sexta-feira, março 23, 2018

"A Melhor Escolha" (Last Flag Flying)



O excelente diretor Richard Linklater, de obras como "Boyhood", "Antes do Anoitecer", "Jovens, Loucos e Rebeldes" e "Escola do Rock", adapta agora o livro homônimo de Darryl Ponicsan (que assina o roteiro ao lado do cineasta). E ele é uma continuação do livro "The Last Detail", também escrito por Ponicsan, que virou filme em 1973, intitulado no Brasil de "A Última Missão", dirigido por Hal Ashby e protagonizado por Jack Nicholson.

Os três amigos são o ex-marinheiro Larry Doc Shepherd (Steve Carell), Sal Nealon (Bryan Cranston) e o reverendo Richard Mueller (Laurence Fishburne). O objetivo do encontro deles é enterrar o filho de Doc, morto enquanto servia na guerra do Iraque. Só que as coisas não serão tão fáceis, ainda mais porque eles querem saber como o rapaz morreu - e a informação é considerada confidencial pelos militares.

O ponto alto do filme é a excepcional química entre estes ótimos atores, todos tendo seus momentos para brilhar. E é incrível como Steve Carell, que brilhou como o chefe desnorteado da excelente série "The Office" vem crescendo como intérprete sério. Aqui no papel de um homem à beira da melancolia.
"A Melhor Escolha" ainda faz uma forte crítica ao militarismo norte-americano - que forma melhor para criticar a instituição, que parece só olhar para o seu umbigo, mostrando os três veteranos lembrando só de momentos ruins da época em que serviram? E o descaso com que a morte do filho de Doc é retratado...

Duração: 2h05min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"O Caso do Homem Errado"




Nossa, já se passaram mais de 30 anos. Ao terminar de ver o documentário, fiquei tentando lembrar aonde eu me encontrava naquele maio de 1987. "O Caso do Homem Errado", dirigido pela jornalista Camila de Moraes, narra a história do jovem operário negro Júlio César de Melo Pinto, que foi executado pela Brigada Militar.

Ele saiu de casa sem avisar a mulher, Juçara, e se juntou a populares que acompanhavam os acontecimentos ocorridos em um assalto a um supermercado próximo a avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre - a polícia chegou ao local enquanto os assaltantes ainda estavam dentro do local e com duas crianças como reféns. Então ao serem presos e sendo levados para a viatura, passaram próximo a Júlio César, que tinha um histórico de convulsões, e com o tumulto, teve um ataque epilético. Ele caiu e alguém gritou: "Ele também". O fotógrafo de Zero Hora, Ronaldo Bernardi, que acompanhava toda a movimentação, fotografou Júlio sendo colocado na viatura, um fusca, apenas com um sangramento na boca. Bernardi decidiu seguir o carro até o Hospital de Pronto Socorro para registrar a chegada de Júlio César. E quando, meia hora depois, os PMs chegaram, lá estava Júlio César morto, com dois tiros. Como isso aconteceu? Enfim, foi uma execução de um inocente.

O documentário busca o do próprio Ronaldo Bernardi, os amigos Waldemar de Moura Lima (o Pernambuco), professor; Paulo Ricardo Moraes (o Baiano), jornalista; Jair Krischke, ativista dos Direitos Humanos; Luiz Francisco Correa Barbosa, ex-Procurador da República, e Renato Dornelles, jornalista, e João Carlos Rodrigues, jornalista. Todos estiveram envolvidos com a tentativa de solucionar o crime.

A produção também teve o cuidado de encontrar a esposa de Júlio César, apelidado de Boneco. Juçara Pinto, então com 24 anos, reconstitui aqueles dias fatídicos. Ela ficou três dias sem saber aonde estava o marido, e até hoje, passados 30 anos do assassinato de Júlio, ainda não foi indenizada. Uma obra fundamental, e passados todos estes anos, é incrível notar que muita coisa não mudou.


Duração: 1h26min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

“Círculo de Fogo: A Revolta” (Pacific Rim Uprising)



“Círculo de Fogo: A Revolta” (Pacific Rim Uprising), que registra a estreia de Steven S. DeKnight (roteirista dos seriados “Demolidor” e “Spartacus”) na direção, é a sequência do filme de 2013 dirigido pelo agora oscarizado Guillermo Del Toro, por “A Forma da Água”, trazendo de novo à tela robôs gigantes lutando contra monstros saídos das profundezas dos mares através de fendas – bem naquele estilo consagrado por Godzilla. Além do que é um filme que contempla várias etnias, e feito com a colaboração da China, um dos maiores mercados do mundo na atualidade.

