As histórias dos Irmãos Grimm, em sua essência, têm um clima sombrio, com muito terror, e elementos como canibalismo, erotismo, zoofilia, pedofilia e por aí vai. Com o tempo e adaptações, elas foram ficando mais leves e viraram familiares quando caíram nas mãos da Disney. Uma nova safra de filmes resolveu resgatar a antiga essência. Um dos frutos é "João e Maria - Caçadores de Bruxas", direção de Tommy Wirkola. Pena que o resultado tenha sido decepcionante.
Quando crianças, João e Maria (no original Hansel e Gretel, e é completamente enervante escutar os personagens serem chamados pelos seus nomes originais, e na legenda a gente ler João e Maria), são escondidos pelo pai numa floresta. Ali caem nas mãos de uma bruxa, que os engorda com doce para devorá-los. Os irmãos conseguem escapar, matam a bruxa e descobrem sua vocação. Anos depois, já adultos, percorrem a Alemanha como mercenários, caçando bruxas em troca de polpudas recompensas. O destino é Augsburg, na Baviera, onde muitas crianças foram sequestradas por uma feiticeira. João (Jeremy Renner, de Guerra Contra o Terror) e Maria (Gemma Arterton, de 007 - Quantum of Solace) são contratados pelo prefeito para resgatar a piazada das mãos da bruxa má, vivida pela Famke Jansen (X-Men).
O festival de bobagens impera. Em plena Idade Média, João injeta insulina em si próprio, pois como foi forçado a comer muitos doces quando criança ficou diabético, Maria utiliza uma metralhadora para matar as bruxas e tem até uma taser para dar choques nos inimigos. É demais para minha paciência.
Cotação: ruim
Chico Izidro
quinta-feira, janeiro 31, 2013
"O Último Desafio"
Você já deve ter ouvido a expressão "de tão ruim, é bom". Pois "O Último Desafio", dirigido por Kim Jee-woon, pode ser encaixado neste ditado. Nada pode ser levado a sério nessa ação protagonizada por Arnold Schwarzenegger, que aos poucos vai retomando a carreira cinematográfica após abandonar a vida política (ele foi governador da Califórnia entre 2003 e 2011 pelo Partido Republicano), e Rodrigo Santoro, em mais um filme em que ganha bastante diálogos, a exemplo da bobajada "O Que Esperar Quando Você Está Esperando".
Schwarzenegger é o ex-agente do FBI Ray Owens, que após fracassada missão, largou tudo na cidade grande e foi ser xerife no pacato de Sommerton Junction, na fronteira dos Estados Unidos com o México. Pois ele e Santoro, o bagunceiro da cidade e ex-combatente no Iraque e Afeganistão, tem de se uir para defender o lugarejo de um chefe do tráfico, cruel, que escapou do FBI quando estava sendo levado para a cadeira elétrica. Apoiado por asseclas mais violentos e maus, o caricatural Cortez (Eduardo Noriega) quer cruzar a fronteira para escapar da Justiça. Na fuga, ele pilota um turbinado carro, que consegue passar por todas as barreiras colocadas para tentar pará-lo, além de fazer de bobo o próprio FBI e a SWAT.
"O Último Desafio" traz ainda o ótimo ator Forrest Whitaker como o chefe dos apatetados agentes do FBI, e Johnny Knoxville (Jackass) como um doidão dono de um verdadeiro arsenal - sim, o filme ainda serve como propaganda para a indústria armamentista. Afinal, como o cidadão comum pode defender-se de criminosos se não puder ter armas em casa?
Cotação: ruim
Chico Izidro
Schwarzenegger é o ex-agente do FBI Ray Owens, que após fracassada missão, largou tudo na cidade grande e foi ser xerife no pacato de Sommerton Junction, na fronteira dos Estados Unidos com o México. Pois ele e Santoro, o bagunceiro da cidade e ex-combatente no Iraque e Afeganistão, tem de se uir para defender o lugarejo de um chefe do tráfico, cruel, que escapou do FBI quando estava sendo levado para a cadeira elétrica. Apoiado por asseclas mais violentos e maus, o caricatural Cortez (Eduardo Noriega) quer cruzar a fronteira para escapar da Justiça. Na fuga, ele pilota um turbinado carro, que consegue passar por todas as barreiras colocadas para tentar pará-lo, além de fazer de bobo o próprio FBI e a SWAT.
