quinta-feira, junho 12, 2025

“EROS”

Foto: Fistaile
“EROS” É UM DOCUMENTÁRIO DIRIGIDO POR RACHEL DAISY ELLIS. A diretora brasileira/britânica estabelecida em Recife, Pernambuco, decidiu em sua obra investigar a intimidade vivenciada na maior instituição erótica do Brasil: o motel.
A ideia surgiu quando ela teve uma noite frustrada em um quarto de um motel, e passou a escutar as pessoas das suítes vizinhas e imaginar as histórias por trás dos gemidos e conversas. Depois, escutando depoimentos de frequentadores de motel de vários cantos do país, Ellis convidou alguns deles a se filmarem durante uma das suas noites.
O resultado é uma costura de experiências e visões que, por mais distintas que sejam, compartilham entre si olhares profundos sobre as relações de intimidade e afeto.
A intimidade que “Eros” registra não se resume a sexo: há prazer e fantasias sim, mas há também amor, solidão, liberdade, confiança e introspecção. Quer dizer, entre as quatro paredes de um quarto de motel, existe uma vulnerabilidade reveladora muito rica – não só para entender os indivíduos retratados, mas a própria relação do Brasil com estes estabelecimentos tão tradicionais.
“Quando vi as primeiras filmagens dos personagens, fiquei impressionada com a intimidade compartilhada”, recordou a cineasta. “Tinha algo mágico ali, entre o exibicionismo e a partilha íntima, que foi muito especial. Os momentos capturados antes e depois do sexo, onde a intimidade se constrói eram fascinantes”, completou.
O autorregistro se mostrou uma linguagem interessante também do ponto de vista estético: as imagens mudavam não só conforme o aparelho usado para registrá-las, como também pela própria individualidade das personagens. Com a câmera na mão, viravam diretores e gravavam sua experiência como bem entendessem. “Me interessava pensar também até que ponto as pessoas usariam o palco da suíte do motel como espaço de performance de suas histórias e reflexões e como seria a mistura de performance e registro de observação”, explicou Ellis.
Todas as filmagens foram realizadas com os celulares das próprias personagens que foram convidadas a se filmar durante uma estadia, numa suíte de sua escolha. “Escolhi o dispositivo do auto registro como maneira de adentrar a intimidade e explorar a auto-representação. O filme acabou sendo um mergulho nas relações íntimas, a liberdade sexual, o refúgio, a relação corpo-espaço, a auto-representação, a performance, o amor romântico e a solidão.”
“Eles (os motéis) são um prisma das normas e das práticas sexuais e emocionais do país e evidenciam a maneira como as pessoas percebem, perpetuam e desafiam os estereótipos e (pre)conceitos sobre sexo, sexualidade e gênero”, explicou Ellis. “Eles estão associados à transgressão erótica, mas também ao amor romântico. Contribuem para a maneira como as pessoas se relacionam com o amor, a intimidade, a sexualidade e o corpo, mas também revelam algo da nossa relação com o consumo, o gênero e a estética. O motel representa tudo isso”, finalizou.
Cotação: ótimo
Duração: 1h48
Trailer: https://drive.google.com/file/d/1mTRnMSoR-IdDKRhf9SH4ZNvMEOdTcfzm/view

“PRÉDIO VAZIO”

Foto: Retrato Filmes
“PRÉDIO VAZIO”, sétimo longa-metragem de terror do cineasta capixaba Rodrigo Aragão, explora o terror em ambiente urbano, inspirando-se no estilo psicológico dos filmes de horror japoneses para retratar um prédio na cidade litorânea de Guarapari como um local misterioso e mal-assombrado.
Na história, o Edifício Magdalena, na Praia do Morro, tem um visual decadente, parecendo estar abandonado há muitos anos. Ele, porém, é habitado por um casal de idosos – e após a morte deles, fica no prédio apenas a zeladora Dora (Gilda Nomacce), e o local passa a receber apenas turistas temporários durante o carnaval.
E depois do feriado, fica no edifício somente uma turista, Marina (Rejane Arruda), que permaneceu para se recuperar de agressões e traições praticadas pelo namorado, recebendo apoio de Dora. Porém, a turista não manda mais notícias para a filha, Luna, que preocupada com a mãe, viaja com o namorado, de Belo Horizonte para Guarapari em busca de Marina.
Ao chegar no edifício, descobre que o lugar é um lugar misterioso, repleto de espíritos atormentados e que Dora é muito mais do que uma simples zeladora.
E diferente das obras anteriores de Aragão, ambientadas em zonas rurais ou áreas isoladas, como a vila de pescadores de “Mangue negro”, o interior capixaba de “A noite do chupacabras” e “Mar negro”, a floresta de “Mata negra” ou a necrópole de “O cemitério das almas perdidas” –, “Prédio vazio” se passa na Praia do Morro, um bairro urbano de Guarapari.
"Prédio Vazio é minha tentativa de levar o espírito de Dario Argento para o litoral ensolarado de Guarapari”, disse o diretor, que foi considerado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão (1936-2020) o seu herdeiro direto.
“Prédio Vazio” é divertido, misterioso, com algumas tiradas de humor, e repleto de sangue e fantasmas, sendo que os efeitos especiais foram feitos artesanalmente pelo próprio Aragão. Enfim, é uma obra autêntica, coisa de guerrilha mesmo, por isso admirável.

Cotação: bom
Duração: 1h20
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=MB6K4dI0tEg

“COMO TREINAR SEU DRAGÃO” (How to Train Your Dragon)

Foto: Universal Filmes
“COMO TREINAR SEU DRAGÃO” (How to Train Your Dragon) chega agora em versão live-action, dirigido por Dean Deblois. Esta adaptação é vista como fiel à história original, da animação lançada em 2010.
A trama é centrada no adolescente viking Soluço (Mason Thames, de O Telefone Preto), que vive na Ilha de Berk e é filho do chefe do local, Stoico (Gerard Butler). E os habitantes sofrem com ataques frequentes de dragões, por isso são treinados desde para combater os animais. Porém, Soluço não leva jeito nenhum para lutar com os dragões, sendo motivo de chacota para os moradores da aldeia.
A vida do garoto, no entanto, muda quando após um novo ataque à ilha, ele consegue capturar uma das criaturas conhecida como Fúria da Noite e a batiza de Banguela. Os dois desenvolvem, após driblarem as desconfianças iniciais, uma forte relação de amizade, descobrindo que pode haver harmonia entre humanos e animais.
O diretor do remake é o canadense Dean DeBlois, que também escreveu e dirigiu os três primeiros filmes de animação da franquia. O protagonista do filme, no papel de Soluço, é Mason Thames, de apenas 17 anos, apresentando um ótimo trabalho na pele de um garoto inseguro. Já Nico Parker (The Last of Us), faz a destemida garota viking Astrid Hofferson.
No entanto, acho que faltou empatia entre alguns personagens coadjuvantes, como os quatro adolescentes que, ao lado de Soluço e Astrid, tentam se tornar matadores de dragões: Julian Dennison (Perna-de-Peixe Ingerman), Gabriel Howell (Melequento Jorgenson), Bronwyn James (Cabeçaquente Thorston) e Harry Trevaldwyn (Cabeçadura Thorston). Eles não tem nenhuma graça, e conseguem estragar as cenas em que aparecem.
Por sua vez, Gerard Butler está quase irreconhecível no papel de Stoico, embaixo de muita barba e músculos. Ele já havia feito a dublagem do chefe viking nas animações, e consegue na live-action incorporar perfeitamente o personagem ignorante e violento.
O filme erra, no entanto, no roteiro, mostrando de forma errônea e repetitiva, como o jovem Soluço é sempre considerado culpado pelos acontecimentos que acontecem na ilha. Isto é um clichê recorrente no cinema, e irrita profundamente.
Porém, “Como Treinar o Seu Dragão” emociona o espectador em sua versão live-action, assim como na animação. O visual do longa-metragem é sensacional, desde a ilha, as roupas dos vikings – que erra, porém, nos capacetes, pois esses não possuíam chifres, uma invenção do cinema. Os dragões ganham forma por CGI, com eles ficando muito realistas. O trabalho é tão perfeito, mostrando os músculos dos animais se movimentando, as texturas da pele, os olhares dos dragões. Enfim, o remake em live-action consegue, apesar de alguns tropeços, ser encantador.
Cotação: ótimo
Duração: 2h05
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=khMphQy4xCM

quarta-feira, junho 04, 2025

“BAILARINA – DO UNIVERSO DE JOHN WICK” (Ballerina)

