O executivo trintão Brandon parece ser uma pessoa normal. Bom colega, bonito, um belo apartamento em Manhatan. Só que ele não consegue envolver-se com ninguém. Sigilosamente, vive em chats pornô, só consegue transar com prostitutas, masturba-se no banheiro do escritório e seu computador tem mais pornografia junta do que todas as revistinhas suecas e de Carlos Zéfiro juntas.
Shame é o segundo trabalho levado ao extremo pelo diretor Steve McQueen, homônimo do ator sessentista, com o ator alemão Michael Fassbender - o primeiro foi Hunger, sobre a greve de fome de Bob Sands, do IRA, em 1981, na prisão de Maze, na Irlanda do Norte. Trabalhos onde Fassbender, que pode ser visto em X-Men Evolução como o Magneto, leva o exercício corporal ao extremo. Em Hunger, para viver o papel de Sands, o ator alemão perdeu dezenas de quilos. Em Shame (vergonha em inglês), ele deixasse ser filmado em nu frontal por várias vezes, insinuando masturbação, cenas homossexuais e de novo perde vários quilos.
Não sejamos hipócritas. Todo mundo dá sua olhadela em pornografia na internet. Só que para Brandon isso é um modo de vida. Tanto que quando tem a oportunidade de um relacionamento real com uma colega de trabalho, ele não consegue avançar o sinal vermelho. Numa mesa de um restaurante, conta para a garota que o relacionamento mais longo que teve durou quatro meses. Ela se decepciona, afinal, por que então estão ali, se não é para tentar um namoro? No dia seguinte, Brandon muda de ideia e tenta mudar sua atitude em relação a Marianne, mas não consegue.
E sua vida secreta vai, de certa forma, para o espaço quando sua irmã, a depressiva Sissy (Carey Mulligan, de Drive e Educação), vai morar com ele. Como lidar com a presença dela naquele espaço, onde ele costuma receber prostitutas e ficar olhando putaria no computador? Shame não discute se ver pornô e só transar com prostitutas é certo ou errado. Também não pretende dar uma lição de moral, e nisso está o acerto de Steve McQueen, que deixa o espectador pensar por si próprio.
As tomadas em Shame são longas, alguns closes são fantásticos - como quando Carey interpreta New York, New York num bar. Ou quando Brandon discute se tem o dever de cuidar da irmã, com Sissy sentada ao seu lado, no sofá. Belas cenas e excelentes atuações.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
quinta-feira, março 22, 2012
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“QUEER”
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