Thursday, February 07, 2013

"Amor"

Nunca a velhice foi retratada tão dolorosa e cruelmente quanto em "Amor", do diretor bávaro Michael Haneke. Em meados de janeiro, o ator brasileiro Walmor Chagas suicidou-se, dando um tiro na cabeça, pois aos 79 anos, estava quase cego, com dificuldades de andar, e impossibilitado de fazer as coisas mais simples e que amava, como ler. Optou pelo caminho mais curto para acabar com o sofrimento. Atitude que abre forte discussão. Afinal, ele deveria esperar a hora de sua partida dessa vida ou enfrentar até o minuto final o sofrimento que já permeiava seu ser?

Em "Amor", a bela história de um casal com seus 80 anos e mais de cinco décadas de relacionamento é colocado à prova quando Anne (Emmanuelle Riva, de Hiroshima, Mon Amour) sofre um derrame e fica com o lado direito do corpo paralisado. Seu marido, Georges (Jean-Louis Trintignant, de Paris Está em Chamas?), pacientemente passa a cuidar da esposa, demonstrando o amor intenso que tem por ela. Faz a comida, a leva para cima e para baixo dentro do apartamento, onde transcorre 99% da ação - somente o começo do filme é fora do ambiente, numa ópera. Tanta atenção e carinho chega a receber elogio do zelador do prédio, quando chega com as compras do casal. "Sua atitude é elogiável. Eu o admiro pelo modo como vem conduzindo a situação", diz o empregado.

Fragilizada, Anne vai sofrer outro derrame, que a colocará imóvel na cama. Quase um vegetal. A responsabilidade de Georges aumenta, sua angústia também. Ele vaga pelo enorme apartamento em Paris, o silêncio toma conta do ambiente, só quebrado pelos gemidos de Anne, ou por uma pomba que entra por uma janela aberta. Em flash-backs, Georges recorda sua amada esposa tocando piano. Georges também vê a mulher ser maltratada por uma enfermeira, discute com ela. Os minutos finais são de um silêncio angustiante, a câmera praticamente estática, mirando Georges, que prepara o ambiente para a decisão final. Que choca e faz pensar.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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