"O Último Desafio" traz ainda o ótimo ator Forrest Whitaker como o chefe dos apatetados agentes do FBI, e Johnny Knoxville (Jackass) como um doidão dono de um verdadeiro arsenal - sim, o filme ainda serve como propaganda para a indústria armamentista. Afinal, como o cidadão comum pode defender-se de criminosos se não puder ter armas em casa?
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Jack Reacher - O Último Tiro"
"Jack Reacher - O Último Tiro", dirigido por Christopher McQuarrie é baseado em romance do escritor Lee Child, e Tom Cruise não foi definitivamente uma boa escolha para o papel. Mas o cara manda em Hollywood. Reacher é um ex-fuzileiro naval, andarilho, e nos livros mede mais de 1,90m. Cruise tem lá seus 1,70m...mas o filme é feito para o ego do ator.
O começo é promissor, com seus mais de cinco minutos silenciosos, onde um franco-atirador mata cinco pessoas, atirando de um estacionamento próximo a um estádio de beisebol numa cidade americana. O cara é pego e ao ser levado para a cadeia, leva uma surra dos outros prisioneiros. Será condenado à morte, e no leito do hospital, só pede uma coisa: "achem Jack Reacher". E Jack é uma espécie de detetive, super-herói e fantasma, pois aparece e some dos lugares praticamente sem ser notado. E ao lado da advogada que ousou defender o criminoso, Hellen (Rosamund Pike , quase uma sósia de Catherine Deneuve), começa a se embrenhar no que descobre ser uma conspiração, onde um ex-detento russo pretende se apossar de uma empresa de uma das vítimas do massacre.
Tom Cruise já nos seus 50 aninhos, tira a camisa, faz posse, o seu par quase romântico, a bela Rosamund Pike, suspira a cada aparição dele...Reacher, em determinado momento, entra em uma danceteria e com seus alegados 1,70m parece ser bem mais alto do que as garotas presentes, que deliram à sua passagem. E no final apoteótico, ele se une a um velho soldado do Vietnã interpretado por Robert Duvall para liquidar os vilões numa pedreira. Poderiamos passar sem essa.
Cotação: ruim
Chico Izidro
O começo é promissor, com seus mais de cinco minutos silenciosos, onde um franco-atirador mata cinco pessoas, atirando de um estacionamento próximo a um estádio de beisebol numa cidade americana. O cara é pego e ao ser levado para a cadeia, leva uma surra dos outros prisioneiros. Será condenado à morte, e no leito do hospital, só pede uma coisa: "achem Jack Reacher". E Jack é uma espécie de detetive, super-herói e fantasma, pois aparece e some dos lugares praticamente sem ser notado. E ao lado da advogada que ousou defender o criminoso, Hellen (Rosamund Pike , quase uma sósia de Catherine Deneuve), começa a se embrenhar no que descobre ser uma conspiração, onde um ex-detento russo pretende se apossar de uma empresa de uma das vítimas do massacre.
Tom Cruise já nos seus 50 aninhos, tira a camisa, faz posse, o seu par quase romântico, a bela Rosamund Pike, suspira a cada aparição dele...Reacher, em determinado momento, entra em uma danceteria e com seus alegados 1,70m parece ser bem mais alto do que as garotas presentes, que deliram à sua passagem. E no final apoteótico, ele se une a um velho soldado do Vietnã interpretado por Robert Duvall para liquidar os vilões numa pedreira. Poderiamos passar sem essa.
Cotação: ruim
Chico Izidro
sexta-feira, janeiro 25, 2013
"Lincoln"
Qual decepcionante é "Lincoln", o novo trabalho de Steven Spielberg, que não consegue desgrudar-se de alguns vícios cinematográficos. O filme é salvo pelas atuações impecáveis de Daniel Day-Lewis no papel do presidente americano que lutou pelo término da escravidão negra nos Estados Unidos no Século XIX, e Tommy Lee Jones como o congressista republicano Thaddeus Stevens, apoiador das ideais anti-escravagistas. Ah, claro, a impactante reconstituição de época. Daniel Day-Lewis, como sempre, entrega-se de corpo e alma no papel de um dos políticos mais emblemáticos da história americana, morto pouco após o término da Guerra da Secessão, numa ida ao teatro.
