quinta-feira, fevereiro 25, 2016
"Deuses do Egito" (Gods Of Egypt)
Meu deus, como filmam algo assim? Para começar, os principais personagens egípcios são vividos por atores brancos, mais europeus impossíveis, como Gerard Butler, Brenton Thwaites e Nikolaj Coster-Waldau. Depois, parece que um fã de videogame é que dirigiu as cenas de ação.
E vira um desastre "Deuses do Egito" (Gods Of Egypt), dirigido por Alex Proyas. A história é baseada em lenda egípcia, um povo que tem milhares de anos. O poderoso deus Horus (Nikolaj Coster-Waldau), no dia de sua posse como rei do Egito, é cegado e exilado por seu tio, o impiedoso deus Set (Gerard Butler, mais careteiro, impossível). Logo o reino se torna o inferno na terra, com o povo sendo escravizado e os inimigos de Set mortos. Os deuses, todos têm cerca de três metros de altura.
O jovem ladrão Bek (Brenton Thwaites), descontente com a situação e afastado da namorada Zaya (Courtney Eaton), escravizada por um aliado de Set, decide ajudar Horus, apesar de sua mortalidade. E da antipatia de Horus, que afinal é um deus, mesmo cego. Duas horas depois, o público já está cansado de pancadaria, cenas que remetem a video-games e caretas. Sem contar atores brancos vivendo personagens egípcios, morenos desde sempre.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=YtJL5FrNakU
Duração: 1h58min
Cotação: ruim
Chico Izidro
quarta-feira, fevereiro 24, 2016
"Orgulho e Preconceito e Zumbis" (Pride and Prejudice and Zombies)
Na onda das mash-ups ou misturas, "Orgulho e Preconceito e Zumbis", direção de Burr Steers, está na mesma linha de "Abraham Lincolm, Caçador de Vampiros". O filme é uma releitura da obra clássica da escritora inglesa Jane Austen, "Orgulho e Preconceito", e baseado no livro "Orgulho e Preconceito e Zumbis", lançado por Seth Grahame-Smith em 2009.
A história centra nas cinco irmãs Bennet, Elizabeth ( Lily James, de Downton Abbey eCinderela), Jane (Bella Heathcote, de Sombras da Noite), Lydia (Ellie Bamber), Kitty (Suki Waterhouse) e Mary (Millie Brady). Elas vivem com os pais, o Sr. e a Sra. Bennet (interpretados, respectivamente por Charles Dance, de Games of Thrones; e Sally Phillips, de O Diário de Bridget Jones) na propriedade rural Longbourn.
As irmãs, porém, não se destacam apenas por suas belezas e por estarem procurando marido. Elas também são exímias praticantes de artes marciais, já que a Inglaterra vive uma assolação de zumbis. Liz Benneth, a mais velha das irmãs, tem uma estranha relação com o misterioso Mr. Darcy (Sam Riley), um caçador de mortos-vivos, e a quem ela sente atração, mas também repulsa.
Os zumbis não são aqui como os conhecemos, vagando por aí, soltando grunhidos. Muitos se misturam aos seres humanos, falam normalmente. Mas sobrevivem à base de cérebros. Tirando esta alteração, a história de Jane Austen é respeitada, afinal os personagens originais, a trama e até os diálogos originais foram mantidos. O que houve de diferente? A inclusão de zumbis no romance histórico.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=fGw6lXk8tew&ebc=ANyPxKphpUQeiPS03FEuM03Y_sveJbF
Duração: 1h47min
Cotação: regular
Chico Izidro
"Como Ser Solteira" (How To Be Single)
"Como Ser Solteira" (How To Be Single), direção de Christian Ditter, é mais uma comédia romântica repleta de clichês. A história centra em quatro mulheres vivendo em Nova Iorque. Uma delas é Alice
(a chatinha Dakota Johnson, de 50 Tons de Cinza), que está dando um tempo em um relacionamento de quatro anos. Em seu novo emprego, ela fica amiga de Robin (Rebel Wilson), uma gordinha festeira. Ao mesmo tempo, a irmã de Alice, Meg (Leslie Mann), é uma médica que decide ter um filho de forma independente. A quarta garota é Lucy (Alison Brie, da série Community), uma jovem que procura um namorado em sites da internet.
