sábado, março 09, 2013

"As Sessões"


John Hawkes é aquele ator com cara de caipirão de vários filmes, incluindo o ótimo "O Inverno da Alma", de 2011, quando concorreu ao Oscar. E em "As Sessões", dirigido por Ben Lewin, ele está soberbo no papel do jornalista, filósofo e poeta Mark O'Brien (1949-1999). Que aos 38 anos de idade tinha um grande problema. Devido a poliomelite, que o imobilizou aos seis anos de idade, ele é virgem, e isso o atormenta redondamente. Além do que, é obrigado a passar a maior parte do dia dentro de uma máquina de respiração, caso contrário a morte chega em três horas. O sexagenário Lewin é também portador de polio e se locomove com uma bengala.

Inteligentíssimo, a carência pesa mais forte e Mark frequentemente apaixona-se, sendo rechaçadoconsegue ter movimentos apenas do pescoço para cima, mas não é tetraplégico, que não consegue ter sensações nervosas pelo corpo. Seu pênis tem vida própria, e por vezes, ao ser banhado por uma cuidadora, tem ereções e, para sua vergonha, ejacula. Católico praticante, tem conversas profundas e questionadoras com o padre de sua paróquia, Brendan (William H. Macy, excelente). As confissões de Mark, não raro, pertumbam o padre, já que focam o sexo. E estamos nos anos 1980, na Califórnia. Em determinado momento, Mark abre-se com o padre, pois deseja transar, mas como católico, como o fazer sem pecar, afinal não é casado. "Não foi por falta de tentativas", diz Mark a Brendan quando explica porque ainda é solteiro e virgem.

Então, o padre fecha os olhos para tal inusitada situação. Deus não irá se importar se um fiel não seguir a risca tal determinação. "As Sessões" chega em seu ponto principal. Liberado pela Igreja, como transar? Surge a figura da terapeuta sexual Cheryl Cohen Greene (Hellen Hunt, do seriado Mad About You). Ela vai ensinar a Mark a lidar com seu corpo e conseguir transar em seis sessões. E Cheryl repete: "Não é prostituta, é uma terapeuta". Hellen Hunt, quase cinquentona, não tem pudores nas cenas de nudez e sexo, muito bem conduzidas pelo diretor Ben Lewin, ele também portador de polio e se locomove com uma bengala. Cada momento é feito com delicadeza, que nada fica apelativo.

Outro trunfo é do humor. Não existe espaço para piedade. O personagem de Hawkes, apesar de sua deficiência, não inspira pena. Espirituoso, charmoso em sua condição, divertido, e mesmo quando carente, não induz ao choro. A similariedade com outro belo filme sobre deficientes vem à tona, o francês "Intocáveis". Os dois não são feitos para sentimentalismos baratos, apesar de seus personagens sofridos.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

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