Foto: Paris Filmes
“BAILARINA – DO UNIVERSO DE JOHN WICK” (Ballerina), com direção de Len Wiseman, como diz o título nacional, é uma espécie de spin-off da cinessérie protagonizada pelo assassino vivido por Keanu Reeves. E tem no papel principal a bela atriz cubana Ana de Armas, como Eve Macarro, que viu o pai ser assassinado por tentar deixar uma organização criminosa.
Ela acaba sendo adotada por outra organização, a Ruska Roma, e desde pré-adolescente estuda balé e também é treinada para ser uma assassina – e no seu íntimo, sonha em se vingar daqueles que mataram o seu pai.
A trama de “Bailarina” ocorre entre os eventos de “John Wick 3: Parabellum (2019)” e antes de “John Wick 4: Baba Yaga (2023)”, quando o herói acaba morrendo. Eve e John quase se cruzam pela primeira vez quando o assassino vai à sede da Ruska Roma, para conseguir uma ajuda para sair de Nova Iorque, depois que um prêmio milionário por sua cabeça é disparado – ele se torna a mira alvo dos maiores criminosos do mundo.
O filme ainda traz outros personagens do universo John Wick, como Winston (Ian McShane), o gerente do hotel que abriga assassinos e o recepcionista Charon (Lance Reddick, que faleceu logo depois das filmagens).
O filme é repleto de ação, com muitos tiros, explosões, sangue, assim como os longas-metragens protagonizados por Keanu Reeves. Porém, o roteiro não traz nenhuma surpresa, e até abusa da inteligência do espectador, tal a quantidade de cenas absurdas e irreais mostradas a cada minuto (não que os quatro filmes que o antecederam estivessem livres dos exageros).
Ana de Armas, atual namorada de Tom Cruise, se sai bem no papel da assassina vingativa, mostrando agilidade em algumas cenas – em algumas é visível o uso de dublê. Se a gente não exigir muito, dá para curtir as bobagens mostradas na tela.
Cotação: regular
Duração: 2h05
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=EU1w96zPaFw

“OH, CANADÁ”

Foto: California Filmes
“OH CANADÁ”, DIRIGIDO PELO VETERANO Paul Schrader, é baseado no livro Foregone, do norte-americano Russell Banks, autor cujas obras inspiraram filmes como “O Doce Amanhã” (1997), de Atom Egoyan, e “Temporada de Caça” (1997), adaptado pelo próprio Schrader.
A história fala sobre tomada de consciência tardia. E foca no documentarista norte-americano Leonard Fife (Richard Gere, excelente), que está muito doente e vendo a morte iminente, decide conceder uma última entrevista, sem qualquer censura, para um ex-aluno, Malcolm (Michael Imperioli).
Ao lado da esposa, Emma (Uma Thurman), ele recebe a equipe de Michael em sua mansão, em Montreal, no Canadá. E então vai respondendo as perguntas e desmontando toda a sua vida, que foi repleta de mentiras e invencionices, para espanto de Emma – ela acreditava saber tudo da vida do marido.
Filho de uma família abastada, Leonard era um privilegiado nos anos 1960, mas mesmo assim, com medo de ser convocado para a Guerra do Vietnã (a história é clara quando relata que jovens ricos conseguiam escapar da convocação). Mesmo assim, Leonard fugiu para o Canadá para evitar ir lutar na Ásia, e também revela como usou, traiu e descartou amigos e familiares ao longo de toda sua vida.
Autor dos roteiros de “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, Schrader conta que decidiu filmar “Oh, Canadá” quando descobriu que Russell Banks estava doente (o autor morreu, vítima de um câncer, em janeiro de 2023). “Eu estava considerando outras possibilidades de história para um filme. Aí, percebi que a mortalidade deveria ser o tema. Ainda saudável, Russell tinha pesquisado e escrito um livro sobre morrer, intitulado Foregone. Ele queria chamá-lo de Oh, Canadá, mas havia outro livro com um título parecido, e me perguntou se eu usaria seu título original. Então Foregone virou Oh, Canadá”, lembrou Schrader.
E “Oh, Canadá” é um filmaço, com excelentes atuações, reconstituição de época. E reflexivo. Muito reflexivo.
Cotação: ótimo
Duração: 1h35
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=FAgum-8uyfQ

“AINDA NÃO É AMANHÔ

Foto: Embaúba Filmes
“AINDA NÃO É AMANHÔ, dirigido por Milena Times, é um forte retrato de como sonhos podem ser quebrados por causa de um deslize.
A trama segue a jovem Janaína (Mayara Santos), jovem negra de 18 anos criada pela mãe (Clau Barros) e pela avó (Cláudia Conceição) em um conjunto habitacional da periferia do Recife.
Ela é bolsista em uma faculdade de Direito, e tem como objetivo se tornar a primeira pessoa da família a obter um diploma universitário. Só que seus planos começam a correr riscos ao descobrir que está grávida.
Então Janaína começa a refletir se conseguirá seguir adiante, e até mesmo discutir um assunto que é praticamente tabu no Brasil: o aborto. Afinal, vivemos em uma sociedade conservadora, que acha ter poder sobre o corpo de uma mulher, em um pensamento hipócrita e religioso.
A diretora disse que “pessoas optam pela interrupção voluntária da gravidez em qualquer lugar do mundo, por inúmeras razões, independentemente de ser permitido. As restrições sociais e legais só contribuem para que seja uma prática insegura e desassistida, especialmente para quem tem menos instrução e poder aquisitivo. Boa parte dos efeitos individuais e sociais mais danosos são resultado da própria criminalização, do silêncio, da falta de informação”.
“Ainda Não É Amanhã” ganhou o prêmio de melhor direção para Milena Times e melhor atriz para Mayara Santos na mostra Sob o Céu Nordestino do Fest Aruanda, e melhor atriz na mostra Novos Rumos no Festival do Rio.
Cotação: ótimo
Duração: 77 min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=F1t-J8SUNZ4

“VENCER OU MORRER” (Vaincre ou Mourir)