"Lincoln" transcorre nos últimos meses da Guerra da Secessão, focando na intensa busca dos partidários de Lincoln para aprovar uma emenda no Congresso que derrubaria com a escravidão, o sistema adotado pelos estados do sul, confederado. Durante duas horas e meia muitos diálogos sobre o absurdo da guerra fratricida e do sistema racista - uma das grandes discussões era se os negros poderiam ser considerados iguais aos brancos, não só na lei, mas perante Deus. Lincoln e seus aliados brigavam pela aprovação da emenda, e não pouparam esforços, mesmo que para tanto, precisassem subornar outros políticos. Ou seja, uma espécie de mensalão já dava as caras nos Estados Unidos de 1865. O longa, porém, é arrastado, transcorrendo nos corredores do Congresso e na Casa Branca (poucas cenas de batalha aparecem). Por vezes é sonolento, e por vezes beira a pieguice, infelizmente uma das marcas de Spielberg, principalmente quando algum personagem põe-se a falar sobre as mazelas do escravagismo em tom exageradamente teatral.
E alguns atores não ajudam. Sally Field vive Molly, a esposa de Lincoln. E a eterna Noviça Voadora passa o filme com uma cara de sofredora, reclamando de sua condição de coadjuvante no imaginário popular. O garoto Gulliver McGrath vive Tad, o filho caçula do presidente, também consegue ser insuportável e muito, muito fraco ator. A cena em que recebe a notícia da morte é constrangedora, fraca. Aliás momento desnecessário no filme, que estende-se um pouco mais do que o suficiente. "Lincoln" ganha um 4, 5 minutos com o evento do teatro, que acaba prolongando ainda mais a chatice. Remete ao momento infeliz em que Liam Neeson faz o discurso final no genial "A Lista de Schindler", que é quase estragado com esta inserção: "com este relógio poderia ter salvo mais um judeu, com este broche poderia ter salvo mais uma vida", diz Oskar Schindler para os mais de 1000 judeus na entrada da fábrica em que eles se esconderam ao final da II Guerra. Spielberg não consegue livrar-se de seu momento familia, acabando por quase tirar a seriedade de sua obra.
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Lincoln" transcorre nos últimos meses da Guerra da Secessão, focando na intensa busca dos partidários de Lincoln para aprovar uma emenda no Congresso que derrubaria com a escravidão, o sistema adotado pelos estados do sul, confederado. Durante duas horas e meia muitos diálogos sobre o absurdo da guerra fratricida e do sistema racista - uma das grandes discussões era se os negros poderiam ser considerados iguais aos brancos, não só na lei, mas perante Deus. Lincoln e seus aliados brigavam pela aprovação da emenda, e não pouparam esforços, mesmo que para tanto, precisassem subornar outros políticos. Ou seja, uma espécie de mensalão já dava as caras nos Estados Unidos de 1865. O longa, porém, é arrastado, transcorrendo nos corredores do Congresso e na Casa Branca (poucas cenas de batalha aparecem). Por vezes é sonolento, e por vezes beira a pieguice, infelizmente uma das marcas de Spielberg, principalmente quando algum personagem põe-se a falar sobre as mazelas do escravagismo em tom exageradamente teatral.
E alguns atores não ajudam. Sally Field vive Molly, a esposa de Lincoln. E a eterna Noviça Voadora passa o filme com uma cara de sofredora, reclamando de sua condição de coadjuvante no imaginário popular. O garoto Gulliver McGrath vive Tad, o filho caçula do presidente, também consegue ser insuportável e muito, muito fraco ator. A cena em que recebe a notícia da morte é constrangedora, fraca. Aliás momento desnecessário no filme, que estende-se um pouco mais do que o suficiente. "Lincoln" ganha um 4, 5 minutos com o evento do teatro, que acaba prolongando ainda mais a chatice. Remete ao momento infeliz em que Liam Neeson faz o discurso final no genial "A Lista de Schindler", que é quase estragado com esta inserção: "com este relógio poderia ter salvo mais um judeu, com este broche poderia ter salvo mais uma vida", diz Oskar Schindler para os mais de 1000 judeus na entrada da fábrica em que eles se esconderam ao final da II Guerra. Spielberg não consegue livrar-se de seu momento familia, acabando por quase tirar a seriedade de sua obra.