Todas elas quebram a cara em tentativas de relacionamentos, muitos casais enrolados. E Alice, que pretendia dar um tempo para ficar sozinha, acaba se envolvendo com três homens. O filme lembra muito as histórias mostradas em "Simplesmente Amor”, “Idas e Vindas do Amor” e “Ele Não Está Tão a Fim de Você”, que aliás foi escrito pela mesma autora do livro que inspirou "Como Ser Solteira".
Nada funciona aqui, sendo que os personagens não conseguem escapar dos estereótipos. E o pior deles é mais uma vez o vivido por Rebel Wilson, que faz sempre o mesmo papel vistos em outros filmes e até sua falida série televisiva: a da jovem tresloucada e desbocada.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=MxARqpiCMTc
Duração: 1h50min
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Presságios de Um Crime" (Solace)
Dirigido pelo brasileiro Afonso Poyart, do ótimo "2 Coelhos", "Presságios de Um Crime" (Solace) teria todos os ingredientes para ser um ótimo filme policial, aproximando-se do hoje clássico "O Silêncio dos Inocentes", ainda mais que traz no elenco Anthony Hopkins, que viveu o serial killer Hannibal Lecter. Só que no decorrer da história, o roteiro vai se perdendo, mostrando muita incoerência na trama.
Tudo começa quando dois detetives do FBI, Joe Merriwether (Jeffrey Dean Morgan) e Katherine Cowles (Abbie Cornish), em busca de um serial killer, que tem como modus operandi matar suas vítimas com um golpe perfurante na nuca, buscam a ajuda de um vidente, John Clancy (Anthony Hopkins), que vive isolado do mundo desde a morte da filha. Inicialmente Clancy se recusa a ajudar os dois, mas isso dura poucas cenas. Logo ele está tentando ajudar Joe e Katherine a encontrar o serial killer. Que possui os mesmos poderes de Clancy, ou seja, o assassino Charles Ambrose (Colin Farrell), também é um vidente. Ele assim pode prever os passos dos policiais que estão em seu encalço.
Pena que a história escorregue. O personagem de Hopkins, apesar de ser um vidente, nunca tem certeza do que viu - ele tem visões ao encostar a mão em outras pessoas ou até mesmo cadáveres. E Poyart insiste em imagens como gotas de água ou sangue caindo em câmera lenta ou os rostos dos detetives sangrando e mostrando desespero. Chatice total.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=e4STzYlcqrs
Duração: 1h42min
Cotação: regular
Chico Izidro
"Amor em Sampa"
"Amor em Sampa”, direção de Carlos Alberto Ricelli e seu filho Kim Ricelli, é uma amostra de como ainda o cinema nacional não sabe como elaborar um musical. O filme se pretende uma declaração de amor a São Paulo, mostrando cinco histórias paralelas, entremeadas por números musicais, que se mostram completamente constrangedores.
Ricelli interpreta o taxista Cosmo, ex-publicitário, que largou tudo para viver dirigindo pela cidade que tanto ama, e escutando as histórias dos passageiros que atende. Seu par romântico é a interesseira Lara (Miá Mello), personagem completamente insuportável. Cosmo é até o personagem mais tragável. O restante é formado por uma horda de estereótipos, desde a empresária desiludida com o amor vivida por Bruna Lombardi, que aproveita suas passagens para mostrar sua boa forma, aos 63 anos de idade.
Já Rodrigo Lombardi interpreta Mauro, um publicitário que pretende lançar uma campanha mostrando o melhor dos paulistanos, ao mesmo tempo que se apaixona pela traumatizada Tutti (Mariana Lima). Mas se estereótipos têm nome neste filme, eles são apresentados nas figuras do casal gay formado por Raduan e Ravid (Tiago Abravanel e Marcello Airoldi), que escondem a relação dos colegas e amigos. E que proporcionam um número musical dos mais desastrados de todos os tempos. Não precisava.
A história mais engraçada de "Amor em Sampa" talvez esteja na das duas amigas, Mabel e Carol (Letícia Colin e Bianca Müller), que se envolvem com o diretor de teatro Matheus (Kim Ricelli, péssimo).
