Friday, August 04, 2006

Zuzu Angel


Zuzu Angel

Sempre reclamaram que o cinema brasileiro não aproveitava a sua história para fazer bom cinema. Se desperdiçou uma época - a de 1970 com pornochanchadas e alguma coisa para ser lembrada, mas sem muito entusiasmo. Porém aos poucos, apesar de deslizes que ainda ocorrem, temos duas décadas que valem mais a pena do que qualquer filme sobre um herói do beisebol americano (sabem do que falo, afinal Hollywood transforma qualquer coisa em épico, vide aquele filme do cavalo Seabiscut, uma verdadeira bomba). Bem, deixemos de delongas e vamos a Zuzu Angel, de Sérgio Rezende.
Se escrevi há dias que Gwyneth Paltrow arrasa em A Prova, Patrícia Pillar faz muito mais em Zuzu Angel. Famosa estilista nascida em Minas Gerais, mas que fez sucesso no Rio de Janeiro dos anos 1970, ela bateu de cara com a ditadura militar, depois de ter seu filho morto pela repressão. O jovem, Stuart, fruto de seu casamento com um norte-americano, é interpretado por Daniel Oliveira (Cazuza). Ele se envolve com a guerrilha urbana e é pego pelos milicos. Após ser severamente torturado, o seu corpo foi jogado no mar e nunca encontrado.
Zuzu, no início, assim como a maior parte da população brasileira, não acreditava que estava ocorrendo uma revolução no país e nem mesmo uma brutal ditadura, até perder o filho e a nora Sônia (a bela Leandra Leal). Zuzu passa anos protestanto e tentando esclarecer o que ocorreu com o seu filho. Isso lhe provoca a perseguição da ditadura, que passa a considerar a estilista uma figura perigosa para o sistema.
O filme tem uma boa reconstituição de época e faz bem as idas e vindas no tempo, sem deixar o espectador confuso.
Zuzu incomodou tanto, que acabou sendo eliminada pelos militares - e não há nada de maniqueísmo no filme, apesar de algumas pessoas que forem assistir ao filme considerarem os militares por demais maus, cínicos, mentirosos. E não o eram?
Ah, detalhe para Luana Piovani interpretando Elke Maravilha, uma figura conhecida pelos programas dominicais de Silvio Santos como jurada e por sua excentricidade. Porém Elke é uma figura singular. Nascida na antiga União Soviética, seus pais fugiram do regime comunista e vieram parar no Brasil. Com um Q.I. altíssimo, ela fala seis línguas e até faz uma ponta no filme como uma cantora alemã num bar.
Zuzu, há pouco, ganhou uma homenagem ao ter o túnel onde foi assassinada passar a levar o seu nome. Uma de suas filhas, Hildegard Angel, é hoje colunista do jornal O Globo. Um filme nota 10.

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