Cotação: ruim
Chico Izidro
"O Resgate"
Meu deus, Nicolas Cage perdeu totalmente o rumo de sua carreira, que tem um Oscar na estante, com "Despedida em Las Vegas". O sobrinho de Francis Ford Coppola agora estrela a bomba "O Resgate", dirigido sem muita, talvez nenhuma seriedade por Simon West (Os Mercenários 2). Cage é o ladrão de bancos Will Montgomery, que passa oito anos mofando na cadeia após um assalto ter sido frustrado. Tivesse dado certo, ele e seus comparsas teriam embolsado 10 milhões de dólares. E é esta quantia que o seu ex-parceiro e ex-melhor amigo Vincent (Josh Lucas) acredita que Will escondeu.
O cara perdeu a perna direita, tem os dentes podres, uma vasta cabeleira desgrenhada e suja, o corpo repleto de tatuagens, endureceu o coração e consegue com seu visual até assustar os filhos adultos do dono da firma de táxi onde trabalha. Além de tudo, para tentar ficar com a grana que acredita existir, sequestra a filha de Will Montgomery (a totalmente insossa Sami Gayle). Ou seja, no dia do Mardi Grass, o carnaval de Novas Orleans (a cidade serviu como cenário para a produção, ainda na campanha pela sua recuperaçao econômica após a tragédia provocada pelo furacão Katrina em 2005), Will tem três horas para obter os tais 10 milhões de dólares ou sua filha será morta. Então Will corre em desabalada carreira pela cidade, e sendo perseguido por agentes atrapalhados do FBI, que também acreditam ter ele escondido a grana antes de ser preso quase uma década antes.
"O Resgate" anda por caminhos constrangedores, repletos de furos de roteiro, de sequência, com cenas completamente inverossímeis, outras risíveis. Numa, a garotinha consegue digitar o número de emergência nos EUA, o 911, enfiando dois dedos por detrás de um banco de um táxi. Noutra, Will rouba um banco de segurança máxima com uma furadeira em menos de cinco minutos e leva metade do ouro, que é derretido em segundos. Nada funciona no filme, com atuações toscas. Cage segue a cartilha correria, caretas e um terrível implante de cabelos. O vilão de Josh Lucas não poderia ser mais caricato, exagerado em suas falas e feições. Não fosse Nicolas Cage como ator principal, "O Resgate" talvez nem chegasse à tela grande.
Cotação: ruim
Chico Izidro
O cara perdeu a perna direita, tem os dentes podres, uma vasta cabeleira desgrenhada e suja, o corpo repleto de tatuagens, endureceu o coração e consegue com seu visual até assustar os filhos adultos do dono da firma de táxi onde trabalha. Além de tudo, para tentar ficar com a grana que acredita existir, sequestra a filha de Will Montgomery (a totalmente insossa Sami Gayle). Ou seja, no dia do Mardi Grass, o carnaval de Novas Orleans (a cidade serviu como cenário para a produção, ainda na campanha pela sua recuperaçao econômica após a tragédia provocada pelo furacão Katrina em 2005), Will tem três horas para obter os tais 10 milhões de dólares ou sua filha será morta. Então Will corre em desabalada carreira pela cidade, e sendo perseguido por agentes atrapalhados do FBI, que também acreditam ter ele escondido a grana antes de ser preso quase uma década antes.
"O Resgate" anda por caminhos constrangedores, repletos de furos de roteiro, de sequência, com cenas completamente inverossímeis, outras risíveis. Numa, a garotinha consegue digitar o número de emergência nos EUA, o 911, enfiando dois dedos por detrás de um banco de um táxi. Noutra, Will rouba um banco de segurança máxima com uma furadeira em menos de cinco minutos e leva metade do ouro, que é derretido em segundos. Nada funciona no filme, com atuações toscas. Cage segue a cartilha correria, caretas e um terrível implante de cabelos. O vilão de Josh Lucas não poderia ser mais caricato, exagerado em suas falas e feições. Não fosse Nicolas Cage como ator principal, "O Resgate" talvez nem chegasse à tela grande.
