quinta-feira, agosto 30, 2012

"Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros"


Há cerca de dois anos surgiu uma nova mania na literatura: a união de livros clássicos com o terror. Assim, apareceram obras como Orgulho e Preconceito e Zumbis e Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos, ambos de Seth Grahame-Smith.

A febre chega agora às telas com o bizarro "Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros", dirigido peolo mesmo Seth Grahame-Smith, roteirista de "Sombras da Noite", de Tim Burton. É isto mesmo, o presidente americano na primeira década de 1860 e morto por radicais sulistas em 1865, transformou-se numa espécie de Van Helsing. A história segue a biografia do político, desde a infância humilde, a perda dos pais, seus estudos de advocacia até chegar à presidência dos Estados Unidos e encarar a sangrenta Guerra Civil americana.

Só que o personagem histórico é tornado um caçador de vampiros para vingar a morte da mãe, assassinada por um morto-vivo. E sua arma é um machado - Lincoln foi um lenhador em sua juventude. E os vampiros, numa boa sacada, são os sulistas escravagistas.

Em tempos de vampiros dóceis, como os vistos em "Crepúsculo", em "Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros", eles são tão sanguinários como os da série "True Blood". Os efeitos especiais são bons - destaque para as cenas das batalhas na Guerra Civil e os cavalos em desabalada carreira por uma pradaria, enquanto que Lincoln entra em luta encarniçada com um de seus inimigos.
O problema é conseguir enxergar Abraham Lincoln, vivido pelo estreante Benjamin Walker, que lembra muito um Liam Neeson jovem, como um cara que saia por aí correndo, dando machadas e lutando com vampiros.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Headhunters"


"Headhunters", direção de Jo Nesbo, é uma grata surpresa vinda da Noruega. Trata de complexo de inferioridade, traição, suspense, e contém cenas de extrema violência. A palavra que dá nome ao filme tem dois significados. Um deles é sobre a profissão do baixinho Roger (o ótimo Aksel Hennie), ou seja, selecionar executivos para grandes empresas norueguesas. O outro é Clas Greve (Nikolaj Coster-Waldau, de Game of Thrones), aparentando ser um pacato e sedutor imigrante holandês, mas que na realidade mostra-se ser um assassino cruel, ou seja, um caçador de cabeças.

"Headhunters" divide-se em duas partes que completam-se perfeitamente. Na primeira, mostra a vida de Roger, que com seus 1,68m, precisa, além de seu trabalho, agir como um ladrão de obras de arte nas horas vagas. Afinal, tem de manter seu alto padrão de vida ao lado da sua portentosa esposa de quase 1,80. Ele acredita que se não bancar presentes caros à esposa, ela o deixará, afinal ele é um nanico.

Em sua segunda parte, "Headhunters" vira um thriller de suspense e ação, após Roger roubar uma valiosa obra de arte de Clas e passa a ser caçado implacavelmente pelo holandês. Cenas eletrizantes são mostradas, como a que Roger joga-se dentro de um buraco cheio de excrementos, ou quando um caminhão atropela e joga um carro num precipício, com os seus ocupantes dentro.

Tudo em "Headhunters" é bem encaixado, mesmo em sua parte final, onde Roger tenta livrar-se de Clas. O personagem, devido a suas atividades, é extremamente metódico e isso deixa tudo crível.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

quinta-feira, agosto 23, 2012

"Rock of Ages"


O melhor período vivido pelo heavy metal foi nos anos 1980. Houve o surgimento de bandas significativas do gênero, como Metallica, Anthrax e Slayer. E na segunda metade daquela década o mundo foi assolado por bandas cujo visual e temática não se levavam muito a sério. Lá fora elas foram batizadas de glam metal, referência ao look copiado de David Bowie, com seus cabelões, batom e gloss. No Brasil, o estilo ficou conhecido como metal farofa. O centro do movimento era Sunset Strip, em Los Angeles, com seus bares e casas noturnas. Aquilo tudo escandalizou os conservadores americanos, que tiveram uma reação imediata: a perseguição aos músicos, que estariam corrompendo a juventude.

O musical "Rock of Ages", que passou pelos palcos da Broadway, chega às telonas sob a direção de Adam Shankman. As músicas daquele período servem de condução para o romance bobinho entre a interiorana Sherrie Christian (Julianne Hough) e Drew Boley (Diego Boneta), que se conhecem no clube onde ocorriam as principais apresentações, o Bourbon Room, administrado por Dennis Dupree (Alec Baldwin) e seu parceiro Lonnie (Russel Brand e seu fortíssimo sotaque britânico). Ela, querendo ser cantora na efervescente Los Angeles, e ele sonhando em deixar de ser garçom e fazer sucesso com sua banda.