A história ocorre dez anos após os eventos do primeiro filme, que tinha como herói Stacker (Idris Elba), que morria no final. Agora, o seu filho, o desgarrado Jake Pentecostes (John Boyega), que estava se encaminhando para o lado do crime, acaba sendo reconduzido pelos militares para pilotar os robôs conhecidos como Jaeger, devido ao risco de nova invasão dos kaijus as cidades.

Para quem gosta de pancadaria, é uma boa pedida. Muitas lutas, destruição, mortes. Mas os personagens não tem profundidade, os diálogos são puro clichê. Tudo lembra, ainda, muito a cinesérie “Transformers”, e no final toda esta tecnologia e ação colocada na tela se torna enfadonha, um verdadeiro sonífero.

Duração: 1h50min
Cotação: ruim

Chico Izidro

"Por Trás dos Seus Olhos" (All I See Is You)



O diretor Marc Forster apresenta em "Por Trás dos Seus Olhos" (All I See Is You) a jovem Gina (Blake Lively), cega desde que sofreu um acidente no início da adolescência. Ela vive em Bangcok com o marido, o compreensivo e apaixonado James (Jason Clarke, de Winchester). Então um dia surge a notícia de que ela pode recuperar a visão através de uma cirurgia experimental.

E o estranhamento é a força motriz do longa. Afinal, qual será a reação de Gina quando recuperar a visão? Como será ver o marido, será que ele que pode não ser a pessoa que ela sempre imaginou? O filme apresenta uma experiência sensorial de Gina, nos colocando na posição dela - vendo as imagens se formando na tela, como estivéssemos abrindo os olhos aos poucos, e aos poucos passar a enxergar.

Mas tudo isso não é tão suficiente para apresentar algo de novo. "Por Trás dos Seus Olhos" vai se tornando, durante o seu decorrer, sem muito propósito, num ritmo lento e com o diretor parecendo não saber para onde ir. Enfim, o filme se torna cada vez menos interessante e vazio.

Duração: 1h50min
Cotação: ruim

Chico Izidro

"15h17 - Trem Para Paris" (The 15:17 to Paris)



O veterano diretor Clint Eastwood, 87 anos, segue a rotina de seus últimos filmes, onde decidiu recontar atos realizados por pessoas aparentemente comuns, como "Sully" e "Sniper Americano". Desta vez, ele reconstitui os acontecimentos do dia 21 de agosto de 2015, quando três jovens americanos impediram um atentado terrorista em um trem que ia de Amsterdã para Paris em "15h17 - Trem Para Paris" (The 15:17 to Paris). A obra acaba sendo irregular, ainda mais que Eastwood decidiu escalar os próprios rapazes revivendo aquele momento quase trágico de suas vidas.

O trio formado por Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler é de homens simples, quase simplórios, sem muitas perspectivas na vida. E como o acontecimento no trem não renderia um longa, o diretor optou por contar a vida deles desde a infância, quando se conheceram na escola, até a definição deles por uma carreira: dois deles se alistam no exército e um segue na vida civil. Então, em 2015 decidem se encontrar na Europa e fazer uma tour.

Stone, Skarlatos e Sadler não tem o mínimo cacoete para a atuação, mas refazem seus passos por cidades como Veneza, Berlim, onde cometem uma gafe durante a visita ao local onde ficava o bunker de Hitler: "Hitler se matou para não encarar os americanos", diz um deles, no que é corrigido pelo guia. "Na realidade, quem quase o capturou foram os russos, mas os americanos fazem sua própria versão, equivocada". Depois Amsterdã, antes de partirem para Paris. E a viagem de trem é o melhor momento do filme, com uma tensão crescente. Eastwood não humaniza o terrorista e nem explica sua motivação. Ele estava lá para matar e é impedido pelos três.

A ideia de Clint Eastwood de recriar este fato histórico até funciona, mas apenas em seu final, tenso. As partes anteriores são tediosas, quase soníferas. E as atuações não ajudam muito.