Foto: Kolbe Arte
“VENCER OU MORRER” (Vaincre ou Mourir), direção de Vincent Mottez e Paul Mignot, relata um momento verídico da França pós-revolução de 1789. Camponeses resolveram ir à guerra, depois de se acharem perseguidos pelo novo governo da República instalada após a queda do Rei.
O filme conta a verdadeira história de François de Charette (interpretado por Hugo Becker) e do povo da região da Vendeia, que se revoltou após uma convocação de jovens feita por sorteio, para defender o país, que lutava contra invasores. Um filho de um camponês é morto, e é o estopim que dá início ao movimento de resistência.
Eles, então, procuram o nobre François de Charette (Hugo Becker), que era general da Marinha e não tem mais intenção de lutar novamente — principalmente em batalhas em terra firme, já que estava habituado ao combate no mar -, para liderá-los. Após inicialmente recusar a missão, ele acaba entrando de corpo e alma na luta, motivada muito pela religiosidade dos camponeses, que lutaram sob o símbolo do Sagrado Coração de Jesus. Sob o comando de Charette, os camponeses obtém vitórias inesperadas contra o forte exército francês.
“Vencer ou Morrer” recria aquela época pós Revolução Francesa com muito cuidado aos detalhes. E foi filmado nos próprios locais onde os eventos ocorreram, com excelentes cenas de guerrilha. Mas se pensarmos bem, os camponeses lutavam por algo que era contrário ao interesse deles, como a volta da monarquia, tão nocivo a eles, assim como a religião, impregnada de forma nociva e enganosa.
Mas é impressionante pela reconstituição histórica. Por isso já vale.
Cotação: bom
Duração: 1h40
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=8nEC6nx3yiQ

segunda-feira, junho 02, 2025

CAXIAS DO SUL RECEBE A PARTIR DE HOJE PROJETO QUE LEVA CRIANÇAS AO MUNDO DO CINEMA

Foto: Wagner Woelke
A PARTIR DE HOJE ATÉ O DIA 13 de junho, Caxias do Sul será palco do projeto “Oficina de Cinema no Sul”, realizado pela produtora Conceitoh Filmes. A iniciativa, com aprovação pela Lei Rouanet e apoio de empresas locais, é voltada à formação de jovens talentos no setor audiovisual.
A oficina oferece uma imersão no mundo do cinema para 100 crianças e adolescentes de 7 a 15 anos, estudantes da rede pública municipal da cidade da Serra Gaúcha.
Divididos em turmas nos turnos da manhã e tarde, os participantes terão acesso gratuito a aulas práticas e teóricas, conduzidas por profissionais renomados do audiovisual brasileiro. A proposta da oficina é apresentar, de forma acessível e inspiradora, todas as etapas de uma produção cinematográfica — da criação de roteiros à gravação de dois curtas-metragens.
Entre os nomes confirmados estão o ator Sidney Costa, conhecido por seus trabalhos no SBT, o diretor Jorge Bareto, além do carismático “Stallone do Brasil”, o jovem destaque da Serra Gaúcha, o Youtuber Pedro Pastore, e outros convidados de diferentes regiões do país.
As oficinas serão voltadas especialmente a crianças em situação de vulnerabilidade, ligadas ao Projeto Mão Amiga, do Frei Jaime Bettega, reforçando o compromisso com a inclusão cultural e o desenvolvimento humano por meio da arte.
Mais do que ensinar sobre cinema, a “Oficina de Cinema no Sul” busca despertar sonhos, fomentar novas perspectivas e estimular a criatividade de jovens que, muitas vezes, não têm acesso a esse tipo de experiência.
Veja JORNAL AG NEWS - “Oficina de Cinema no Sul” no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=JhEJrsyzb4A

quarta-feira, maio 28, 2025

“A LENDA DE OCHI” (The Legend Of Ochi)

Foto: Paris Filmes
“A LENDA DE OCHI” (The Legend Of Ochi), direção de Isaiah Saxon, é uma daquelas fábulas ao estilo “ET”, “Lillo & Stitch”, onde uma criança solitária se apega a uma criatura estranha, se identificando.
Mas aqui, ao invés de um ser alienígena, Yuri (Helena Zengel), uma garotinha que vive num vilarejo remoto e isolado na ilha de Carpathia, no Mar Cáspio, se apega a uma criatura das profundezas de uma floresta.
Os moradores da localidade têm uma regra, de que nunca devem sair de casa após a chegada da noite, já que a floresta vizinha a pequena vila é habitat de seres perigosos, conhecidos como Ochi. Eles são vistos como criaturas perigosas e malignas, mais violentas do que lobos e ursos, e constantemente perseguidos e mortos pelos moradores, liderados por Maxim (Williem Dafoe).
Porém, em certa noite, Yuri desobedece as normas e sai à floresta, encontrando um pequeno Ochi, na realidade um filhote abandonado por sua matilha. A partir dali, a menina passa a cuidar da pequena criatura, e aos poucos se afetuando mais a ela.
Yuri, então, conclui que deve devolver o pequeno Ochi aos seus iguais, partindo em uma jornada pelas montanhas e florestas da ilha. Ao mesmo tempo, Maxim, acompanhado por vários garotos, parte atrás da garota, não entendo a missão da qual ela se incumbiu e pensando em exterminar o pequeno monstro.
“A Lenda de Ochi” não é original, mas mostra uma bonita história de amor, carinho, empatia, coragem e a importância de se proteger a natureza. Sim, é um filme fofinho, sensível, que vai agradar a pessoas de todas as idades. Este sim, um pequeno conto de fadas moderno.
Cotação: ótimo
Duração: 1h35
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=jxG6uJgkhaE

“ESQUEMA FENÍCIO” (The Phoenician Scheme)

Foto: Universal Pictures
“ESQUEMA FENÍCIO” (The Phoenician Scheme) é mais um daqueles filmes maluquetes do cineasta Wes Anderson, que sempre foge de contar uma história de forma convencional. A história é mostrada de forma cômica, transcorrendo nos anos 1950, e seguindo o excêntrico bilionário Zsa-Zsa Korda, interpretado por Benicio Del Toro, sobrevivente de seis acidentes aéreos.
Ele é pai de nove filhos homens, quase todos endiabrados, e uma única menina, a noviça Liesl (Mia Threapleton, filha de Kate Winslet). E ao surgir o que Zsa-Zsa considera o seu projeto de vida, o "Korda Land and Sea Phoenician Infrasctructure Scheme", decide deixar a aspirante a freira como única herdeira de sua fortuna. Mas antes, pede ajuda para que ela o acompanhe em uma viagem ao redor do mundo, com o objetivo de negociar com outros homens poderosos, como empresários, empreiteiros, terroristas e até assassinos. A ideia é tentar tirá-los do caminho, para obter sucesso em sua empreitada. Junto com eles viaja o estranho e tímido tutor norueguês Bjorn (Michael Cera), um dos destaques do filme, e que às vezes invoca o grande ator Gene Wilder (1933-2016).
Aliás, os personagens estranhos, caricatos, estão presentes em cada cena. E todos eles falam pausadamente, sem histrionismos, mas bastante caricatos. E aí que está uma das sacadas de “Esquema Fenício”, onde a alma acaba sendo Mia Threapleton, em seu primeiro papel de destaque em Hollywood.
Além do trio de protagonistas, outros grandes atores fazem participações especiais que trazem brilho às cenas, como Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Hope Davis, Bill Murray, Charlotte Gainsbourg, Willem Dafoe e F. Murray Abraham.
O filme de Wes Anderson, para o espectador comum, não é de fácil assimilação, pela maneira sempre peculiar de ele contar uma história – o diretor apela para um humor único, um modo específico de desenvolver a trama, que pode até parecer sem pé nem cabeça. O final, no entanto, acaba estragando a experiência positiva que rolava na tela (claro que não vou dar este spoiler).
Cotação: bom
Duração: 1h41
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=wxidk8ygmBo

quarta-feira, maio 21, 2025

“LILO & STITCH”

