quinta-feira, julho 12, 2012
Na Estrada
A expectativa pela transposição às telas do clássico literário "On The Road", de Jack Kerouac, ficou aquém pelas mãos de Walter Salles. "Na Estrada" é bem estruturado, os atores estão afiados, porém pecou por não explorar detalhes mais substanciosos do romance de um jovem vagando pelos Estados Unidos e México no final dos anos 1940 e começo dos 50.
Sal Paradise, aspirante a escritor, recupera-se da morte do pai e vive em Nova Iorque com a mãe. Então ele conhece o poeta Dean Moriarty, na realidade Neal Cassady. Os dois saem pelos Estados Unidos, principalmente andando de carona ou num carro caindo aos pedaços. Nesta viagem alucinante, eles encontrarão os mais variados tipos de pessoas, farão muito sexo, tomarão todas e usarão muitas drogas.
Foi um período intenso na vida de Kerouac, que mudou seu nome para Sal Paradise a pedido dos editores do livro, lançado em 1957. Tanto que o uso abusivo de drogas e álcool provocou sua morte precoce, apenas aos 47 anos, por causa da cirrose hepática. Salles foi cuidadoso na reconstituição de época e na caracterização de Paradise, vivido por Sam Riley (de A Festa Nunca Termina, sobre a efervescência musical na Manchester dos anos 1980). Riley acaba eclipsado pela bela atuação de Garrett Hedlund (Eragon e Troia), que vive Dean Moriarty. Mais uma vez o coadjuvante supera o protagonista.
Evidente que condensar centenas de páginas em pouco mais de duas horas se torna um exercício praticamente impossível. Por isso, vários personagens foram suprimidos, recebendo destaque Dean Moriarty, sua mulher Marylou (Kristen Stewart, totalmente liberta daqueles tipos anódinos que costuma viver no cinema). E outros são sub-aproveitados, como o escritor Old Bull Lee, na realidade o doidão William Burroughs, cujo intérprete é o sempre excelente Viggo Mortensen.
"Na Estrada" peca também pela lentidão em determinadas cenas - muitas poderiam ser reduzidas. E dar mais destaques à viagem de Sal e Dean ao México, um dos pontos fortes do livro. As drogas e seus efeitos estão lá, mas não com toda a intensidade descrita por Kerouac em "On The Road". Salles dedicou pouco mais de 10 minutos a esta parte interessante do romance, o que acaba por enfraquecer o longa.
Cotação: bom
Chico Izidro
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