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Jesse e Celeste - Para Sempre"
Quem já separou sabe como é difícil o processo. "Jesse e Celeste - Para Sempre", dirigido por Lee Toland Krieger, mostra bem isso. Os dois se conhecem desde idos tempos de colégio, cresceram juntos, casaram e perto dos 30 anos, vivem uma separação que não parece ser dolorosa, já que agem como ainda estivessem juntos - com direito aquelas brincadeirinhas irritantes e constrangedoras de casais apaixonados. Eles têm medo de seguir adiante. Tanto que seis meses após a separação, Jesse (Andy Samberg continua vivendo num quartinho no fundo da casa de Celeste (Rashida Jones). Ele, pouco estudo, surfista e artista plástico, ela sósia em uma agência de marketing com o gay Scott (Elijah Wood, impagável e ótimo como o amigo conselheiro).
Celeste acha o ex-marido imaturo, quer seguir adiante, ter um filho. Por isso desiste de Jesse, que porém parece ter desistido antes, ainda mais quando descobre ter engravidado a bela Veronica (Rebecca Dayan), quando ainda curtia a fossa da separação. Agora pretende casar com ela e crescer. Aí Celeste desespera-se, naquela velha história, não quero mais, mas a outra pessoa não pode ser de mais ninguém. Fica então aquele volta, termina, volta, termina, arrependimentos, coisas ditas na hora errada. Nada mais real.
Rashida Jones, filha do maestro Quincy Jones e originária do seriado The Office, é linda e cativante, e segura bem as pontas como a indecisa da hora. Pena que seu par, Andy Samberg, comediante saído das fileiras do Saturday Night Live, não tenha estofo suficiente para carregar o personagem. Mas num paradoxo, talvez aí esteja a magia da coisa - por ser um ator cômico, sua fraqueza para um papel dramático acaba engrandecendo Jesse. Aqui e acolá vemos pedaços de nossas vidas na tela, e pensamos, onde erramos num relacionamento para que ele naufragasse?
Cotação: bom
Chico Izidro
Celeste acha o ex-marido imaturo, quer seguir adiante, ter um filho. Por isso desiste de Jesse, que porém parece ter desistido antes, ainda mais quando descobre ter engravidado a bela Veronica (Rebecca Dayan), quando ainda curtia a fossa da separação. Agora pretende casar com ela e crescer. Aí Celeste desespera-se, naquela velha história, não quero mais, mas a outra pessoa não pode ser de mais ninguém. Fica então aquele volta, termina, volta, termina, arrependimentos, coisas ditas na hora errada. Nada mais real.
Rashida Jones, filha do maestro Quincy Jones e originária do seriado The Office, é linda e cativante, e segura bem as pontas como a indecisa da hora. Pena que seu par, Andy Samberg, comediante saído das fileiras do Saturday Night Live, não tenha estofo suficiente para carregar o personagem. Mas num paradoxo, talvez aí esteja a magia da coisa - por ser um ator cômico, sua fraqueza para um papel dramático acaba engrandecendo Jesse. Aqui e acolá vemos pedaços de nossas vidas na tela, e pensamos, onde erramos num relacionamento para que ele naufragasse?
Cotação: bom
Chico Izidro
quinta-feira, janeiro 17, 2013
"Django Livre"
O temor era enorme que Quentin Tarantino ousasse tirar em "Django Livre" sarro excessivo de uma das maiores máculas da humanidade, a escravidão negra nos Estados Unidos. Mas após 2h45min que passam voando, o medo se mostra algo totalmente injustificado. O diretor fez um filme quase impecável, onde claro, está presente a violência extrema, com muito sangue jorrando de corpos perfurados por balas. Uma marca registrada dele. "Django Livre" conta a história do escravo que em 1859, ou seja, um ano antes da Guerra da Secessão, une-se a um alemão caçador de recompensas, King Schultz (Christoph Waltz, de Bastardos Inglórios), para tentar encontrar a esposa, a escrava Bruhilde von Schaft (Kerry Washington, de Ray), vendida para um cruel fazendeiro sulista, após eles tentarem fugir e verem frustada estab intenção - era comum à época os senhores escravagistas separarem as famílias de escravos, vendendo os membros para diferentes e distantes fazendas.