Baldwin e Lonnie, aliás, protagonizam uma das cenas mais hilárias do filme, quando dançam agarradinhos. Paralela ao namoro de Sherrie e Drew, aparece o drama que vive o músico Stacee Jaxx (Tom Cruise, perfeito em sua imitação de Axl Rose), que está deixando a sua mítica banda Arsenal, para começar a carreira solo, mas apesar de ídolo dos roqueiros, passa por um período de questionamentos. E também a batalha da esposa do prefeito, Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones), claramente inspirada em Typer Gore, à época esposa do então senador Al Gore, depois vice-presidente dos EUA na gestão Bill Clinton, a mais árdua crítica e perseguidora dos grupos de heavy metal em 1987.

As músicas se encaixam perfeitamente na trama de "Rock of Ages". Somos brindados com pérolas do Journey, como Don't Stop Believin, Foreigner e suas românticas Waiting for a Girl Like You e I What Know What Love Is, Scorpions com Rock You Like a Hurricane e até mesmo o Quarterflash, com Harden of My Heart. Não esquecendo que estas bandas não faziam parte do movimento farofa, mas suas músicas foram significativas à época. Já Def Leppard, Whitesnake e seu hino Here I Go Again, começaram hard rock, mas caíram de cara no estilo poser por causa de algus dólares a mais. E claro, referências explícitas a Guns N' Roses, lembrada não só no personagem de Cruise, mas com a linda Paradise City, Motley Crüe, Bon Jovi, Twisted Sisters, que entra com I Wanna Rock e We're Gonna Take It, e Poison.

O musical tem uma história simples, quase simplória. E isso não importa. O que importa é relembrar aquele período, que sim, pode ser chamado de ouro para o heavy metal. Mesmo aquele que não se levava a sério. E como é frequente, o casal protagonista acaba engolido peloa maior qualidade dos coadjuvantes. E três deles são Alec Baldwin, Catherine Zeta-Jones, ótima como a magoada Patricia, e Paul Giamatti como o cínico e mesquinho empresário Paul Gil.

A bonitinha Julianne Hough, vivendo Sherie, não tem cacife e nem voz - aliás, sempre irritante e esganiçada - para cantar as músicas de metal. Ficaria melhor em "Mamma Mia". Diego Boneta, saído das fileiras da novelinha Rebelde, não compromete, mas lhe falta carisma.

Cotação: bom
Chico Izidro

"O Ditador"



Sacha Baron-Cohen, definitivamente, perdeu a graça. Depois de surpreender com o iconoclasta Borat e o debochado Brüno, derrapa feio em "O Ditador", direção de Larry Charles. Desta vez o comediante é o General Aladeen, soberano da árabe Wadiya. Cruel e ao mesmo tempo patético, cria Olimpíadas para ele mesmo concorrer e vencer e não vacila em mandar executar qualquer súdito que seja contrário às suas vontades.

Mas o que Aladeen realmente é puramente o amor, que ele vai encontrar nos Estados Unidos, onde deverá discursar na sede da ONU, pois pretende negar estar montando um arsenal de armas de destruição de massa. E a exemplo de sua outra cria, o cazaque Borat, em Nova Iorque Aladeen vai descobrir uma conspiração de alguns de seus asseclas de despojá-lo do poder. Ao mesmo tempo que envolve-se com a ativista política Zoey (Anna Faris, contumaz participante de besteiróis, como Todo Mundo em Pânico e Garota Veneno).

As piadas de "O Ditador", personagem claramente baseado em usurpadores como Saddam Hussein, Kim Jong-Il, Muamar Kadafi e Ahmadinejad, devem agradar somente aos adolescentes estourando de hormônios. É um apanhado de tiradas sobre masturbação, defecação, felação e mulheres peituras. E supremo politicamente incorreto, manifestações antisemitas e racistas. Mas sem nunca esquecer que Sacha Baron-Cohen é judeu.

Salvam-se umas três ou quatro piadas, principalmente as que aparecem Megan Fox e Edward Norton como eles próprios e se prostituindo para dirigentes políticos.
No final, fica aquela sensação de incômodo e vergonha alheia. Nem mesmo o ótimo Ben Kingsley agrada.

Cotação: ruim
Chico Izidro

quinta-feira, agosto 16, 2012

"O Vingador do Futuro"



Uma refilmagem é sempre perigosa. A porcentagem de acerto costuma ser baixa, principalmente quando se mexe com filmes ícones. O melhor é deixar quieto, pois raramente a cópia sai melhor do que a original.