Foto: Disney
“LILO & STITCH”, DIREÇÃO DE DEAN FLEISCHER CAMP, é a versão live action da animação que foi sucesso lá no começo do Século XXI. A história conta a improvável amizade de uma menina havaiana de 6 anos de idade Lilo (Maia Kealoha) e um extraterrestre caçado por seus inventores, por ser considerado uma criatura perigosa, o experimento 626, batizado pela garota de Stitch.
Não posso fazer uma comparação entre os dois filmes, pois confesso não ter assistido a animação de 2002. Mas o filme com humanos ficou muito bem feito, sem contar o local mostrado – na tela o Hawai, mas filmado realmente na Austrália.
Lilo vive com a irmã Nani (Sydney Elizabeth Agudong), sendo que as duas são órfãs, após terem perdido os pais – o filme nunca explica qual a causa da morte deles. Enquanto Nani passa os dias se virando para pagar as contas da casa, Lilo, solitária, vive fazendo estripulias pela ilha, sendo considerada esquisitona pelas meninas locais, que não desperdiçam oportunidades de praticar bullying com ela.
E para piorar, as irmãs correm o risco de serem separadas pelo Conselho Tutelar, que monitora a vida das duas, e cobra medidas absurdas para que sigam juntas – a conselheira, Mrs. Kokoa, é vivida pela musa noventista Tia Carrere (de “Quanto Mais Idiota, Melhor”).
É quando o experimento 626 cai na Terra e acaba sendo adotado por Lilo, que o considera, assim como os demais personagens, um cão. Deste momento em diante tive de acionar meu piloto “mente de criança” para entrar na história, pois não é possível que um ser como Stitch possa ser visto como um animal caseiro. E o monstrinho é terrível, colocando terror em todas as suas ações.
E Stitch está sendo caçado pelos agentes da Federação Galáctica Unida, interpretados por um quase irreconhecível Zach Galifianakis e Billy Magnussen, que usam formas humanas para a caça ao pequeno ser, mostrando o lado cômico da história. Do outro lado da trama mostrando Lilo, Stitch e Nani, apesar de algumas cenas mais aceleradas, o foco é no significado de ser uma família que impera.
Stitch acaba roubando o foco sempre que aparece, com seu visual peludo azulado e suas caras e caretas, que revelam muito bem o que ele está pensando em determinado momento. Eu diria até que “Lilo & Stitch” tem muito, muito de “ET – O Extraterrestre”. A similaridade é grande. Um pequeno ser do espaço, uma criança solitária e carente pela ausência dos pais.
E eu tive de embarcar na história para poder entender o significado dela para a criançada e até mesmo para muitos adultos. Afinal, é difícil acreditar que as pessoas consigam acreditar que Stitch é uma espécie de cachorro, que coisas absurdas ocorram na pequena comunidade da ilha, que ninguém note um cara carregando um outro, desacordado, pelas ruas e não chame a polícia...e por aí vai. Mas se eu fosse marcar cada coisa exagerada do roteiro, não haveria filme, e nem alegria da garotada. E a filha de oito anos de meus vizinhos chegando em casa no final da tarde carregando um enorme boneco do Stitch, maior do que ela, mas feliz pelo presente.
Cotação: bom
Duração: 1h48
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=oLnS1Ij9-Kk

“MISSÃO IMPOSSÍVEL – ACERTO FINAL” (Mission: Impossible – The Final Reckoning)

Foto: Paramount Pictures
A FRANQUIA COMEÇOU LÁ EM 1996, ou seja, há exatos 29 anos, sempre com Tom Cruise no protagonismo, no papel do agente especial Ethan Hunt. Pois agora, “Missão Impossível – Acerto Final” (Mission: Impossible – The Final Reckoning), direção de Christopher McQuarrie, promete ser o término da saga, em sua oitava aventura. Mas como vivemos em um mundo onde impera o dinheiro, não duvide de que ocorram novas aventuras do herói no futuro.
A trama segue os acontecimentos subsequentes ao acidente trágico de um trem, que atrapalhou a missão de Ethan Hunt para impedir as consequências da Inteligência Artificial Entity, ou Entidade (para nós, brasileiros), no sistema global de computadores. A tecnologia está destinada a dominar o mundo por estar, pouco a pouco, tomando consciência. E o tema é mais atual do que nunca, pois a tecnologia vem dominando o dia a dia dos seres humanos, que se tornam, quase sem perceber, reféns das máquinas – vide os celulares.
O agente acaba descobrindo que Eternidade está instalada em um submarino russo naufragado. E terá de enfrentar uma dura missão para conseguir completar a sua tarefa, mas tendo um vilão incansável e que não poupa artifícios para atrapalhar Ethan, inclusive provocando a morte de um personagem muito querido da cinessérie.
E como se afirma que “Missão Impossível – Acerto Final” é o último capítulo da saga, logo no começo, surge um flashback, mostrando cenas marcantes dos outros sete filmes anteriores, mas trazendo momentos de conexão entre as histórias e os diversos personagens que passaram pelas telas, como Rebecca Ferguson (Ilsa Faust), Simon Pegg (Benji), Ving Rhames (Luther), Henry Czerny (Eugene Kittridge), Thandiwe Newton (Nyah), Michelle Monaghan (Julia), Maggie Q (Zhen), Laurence Fishburne (Brassel), Jeremy Renner (Will Brandt), Alec Baldwin (Hunley), Henry Cavill (August Walker), Vanessa Kirby (Alanna), Esai Morales (Gabriel), Hayley Atwell (Grace), Angela Bassett (Erika), entre muitos outros.
Mas apesar de cenas intensas, como por exemplo Ethan Hunt se pendurando mais uma vez em um avião, ou descendo a centenas de metro de profundidade, em nenhum momento senti qualquer tensão com medo de algo acontecer com o personagem, que parece ser indestrutível – afinal, os produtores e mesmo Tom Cruise não seriam idiotas ao ponto de matar a galinha dos ovos de ouro que é Hunt. E também não poderia faltar a tradicional corrida de Cruise – desta vez pelas ruas de Londres.
O filme, enfim, é mais um espaço para o ator de 62 anos (ele completará 63 em 3 de julho próximo) inflar mais ainda o seu ego. Porém, ele entrega o que seu público quer. Muita ação, cenas arriscadas, aventura pelos mais diversos lugares do mundo, histórias intrigantes e mulheres bonitas. Passa de ano com louvor.
Cotação: ótimo
Duração: 2h49
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=wyyJvg0jMYM

quinta-feira, maio 15, 2025

"DETETIVE CHINATOWN: O MISTÉRIO DE 1900" (Tang Ren Jie Tan an 1900)

Foto: Sato Company
“DETETIVE CHINATOWN: O MISTÉRIO DE 1900” (Tang Ren Jie Tan an 1900), direção de Chen Sicheng e Mo Dai, transcorre em San Francisco. O longa-metragem faz parte de uma franquia de sucesso, porém, saindo dos dias atuais e se situando no último ano do Século XIX.
A trama serve como um prelúdio para a série de filmes Detetive Chinatown. Os protagonistas Wang Baoqiang e Haoran Liu interpretam versões ancestrais dos personagens que interpretaram nas outras três produções anteriores.
A história foca no assassinato da filha de um congressista americano, Grant (John Cusack), que odeia os imigrantes chineses e delega pela expulsão deles da cidade.
O principal suspeito do crime é Bai Zhenbang (Zhang Xin Cheng), filho de Bai Xuanling (Chow Yun-Fat), um dos homens mais influentes de Chinatown, e acusado de ser o infame serial killer Jack, o Estripador (que matou cinco prostitutas em Londres nos anos 1880) e que nunca foi descoberto. Como Zhenbang morou e estudou na capital inglesa, é visto como o potencial assassino, mas fica evidente desde o começo o racismo.
Para tentar solucionar o caso, aparecem o jovem Qin Fu, confundido como Sherlock Holmes, mas dono de pensamento lógico e do raciocínio rápido, e o nativo Ah Gui, que está em San Francisco para entender a morte de seu pai adotivo, cujo corpo foi encontrado junto à filha de Grant.
Os assassinatos também servem para que o diretor Chen Sicheng, em colaboração com o cineasta Dai Mo, mostrar, em tom de comédia, como era aquele período na Califórnia, onde os conflitos entre americanos, que se sentiam roubados em seus empregos e terras pelos asiáticos, era gritante e absurdo. Enfim, “Detetive Chinatown” explora fortemente os temas raciais, de imigração e identidade nacional. O mesmo tema pode ser encontrado na excelente série “Warrior”, baseado em escritos deixados por Bruce Lee.
Cotação: bom
Duração: 2h16min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=2b79RrEbjK4

“CAIAM AS ROSAS BRANCAS!” (¡Caigan las rosas blancas!)