Duração: 1h36min
Cotação: regular

Chico Izidro

quinta-feira, março 15, 2018

"Em Pedaços" (Aus dem Nichts)




"Em Pedaços" (Aus dem Nichts), dirigido por Fatih Akin, traz a tona uma das pragas da Europa, a xenofobia e o risco sempre presenta da extrema-direita e suas ações contra imigrantes. No caso, a trama mostra o desespero da alemã Katja (Diane Kruger), cujo marido turco e o filho pequeno foram mortos após uma explosão por causa de uma bomba deixada em frente à empresa dele, e a busca dela por justiça.

A obra é dividida em três partes: Família, Justiça e O Mar. No primeiro ato, connhecemos Katja e a vemos se casar com o presidiário Nuri (Numan Acar), que cumpre pena por tráfico de drogas. Depois, já o vemos livre, com uma empresa e feliz ao lado da mulher e do filho. Certo dia, Katja deixa a criança no trabalho de seu marido e horas descobre que os dois morreram após a explosão de uma bomba.

No ato dois, vemos Katja tentando descobrir os autores do atentado, até se deparar com um casal neonazista, que é preso pelo crime. Mas nada será fácil para ela, já que seu passado e presente como usuária de drogas atrapalha e muito na tentativa de ver os assassinos atrás das grades. E aí brilha o trabalho de Diane Kruger, que faz sua personagem ter as mais variadas reações, com uma vida estilhaçada, depressiva. Uma grande atuação. Mas quem também imprime muita vitalidade ao seu personagem é Johannes Krisch (de A Queda), que interpreta um dos mais desperezíveis advogados dos últimos tempos, defendendo com todo o sangue o casal neonazista - até chegamos a odiá-lo!!! No terceiro ato, Katja parte, sem muita convicção em busca de vingança. O suspense toma conta da tela, e ficamos alí, apreensivos, tentando imaginar cada passo da atormentada personagem. Filmaço.

Duração: 1h46min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

12 Heróis (12 Strong)



Baseado nos relatos do chefe de operações militares Mitch Nelson, contada no livro “Horse Soldiers”, do escritor Doug Stanton, "12 Heróis" (12 Strong), direção de Nicolai Fuglsig, narra a história real de um pequeno grupo de soldados norte-americanos infiltrados no Afeganistão para combater o Talibã logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. A operação ficou marcada por contar com um número reduzido de militares, no caso os 12 do título, que foi organizada de forma completamente secreta - por isso estes soldados ficaram anônimos por muitos anos e a batalha final demorou a ser divulgada. Hoje, no entanto, existe uma estátua de um militar montado em um cavalo no Memorial às vitimas do atentado, construído no local onde antes ficavam as Torres Gêmeas.

Protagonizado pelo eterno Thor, Chris Hemsworth, como Capitão Mitch Nelson, e Michael Shannon no papel do subtenente Hal Spencer, o filme apresenta o grupo de militares numa missão quase suicída no Afeganistão. Eles devem se infiltrar no país do Talibã e tentar convencer o comandante da Aliança do Norte, o General Abdul Rashid Dostum (Navid Negahban) e futuro vice-presidente do país asiático, a aliar-se aos Estados Unidos para eliminar o grupo terrorista Al Qaeda e os talibãs. O que marcou a missão foi o uso de cavalos em um combate contra tanques, e vencida pelos americanos!!!

"12 Heróis" pode, a princípio, cheirar a patriotada norte-americana, afinal enaltece ao extremo o exército daquele país. E isso incomoda muita gente, ainda mais o pessoal abaixo das fronteiras do país de Donald Trump, pois é repleto de heroísmo e patriotismo. Mas apesar de tudo, não é um filme ruim. Deixando de lado ideologias, a obra é preparada para aficiconados em filmes de ação. Produção, efeitos especiais de batalhas, fotografia, tudo enche os olhos.

Duração: 2h11min
Cotação: bom

Chico Izidro

"Western"



Apesar do nome, a obra não trata de um bangue-bangue, como se chamavam os faroestes antigamente e sim de um lugar em uma região rural da Bulgária. Falo do longa "Western", da diretora alemã Valeska Grisebach, que mostra um local atrasado, quase parado no tempo. E é para lá onde um grupo de trabalhadores alemães da construção civil vai trabalhar e conviver, algumas vezes pacificamente, e outras, agressivamente, com os moradores locais.