O roteiro de "Amor em Sampa", escrito pela Bruna Lombardi recorre a clichês desde o princípio, trazendo atuações ruins, músicas ruins. Nada funciona nesta ode fracassada a maior cidade do país.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=ES-1xeKQOUs
Duração: 1h43min
Cotação: ruim
Chico Izidro
"13 Horas: Os Soldados Secretos de Bengazhi" (13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi)
Em 11 de setembro de 2012, exatamente 11 anos após os ataques da Al-Qaeda nos Estados Unidos, a embaixada norte-americana em Benghazi, na Líbia, foi alvo de ataque de fundamentalistas islâmicos em protesto pelo lançamento de um filme que muçulmanos consideram ofensivo ao Islã. O ataque causou a morte do embaixador J. Christopher Stevens e outros três funcionários do local. O incidente é reencenado agora no filme "13 Horas: Os Soldados Secretos de Bengazhi" (13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi), direção de Michael Bay.
O diretor conseguiu criar boas cenas de tensão e ação. Claro que não faltaram as patriotadas. O filme mostra a morte do embaixador, mas foca as atenções em seis soldados que trabalham na segurança do complexo da CIA em Benghazi. Eles não estão autorizados a combater, porque fazem apenas atividades de observação, mas quando a embaixada é atacada, eles decidem entrar em ação - visto que o local não estava suficientemente protegido. As coisas não param apenas na embaixada, porque so terroristas decidem invadir também o anexo da CIA, que tinha apenas funcionários civis. E enquanto esperam pelo resgate, os soldados tentam defender o local.
Os seis soldados são vividos John Krasinski, James Badge Dale, David Denman, Dominic Fumusa, Max Martini e Pablo Schreiber. Seus momentos antes do ataque são mostrados quando eles têm contato com suas família, que vivem nos Estados Unidos. É o momento mela-cueca, sentimentaloide. Mas não enfraquece este bom filme de ação, que prende o espectador.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=4CJBuUwd0Os
Duração: 2h24min
Cotação: bom
Chico Izidro
quarta-feira, fevereiro 17, 2016
"O Quarto de Jack" (Room)
Inspirado em fatos reais, principalmente na violenta história dos Fritzl - Josef Fritzl, que sequestrou a própria filha, Elizabeth, mantendo-a prisioneira no porão de casa, em Amstetten, na Áustria, e com quem teve sete filhos entre 1984 e 2008, quando foi descoberto, "O Quarto de Jack" (Room), direção de Lenny Abrahamson, mostra a história do pequeno Jack (Jacob Tremblay). Aos cinco anos, ele vive com a mãe num pequeno cômodo, cujo único contato com o mundo é uma pequena televisão e a claraboia, onde ele enxerga o céu azul.
Os dois recebem frequentemente a visita de um homem, chamado por ele e a mãe, Joy (Brie Larson), de Velho Nick (Sean Bridgers). Jack passa os dias brincando no pequeno espaço que tem, e se esconde quando Velho Nick aparece. Até cerca de meia hora de filme não sabemos o que acontece com os dois e porque estão confinados no local. Mas Joy tenta mostrar ao garoto que o mundo é mais do que ele está acostumado a ver.
Então descobrimos que Jack e Joy estão presos naquele lugar. Ela foi sequestrada por Velho Nick aos 17 anos quando saia da escola e levada para o cativeiro, onde estuprada, engravidou do seu raptor. Joy sonha em escapar do cárcere e é este o climax da história - o que vem a seguir não convém antecipar aqui.
A atuação de Jacob Tremblay é fenomenal. O garoto, que por causa dos longos cabelos, faz no ínicio pensarmos ser ele uma menina, tem uma atuação de gala, excepcional. Ele rouba a cena, sendo o grande protagonista do filme - que mostra um olhar angustiante em relação à vítimas de sequestro, que tem suas vidas alteradas, às vezes, para sempre. Brie Larson, que apesar de ter apenas 26 anos, tem uma longa filmografia, também está ótima, como a mãe que nunca desiste de tentar mudar o destino, que se apresentou tão cruel para ela e o filho. Um filme angustiante.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=IeM5qJp2v8Y
Duração: 1h58min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"O Boneco do Mal" (The Boy)
"O Boneco do Mal" (The Boy), direção de William Brent Bell, até começa bem. Foca na americana Greta (Laura Cohen, de The Walking Dead), que vai trabalhar como babá numa daquelas mansões decadentes no interior da Inglaterra. Ela deve cuidar do filho de um casal de idosos.