Foto: Boulevard Filmes
“CAIAM AS ROSAS BRANCAS!” (¡Caigan las rosas blancas!) é uma comédia road-movie erótica lésbica dirigida pela argentina Albertina Carri, que conta com coprodução brasileira com a Quarta-feira Filmes.
Sétimo longa-metragem assinado pela diretora, de “As Filhas do Fogo” (2018), “Caiam as Rosas Brancas!” conta a história de uma cineasta, Violeta (Carolina Alamino, que assina o roteiro ao lado da diretora e de Agustín Godoy), que dirigiu um filme pornô amador com um grupo de amigas. Com o sucesso inesperado, ela recebe o convite para fazer uma produção erótica profissional. Porém, Violeta não consegue seguir as filmagens, pois entrou em um conflito existencial.
É quando surge uma de suas amigas, dizendo que precisa viajar para o interior da Argentina, para ajudar um amigo necessitado. Então, quatro mulheres largam tudo em Buenos Aires e partem numa van, toda arrebentada, em uma aventura interiorana. E no caminho, irão se deparar com uma mecânica lésbica e sua amante, uma gangue de motoqueiros, irão se perder numa floresta. Até virem parar em uma ilha paradisíaca no Brasil. Tudo banhado a muito erotismo e bom humor.
“Embarcamos em um território misterioso e, usando gêneros cinematográficos como estruturas para a metamorfose à qual nossas crisálidas são expostas, criamos raízes em novas questões”, afirmou Albertina Carri.
Ela explicou que a jornada de descobertas desse grupo de mulheres inspira a própria estrutura do filme: “As mutações dos personagens forçam a narrativa a acompanhar essa metamorfose com a cadência de qualquer processo orgânico. Como o verme que se alimenta e depois se enrola em seda e se torna um inseto completamente diferente: uma borboleta que não pode voar. Até que voa”, completou.
O elenco traz ainda, além Carolina Alamino, a argentina Laura Paredes, atriz de “La Flor” (2018) e “Argentina 1985” (2022); a espanhola Luisa Gavasa, veterana que participou de “Maus Hábitos” (1983), de Pedro Almodóvar; e a brasileira Renata Carvalho, atriz e militante trans, conhecida por seus papéis em “Os Primeiros Soldados” (2021) e “Salomé” (2024).
Cotação: bom
Duração: 2h05
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=-11_KE-yrn8

“DO SUL, A VINGANÇA”

Foto: Render Brasil
“DO SUL, A VINGANÇA”, é dirigido por Fábio Flecha, que também assina o roteiro ao lado de Edson Pipoca, e produzido por Tania Sozza, e é o primeiro filme de ficção produzido 100% no Mato Grosso do Sul a entrar em circuito comercial nos cinemas do Brasil.
A trama é uma mistura de ação, comédia e elementos do faroeste ambientado na fronteira entre Brasil, Paraguai e Bolívia. E tem como protagonista o escritor Lauriano (Felipe Lourenço), que para pesquisar material para um novo livro, parte para o Mato Grosso do Sul. Na região fronteiriça, o crime organizado dita suas próprias leis, e ele tem de achar um tal de “Jacaré”.
Lauriano, então, vai entrevistando juízes, políticos, policiais e até chefes do tráfico. E o que era uma simples pesquisa para uma obra literária, acaba se transformando em uma jornada de vida e morte.
“Em um cenário de conflitos históricos na fronteira trinacional, onde a cultura brasileira se mescla com a paraguaia e a boliviana, 'Do Sul: A Vingança' mistura ação e comédia em uma aventura no Velho Oeste brasileiro, com suas próprias lendas e costumes”, destaca o diretor Fábio Flecha.
Apesar das boas intenções, a obra sofre com o amadorismo dos atores, a precariedade dos cenários. As cenas de ação são risíveis, de tão constrangedoras. E irritantes...com os personagens insistindo no bordão “do sul” toda a vez que alguém se referia ao estado como Mato Grosso, esquecendo que houve uma divisão em 1977, surgindo o Mato Grosso do Sul. Eu só olhava para o relógio, torcendo para a tortura acabar.
Cotação: ruim
Duração: 1h47
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=heGCGxegdFc

“HURRY UP TOMORROW - ALÉM DOS HOLOFOTES” (Hurry Up Tomorrow)

Foto: Paris Filmes
QUE FILME PRETENSIOSO. “HURRY UP TOMORROW - ALÉM DOS HOLOFOTES” (Hurry Up Tomorrow), dirigido por Trey Edward Shults, é escrito e estrelado pelo cantor Abel Tesfaye, mais conhecido como The Weeknd.
Em primeiro momento, muita gente acreditou que o filme se trata de uma obra biográfica. No entanto, o longa-metragem é um thriller psicológico inspirado no recente álbum da carreira do artista, sendo inspirado por um fato real – durante uma apresentação na turnê “After Hours til Dawn” em setembro de 2022 no SoFi Stadium, na Califórnia, The Weeknd ficou sem voz, sendo obrigado a interromper o show. Depois de examinado, foi constatado que o músico não tinha nenhum problema físico, e sim psicológico.
Então, na trama de “Hurry Up Tomorrow”, o artista sofre de insônia e infeliz com a vida que leva, apesar do sucesso, da fama e da fortuna. Pois sofre pelo abandono da amada, que ignora suas mensagens.
Ao mesmo tempo, a história segue uma misteriosa garota, vivida por Jenna Ortega, que toca fogo em uma casa e sai sem rumo pelos Estados Unidos. Os dois, em determinado momento, irão se encontrar.
No entanto, nada faz sentido neste filme, editado de forma histriônica, tendo como pano de fundo aquele tipo de música atual, que parece ser feita de forma industrial, todas se parecendo a mesma – mas por muitas vezes dá para notar elementos vindos de clássicos dos anos 1980, sendo o mais evidente a “chupação” de hits de Michael Jackson. Fuja.
No elenco, além de Abel Tes e Jenna Ortega, também embarcaram nesta canoa furada Barry Keoghan, Riley Keough, Gabby Barret, Charli D’Amelio e Paul L. Davis.
Cotação: ruim
Duração: 1h45min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=nsi2U1fH7Is

“MANAS”