A diretora consegue trazer à tona sentimentos nacionalistas - observe a questão da bandeira alemã que os trabalhadores hasteam em seu espaço, e que logo é roubada. Grisebach trabalha ainda com a barreira da língua e as diferenças culturais. Todo o filme é mostrado sob a visão do operário Meinhard (Meinhard Neumann), que tenta se entrosar com os habitantes locais, inclusive paquerando as garotas da aldeia. É interessante notar, ainda, que a Bulgária, que fazia parte do antigo bloco comunista do Leste Europeu, se mostre empobrecida. Nem parece que o filme se passe nos anos 10 do Século XXI. O atraso é gritante, mesmo para nós, moradores do Terceiro Mundo. E isso é mais assustador.

Duração: 2h02min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Tomb Raider: A Origem"



"Tomb Raider: A Origem", direção do norueguês Roar Uthaug, do filme de desastre A Onda (2015), traz de volta à telona a heroína dos vídeo-games Lara Croft, quase duas décadas depois da primeira presença dela no cinema, com a então musa Angelina Jolie. A primeira adaptação era bem ruinzinha e agora com Alicia Vikander (Oscarizada por A Garota Dinamarquesa) melhorou um pouco, mas não traz nada de novidade, aliás, é um apanhado de filmes de aventuras, descaradamente imitando "Indiana Jones e o Templo da Perdição".

Em "A Origem", Lara Croft não tem nada de arqueóloga. Pelo contrário, é uma malandra que vive de pequenos bicos em Londres, já que se nega a viver da herança deixada pelo pai, Richard (Dominic West). Há alguns anos, ele deixou tudo para trás, inclusive a filha, para seguir a pista do túmulo de uma rainha japonesa, Himiko - que pode trazer a destruíção para o mundo se vier à tona.
Mas Lara acaba encontrando documentos de Richard e decide continuar a sua obra, indo parar no litoral japonês, acompanhada do marinheiro Lu Ren (Daniel Wu), e aí um dos inúmeros furos do filme - os dois são estranhos e de um momento para o outro, intímos ao extremo - "não posso deixar Lara para trás", repete Lu Ren frequentemente.

O vilão não poderia ser mais caricato, Mathias Vogel, vivido por Walton Goggis (de Os Oito Odiados), que trabalha para a organização a Ordem da Trindade, organização que vasculha o planeta atrás de artefatos, objetos e locais sobrenaturais. Além da trilha sonora irritante, o diretor abusa daquela câmera tremida e cenas copiadas diretamente dos filmes de Indiana Jones - faltou para Lara Cross somente o chapéu e o chicote. Mesmo assim, saindo dos vídeogames, que nunca joguei na vida e nem pretendo começar agora, dá de cem a zero em "Assassin’s Creed" e similares.

Duração: 1h58min
Cotação: regular

Chico Izidro

quinta-feira, março 08, 2018

"O Passageiro" (The Commuter)



Filme de ação não precisa ter só porrada, tiro e correria. Pode também apresentar um bom suspense, como é o caso de "O Passageiro" (The Commuter), que traz como protagonista um dos maiores astros do gênero, Liam Neeson, que uma vez já foi Schindler no oscarizado filme de Spielberg. A direção é do catalão Jaume Collet-Serra – que o dirigiu em Noite Sem Fim (2015), Sem Escalas (2014) e Desconhecido (2012).

Neeson vive o vendedor de seguros e ex-policial Michael MacCauley, que tem um cotidiano praticamente igual todos os dias: café da manhã com a família, a esposa é a ex-musa oitentista Elizabeth McGovern, que interpreta Karen. Depois pega o trem, sempre no mesmo horário e vai para a cidade trabalhar. A volta é também de trem, sempre no mesmo horário e com os mesmos companheiros de viagem. Todos se conhecem no trajeto. Até que um mulher, Joanna (Vera Farmiga), senta em frente a MacCauley, e diz estudar comportamento humano e lhe oferece um desafio.

Encontre uma pessoa que não deveria estar no trem, e que carrega uma bolsa suspeita. Descubra quem é e ganhe alguns milhares de dólares – o suficiente para resolver alguns dos seus problemas financeiros. No momento em que aceita o desafio, MacCauley passa a sofrer telefonemas ameaçadores, chantagens. E ele passa a ser observado, não sabe como - é proibido de tentar se comunicar com qualquer pessoa e tem a família ameaçada.

O trem se torna um ambiente claustrofóbico, o diretor aproveita para apresentar vários planos sequências e também ótimos efeitos especiais. A coisa de se encontrar alguém no trem e ele lhe propor algo remete direto ao clássico de Alfred Hitchcock, Pacto Sinistro, de 1951. Divertido.

