quinta-feira, março 30, 2017

"O Mundo Fora do Lugar" (Die abhandene Welt)



Sophie (Katja Riemann) se vira como realizadora de casamentos para casais que não querem nada religioso e também é cantora em um restaurante. Mas sua vida vai sofrer mudanças radicais e aproximá-la mais do pai e de um tio, ao descobrir segredos do passado deles, em "O Mundo Fora do Lugar" (Die abhandene Welt), direção de Margaretha von Trotta.

Certo dia, seu pai, Paul (Matthias Habich), encontra na internet uma matéria sobre a cantora lírica Caterina (Barbara Sukowa), que é uma sósia perfeita de sua falecida esposa, Evelyn. Paul fica obcecado em saber mais sobre aquela mulher, e pede que Sophie vá ao encontro dela, no outro lado do oceano, em Nova Iorque. Ele deseja que a filha para tentar convencê-la a visitá-los na Alemanha. Meio a contra-gosto, Sophie decide atender o pedido do pai. E ao chegar e conhecer Caterina, uma musa controladora e irascível, Sophie irá juntar os pontos aos poucos, mesmo que para tanto tenha de fuçar no passado de muitas pessoas.

Atuações soberbas, principalmente de Barbara Sukowa e Katja Riemann, e sequências questionadoras, chegando perto de um filme de detetive sem crime - mas de segredos perturbadores e constrangedores. E aquela coisa que sentimos quando não entendemos o porque de algumas pessoas guardarem rancores por décadas, por motivos muitas vezes, ridículos.

Duração: 1h41min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Mulheres do Século 20" (20th Century Women)



"Mulheres do Século 20" (20th Century Women), direção de Mike Mills, mostra um belo mas perturbador retrato do final dos anos 1970. O filme tem tons bastante autobiográficos e mostra a história de três mulheres de gerações diferentes que dividem uma mesma casa: a mais nova, Julie (Elle Fanning), com 17 anos de idade, a do meio, Abbie (Greta Gerwig), com seus quase 30 e a mais velha, Dorothea (Annette Bening), com 50 e poucos anos e mãe do adolescente de 15 anos, Jamie (Lucas Jade Zumannv), que é o narrador da trama, talvez o alter-ego do diretor.

O filme tem sempre presente Jamie, pois é sempre mostrado o seu ponto de vista. Ele tem uma grande proximidade com Julie, com os dois conversando sobre tudo e com o hábito de dormirem na mesma cama, mas sem rolar sexo entre eles. Já com Abbie, os diálogos mostrados falam sobre bandas de punk rock - a fotógrafa é o retrato da época, final dos anos 1970. E por fim, Dorothea, nascida em meados dos anos 1920, se discorre sobre o passado. Mas ela é uma mãe presente e preocupada com o garoto - que criado sem pai, não aparenta rebeldia, mas sim sede de conhecimento.

O forte de "Mulheres do Século 20", além do visual característico da época, são seus diálogos, fortes e reflexivos, se mostra o principal elemento do longa. Enfim, fica evidente que é um filme quase autobiográfico, sendo possível enxergar o que ocorreu na vida do diretor em sua adolescência, cercado de três mulheres fortes e inteligentes, que moldaram seu caráter.

Duração: 1h59min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Central - O Filme"



"Central - O Filme", direção de Tatiana Sager e Renato Dornelles, baseado em livro-reportagem do próprio Dornelles, "Falange Gaúcha", mergulha no inferno do Presídio Central de Porto Alegre, considerado em 2008 a pior penitenciária do país.

A produção passou mais de dois meses dentro dos corredores fedorentos do lugar, mostrando o pesadelo por que passam condenados, carcereiros, seus familiares. O ambiente é tão horrível, com os presos sendo quase o dobro do que o local suporta, que as celas ficam acertas e são geridas pelos próprios "moradores" do local, onde a Brigada Militar tem a entrada restrita. O tráfico de drogas e armas rola solto, além do que muitos dos presidiários têm de pagar para ficar no local. E muitos deles possuem doenças como tuberculose e HIV.

"Central - O Filme" ainda traz cenas perturbadoras, como uma festa regada a cocaína, com os presos enfileirados, esperando sua vez de pegar a droga, e comemorações de facções quando vencem outras. Os presidiários ainda dão seus depoimentos de como funciona o sistema na cadeia, com muitos familiares tendo de fazer trabalhos para manter seus entes queridos vivos atrás das grades. E não, ninguém é inocente neste mundo. Cruel.

Duração: 1h15min
Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Era o Hotel Cambridge"




"Era o Hotel Cambridge", da diretora Eliane Caffé, narra a trajetória de centenas de pessoas que invadiram um velho prédio abandonado no centro de São Paulo. O hotel do título foi um dos principais do país na década de 1950, quando recebeu várias personalidades nacionais e internacionais, mas com o tempo foi entrando em decadência. Seu proprietário acabou abandonando o prédio.

Dez anos depois, cheio de entulhos, ratos, insetos, pessoas que não tinham onde morar, o ocuparam, fazendo uma reforma geral no local. Foi a senha para que o proprietário pedisse a reintegração de posse. Moram no prédio refugiados recém-chegados ao Brasil e trabalhadores sem-teto, que se organizam numa comuna.