E "O Vingador do Futuro" não foi diferente. A primeira versão dirigida por Paul Verhoeven em 1990, estrelada por Arnold Schwarzenegger e Sharon Stone continua superior a sua nova leitura, comandada por Len Wiseman, e com Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel e Bryan Craston. Na história futurista, um operário sonha em viajar para Marte, o que sua mulher é contra. Para satisfazer seu desejo, Doug Quaid procura uma empresa de implante de sonhos. O problema é que Quaid acaba descobrindo que a vida que ele leva não é a sua. Ele é um rebelde pertencente a um grupo revolucionário que tenta derrubar o governo vigente. A trama é baseada em conto publicado em 1966 pelo escritor Phillip K. Dick, também autor de Blade Runner e Minority Report.

O novo "O Vingador do Futuro" leva vantagem de seu antecessor no quesito tecnologia e no visual, algo pós-apocalíptico. Só que isso não basta. Farrell é melhor ator do que Schwarzenegger, assim como Kate Beckinsale leva vantagem sobre Sharon Stone, pré-Instinto Selvagem e menos aproveitada na trama de 1990. Porém o novo filme, que não esquece de homenagear o anterior - vide a prostituta com três seios e a velha no aeroporto - perde-se numa profusão de lutas e corre-corre por vielas estreitas e sujas. O diretor também optou por limar parte da história, situada entre a Terra e Marte. Nesta versão recente, Marte é limada, com toda a ação transcorrendo entre Londres e a Austrália, transformada em A Colônia.

Wiseman também não tem pudores em se apropriar do visual de Guerra nas Estrelas, pois os soldados do governo são inspirados completamente nos stormtroopers, assim como A Colônia é calcada em Blade Runner. Sem contar na inverossimilhança: o vilão tem diversas chances de matar Quaid, mas prefere bater papo com o herói antes de matá-lo. Aí Quaid foge, é capturado, houve discurso, foge, é capturado, foge...

Cotação: regular
Chico Izidro

"Intocáveis"


"Intocáveis", antes de tudo, não é uma refilmagem do clássico de 1987 dirigido por Brian de Palma e que conta a história do policial Eliott Ness contra o mafioso Al Capone. Dirigido por Olivier Nakache e Eric Toledano, "Intocáveis" mostra a improvável amizade de um rapaz negro, natural do Senegal, com um milionário tetraplégico, em Paris.

Driss (Omar Sy) é um irresponsável, ex-presidiário e completamente sem limites. Desempregado, precisa comprovar estar em busca de trabalho para receber o seguro-desemprego. Basta a assinatura dos representantes do ricaço Philippe (François Cluzet) para receber o benefício. Só que o jeitão desinibido e sincero de Driss contagia Philippe, que estava em busca de um enfermeiro, acabando por contratar o rapaz.

A história poderia facilmente escorregar para o sentimentalismo barato. Passa longe disso. Apesar de a história ser centrada em dois homens totalmente opostos e que convivendo juntos, mudarão um a vida do outro. Isto já foi visto em vários outros filmes, com resultados os mais variados. Aqui é cativante. A atuação da dupla central, Cluzet e Sy, é primorosa. Cluzet, que por vezes assemelha-se brutalmente com Robert de Niro, está perfeito na caracterização de seu personagem tetraplégico. E o que dizer de Omar Sy. Seu Driss é uma figuraça. Assustador, mas também sedutor - suas investidas sobre a secretária Magalie (Audrey Fleurot) são hilariantes. Assim como suas tiradas espirituosas e os trocadilhos, nunca infames. "Intocáveis" é diferenciado.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Outback - Uma Galera Animal"



Numa época em que as animações beiram a perfeição, assistir "Outback - Uma Galera Animal", dirigido por Kyung Ho Lee, beira o anacronismo. O desenho animado começa tratando de bulliyng, quando o coala albino Johnny é expulso da floresta por ser diferente dos demais de sua espécie. O bichinho acaba indo parar num circo devido ao seu exotismo, provocando os ciúmes do jacaré que gerencia o local. Novamente excluído, acaba indo parar num oásis no deserto australiano, onde assume outra identidade, a do Super-Coala.

Idolatrado pelos animais do local, vê as coisas mudarem de figura quando o violento crocodilo Bog pretende expulsar os animais do oásis e se adonar do lugar, onde existe um lago. Então Johnny terá de provar para todos não ser um covarde - e isso só é enxergado pela coala Miranda, esta sim corajosa e às no bumerangue. E claro, alvo romântico do coala branco.

