Dizem que só tem coisas que acontecem com o Botafogo de Futebol de Regatas. E o clube teve os dois primeiros jogadores problemas do país: Heleno de Freitas e Garrincha. E de origens completamente opostas. O Anjo das Pernas Tortas vinha de família pobre e era analfabeto. Já Heleno era um dândi. Rico, advogado, preferiu jogar futebol e aprontar todas nos anos 1940, época em que ser jogador era visto com maus olhos pela "família brasileira". O atacante vivia cercado de belas mulheres, festas no Copacabana Palace e apreciador de óperas. Esta sua vida é retratada em Heleno, filme dirigido por José Henrique Fonseca e interpretado com esmero por Rodrigo Santoro, que chegou a emagrecer 12 quilos paar viver a fase terminal deste personagem singular do futebol no Brasil.
Antes mesmo de Adriano, Edmundo, Renato Gaúcho, Vampeta e Ronaldinho Gaúcho, Heleno desrespeitava as regras futebolísticas. Fumava, bebia, transava com qualquer rabo de saia que lhe cruzasse à frente. Mas em campo se doava e exigia o mesmo de seus companheiros, muitas vezes não sendo entendido. Ironicamente nunca foi campeão pelo Botafogo, seu clube do coração. Só o seria no Vasco em 1949, antes de ser vendido ao Boca Juniors, onde não se adaptaria. Seu sonho de disputar uma Copa do Mundo se esvaneceu, pois a competição não foi disputada em 1942 e 1946 por causa da II Guerra Mundial e época em que Heleno estava no auge. Em 1950, no Brasil, o craque já mostrava os sinais da sífilis que o mataria nove anos depois e por isso não foi convocado. Ele poderia ter sobrevivido à doença, mas não quis se tratar, temendo perder a agilidade em campo e ficar impotente. Acabou ficando louco.
O interessante em Heleno, apelidado de Gilda de forma provocativa pela torcida do Fluminense por causa de seu gênio explosivo e referência ao filme de 1946 de Charles Vidor e estrelado pela musa Rita Hayworth, é o futebol ficar em segundo plano. Pelo menos não caiu-se na armadilha de tentar-se filmar cenas de jogos, o que sempre acaba sendo constrangedor. E a história ficou mais centrada no apogeu e na queda do ídolo e seus romances atribulados com a jovem da sociedade Silvia (Alinne Moraes) e a cantora Diamantina (a bela colombiana Angie Cepeda, de Pantaleão e as Visitadoras). Alguns diálogos mostram-se fracos, mas não comprometem o belo trabalho em preto e branco, que reconstitui magnificamente o Rio de Janeiro daquele período. Os momentos finais do craque num sanatório no interior de Minas Gerais também são bem explorados e nunca derrapam para o sentimentalismo.
Cotação: bom
Chico Izidro
quarta-feira, abril 04, 2012
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“QUEER”
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