O filme é um misto de documentário com ficção. Parece que seus moradores interpretaram momentos de suas vidas no prédio, ao lado de atores como José Dumont e Suely Franco. Aliás, a direção de arte foi feita em parceria com alunos da Escola da Cidade, uma experiência pedagógica e artística que explorou as fronteiras entre arquitetura e cinema e entre arte e educação.

A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set criativo da filmagem. Esse coletivo foi composto por quatro frentes principais: núcleo de estudantes de arquitetura da Escola da Cidade, equipe de produção do filme, lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia) e grupo dos refugiados. Por meio de oficinas dentro da ocupação surgiu a matéria-prima para o aprimoramento do roteiro e da direção de arte. A ousadia do experimento garantiu autenticidade e força dramática ao filme.

Recentemente, o edifício Cambridge foi declarado pelo poder público como área de interesse social, à espera de um retro-fit para moradia popular. Mas o ponto forte dessa experiência foi fortalecer o engajamento político dos estudantes e fazê-los sentir a importância e a responsabilidade social do arquiteto, trabalhando nas fronteiras, contaminando e provocando situações e pontos de vistas transformadores.

Duração: 1h39min

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"O Ornitólogo"




"O Ornitólogo", direção de João Pedro Rodrigues, é um filme com um pouco dos pés na religiosidade. Vemos a peregrinação do ornitólogo Fernando (Paul Hamy), que está viajando pelo curso de um rio em Portugal pesquisando cegonhas pretas raras. Ele viaja em um caiaque e um dia sofre um acidente, sendo resgatado por duas garotas chinesas que estão fazendo o trajeto de Santiago de Compostela.

Então, o filme se encaminha para algo de terror, com Fernando sendo amarrado pelas duas e sofrendo um certo tipo de tortura. Ao conseguir escapar, o ornitólogo se embrenha mais e mais na mata, onde irá passar por experiências estranhas. Em uma noite ele dá de cara com uma tribo de caretos que fala mirandês e que estão realizando um tipo de ritual. Seguindo seu caminho, Fernando encontra um pastor chamado de Jesus, que cuida de algumas cabras na beira do rio. Os dois acabam se envolvendo romanticamente, mas culminando num final trágico.

E neste ponto do filme, o espectador se pergunta o que está ocorrendo na tela, depois de tanta viagem beirando o alucinógenio, na história. Que parece interminável, apesar da fotografia, que mostra uma paisagem excepcional. Mas a trama é meio sem pé nem cabeça. Ah, mas vou dizer que gostei pois é um filme-cabeça. Não, o filme é ruim e não diz a que veio.

Duração: 1h57min

Cotação: ruim
Chico Izidro

"A Vigilante do Amanhã" (Ghost in the Shell)



Baseado em anime japonês, "A Vigilante do Amanhã" (Ghost in the Shell), direção de Rupert Sanders, traz a bela Scarlett Johansson vivendo uma espécie de robocop - ela tem o corpo construído artificialmente, mas os cientistas preservaram apenas o seu cérebro, que claro, controla todas as suas atividades. Major, a personagem de Johansson, comanda um esquadrão de elite especializado em combater crimes cibernéticos numa cidade futurista em 2029 - seria Tóquio, já que mais da metade das pessoas que surgem na tela são japonesas. Além do que, o visual é flagrantemente calcado em filmes oitentistas, mais evidentemente "Blade Runner".

Mas não é só o visual que remete ao clássico sci-fi. O personagem Major vive aquele conflito - seriam suas memórias reais ou implantadas. E como em "Blade Runner", a personagem caça um outro personagem robotizado, Kuze (Michael Carmen Pitt). E o filme vai empilhando referências, como as lutas e perseguições, muito iguais a "Robocop".

Os efeitos visuais de "A Vigilante do Amanhã" são impressionantes. O diretor apresenta uma fotografia cheia de detalhes. Mas infelizmente, no final das contas, o filme não é muito diferente da maioria dos seus pares de ação. E o espectador pega no sono.

Duração: 1h47min

Cotação: ruim
Chico Izidro

Irmã (Little Sister)



Família não é fácil. Por isso, Colleen (Addison Timlin), que um dia foi uma adolescente gótica, se prepara para se tornar freira. Ainda em dúvidas sobre seu futuro, ela recebe um e-mail da mãe, vivida por uma ainda bonita Ally Sheedy, musa dos anos 1980, de filmes como "Clube dos Cinco" e "avisando que seu irmão voltou da guerra do Iraque severamente machucado. Assim, em Irmã (Little Sister), direção de Zack Clark, Colleen pede alguns dias para a madre superiora e retorna para casa.

Ao chegar em casa, seu quarto adolescente permanece inalterado, como se ela não tivesse passado um dia fora. Crucifixos de cabeça para baixo estão lá, assim como seus discos de rock. E os pais seguem usando drogas e o irmão, Jacob (Keith Poulson) vive enfurnado no quarto, tocando bateria, e com vergonha de encarar o mundo por causa das feridas que deformaram seu rosto.

Colleen tem, então, de lidar com pendências emocionais de seus familiares e dela mesma - que aos poucos vai tentando levar alegria à casa, mas sem pregações religiosas, mas procurando o passado para tentar achar soluções - pinta o cabelo de rosa, participa de festa de Halloween e obriga o irmão a encarar o mundo. Um filme sensível. E a personagem principal lembra muito a jovem Winona Ryder.

Duração: 1h31min

Cotação: bom
Chico Izidro

“Downton Abbey: O Grande Final” (Downton Abbey: The Grand Finale)

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