Antes de ir em busca de Bruhilde, que tem este nome por ter sido propriedade primeiro de senhores germânicos, e com eles ter tido uma educação diferenciada, inclusive aprendendo a falar alemão, Django tem de ajudar King Schultz a capturar diversos fugitivos da Justiça, e com isso aprendendo, além do manejo com maestria de pistolas, a se portar como um cavalheiro. Django, aliás, foi batizado em homenagem a um dos principais heróis do faroeste, personagem interpretado pelo italiano Franco Nero, que faz uma ponta como um senhor de escravos, no filme homônimo dos anos 1960, e dirigido por Sergio Leone. E "Django Livre" é mais do que um faroeste, é quase um balé de violência e piadas.
Tarantino provocou verdadeira grita nos Estados Unidos, principalmente por retratar de forma crua o escravagismo, e não poupar ofensas raciais. A palavra nigger, ou crioulo, é constantemente usada. Só que ele foi o mais fiel possível à linguagem utilizada naquele período. Algumas licenças poéticas são usadas com deleite, como por exemplo uma reunião dos mascarados da Ku Klux Klan, na realidade uma licença poética, pois a organização extremista só surgiria em 1865, ao final da Guerra Civil. É hilária a discussão sobre a precariedade das máscaras feitas pela mulher de um deles. E note a participação de Don Johnson (Miami Vice) como o líder da KKK.
Aliás, os coadjuvantes foram escolhidos a dedo, dando um suporte excepcional a bela atuação do quarteto central. Jamie Foxx como Django, o sempre ótimo Christoph Waltz no papel do alemão King Schultz, Leonardo DiCaprio como o fazendeiro almofadinha monsieur Calvin Candie - ele adora ser chamado de monsieur por dizer amar a cultura francesa, porém é na realidade um total ignorante sobre ela. O último integrante do quarteto é Samuel L. Jackson, roubando a parte final do filme como um velho escravo puxa-saco e cínico, que após passar a vida toda na Casa Grande servindo Calvin, perdeu totalmente a identidade, e se considera um branco, mas não pode sentar à mesa com seu patrão e acha uma afronta quando Django é convidado por Calvin para jantar com os outros brancos.
O sotaque carregado do sul americano, as roupas puídas e sujas, o descaso com a higiene, notem os dentes podres de DiCaprio, as ruas enlameadas das cidades. Tudo está lá, cuidadosamente reproduzido. Tarantino, no entanto, não acertou em cheio na trilha sonora desta vez. Em determinada cena, até um rap acabou entrando, de forma meio desconexa com o restante das músicas. A parte final, ainda, estende-se um tanto desnecessária, com muito papo-furado e alguns furos no roteiro. Mas nada que estrague.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"No"
Primeiro, não estranhe a fotografia amarelada e desfocada do filme. "No", do chileno Pablo Larrain, foi propositalmente filmado como estivéssemos nos anos 1980, mais exatamente em 1988, quando o ditador Augusto Ugarte Pinochet e seus comparsas decidem realizar um plebiscito para legitimar a violenta ditadura iniciada quinze anos antes, após o assassinato do socialista Salvador Allende e a perseguição cruel aos seus aliados. Neste período, mais de 30 mil pessoas pereceram, outras tantas sumiram e mais de 400 mil se exilaram no exterior.