Só que "Outback - Uma Galera Animal" tropeça. A animação, além de trazer uma história nada original, é malfeita. Os desenhos são quase toscos. As piadas inexistentes. E até mesmo a parte musical decepciona, quando mostra uma festa ao som de Down Under, do Men At Work. E para piorar a dublagem derrapou feio ao criar um continente. Logo no início da animação, a narração dispara: "No continente conhecido como Austrália..."

Cotação: ruim
Chico Izidro

quinta-feira, agosto 09, 2012

"À Beira do Caminho"



João é um homem atormentado. Caminhoneiro, percorre as estradas do Nordeste do Brasil ouvindo apenas um cd do Roberto Carlos, que lhe traz lembranças doces e amargas. Até que após a parada num posto acaba descobrindo um clandestino em seu caminhão, o garoto Duda (Vinicius Nascimento), que recém perdeu a mãe e está a procura do pai, que mora em São Paulo.

Este é o ponto de partida do road-movie "À Beira do Caminho", direção de Breno Silveira. Pontuado por canções do Rei, os dois cruzarão o país numa convivência nunca pacífica, por vezes beirando o belicismo. Duda é falante e esperto e começa a penetrar no íntimo de João - e aos poucos ficamos sabendo de o porque ele ter se tornado uma pessoa fechada e amargurada. "À Beira do Caminho" é atemporal, mas parece ter sido ambientado entre os anos 1970 e 1990 - devido as roupas e cabelos dos personagens, os automóveis que surgem em cena. E vemos aquele Brasil que parece ter parado no tempo, com suas cidadezinhas pequenas, as pessoas humildes e, por vezes, sofridas.

João Miguel, de "Estômago", é que vive o seu homônimo, demonstrando mais uma vez ser ótimo ator. O garoto Vinicius Nascimento é uma ótima revelação. Sabe ser meigo na hora de ser meigo, chato na medida certa, e sofrido quando deve mostrar sofrimento...Dira Paes, de "E Aí... Comeu?", faz uma rápida e sedutora aparição como um antigo amor de João.

"À Beira do Caminho" em determinado momento escorrega no sentimental, mas rapidamente foge dele, transformando-se num excelente filme onde se discute culpa e solidariedade.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Tentação"




Um homem sobe até o terraço de um prédio e ameaça jogar-se de lá. Um policial vai até ele para tentar dissuadí-lo da ideia de suicidar-se. Os dois irão então ficar falando sobre suas vidas e seus problemas em "A Tentação", ótimo thriller psicológico dirigido por Matthew Chapman.
O filme sofreu certo preconceito por ser americano. Mas ao vê-lo, verifica-se ter ele um perfil completamente europeu. Não há cenas de perseguições, tiroteios. Pelo contrário, os personagens sentam à mesa, tomam vinho, conversam, discutem sobre religião e de amores. Tudo em longas tomadas.

A trama envolve o gerente de hotel Gavin (o carismático Charlie Hunnan, de Pergunte ao Pó e Cold Mountain), que logo ficamos sabendo, deve-se suicidar até o meio-dia, e são 10h, ou outra pessoa será assassinada perto dali. Gavin é um homem inteligente, ex-professor, que perdeu a família e tenta reconstruir sua vida. Ele mora com o amigo gay e soropositivo Chris (Christopher Gorham, da série Popular e do filme Por Uma Vida Mais Ordinária) e é apaixonado pela vizinha Shana (Liv Tyler, desglamourizada, para mostrar uma mulher que anulou-se), que é casada com o fanático religioso Joe Harris (Patrick Wilson, de Prometheus).

Gavin e Joe travam verdadeiros embates sobre religião e seus prós e contras. Já o policial Hollis (Terrence Howard, de Homem de Ferro 1 e A Vida Por Um Fio), enquanto tenta convencer Gavin a não pular, Hollis, está sofrendo, pois naquela mesma manhã, antes de ir trabalhar, ficou sabendo ser estéril. E isso acabou com seu mundo, afinal ele é casado há dez anos e tem dois filhos com sua mulher. Ou seja, descobriu ter sido traído e isso o está corroendo.
"A Tentação" é eficiente ao debater religião, fidelidade, amor. E fugindo totalmente do repetitivo cinema comercial americano.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Chernobyl"




"Chernobyl" tinha tudo para ser um filme de terror diferenciado. Dirigido por Bradley Parker, tem como pano de fundo a cidade-fantasma de Pripyat, na Ucrânia, que teve de ser evacuada às pressas em 1986, quando do acidente nuclear na usina de Chernobyl.

