Em meados dos anos 1980, quando Raul Seixas fazia um relativo sucesso com a criançada por causa da música Plunct Plact Zum, acabei conhecendo o trabalho anterior do músico baiano e fiquei de queixo caído. Virei fã na mesma hora. E eu tinha um grupo onde todos os sábados à tarde reuníamos para escutar discos de rock, que tão dificilmente conseguiamos comprar. A cada sábado cada um dos membros levava um LP, geralmente de metal, hard rock, punk ou progressivo. Então eu apareci com um do Raul Seixas. Quase apanhei. Não, exagero. Mas fui muito xingado pelo pessoal, pois na cabeça de todos Raulzito era o equivalente a Plunct Plact Zum. Pedi uma trégua e pus o disco para rodar. Ao final da audição estavam todos boquiabertos devido a magnitude da obra do artista. Quem xingou antes, virou fãs.
Bom, quase 30 anos depois de descobrir Raul Seixas, saí emocionado da sessão do documentário Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio, dirigido por Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel. O filme resgata desde a adolescência do cantor em Salvador, quando ele tomou contato com o rock'n'roll aos 16 anos, entrando no fã-clube de Elvis Presley até a sua morte, solitária, em seu apartamento em São Paulo em 1989. Seu fanatismo por Elvis era tão intenso, que Raul imitava os trejeitos e o visual do norte-americano. Cada passo de Raulzito é revivido detalhadamente em cerca de duas horas, como o grupo Os Panteras, a ida para o Rio de Janeiro, o lançamento do germinal Sessão das 10, as várias mulheres e suas puladas de cerca, as filhas com quem pouco conviveu, mas que o veneram, as parcerias, principalmente com Paulo Coelho.
O interessante é que Raul Seixas possuia a cultura de filmar tudo o que pudesse. Por isso, podemos ver diversas imagens das décadas de 1960, 70 e 80. Exímio letrista e compositor, seus discos possuiam músicas de diversos vários estilos, indo do rock ao baião. Seu maior sucesso foi Krig-ha, Bandolo!, de 1973, que trazia Ouro de Tolo, Mosca na Sopa, Al Capone e Metamorfose Ambulante.
O problema de Raul Seixas foi o de que ele não se poupou diante da bebida e das drogas. Bebeu, fumou e cheirou tudo, tanto que morreu cedo demais, apenas aos 44 anos, deixando uma legião de admiradores. As cenas de seu enterro são emblemáticas, com as pessoas desesperadas em volta do caixão.
Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio é permeado de depoimentos de pessoas que conviveram com ele, como Nelson Motta, Paulo Coelho (numa participação hilária, ele se nega a matar uma mosca, pois essa pode ser a reencarnação de Raul, para logo depois desferir um tapa no inseto), Edy Star, Sylvio Passos (amigo, dono de muitas reliquias e presidente do fã do clube do cantor), Marcelo Nova, que foi o seu último parceiro, Pedro Bial e Caetano Veloso. A única pessoa que conviveu com Raul Seixas e se negou a falar foi sua primeira esposa, Edith, hoje nos Estados Unidos. Ela mandou um bilhete, onde diz não querer saber nada do passado, e que está envelhecendo ao lado do homem que ama. Ou seja, isso mostra como Raulzito era único, pois mesmo depois de 20 anos de sua morte ainda incomoda muita gente. A verdadeira mosca na sopa.
Cotação: excelente
Chico Izidro
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