quinta-feira, outubro 11, 2012
"Polissia"
Provavelmente nunca a pedofilia foi mostrada de forma tão crua e honesta quanto no drama "Polissia", assim mesmo, escrito como se fosse por uma criança de seis anos de idade. Dirigido por Maïwenn (a cineasta usa somente seu primeiro nome), mostra o dia a dia da Brigada para a Proteção de Menores de Paris, que lida com os crimes contra os menores, principalmente a pedofilia.
O grupo é formado por pessoas dedicadas, que também têm seus dramas pessoais, como separações, traições, paixões. Os policiais são interpretados por atores conhecidos mais pelo público francês, mas alguns deles são facilmente identificados pelos brasileiros, como Karin Viard, de "Potiche, Esposa Troféu", Nicolas Duvauchelle, de "Para Poucos", e Sandrine Kiberlain, de "As Mulheres do Sexto Andar". A própria diretora Maïwenn vive uma fotógrafa que acompanha o cotidiano da brigada. Lidar com pedófilos, espancadores de crianças e pais irresponsáveis destroça essas pessoas.
Os diálogos e algumas cenas são fortíssimos. Em determinado momento, um pai de classe média alta não acha nada de errado transar com a filha de 12 anos. E mesmo sob a ameça dos agentes, dá de ombros, afinal tem "costas quentes", e sabe que nada irá ocorrer com ele. O ator que vive o pedófilo consegue ser completamente repugnante. Noutro momento, totalmente desesperador, uma mãe africana se vê obrigada a deixar o filho pequeno num abrigo, pois ela não tem mais condições de cuidar dele. O desempenho do garoto é de derreter o coração de qualquer um. Aliás, os atores-mirins estão tão magníficos quanto seus pares adultos. E o momento final de "Polissia" é inesperado e chocante.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Ruby Sparks - A Namorada Perfeita"
Qual cara nunca ficou projetando a garota ideal de sua vida? Os nerds de "Mulher Nota 1000" o fizeram em 1985, sob direção de John Hughes. Em "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita", direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris, o escritor solitário e nerd Calvin Weir-Fields (Paul Dano, de Sangue Negro) está tentando escrever um livro, dez anos após sua estreia, quando foi considerado o novo gênio da literatura americana por público e crítica.
Sonhos invadem seu sono, onde uma garota conversa amorosamente com ele. E não é que ao colocar suas ideias no papel, elas terminam por se materializar. A garota, Ruby Sparks, surge como ele idealizou. Carinha de bebê, mesmo que já com 26 anos, pouco glamour, carinhosa. E qualquer característica que Calvin escreve em sua máquina de escrever, sim, ele usa máquina de escrever, transfere-se para a garota.
"Ruby fala francês", dedilha ele. Zap. Ruby aparece despejando fluentemente a língua de Victor Hugo. "Ruby está triste". Pronto. Ruby fica pelos cantos, chorando, inconsolável.
No começo, Calvin acha que a garota é só fruto de sua imaginação, até constatar que ela interage com as outras pessoas. E Ruby é uma garota normal, nada de excepcional. Sem grandes seios, nem bundão, nem beleza extravagante. Ruby talvez seja o alter-ego de Calvin, ou apenas fruto da imaginação do escritor, que enfurnado em sua casa, tenta escrever um novo sucesso e provar não ser apenas o homem de um sucesso só, acabando por ser absorvido pelo livro. "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita" está sujeito a várias leituras e aborda muito mais o mundo masculino. Lembra muito "O Magnífico", de Philippe de Broca, de 1973, com Jean-Paul Belmondo vivendo um escritor que imagina ser um espião secreto e garanhão, compensando assim sua vida frustrada.
Interessante, também, é que o namoro de Calvin e Ruby, mesmo vindo do pensamento do escritor, acaba tendo os contratempos de qualquer relacionamento, com brigas, ciumeiras, marasmo. Ou seja, não existe a perfeição. O filme ainda conta com uma divertida participação de Annette Bening e Antonio Banderas como um casal cinquentão e riponga.
Cotação: bom
Chico Izidro
"A Entidade"
Uma bela ideia desperdiçada. "A Entidade", direção de Scott Derrickson, é um suspense que perde-se no meio do caminho. O escritor Ellison (Ethan Hawke, muito bem) é conhecido e odiado por escrever livros sobre crimes escabrosos e que acabam por expor erros policiais. Com a família, pula de cidade em cidade atrás de suas histórias.
