quinta-feira, abril 05, 2012

Habemus Papam


O cardeal Melville (o francês Michel Picolli) é eleito, após muito debate, Papa. Só que ele não está preparado para o cargo e tem uma crise de pânico. Em "Habemus Papam", a eleição para o chefe da Igreja Católica é vista com muita ironia e perspicácia, mas nunca de forma debochada pelo diretor italiano Nanni Moretti. O filme faz refletir sobre alguém ter de assumir uma função a qual não se sente preparado.
Melville não deseja assumir o cargo e um famoso psicanalista, o próprio Moretti, é chamado ao Vaticano para tentar solucionar o problema. Encontrará um velho perdido em si e que descobre tardiamente ter desperdiçado muito de sua vida. E aceitando o papado, o dono do cargo se vê obrigado a permanecer na função até seus últimos dias, mesmo não tendo mais condições físicas e até mesmo psiquicas, vide João Paulo II, que no final da vida era um pastiche de si mesmo. Seria a renúncia uma opção?
Melville (homônimo do escritor Herman Melville, autor de Moby Dick) se vê tragado por uma baleia, ao chegar o balcão da Basílica de São Pedro, ver aquela multidão lá embaixo esperando sua saudação. E o que sai de seus lábios? Ele diz não poder aceitar e sai correndo, para espanto dos outros cardeais. Melville acaba escapando pelas ruas de Roma, onde conviverá com os outros mortais e lembrar seus tempos de jovem, onde sonhava em ser ator, objetivo abortado por seu pai. Sua caminhada pela Cidade Eterna lembra muito o filme As Sandálias do Pescador, originado do livro homônimo de Morris West, e interpretado por Anthony Quinn.
Enquanto isso, no Vaticano, os fiéis esperam pacientemente pela revelação do novo Papa, e o psicanalista, ateu convicto, como o diretor, sabendo da identidade do novo chefe da Igreja, se vê impossibilitado de deixar o local. Ele acaba passando o tempo vendo um bando de religiosos medrosos, inseguros e que até acabam entrando num torneio de vôlei criado pelo psicanalista (personagem sem nome), e que mostra, alegoricamente, as diferenças entre os continentes. Será que haverá um dia um Papa africano, ou um da Oceania?
Michel Picolli está ótimo com sua cara de desespero, mas quem rouba o filme são Jerzy Stuhr, como o porta-voz, e Ulrich von Dobschütz no papel do Cardeal Brummer, com desejo intenso de assumir o papado, mas desprezado pelos demais. Divertido é o momento em que são contados os votos e ele questiona o porque de não aparecer na lista. Mais não conto. Habemus Papam trata, enfim, sobre a vocação e o livre arbítrio.

Cotação: bom

Chico Izidro

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