E logo no começo o choque quando Greta descobre que deve cuidar de um boneco, criado como se fosse um garoto pelos pais, que não conseguiram aceitar a morte do filho, aos oito anos de idade, num incêndio. Greta tem certa dificuldade de aceitar, mas ao ver o modo como os seus patrões tratam o boneco, meio que acaba entrando no jogo.
O boneco fica lá, parado, e quando a família viaja, Greta fica sozinha com ele. E de repente as coisas começam a se mover pela casa, barulhos surgem das paredes, e a garota vai surtando. Até aí tudo bem. Será que o boneco é assombrado, possuído por algum espírito? Ou Greta estaria deixando o psicológico afetar a sua sanidade?
O que vemos é que a solução encontrada para explicar a história é totalmente insana, sem sentido. Conseguiram até inserir um personagem que lembra Jason Vorhees (Sexta-Feira 13) na trama, estragando por completo um filme parecia surpreender e que se perde totalmente.
Veja o trailer: http://bit.ly/BonecodoMal_TrOfLeg
Duração: 1h37min
Cotação: ruim
Chico Izidro
"Lobo do Deserto" (Theeb)
Theeb (Jacir Eid) tem cerca de nove, dez anos de idade, e vive no deserto da Província de Hejaz, localizado no Império Otomano, no começo do século passado. Seus dias são passados brincando com o irmão mais velho, Hussein, que está ensinando-o a atirar. O filme é "Lobo do Deserto" (Theeb), direção de Naji Abu Nowar.
Os dois são filhos de um xeique, e quando o oficial britânico Max e seu guia Marji, chegam a aldeia, pedindo para que sejam levados a um poço no meio do deserto, Hussein é escalado para a tarefa. Theeb, porém, não aceita ser deixado para trás, e segue o trio. E as coisas não serão tão simples, pois o ambiente, mesmo para nativos, é perigoso e hostil.
Theeb é um garoto curioso e inquieto, que não respeita os conselhos dos mais velhos. "Não ande aí", não mexa nisso", "fique aqui". Tudo ele desrespeita. Mas o filme mostrará seu crescimento, numa jornada de conhecimento. Por vezes, "Lobo do Deserto" vai para o lado do sentimentalismo. Mas o garoto Jacir Eid é muito bom, com seu olhar espantado e curioso.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=3_vbG89CxuQ
Duração: 1h40min
Cotação: bom
Chico Izidro
quinta-feira, fevereiro 11, 2016
“Deadpool” (Deadpool)
“Deadpool” (Deadpool), direção de Tim Miller, segue uma tradição do cinema de ação: é simplesmente um filme sobre vingança. Mesmo que ele seja embalado por muito humor, deboche e tiradas sobre sexo. E muitos, muitos corpos despedaçados.
O personagem da Marvel é um grande desconhecido do grande público. Mas muito conhecido dos aficionados dos quadrinhos. Foi criado em 1991 e chegou a ter uma aparição horrível em “X-Men Origens: Wolverine” em 2009, interpretado por Ryan Reynolds, que agora volta a viver o super-herói, não tão herói assim, pois está mais para assassino serial. E é o papel da vida de Reynolds, que fracassara na pele de “O Lanterna Verde”, em 2011.
Deadpool é a identidade secreta do ex-militar e mercenário Wade Wilson. A história é contada em presente e passado, com o personagem contando sua vida ao espectador. Detalhe: olhando no olho do espectador. A sua atribulada vida havia acabado de entrar nos eixos e ele ficara noivo da ex-prostituta Vanessa (a atriz brasileira Morena Baccari, de Homeland, irresistível). É quando descobre ter câncer terminal.
Ele encontra a possibilidade de cura em uma experiência científica – ele recebe sangue mutante e fica extremamente forte e com o corpo com a possibilidade de regeneração. Mas seu rosto acaba deformado e ele jura vingança para Ajax ou Francis (Ed Skrein), que antipatizando com Wade, o transformou num monstro.
E Deadpool sai numa caçada infernal atrás de Francis. E sempre se dirigindo à plateia, soltando dezenas de piadas por minuto. Numa delas chega até a brincar com o próprio ator que o interpreta. Noutra visita a mansão dos X-Men, encontra os mutantes Colosso e Míssil Adolescente Megassônico e pergunta: “Porque só vejo vocês dois? A produção do filme não tinha mais dinheiro para colocar mais um X-Men em cena?”. Hilário.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
“A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl)
Eddie Redmayne talvez não leve o Oscar, seu segundo consecutivo, porque a ficha está nas mãos de Leonardo DiCaprio em “O Regresso”. Mas sua atuação em “A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl), direção de Tom Hooper, o ator inglês, que brilhou em “A Teoria de Tudo”, na pele de Stephen Hawking, está novamente fantástico.