Foto: Paris Filmes
“MANAS”, DIRIGIDO POR MARIANNA BRENNAND É UM VERDADEIRO TAPA NA CARA...para dizer o menos. Primeiro filme de ficção da cineasta dos "Francisco Brennand" (2012) e "Danado de Bom" (2016), o longa é baseado em casos reais de exploração infantil na Ilha do Marajó, no Pará.
A história de “Manas” segue a vida da adolescente Tielle (Jamilli Correa), de 13 anos e que vive em uma comunidade miserável ribeirinha na Ilha do Marajó. Ela mora em uma casa de palafita de apenas dois cômodos, sem água encanada e sem energia elétrica, com o pai Marcílio (Rômulo Braga), a mãe Danielle (Fátima Macedo) e três irmãos menores.
Todos dormem no mesmo cômodo e tiram o alimento do dia a dia das águas do rio e da floresta próxima.
E como todas as adolescentes da região, Tielle vende açaí nas balsas que passam pelo local, e é lá que começa a ser explorada sexualmente pelos tripulantes. O dinheiro é usado para ela para comprar coisas básicas e dividido com a mãe, que está grávida de mais um filho.
Porém, o que passa nos navios é o de menos com o que sofre em casa, sendo abusada pelo próprio pai, que dispõe do corpo dela como propriedade. O filme, no entanto, dispensa o uso de cenas de sexo, deixando apenas a sugestão para o espectador. E isso não é menos impactante. A violência está ali, presente, e incomoda e faz refletir. O Brasil é um país continental, e com diferentes modos de vida, desde o mais miserável, ao muito miserável até a classe dominante. É tudo muito injusto. Um dos sonhos de Tielle é conhecer o “Sul”, que para ela é tudo ali abaixo do Pará, e sair daquele inferno.
“Manas” leva um tempo para engatar. O começo é arrastado, mas começa a fluir quando Tielle sai em uma caçada com o pai. Neste momento, a menina começa a ser assediada e estuprada. E o incômodo e o desespero da protagonista fica bem acentuado. Com a mãe grávida, o pai insiste que Tielle durma na cama com ele, ao invés da rede. Mas tudo é mostrado de forma sutil.
O elenco de "Manas" está perfeito, desde a protagonista Tielle, vivida pela estreante Jamilli Correa. A atriz paraense, agora com 16 anos, nunca havia atuado, e surpreende pela atuação, onde mostra um olhar de medo, de angústia.
Rômulo Braga (que viveu o pai de Nei Matogrosso em outro filmaço, “Homem com H”) também está excelente...um homem que acredita ser um bom cristão, afinal sustenta a família e segue os mandamentos daquele livro de ficção arcaíco conhecido como bíblia, e Fátima Macedo como a mãe também está ótima. O grande nome de “Manas” é Dira Paes, que interpreta a policial Aretha, personagem inspirada em duas pessoas reais: o delegado Rodrigo Amorim e a ativista Marie Henriqueta, importantíssimos no combate à exploração sexual infantil no Marajó.
Marianna Brennand fez uma obra fenomenal, que mostra a realidade de um Brasil que desconhecemos, uma realidade muito diferente da nossa – em pleno Século XXI, pessoas vivendo como nos anos 1800, em um sistema patriarcal, sem o mínimo das necessidades básicas. Somos, em “Manas”, expostos à uma realidade cruel.
Cotação: excelente
Duração: 1h41
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=XjcZe4V2pSg

sexta-feira, maio 09, 2025

“KARATÊ KID: LENDAS” (Karate Kid: Legends)

Foto: Sony Pictures
“KARATÊ KID: LENDAS” (Karate Kid: Legends), dirigido por Jonathan Entwistle e roteiro de Rob Lieber, é uma tentativa de unir diversas gerações de admiradores da franquia iniciada em 1984, e que gerou até uma série, “Cobra Kai”. Porém apresenta um fio de história, com diálogos péssimos e atuações lamentáveis. O que pode ser atraente é a aparição de diversos personagens, que estiveram presentes nos outros filmes, como Ralph Macchio, Jack Chan e uma singela homenagem a Pat Morita (1932-2005), o senhor Miyagi dos quatro primeiros longa-metragens.
A trama é basicamente uma cópia da história original, praticamente mudando só o destino final do protagonista, vivido por Ben Wang, que interpreta o jovem chinês Li Fong, estudante de kung fu que muda com a mãe, vivida por Ming-Na Wen, de Beijing para Nova Iorque, devido ao novo emprego dela, em um hospital.
Logo na sua chegada, já arranja um crush, a jovem Mia (Sadie Stanley), que claro, é ex-namorada de Connor (Aramis Knight), rapaz que será o antagonista de Li e também filha do dono da pizzaria, que tem uma dívida com o dono de uma academia de karatê – que vem a ser o treinador de Connor. E os vilões são um primor de clichê: mal-encarados, praticamente não falam uma frase completa, só fazem cara feia e resmungam.
As conveniências do roteiro são gritantes, exageradas – logo Li estará envolvido em um torneio de karatê, onde terá apenas dez dias para treinar. É aí que ressurgem as figuras de Jack Chan, presente no malfadado filme de 2010, com Jayden Smith, e Ralph Macchio, o Daniel San, dos clássicos dos anos 1980.
E tudo acontece tão rapidamente, tão vertiginosamente, constatação feita nas imagens de videogame presentes no filme, que por um lado pode ser visto como uma benção. Pois a tortura acaba rapidamente, para alívio do público.
Cotação: ruim
Duração: 1h34
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=j_Z5so0LjG0

quarta-feira, abril 30, 2025

“HOMEM COM H”

Foto: Paris Filmes
“HOMEM COM H”, DIRIGIDO POR ESMIR FILHO, ESMIÚÇA ao longo de mais de duas horas a complicada e maluca vida do cantor sul-matogrossense Ney Matogrosso, que completará 84 anos de idade em 1º de agosto. A trama é convencional, transcorrendo principalmente nos anos 1950, 1960, 1970 e 1980, começando em sua infância controlada por um pai militar, Antônio Matogrosso Pereira, vivido pelo ator Rômulo Braga. e que não aceitava já à época os trejeitos afeminados do garoto. E esse embate entre pai e filho vai permear quase todo o filme, entremeado por números musicais.
Depois de ser expulso de casa, Ney, interpretado por Jesuita Barbosa, parte para o Rio de Janeiro, onde servirá na Aeronáutica, onde cenas tensas entre ele e um colega já mostram o homoerotismo que virá em seguida e em boa parte do longa-metragem.
A história também mostra a sua vida como hippie até a entrada no grupo musical Secos e Molhados, onde começará a conhecer o sucesso, e de onde acabará saindo por divergências contratuais, para uma carreira solo de sucesso.
Em sua carreira solo, Ney peitou censores, com danças altamente sexuais, olhares inquisidores – em uma cena marcante, três censores tentam negociar menos rebolados do cantor em uma apresentação em Recife nos anos 1970. Afinal, vivíamos naqueles anos uma forte repressão do governo militar e sua intensa Ditadura.
Falando em Ditadura, o pai conservador do artista só começou a aceitar e reconhecer o talento do filho ao assistir ao primeiro show solo de Ney, “O Homem de Neanderthal”, em 1975.
Já na década seguinte, o roteiro focou nos grandes amores na vida de Ney, a relação intensa e difícil com o rebelde Cazuza (1958 – 1990), interpretado pelo estreante Jullio Reis – corrigindo erro da própria cinebiografia do cantor do Barão Vermelho, que apagou qualquer traço do relacionamento dos dois, e depois com o advogado Marco de Maria, outro grande amor da vida de Ney, vivido por Bruno Montaleone. Ambos foram vítimas do vírus da AIDS, mostrando a crueza daqueles anos.
“Homem com H” tem de destacar o maravilhoso trabalho de caracterização de Jesuita Barbosa, que encarnou com precisão os jeitos, olhares, gestos de Ney. Uma cena que mostra a gravação de um videoclipe para o Fantástico ainda na fase com os Secos e Molhados é tão perfeita, que o espectador pode jurar que foram usadas as imagens reais da época, tal perfeita a caracterização.
Porém, Jesuita não cantou nos números musicais, dublando as canções de Ney Matogrosso, que possui uma belíssima voz de contralto.
O nome do filme faz referência ao estrondoso sucesso do disco Ney Matogrosso de 1981, com o forró “Homem com H”, criada por Antonio Barros, e que só foi gravada pelo cantor por insistência do músico Gonzaguinha (1945 – 1991), filho de Luiz Gonzaga, o rei do baião (1912-1989).
Enfim, a vida de Ney Matogrosso é bem retratada, mostrando a luta de um homem pela liberdade e poder ser quem ele é.
Cotação: Excelente
Duração: 2h09min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=tHlkkfoMwFo

quinta-feira, abril 24, 2025

“O CONTADOR 2” (The Accountant 2)