Até que vai parar numa pequena cidade da Pensilvânia, na casa em que todos os membros de uma família, com a exceção da filha menor, foram enforcados numa árvore no quintal. Ellison esconde este fato de sua mulher e filhos, enquanto que se aprofunda no estudo do caso. Então começam os barulhos pela casa, vultos se esgueirando pelos cantos, seu filho tendo pesadelos e a sua filha pintando cenas de crimes pela casa. No meio disso tudo, o escritor encontra uma caixa com filmes em super-8 e um projetor no sótão. Ao ver as imagens, descobre que ocorreram outros crimes tão tenebrosos quanto aquele que investiga. As mortes ocorreram sempre seguindo um padrão: algumas vítimas foram afogadas, outras queimadas e outras degoladas. Seriam obra de um serial killer?
A história torna-se interessante com estes fatores. Só que em certo momento, "A Entidade" perde fôlego, não sabendo para onde ir. Surgem então elementos sobrenaturais, através de uma estranha figura com o visual daqueles vocalistas de bandas de death metal, que abduz criancinhas. Enfim, "A Entidade" acaba tendo um final totalmente anticlimax, decepcionante.
Cotação: regular
Chico Izidro
quinta-feira, outubro 04, 2012
"Busca Implacável 2"
"Kim, preste atenção: eu e sua mãe estamos sendo sequestrados. E eles estão indo atrás de você", sussura o ex-agente secreto Bryan Mills (Liam Neeson) para a sua filha, enquanto é sequestrado em "Busca Implacável 2", direção de Olivier Megaton.
Ao contrário da primeira parte, que ocorre freneticamente em Paris, agora a história começa em Los Angeles e demora para engrenar. Os primeiros 20 minutos são gastos em mostrar características dos personagens. Como, por exemplo, o perfeccionismo de Bryan, que servirá para na sequência ele conseguir livrar-se dos vilões, liderados por Murad Krasniui (Rade Serbedzija). Esse ator, revelado no "Antes da Chuva", vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro em 1994, especializou-se em papéis vilanescos em Hollywood. Murad pretende vingar-se de Bryan, que matou seu filho, o sequestrador de "Busca Implacável 1", com requintes de crueldade.
Então, depois da introdução dos personagens, começa a correria em Istambul. Numa história que apesar de ressaltar o perfeccionismo de seu protagonista, não se sustenta, porque o diretor não preocupou-se com os detalhes e pela incrível forçação de barra do roteiro. Bryan consegue localizar-se na gigantesca cidade turca através do som de granadas explodidas por Kim num estacionamento, ou pelo violino tocado por um velhinho numa rua esburacada. Sem contar que os vilões albaneses têm chances variadas de matar Bryan, mas sempre deixam para depois... E por aí vai.
Os diálogos são um primor, como no primeiro filme. Os personagens se ameaçam, dizem bordões sem o mínimo constrangimento. A gente tenta não rir. Tenta. As cenas são impactantes, mas um apanhado de tudo o que já se viu - perseguições de carros, correria pelos telhados dos velhos prédios de Istambul, os bandidos caindo como moscas após serem alvejados por Bryan, que sofre pouquíssimos arranhões.
Neeson especializou-se de vez em filmes de ação. E o final deixa pistas de que uma terceira parte vem por aí, mesmo que o ator tenha afirmado que não irá participar da nova sequência. "Busca Implacável 2" é muito risível. Mas de tão ruim, chega a ser divertido, para se assistir num sábado à noite. Descompromissadamente.
Cotação: regular
Chico Izidro
"Looper - Assassinos do Futuro"
"Looper - Assassinos do Futuro" se insere na boa tradição das ficções científicas da estirpe de "O Exterminador do Futuro" e "Blade Runner". Não chega aos pés destes clássicos, mas fica bem próximo. A trama envolve viagens no tempo, criminosos insanos, uma mãe tentando proteger seu filho, que terá um significado importante para a humanidade no futuro. Tudo isso num enredo bem engendrado e com atuações excelentes, desde Joseph Gordon-Levitt, passando por Bruce Willis, Paul Dano, a linda Emily Blunt, o veterano Jeff Daniels, chegando ao garotinho Pierce Gagnon.
Num futuro distante, e nada daqueles visuais futuristas, a máfia criou um sistema para livrar-se de seus desafetos, sem deixar rastros. Ela os envia para o passado, mais exatamente em 2044, onde ao chegar, são imediatamente mortos pelos loopers, assassinos profissionais, que em seguida se desfazem dos corpos. Ou seja, sem corpo, não há crime. Muito menos se ele ocorreu no passado.
Os loopers também tem um tempo útil. Quando preenchem determinada cota, recebem uma polpuda recompensa e são dispensados pela máfia, que lhes dá 30 anos para curtir a vida. Passado este período, serão enviados para o passado e também assassinados. Um deles, porém, não aceita este destino e decide se rebelar. Para isso, terá de combater a si mesmo três décadas mais jovem.