Duração: 1h45min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Medo Profundo" (47 Meters Down)




Filmes com tubarões sempre me divertiram e me deixaram com os nervos à flor da pele. O mais recente era "Águas Rasas" (The Shallows), de 2016, onde a surfista interpretada por Blake Lively, ficava sozinha em uma praia isolada no México, e era atacada por um violento tubarão branco, e tinha de lutar contra a fera pela sua sobrevivência. Não passou nem um ano, e saiu outro filme tenso, "Medo Profundo" (47 Meters Down), direção de Johannes Roberts.

Agora a trama tem como protagonistas duas irmãs, Lisa (Mandy Moore) e Kate (Claire Holt), que vão ao México curtir férias em suas praias paradisíacas. Lá pelas tantas, as duas são convencidas por novos amigos mexicanos a uma aventura no mar - entrar em uma gaiola para observar a vida marinha e os tubarões brancos que habitam aquelas águas azuis e cristalinas. Mal sabem elas o que está por vir.
A estrutura do barco que carrega a gaiola é precária, e uma tragédia acontece: a gaiola se desprende da estrutura que o segura e afunda, parando a exatos 47 metros da superfície - o nome original do filme. Presas lá embaixo, Lisa e Kate precisam controlar os tubos de oxigênio e pensar num modo de voltar à superfície - começa a dar tudo errado no resgate.

Elas têm de pensar então, em sair da gaiola e nadar de volta, acarretando com todo o perigo à volta, como os tubarões famintos e o perigo de bolhas de ar entrarem em seus cérebros. Mas sair da gaiola pode custar ainda virar comida de tubarão. O longa é tenso, e apresenta dois desfechos, que não cabe aqui contar para não estragar a surpresa. Mas é uma ótima sacada do diretor. Tremei ao pensar em entrar na água de novo....

Duração: 1h29min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

Minha Amiga do Parque (Mi Amiga del Parque)




A produção argentina “Minha Amiga do Parque”, com direção de Ana Katz, coautora do roteiro premiado em Sundance em 2016, foca a trama em três personagens — Liz, Rosa e Renata — para abordar formas diferentes de lidar com a maternidade. Suas facilidades e dificuldades, seus traumas ou ausência deles. Não é um filme fácil, ainda que não fuja de mostrar o cotidiano dessas mulheres, principalmente Liz.

Liz (Julieta Zylberberg) é uma mãe de primeira viagem, insegura, cujo marido está fora, em uma viagem a trabalho, e provavelmente depressão pós-parto. Ela conhece Rosa (Ana Katz) num parque, ambas com seus bebês. Aos poucos as duas vão criando laços, mas a segunda não é normal, e é sempre auxiliada pela irmã Renata (Maricel Álvares).

A vida de Liz começa a ser sacudida com a presença de Rosa e Renata, as duas com vários problemas. A obra tem um tom sombrio, pois não sabemos as reais intenções das irmãs. E Liz ainda é desconfiada, triste e insegura, além do que não tem leite para amamentar seu filho.

O filme trabalha muito bem a questão da insegurança de seus personagens. E é uma obra de mulheres, sendo que os homens estão sempre distantes, como o marido de Liz, ou simplesmente inexistentes, no caso de Rosa e Renata.

Duração: 1h26min
Cotação: bom

Chico Izidro

"O Touro Ferdinando" (Ferdinand)




"O Touro Ferdinando" (Ferdinand), do brasileiro Carlos Saldanha, de sucessos como “A Era do Gelo 2” e “Rio”, trata nesta sua nova animação de um touro espanhol criado para trabalhar nas touradas. Só que ele é um ser pacifista, que prefere cheirar flores a se ver nas arenas de Madrid, enfrentando os toureiros e suas lanças e espadas. A obra é uma releitura do livro infantil do americano Munro Leaf, publicado em 1936, que trazia uma mensagem pacifista. O livro virou curta nas mãos de Walt Disney, ganhando um Oscar em 1938.

Agora com toda a tecnologia a seu dispor, Saldanha entrega um ótimo trabalho, modernizando o texto, indo além da crítica a tortura e morte dos animais nas arenas de touradas. Foca ainda no bullying, um tema que sempre existiu - quem esteve em escola sabe muito bem, só que no meu tempo não se chamava assim. Os caras "inticavam" com a gente.