Foto: Warner Bros.
“O CONTADOR 2” (The Accountant 2) chega aos cinemas nove anos depois de sua primeira parte, e novamente dirigido por Gavin O’Connor, e tendo Ben Affleck como o protagonista. Ele interpreta o contador do título, Christian Wolff, que fazia trabalhos de contabilidade para criminosos e que é portador de espectro autista, possuindo incríveis habilidades matemáticas, e também um exímio lutador.
Nesta sequência, Christian vive escondido, mas acaba retornando à ativa depois que um ex-agente do FBI, (J.K. Simmons) é assassinado. Então, a Diretora Adjunta do Tesouro dos EUA, Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), ex-parceira de King, pede ajuda a Christian para investigar o crime, e começa a descobrir um esquema de tráfico humano.
Percebendo que o caso é mais complicado do que imagina, o contador contata o irmão mais novo, Paxton (Jon Bernthal, um matador de aluguel e com quem não tem boa relação. Os dois são completamente diferentes, sendo que Paxton ainda pratica bullying com o irmão autista. Mas se unem para enfrentar a rede de traficantes de seres humanos.
Affleck está muito bem em cena, com duas cenas muito divertidas. Numa, logo no começo, seu personagem vai em um programa de encontro às escuras e, sua honestidade extrema e habilidade com números, acabam afastando as mulheres, que haviam ficado encantadas com sua beleza. E na outra, ele vai a um bar country com Paxton e acaba atraído pela garçonete, porém não sabe como agir com ela, devido ao seu jeito travado.
Aliás, o contador é ajudado em sua missão por um grupo de adolescentes superdotados em tecnologia, e que ficam alojados em uma mansão muito semelhante a Escola Xavier, dos X-Men. A pergunta que fica é: quem cuida destes jovens, quem os alimenta? Eles passam as 24 horas do dia em plantão, para ajudar Christian. O roteiro, no entanto, é muito cuidadoso em como os autistas são mostrados, jamais os ridicularizando ou desrespeitando.
Já Bernthal repete o mesmo tipo de outros filmes de ação da qual participa, do matador ágil e durão – vide o recente “Operação Vingança”.
“O Contador 2” tem roteiro de Bill Dubuque, que também foi o responsável da primeira parte. E é repleto de clichês dos filmes de ação, com muitas sequências de tiroteios, cujos atiradores são completamente incompetentes em acertar um mísero tiro nos mocinhos, , muitos socos e explosões. E as cenas são forçadas ao extremo, difíceis de engolir. Só que acaba divertindo, se a gente não pensar muito.
Cotação: regular
Duração: 2h05min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=fL5OopLm2tM

domingo, abril 20, 2025

“PECADORES” (Sinners)

Foto: Warner Bros.
“PECADORES” (Sinners), dirigido por Ryan Coogler, é uma das melhores surpresas deste ano, em uma trama que transcorre na década de 1930, no Mississippi controlado pelas leis segregacionistas de Jim Crow, e com toques de terror.
O filme tem como protagonista Michael B. Jordan, que interpreta os irmãos gêmeos Fuligem e Fumaça, que voltam à sua segregada cidade natal, dominada pela Ku Klux Klan, depois de alguma forma terem enriquecido na nortista Chicago. Eles pretendem abrir uma boate, onde os negros poderão ir para escutar Blues – a música dos negros escravizados. Para tanto, arregimentam o primo Sammie Moore (o estreante Miles Caton), que é um garoto aspirante a músico, e que sofre a oposição do pai, um pastor, que acredita ser o Blues o som de pecadores, não sendo coisa de deus.
“Pecadores” é tão bem esquematizado, detalhista, que o diretor leva mais de uma hora apenas apresentando os personagens e fazendo o público ter empatia por eles, como Grace e Yao, os donos chineses de uma mercearia, Mary (Hailee Steinfeld), uma garota negra que, por ter a pele mais clara, se passa por branca; a curandeira local Annie (Wunmi Mosaku).
E qual a surpresa do espectador, quando de repente, um filme que fala sobre os cidadãos negros tentando sobreviver ao racismo vigente, a trama apresenta os sanguinários vilões, vampiros, que desejam controla-los. Ou seja, uma alegoria de a população negra nunca ter sossego, tendo de se submeter aos seus senhores, tanto que o vampiro líder é branco, vivido pelo ator Jack O’Connel, do baita seriado sobre a II Guerra Mundial “SAS: Rogue Heroes”.
“Pecadores” tem muito de Quentin Tarantino, com cenas de pura violência e subversão da realidade – quando, por exemplo, um dos irmãos fuzila uma tropa da Ku Klux Klan, emulando “Bastardos Inglórios”.
Mas é uma cena da boate que salta aos olhos, quando os personagens dançam – com a cena transportando para várias etapas da evolução da música negra, do Blues, Rock, chegando até mesmo ao atual Rap e Hip Hop, numa sincronia maravilhosa.
O filme é muito bem executado, apresentando uma riqueza de detalhes da triste época retratada. A direção de arte e o figurino reforçam a ambientação histórica.
A bela trilha sonora, excepcionalmente regida pelo maestro sueco Ludwig Göransson, centrada no Blues, transcorre perfeitamente entre a narrativa, embalando ainda com maestria as cenas de maior tensão. Eu saí do cinema extasiado.
Cotação: Excelente
Duração: 2h17min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=YK4H0e5v_ko

“NAS TERRAS PERDIDAS” (In The Lost Lands)

Foto: Diamond Films
ADAPTADO DE UM CONTO DE GEORGE R. R. MARTIN (Game of Thrones), "Nas Terras Perdidas" (In The Lost Lands), é dirigido por Paul W. S. Anderson, e tem como protagonista a sua esposa, Milla Jovovich. Ela interpreta a feiticeira Gray Alys, que após escapar de uma execução, precisa fugir da perseguição de soldados de um reino comandado opressivamente pela igreja, em um filme que se passa num futuro pós-apocalíptico, mas com regras.
E a bruxa recebe o pedido da rainha Melange (Amara Okereke), que deseja se tornar um metamorfo (um humano com poderes de se transformar em outros seres). Assim, Alys deve capturar nas distantes Terras Perdidas um lobisomem, que tem a maldição de alterar a sua forma física.
Para poder cumprir a missão, Gray se une ao caçador experiente Boyce (Dave Bautista), que conhece como ninguém os perigos das Terras Perdidas. E os dois partem em uma jornada fantástica em busca da captura da criatura mística.
O filme, evidentemente, é uma fantasia. Porém, é um apanhado de cópias muito ruim de outras obras cinematográficas, como por exemplo “Mad Max” e “Senhor dos Anéis”.
Anderson apresenta uma direção nada inspirada, num pastiche completo, com cenas exageradas, mal filmadas, atuações forçadas dos atores, e um plot-twist completamente inverossímil.
Cotação: ruim
Duração: 1h41min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=b3ZththVl50