O legal que as idas e vindas no tempo são bem elaboradas pelo diretor Ryan Johnson, não dando um nó na cabeça do espectador. E o que dizer de Joseph Gordon-Levitt, destaque em "Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge" e um dos ets no finado seriado "30 Rock From The Sun". Simplesmente genial. O ator, usando uma próteses, ficou igual a Bruce Willis, ainda por cima imitando o tom de voz e os trejeitos do astro de "Duro de Matar", que em "Looper - Assassinos do Futuro", transforma-se em um exterminador, chegando do futuro (trocadilho impossível de não ser feito) para tentar matar um garoto que, décadas depois, poderá a vir a ser o chefe por trás da organização que pretende acabar com os loopers.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Hotel Transilvânia"
A animação "Hotel Transilvânia", direção de Genndy Tartakovsky, traz uma total falta de empatia dos personagens com o público. A filha do Conde Drácula, Mavis, vai completar 118 anos, ou seja, chegar a maioridade, e ganhará uma festa de aniversário que será comemorada no tal hotel, um castelo medieval gerenciado por seu pai e para onde os monstros costumam passar as férias.
A vampirinha deseja muito mais do que uma festa. Mavis quer conhecer o mundo. Porém seu pai não quer isso, pois o mundo evoluiu e os humanos não têm mais medo dos monstros. Pelo contrário, estes acham que os vivos são perigosos e que "roubam os doces" de seres como eles. No festerê, surgem todos os monstros famosos, como Frankstein, Lobisomem, Múmia, Ciclope, entre outros. Só que aparece também um humano, o mochileiro Jonathan, que evidentemente vai se apaixonar por Mavis, para desespero de Drácula.
E o Conde Drácula é, nos dias de hoje, um ser politicamente correto, que não bebe sangue humano, mas sim sintético, a exemplo de seus pares do seriado "True Blood". E ao contrário de outras animações, que vem privilegiando o público adulto em seus roteiros, este filme é prioritariamente infantil.
E os diálogos, dublados, são adaptados para a cultura brasileira - o que é uma pena. Um dos personagens fala, e determinado momento, já ter comprado os ingressos para um festival de funknejo - mais mau gosto impossível. E má educação, né.
Além disso, "Hotel Transilvânia", deixa escapar furos de roteiro facilmente. Um exemplo é o Conde Drácula estar isolado do mundo há décadas, vivendo como estivesse no Século XIX, mas sabe o que é o politicamente correto. Quasímodo, para os leigos, apesar de ser considerado um monstro, é humano. Seu defeito é a corcunda. E o personagem humano, Jonathan, é um dos mais chatos dos últimos tempos - usando um linguajar que se pretende "moderninho" - e completamente alucinado (como Mavis se apaixona por ele é um mistério).
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Que a Sorte Nos Separe"
"Que a Sorte Nos Separe", de Roberto Santucci, é mais uma dessas comédias sem graça nenhuma que vêm sendo produzidas a rodo no Brasil nos últimos anos. O chamariz são atores globais, no caso desta bomba o gordinho Leandro Hassum, uma plastificada Daniele Winitz e Aílton Graça fazendo trejeitos estereotipados de um hétero tentando se passar por gay.
Na trama, o casal Tino e Jane tornam-se milionários, ao ganhar 100 milhões de reais na loteria, jurando nunca deixar de ser eles mesmos. Porém, 15 anos depois, o ex-atleta e a ninfeta mudaram completamente. Completamente idiotizados, com dois filhos adolescentes, vivem esbanjando. E em determinado momento, Tino descobre estar falido. Para contornar a situação e não deixar Jane estressada, afinal ela está grávida, o gorducho aceita a ajuda do vizinho e também gerente de seu banco a tentar sair do buraco.
O vizinho é um cara certinho, até demais, que não arrisca nada na vida, Amauri (Kiko Mascarenhas, em sua segunda comédia fracassada em sequência, a outra foi "Totalmente Inocentes"). "Que a Sorte Nos Separe" tenta fazer uma comparação entre uma vida sem normas, com outra totalmente regrada, e mostrar que nenhuma delas é a correta, devendo haver um meio-termo.
O filme ainda não mostra vergonha nenhuma em copiar Almodóvar no uso excessivo de cores berrantes. Mas no final, "Que a Sorte Nos Separe" não passa de um Zorra Total ampliado. Principalmente pelas caretas exageradas de Hassum, e Ailton Graça se passando por gay.
O pior é que certo público aprova este tipo de filme, que infelizmente consegue verba federal para chegar aos cinemas.
Cotação: ruim
Chico Izidro
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