sexta-feira, agosto 11, 2006

Anjos do Sol



O ano não acabou. Aliás, ainda faltam cinco meses para o término de 2006, mas já escolhi um dos melhores, se não o melhor filme do ano. Anjos do Sol, de Rudi Lagemann. O tema não é novo, aliás no começo da década passada foi série de reportagens do jornalista Gilberto Dimenstein, na Folha de São Paulo. A prostituição infantil e adolescente. É triste se saber que existe e o governo pouco ou nada faz para deter tais acontecimentos. E pior, as meninas que vivem tal situação são mais do que jovens prostitutas. São escravas que não tem nenhuma outra opção. Ou é aceitar ou morrer.
Anjos do Sol lembra muito Memórias de Uma Gueixa. Porém o cenário é o norte brasileiro, onde meninas, muitas que nem menstruaram ainda, são vendidas por seus pais para gigôlos - na sua ignorância, acham que as meninas irão para a cidade grande trabalhar como empregadas e o pouco do dinheiro que recebem servirá para alimentar o restante da família por um breve período.
O filme é dolorido e a interpretação da jovem estreante Fernanda Carvalho, como Maria, é surpreendente. Ela consegue em cada olhar, em cada gesto, passar para o espectador todo o pavor de sua situação. E sua personagem quer fugir daquele destino que lhe foi reservado. As outras meninas que com ela são exploradas, na sua maioria, aceitam resignadas suas vidas. Pensam que fora do prostíbulo aonde estão suas vidas seriam piores.
Antônio Calloni faz o papel do gigôlo, dono de uma "boate", em que os garimpeiros vão se "aliviar" sexualmente. Seu personagem é um dos mais sádicos e horripilantes dos últimos tempos no cinema. Assim como o fazendeiro interpretado por Otávio Augusto (de Boleiros).
É fácil de se chorar num filme assim, mas do que adiantam lágrimas? Deve-se é denunciar e forçar o governo a evitar bárbaries como essas. Mas Brasília não está nem aí para o destino de miseráveis analfabetas e de nenhuma importância e que vivem nos confins do mundo.
Ah, note a aparição de Darlene Glória, que saiu de seu refúgio no interior no Rio de Janeiro, para viver o papel de uma cafetina. Darlene ficou famosa no papel da prostituta Geni no clássico brasileiro Toda a Nudez será Castigada, de Arnaldo Jabor, de 1973.

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