“A MAIS PRECIOSA DAS CARGAS” (La Plus Précieuse Des Marchandises)

Foto: Paris Filmes
“A MAIS PRECIOSA DAS CARGAS” (La Plus Précieuse Des Marchandises), direção de Michel Hazanavicius — cineasta de “O Artista”, vencedor do Oscar em 2012, é inspirado no conto homônimo de Jean-Claude Grumberg.
A animação é ambientada durante a Segunda Guerra Mundial, envolvendo os horrores do Holocausto, com Hazanavicius construindo um conto de fadas pesado, tentando mostrar que um ato de piedade e amor pode se tornar um ato de resistência.
Em um país não identificado do leste europeu, onde o genocídio praticado pelos nazistas, foi mais violento e cruel, um humilde lenhador e sua esposa vivem em uma grande floresta, onde em sua fronteira passam, frequentemente, trens – são os infames transportes de judeus para os campos de concentração. O casal leva uma vida sofrida, em constante desafio contra a fome e o frio.
Até que um dia de forte nevasca, a mulher – os personagens não possuem nomes – está na floresta atrás de lenha, quando escuta o choro de um bebê. Ele foi jogado de um trem de prisioneiros, provavelmente por uma mãe desesperada. A mulher acaba pegando a criança e levando para casa, e a princípio o lenhador é contrário à presença daquele pequeno ser na humilde cabana deles, sendo que é uma boca a mais para alimentar. E apesar de sua ignorância, o homem sabe o que pode acontecer com quem ajuda ou esconde judeus, serem eles de qualquer idade.
A batalha da mulher passa a ser alimentar o bebê e escondê-lo das autoridades, enquanto vê uma incrível transformação na sua vida e de seu marido. “A Mais Preciosa das Cargas” acaba sendo um belo filme de resiliência e de esperança no meio de um mundo cruel e sanguinário. Uma animação emocionante.
Cotação: Excelente
Duração: 1h21min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=SX5P0xkoP64

“SOBREVIVENTES”

Foto: Pandora Filmes
“SOBREVIVENTES” é a obra derradeira do cineasta luso-brasileiro José Barahona, falecido em novembro de 2024, aos 55 anos de idade. A trama acompanha um grupo de sobreviventes de um navio negreiro no Século XIX, que naufraga no Oceano Atlântico. No princípio, duas mulheres brancas e quatro homens brancos se encontram numa praia deserta, e passam dias sem saber o que fazer para tentar escapar da morte.
Até que surge outro náufrago, o negro escravo João, visto por todos apenas como um objeto sem valor, sendo apedrejado, cuspido e amarrado pelos brancos – um padre católico chega a dizer que João é apenas um animal, pois os negros não são seres humanos, numa crendice imposta pela igreja católica através da bíblia.
Porém, em gesto de sobrevivência, João toma o controle do grupo, e é com ele que todos sobrevivem. E tentam chegar a um lugar mais seguro da ilha, onde acabam encontrando outros negros sobreviventes do naufrágio e que estão sedentos por vingança.
“Sobreviventes”, com excelente fotografia em preto e branco, é um retrato cruel e fiel do que passaram milhões de pessoas tiradas de suas terras no Continente Africano, e trazidos à força para a América, vistos apenas como mão de obra.
A história de “Sobreviventes” foi criada por Barahona e desenvolvida em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, autor de livros traduzidos em mais de 30 idiomas e vencedor de prêmios como o Independent Foreign Fiction Prize, no Reino Unido, e o Prêmio Literário Internacional de Dublin.
Agualusa é conhecido por abordar em sua literatura as heranças do colonialismo, os cruzamentos entre memória e identidade e as cicatrizes deixadas pela escravidão. Entre seus títulos estão “Nação Crioula”, que imagina cartas escritas pelo personagem Fradique Mendes sobre sua vivência em Luanda e seu amor secreto pela ex-escravizada africana Ana Olímpia; “O Vendedor de Passados”, que investiga a reinvenção das memórias em uma Angola pós-colonial; e “Teoria Geral do Esquecimento”, ambientado no período da independência angolana e centrado na metáfora do isolamento como reflexo da memória coletiva.
O escritor angolano conta que o que mais lhe interessou quando o diretor José Barahona pediu para que contribuísse para a escrita do roteiro do filme “foi trazer a voz dos africanos, trazer a perspectiva desses africanos sobreviventes. Mostrar que eles nunca foram sujeitos passivos da sua história, foram sujeitos ativos dessa mesma história. Os africanos sobrevivem ao naufrágio, mas sobrevivem, sobretudo, a um processo de sequestro. Então, esse foi todo o meu esforço maior”.
A produtora do filme, Carolina Dias, também companheira de Barahona, explica que o projeto foi filmado entre maio e junho de 2022 em Portugal e que o cineasta “sempre teve uma relação íntima com o Brasil, e se questionava sobre o passado de 'glórias' de Portugal. Ele buscava olhar para o outro lado dessas ‘glórias’. A outra versão da história, aquela não contada oficialmente. Nisso ele teve a ideia do filme, um naufrágio com negros e brancos e a possibilidade de, na luta pela sobrevivência, escolher entre reproduzir comportamentos do passado ou criar uma nova estrutura de sociedade”.
A trilha sonora original é assinada por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, e ganha contornos ainda mais emocionais com a participação especial de Milton Nascimento, que empresta sua voz a uma das faixas do filme, ampliando sua dimensão simbólica e afetiva.
Cotação: ótimo
Duração: 1h11min
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Zh6Bc_38YqI

“LOONEY TUNES - O DIA QUE A TERRA EXPLODIU” (The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie)

Foto: Paris Filmes
“LOONEY TUNES - O DIA QUE A TERRA EXPLODIU” (The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie), direção de Peter Browngardt, traz para as telonas a essência dos insanos personagens da turma do Pernalonga, Gaguinho e Patolino. Mas para curtir o filme, você tem de pensar como uma criança de dez anos, para poder curtir a história. Caso contrário, esqueça.
O longa-metragem, tendo como protagonistas os irmãos de mães diferentes Patolino e Gaguinho, se vem a volta com ameaças extraterrestres, em trama que bebe diretamente de clássicos da ficção científica dos anos 1950, “O Dia em que a Terra Parou” e “Invasores de Corpos”.
A história conta como os dois foram criados como irmãos por um fazendeiro, que morre quando os dois já estão crescidos. E eles precisam de dinheiro para reformar a casa herdada do pai adotivo, ou serão despejados.
Assim, depois de várias tentativas frustradas, acabam arranjando emprego numa fábrica de chicletes, mas acabam tentando combater um alienígena que quer controlar os corpos e mentes dos terráqueos. No meio de toda a confusão, surge ainda o interesse amoroso de Gaguinho, a porquinha Petunia.
A graça na história está nos histrionismos dos personagens, principalmente Patolino, que parece sempre estar ligado em 220 volts. Os dois irmãos adotivos sempre procurando conviver sem que um enlouqueça o outro. Filme para ver com as crianças.
Cotação: regular
Duração: 1h31
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=JBT-iG_B-00

“EROS”

Foto: Fistaile “EROS” É UM DOCUMENTÁRIO DIRIGIDO POR RACHEL DAISY ELLIS. A diretora brasileira/britânica estabelecida em Recife, Pernambuco...