Entre eles, o publicitário René Saavedra (Gael García Bernal), que retorna ao Chile e vive uma vida classe média alta ao lado do filho pequeno, e trabalhando numa das principais agências de publicidade do país. Ele próprio filho de um militante de esquerda terá de sair de seu mundo de conforto - suas peças publicitárias mostram sempre pessoas cantando, dançando, alienadas da vida política. Até que é convidado para comandar a campanha pelo Não - ou seja, pelo final da ditadura. O irônico é que seu chefe comanda a campanha pelo Sim, ou seja, pela continuidade de Pinochet no Palácio de La Moneda. Todos sabemos o final da história, por isso é excepcional o modo como Pablo Larrain soube contar aqueles 27 dias de tensão, utilizando também imagens reais daquele período onde os militares, mesmo vendo seu poder chegando ao fim, tentavam impor o medo aquelas pessoas que pensavam diferente e desejavam a democracia.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Paris-Manhattan"
Uma vez escrevi um conto em que um jornalista serve de cicerone para Woody Allen em Porto Alegre. E acabava recebendo dicas para sua vida amorosa. Bem, nunca publiquei a tal história. Pois em "Paris-Manhattan", de Sophie Lelouche, a francesinha Alice (Alice Taglioni) é apaixonada pelo cineasta nova-iorquino desde os seus 15 anos, quando assistiu o clássico "Hannah e Suas Irmãs". Pois duas decádas depois, loira, alta e linda, continua solteira, trabalhando como farmacêutica na loja herdada de seu pai, em Paris, e receitando filmes de seu ídolo ao invés de vender os remédios sugeridos nas receitas médicas dos clientes.
E é confidente do cineasta, mas em sua imaginação. Alice conversa com um grande pôster setentista de Allen colado na parede de seu quarto. As falas do diretor foram apanhadas de diversos filmes dele desde os anos 1970. Alice não consegue se acertar com os pretendentes sugeridos pela família, até que surge em sua vida o almofadinha Vincent (Yannick Soulier), por quem ela se apaixona e planeja enfim casar. O carinha tem, no entanto, olhos apenas para ele mesmo, um verdadeiro narciso. Do outro lado do ring, aparece o feio e desajeitado Victor (Patrick Bruel), dono de uma empresa de instalação de alarmes e cheio de frases espirituosas. É quem mais se parece com ela, e por isso visto como carta fora de baralho.
"Paris-Manhattan" é previsível, mas com encanto. E Sophie Lelouche aprendeu direitinho a lição de como fazer uma obra à moda "woodyalliana" - além da homenagem ao diretor, que faz uma ponta fundamental para a conclusão do filme, muitos dos personagens e situações parecem ter saído da obra do nova-iorquino. Ocorrem deslizes, como a desnecessária invasão da casa do cunhado de Alice, suspeito de trair a bela esposa. Mas nada que macule o bom andamento desta homenagem a um dos melhores cineastas da história.
Cotação: bom
Chico Izidro
quinta-feira, janeiro 03, 2013
"Detona Ralph"
Nunca fui fã de videogames. Aliás, nunca joguei videogame na vida. E seria natural que um filme tendo o tema como assunto me fizesse ficar longe dos cinemas. Porém aí é outro assunto. A sétima arte está repleta de filmes originados de jogos, sendo exemplos "Resident Evil", "Street Fighter", "Mortal Kombat", "Lara Croft" e "O Principe da Pérsia". Agora estreia a divertida animação "Detona Ralph", direção de Rich Moore, que tem tem os games como pano de fundo.
Confesso não saber se o jogo realmente existe. Porém me emocionei com a história de Ralph, um vilão de fliperama que após três décadas destruindo um prédio de apartamentos, e sendo zoado pelos moradores do local e pelo herói Félix, sempre com seu martelinho restaurador, sonha em passar para o lado do bem. Quer ser amado, ganhar uma medalha e ser festejado pelos moradores do prédio que cansou de destruir. O personagem, tal como um Hulk, é grotesco, grande, e tal qual o Coisa, do Quarteto Fantástico, destrói com tudo à sua volta, muitas vezes sem querer, por causa de seu jeito desajeitado e inocente. Ralph até frequenta um grupo de apoio de vilões frustrados. E uma hora acaba "saindo" de seu jogo, e acaba provocando o caos em outros games, quando libera uma espécie de vírus ao tentar obter sua medalha de herói.
Em sua trajetória para passar para o lado dos bons, Ralph se une a doce garotinha Vanellope von Schweetz, desprezada por ser considerada nociva aos outros jogos. A animação é perfeita, fazendo uma viagem aos anos 1980, quando começou a febre mundial com o tal Pac-Man, percorrendo ainda 30 anos de evolução, ou seja, acaba entrando na memória afetiva de várias gerações do mundo, ora divertido, ora singelo. Mas mesmo que "Detona Ralph" tenha me cativado, não consegue me motivar a sentar em frente a uma tevê e jogar algum videogame.
Cotação: bom
Chico Izidro
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“QUEER”
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