Ele vive o pintor Einar Mogens Wegenar, que seria a primeira pessoa no mundo a se submeter a uma cirurgia de troca de sexo, isso no começo dos anos 1930. O artista era casado com a também pintora Gerda (Alicia Wikander). Um dia, uma modelo não compareceu a sessão de pintura de Gerda, que pediu ao marido que colocasse um vestido e posasse para ela. Ali renasceu no íntimo de Einar um sentimento que ele havia represado ainda na adolescência, a sua homossexualidade.
Aos poucos, ele vai se travestindo, arriscando a passeios furtivos pela Copenhague. Sua esposa meio que entra no jogo e até o batiza como Lili, e Lili se mostra mais forte que Einar. Até que o artista começa a se sentir incomodado naquele corpo masculino e sonha em fazer a transformação, em uma época que este tipo de cirurgia ainda era uma utopia.
Eddie Redmayne, que já havia feito um trabalho corporal excepcional em “A Teoria de Tudo”, aqui confere ao seu personagem muita feminilidade – desde o andar, os trejeitos, a voz. Temos ali a sensação de que não assistimos a um travesti, mas sim uma mulher presa num corpo masculino.
Cotação: ótimo
Chico Izidro
“Brooklin” (Brooklyn)
Apesar de retratar uma história romântica, “Brooklin” (Brooklyn), direção de John Crowley, não é um filme piegas. Mostra o melhor e o pior de dois mundos, sob a visão da jovem irlandesa Ellis Lacey (Saoirse Ronan) nos anos 1950. Ela mora com a mãe e a irmã na aldeia irlandesa de Enniscorthy e trabalha num mercadinho dirigido por uma megera.
Sem muitas perspectivas de futuro, as coisas começam a mudar quando ela recebe uma oferta de trabalho nos Estados Unidos. Ellis decide largar a vida modorrenta e se muda para Nova Iorque, mais exatamente no bairro do Brooklyn, onde vai morar numa pensão para mulheres. O emprego é numa loja de departamentos e ela também aproveita para fazer a faculdade de contabilidade.
Sozinha, meio triste, Ellis acaba se encantando durante um baile pelo descendente de italianos Tony (Emery Cohen). Os dois se apaixonam e acabam casando, até que um incidente faz com que ela tenha de retornar para a Irlanda por algumas semanas. E aí as coisas se estremecerão, com o seu coração acabando por ficar dividido entre permanecer em Enniscorthy ou retornar para o marido em Nova Iorque.
“Brooklyn” brilha muito, principalmente ao trabalho de seus atores e a uma perfeita reconstituição de época. O filme se passa em 1952, e estão ali os vestidos, os cabelos, os carros, os pensamentos – hoje vistos como retrógrados e que até assustam – de alguns de seus personagens. Saoirse Ronan, revelada em “Desejo e Reparação”, de 2007, agora aos 21 anos, dá a sua Ellis uma atuação interessante, por ora melancólica, por ora cheia de vivacidade.
Cotação: bom
Chico Izidro
quarta-feira, fevereiro 03, 2016
"O Regresso" (The Revenant)
Diretor de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), Alejandro González Iñárritu mostra em "O Regresso" (The Revenant), uma obra radical sobre o homem, sua luta pela sobrevivência e um forte desejo por vingança. Toda a ação se passa no meio de um ambiente hostil, mas ao mesmo tempo belo. Nevascas, rios, montanhas, florestas.
Leonardo DiCaprio entrega uma das grandes interpretações de sua vida, ao viver Hugh Glass, que em 1822 atua como guia para americanos que caçam animais para vender suas peles, em uma região inóspita dos Estados Unidos, onde vivem índios nem um pouco pacíficos. Atacado por um urso, numa das cenas mais espetaculares e angustiantes do cinema (são quase dez minutos da agressão do animal), Glass fica severamente ferido e é abandonado pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy), que não satisfeito, ainda mata o filho de Glass. Uma outra cena a destacar é a queda de Glass e seu cavalo de um penhasco.