Bem, voltando ao filme, Ferdinando foi criado numa fazenda preparada para criar touros para as touradas - se eles falhassem, viravam carne pra açougue. Não gostando do seu destino e vivendo com outros touros, estes mais valentes e ignorantes de seus destinos, ele foge e vai parar numa fazenda onde é adotada por uma doce menininha e seu pai. Mas cresce, cresce muito e vira um animal enorme, sem noção de sua força e tamanho. Isso provoca acidentes inimagináveis e um dia, Ferdinando acaba retornando para o local de onde havia fugido. E o bichinho sonha em escapar de novo, pois não consegue aceitar o destino que lhe aguarda.

O filme é divertido, e tem coadjuvantes de peso, como a cabra Lupe, os ouriços Um, Dois e Quatro (não perguntem sobre o Três, que eles choram), os cavalos alemães - aliás, vale a pena assistir a versão original, pois cada um dos animais possui um sotaque diferente - escocês, alemão, espanhol.

Duração: 1h48min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

quinta-feira, março 01, 2018

"Projeto Flórida" (The Florida Project)



A Disney World, em Orlando, na Flórida, é um mundo de encanto para adultos, adolescentes e crianças. Mas ali do lado deste mundo criado por Walt Disney, um prédio decadente é casa para pessoas despossuídas, vivendo de forma quase miserável. O nome do local: Magic Castle ou Castelo Mágico. Uma mistura de motel com conjunto habitacional onde vive a pequena Moonee (Brooklynn Prince), protagonista do realista e chocante "Projeto Flórida" (The Florida Project), direção de Sean Baker.

A garotinha de seis anos passa os dias por ali, brincando com seus amiguinhos - uma das diversões deles é cuspir e xingar as pessoas que passam na frente do prédio. Sua mãe Halley (Bria Vinaite) sustenta a filha e paga, sempre de forma atrasada, o aluguel através da prostituição e de pequenos trambiques realizados nos hotéis chiques da região. O Magic Castle é gerenciado pelo solitário Bobby (Willem Dafoe), rígido no controle do local, pois precisa exigir o pagamento em dia dos moradores, na tentativa de garantir a manutenção, ainda que mínima, do hotel. Mas ele também é solidário quando necessário com as crianças que residem e brincam por ali.

Uma das cenas mais atrativas para os brasileiros é quando um casal chega ao Magic Castle - eles estão em lua de mel e chegaram do Brasil. A mulher, no entanto, se horroriza com as dependências e começa a brigar com o marido, em bom português. Afinal, como ele escolheu aquela espelunca para eles passarem as férias.

A pequena Brooklynn Prince não é novata em frente as câmeras, pois já gravou diversos comerciais. Sua atuação é repletas de desenvoltura e leveza, comovendo no papel de uma pequena que tem o sofrimento ali, batendo a sua porta diariamente. Já a tatuada Bria Vinaite, que lembra muito Courtney Love, foi pinçada através de seus posts no instragam, onde aparece fumando maconha e dançando. Seu personagem é aquela looser típica americana.

Depois de muitas cenas cruas e duras, o final pende um pouco para o sentimentalismo, mas nada que faça perder força - o choro de Moonee é de quebrar o coração!

Duração: 1h51min
Cotação: ótimo

Chico Izidro

"Motorrad"



Único filme brasileiro presente na seleção de longas para o Festival de Toronto, Motorrad é dirigido por Vicente Amorim (Corações Sujos), e é baseado em história em quadrinhos de Danilo Beyruth (Bando de Dois, Astronauta: Magnetar, São Jorge – Volume I e São Jorge – Volume II). A história, envolvendo motoqueiros, apresenta um misto de terror, suspense e muita violência gratuita, lembrando pelo seu visual os filmes de pós-apocalipse como "Mad Max".

Desde o começo o filme se mostra promissor, numa sequência onde os personagens que aparecem na tela não dizem uma única palavra. Logo depois, ficamos sabendo que o motociclista Hugo (Guilherme Prates) roubou uma peça de moto para acompanhar o irmão Ricardo (Emilio Dantas), que sairá com outros companheiros em uma aventura sob duas rodas por um vale paradisíaco. A eles ainda se juntará uma garota misteriosa, Paula (Carla Salle).

Hugo, Ricardo e Paula e outros motociclistas adentram em uma trilha, até se depararem com um muro recém-fechado. Eles retiram as pedras que fechavam o muro e entram num vale, onde começam a se divertir. Porém, do nada passam a ser perseguidos por outro grupo de motoqueiros, que vão matando um a um os amigos de Hugo.

