Sempre digo que Robert Altmann com seu sensacional Short Cuts - Cenas da Vida fez mal para alguns cineastas, que acham que podem copiar o mestre, mesmo sem as mesmas pretensões. O último a cair na armadilha foi Garry Marshall e seu bobo IDAS E VINDAS DO AMOR (Valentine's Day). A trama transcorre no tradicional dia dos namorados nos Estados Unidos, o dia 14 de fevereiro, onde cresce consideravelmente a venda de flores, acontecem casamentos e por que não, rompimentos.
Garry Marshall mostra o dia de vários moradores de Los Angeles e suas histórias românticas, algumas absurdas, como o casal de amigos que não sabem que foram feitos um para o outro, o garotinho apaixonado que quer se declarar para o amor de sua...curta vida. E sobra até para o bobalhão de Ashton Kutcher, o marido de Demy Moore, que chega a irritar com seu personagem pollyana. Tem também a bela mulher, solitária, que odeia o dia dos namorados, o jovem casal que planeja perder a virgindade...
Tudo muito óbvio e sonolento. Marshall acerta, pelo menos, na homenagem a um ícone do cinema, Shirley MacLane, que dança num parque com Hector Elizondo enquanto que ao fundo aparece um de seus antigos filmes, ainda em preto e branco.
Cotação: ruim
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...