Conseguindo, milagrosamente sobreviver, Glass, um personagem que realmente existiu no começo do Século XIX, começa uma árdua busca para se vingar de John Fitzgerald. Tom Hardy, aliás, está muito bem, quase irreconhecível. Todos os outros personagens são bem explorados e desenvolvidos. O filme, enfim, mescla muito bem cenas espetaculares de ação e contemplação de belos lugares.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=S4PpYv9n0ko
Duração: 2h36min
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"O Filho de Saul" (Saul Fia)
Auschwitz foi um dos campos de concentração onde os nazistas perpetraram o maior crime da história, o assassinato de seis milhões de judeus. Naquele local, na Polônia, cerca de dois milhões de pessoas perderam a vida em suas câmeras de gás ou fuziladas ou enforcadas. E é ali que se passao o claustofóbico "O Filho de Saul" (Saul Fia), direção de László Nemes.
A história se passa durante um dia e meio de 1944. Saul (Géza Röhrig, ótimo) é um sonderkommando, aquele judeu que era obrigado a trabalhar nos fornos crematórios, carregando e cremando os corpos dos gaseados. Eles mesmo não tinham muito tempo de vida - sua função durava quatro meses, quando também eram executados.
Um dia, após o gaseamento de um grupo de judeus hungáros, Saul e seu grupo descobre que um garoto sobreviveu às câmaras de gás, mas logo ele é morto por um oficila nazista. Saul passa a acreditar que aquele menino é seu filno. E não vai sossegar enquanto não conseguir enterrar o corpo, ao invés de cremá-lo. Para poder recitar o kadish, a oração para os mortos, Saul precisa da ajuda de um rabino. E ele fica obcecado por sua missão.
A câmera, em longos planos sequência, segue Saul por entre os corredores das câmaras de gás, pelo campo. Muitas vezes, as imagens ficam desfocadas, e de modo intencional. Para evitar mostrar os corpos dos mortos, ali jogados, insepultos. Numa cena angustiante, os judeus são colocados à beira de uma vala e executados com um tiro na nuca. A pergunta que fica no ar é se o garoto é mesmo filho de Saul ou se ele pretende, dando um enterro decente ao menino, recuperaria um pouco da dignidade perdida naquele campo dos horrores?
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=qXHs5jMV_eg
Duração: 1h 47m
Cotação: ótimo
Chico Izidro
"Suíte Francesa" (Suite Française)
Baseado no romance homônimo da nobre russa Irene Nemirovsky, que judia, foi morta em Auschwitz em 1942, "Suíte Francesa" (Suite Française), dirigido por Saul Dibb, mostra a história de um amor impossível na França devastada pela II Guerra Mundial. A jovem Lucile Angellier (Michelle Williams) vive com a sogra, Madame Angellier (Kristin Scott Thomas), enquanto espera pelo retorno do marido, prisioneiro de guerra na Alemanha, após a derrocada da França em 1940.
Só que a aldeia onde elas moram é invadida pelos nazistas. E um oficial Bruno von Falk (Matthias Schoenaearts) vai morar na mansão de Madame Angellier, por determinação do novo governo alemão. E ele e Lucile descobrem algo em comum, a música, que os aproxima. Além disso, vai crescendo entre eles uma paixão incontrolável. Ao mesmo tempo, Lucille esconde o fazendeiro Benoît Labarie (Sam Riley), que matou um outro oficial alemão e está sendo caçado pelo exército invasor.
O filme incomoda por se passar em um vilarejo francês, mas onde todos falam inglês fluente. Desde os camponeses até os alemães. Claro, isso é uma exigência do mercado cinematográfico, mas que soa estranho. Michelle Williams não consegue convencer em seu papel, levando um "banho" de interpretação da sempre excelente Kristin Scott Thomas. Schoenaerts também vacila, ao não conseguir passar emoção em seu personagem. Mesmo vivendo uma paixão ardorosa, ele é sempre frio.
Os coadjuvantes se saem melhor, como Sam Riley e Lambert Wilson, que vive um conde francês, que entra numa fria. Também muito boa a reconstituição de época, a debandada dos parisienses nas estradas, fugindo da invasão nazista, o dia a dia do vilarejo sob ocupação inimiga.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=azoDJwdhaWI
Duração: 1h48min
Cotação: bom
Chico Izidro
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