Apesar do bom suspense, o roteiro de "Motorrad" peca por deixar muitas brechas. Afinal, quem são os motociclistas de preto que perseguem o grupo de Hugo e qual a motivação? Por que uma das personagens é orientada a não beber a água de um lago onde eles se banhavam? E por que cargas d'água um dos personagens não usou a arma que carregava quando foi ameaçado pelos agressores? E o final é de um total anticlimax e Inverossímil.

Duração: 1h 32min
Cotação: regular

Chico Izidro

"Operação Red Sparrow" (Red Sparrow)



"Operação Red Sparrow" (Red Sparrow), direção de Francis Lawrence, é um filme de espionagem contrapondo russos e americanos, como não houvesse acabado ainda a Guerra Fria. Pior que o longa se mostra atemporal, pois traz rastros do período citado acima, e onde os personagens lidam com celulares e armas de última geração, mas ao mesmo tempo se preocupam em brigar por disquetes!!! contendo segredos. Vale isso, produção?

A protagonista da história é a bailarina do Bolshoi Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), que após sofrer um acidente durante uma apresentação, vê sua carreira ir ladeira abaixo. Para manter o apartamento e o plano de saúde para a mãe cedidos pela companhia, ela é obrigada pelo tio Vanya (Matthias Schoenaerts), a virar uma espiã.

Dominika, então, é colocada em uma escola de “pardais” (sparrow), como são chamados os agentes. O local, porém, parece saído daqueles obscuros órgãos dos anos 1930 e 1940, onde os candidatos a espiões são submetidos a todo tipo de humilhação e perversão sexual. Mas Dominika sai de lá programada para usar seu corpo e sua mente para obter informações de espiões inimigos, seduzir rivais e, até mesmo, matá-los. Isso numa questão de três meses!!! Logo é destacada para Budapeste, na Hungria, onde sua missão envolve se aproximar do agente da CIA Nate Nash (Joel Edgerton). A espiã tem de descobrir através dele qual russo vem vazando informações para os americanos. Só que ela acaba se envolvendo romanticamente com Nash.

"Operação Red Sparrow" acaba virando uma verdadeira salada, com tramas e várias sreviravoltas, e nada convincente. O filme é confuso e com roteiro preguiçoso e, por vezes, forçado demais.

Duração: 2h20min
Cotação: ruim

Chico Izidro

"A Maldição da Casa Winchester" (Winchester)



Em tempos onde os norte-americanos estão empenhados em que o governo de seu país adote o controle de armas, visto a proliferação de chacinas, surge um filme de terror anti-armamentista: "A Maldição da Casa Winchester" (Winchester), direção dos irmãos Michael Spierig e Peter Spierig.

A trama se baseia em fatos reais, ocorridos no início do Século XX, e gira em torno da mansão de Sarah Winchester (Helen Mirren), herdeira da empresa de seu falecido marido William Wirt Winchester, fundador da marca de armas que leva o seu sobrenome. Ela acredita que a casa está assombrada por espíritos dos mortos pelos rifles Winchester e então ordena uma incessante construção, demolição e reconstrução de quartos para abrigar esses espíritos inquietos.

Só que a atitude da viúva é vista como excentricidade/loucura pela direção da empresa, que encarrega o dr. Eric Price (Jason Clarke), para averiguar o estado psicológico de Sarah, e ver se ela estaria apta a manter parte do comando da empresa. Na mansão, Eric é recebido pela sobrinha de Sarah, Marion Marriot (Sarah Snook) e seu filho Henry (Finn Scicluna-O’Prey). E ele começa a presenciar fenômenos sobrenaturais, passando a questionar sua noção de realidade. Talvez, acredita Price, possa ser efeito de um medicamento na qual está viciado, o láudano, que contém ópio em sua composição.

O filme até tem um início promissor, apresentando alguns sustos e mujito mistério no enorme casarão. Mas no decorrer da história, os diretores vão se perdendo, criando apenas mais uma obra genérica de terror, onde os seres sobrenaturais são combatidos com "tiros de rifle!. Sério...Jason Clarke e a excelente Helen Mirren estão irreconhecíveis, talvez aceitando participar do filme para levantar uma graninha para o aluguel.

Duração: 1h40min
Cotação: ruim

Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...