Até hoje está proibida a permanência de humanos no local devido ao perigo da radiação. Claro que curiosos arriscam-se a vasculhar as ruínas de Pripyat, onde moravam os funcionários da usina. O máximo que uma pessoa pode ficar na cidade é duas horas. E é este o tempo que seis turistas e um guia ucraniano têm para percorrer as ruas abandonadas de Pripyat. A primeira meia-hora de "Chernobyl" é instigante, com os personagens fuçando cada pedaço do local, e metendo a mão em objetos contaminados e, com isso, ficando borrados de medo. O espectador dá pulos nervosos na cadeira. Até que cai a noite e acaba o suspense.

A partir deste momento, "Chernobyl", que note, não é o nome da cidade e sim da usina, torna-se um filme de zumbis, onde os turistas passam a ser perseguidos e devorados por antigos moradores de Prypiat - que afetados pela radiação, só saem à noite em busca da carne de desavisados. O roteiro lembra e muito, e talvez tenha sido baseado, em "A Última Esperança da Terra", com Charlton Heston e refilmado como "Eu Sou a Lenda", com Will Smith.

Cotação: regular
Chico Izidro

quinta-feira, agosto 02, 2012

"Vou Rifar Meu Coração"


O amor vai pegar seu coração e deixá-lo sangrando no chão. Uma das melhores definições sobre este sentimento que nos transtorna e que não aparece no documentário "Vou Rifar Meu Coração", de Ana Rieper. E bem que poderia estar lá. Afinal, é exagerada. E será que exagero é sinal de brega?

Pois bem, "Vou Rifar Meu Coração" mostra um Brasil quase subterrâneo da música brega e seus ídolos. O título foi tirado de uma música de Lindomar Castilho, ícone do gênero nos anos 1960 e 70 e que entrou para a história não pelas centenas de músicas gravadas, mas por ter levado ao extremo o ciúme: matou a esposa Eliane de Grammont em 1981, ficando preso por sete anos, e neste período gravou o disco Muralhas da Solidão.

Ana Rieper também colhe depoimentos de artistas como Odair José, Amado Batista, Wando e Agnaldo Timóteo, este mostrando uma total arrogância. "Sou preto, cabelo ruim, mas canto muito. Mais do que Roberto Carlos", exalta. Todos eles fazem parte dos anos românticos da música brega. "Vou Rifar Meu Coração" avança para a época atual, onde o brega abandona as letras sobre traições, prostitutas e chutes na bunda para explorar temáticas eróticas, quase pornográficas.

Interessante é mostrar o Brasil interiorano, que parece ter parado no tempo e suas figuras exóticas, com camisas com golas longas e abertas no peito, bigodinhos e cabelos engomados. Sem contar as indefectíveis joias. Todas pessoas simples com uma história interessante para relatar. Abandonadas pelo amor de suas vidas, ou que se apaixonaram por prostitutas, ou que mantém relacionamentos de décadas com duas mulheres e tem filhos com elas. O depoimento de um prefeito de uma cidadezinha baiana e suas esposas de quase quatro décadas é hilário.

Esses personagens não se importam em mostrar a cara e revelar suas dores de amor. Diz uma delas: "Sou brega sim. O pobre é brega". Um cantor de boate de periferia revela seu gosto por bandas pesadas como Deep Purple, Black Sabbath e AC/DC.

O pobre e o rico sofrem igual. "A única diferença é que o operário, quando leva um fora, vai chorar no seu barraco. O médico vai chorar em seu apartamento com vista para o mar", filosofa Odair José, autor do clássico Eu Vou Tirar Você Deste lugar, sobre um rapaz que apaixona-se por uma puta.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"A Primeira Coisa Bela"


Bruno é um homem amargurado, viciado em drogas, que não vê a mãe, Ana há 30 anos. Até que a irmã Valeria lhe procura com o aviso: Anna está com câncer em estágio terminal. É a hora de Bruno fazer as pazes com o passado em "A Primeira Coisa Bela", de Paolo Virzi.

O protagonista, então parte da cosmopolita Milão para a litorânea e pequena Livorno, onde irá rememorar a sua infância, adolêscencia e começo da fase adulta ao lado da mãe e da irmã. Os três não tiveram uma vida fácil. Aos sete anos, depois de Anna ser eleita a mais bela mãe num concurso na praia, ele e as duas são expulsas de casa pelo seu pai enciumado. Anna, vivida então por Micaela Ramazzotti, é dona de uma beleza estonteante e objeto de desejo de todos os homens que a cercam. Destrambelhada, mete-se nos mais variados problemas, fazendo com que Bruno cada vez mais torne-se uma pessoa introspectiva, amargurada e rancorosa.

O cinema italiano tem uma facilidade incrível de lidar com o sentimentalismo sem ser piegas. Mesmo que lá estejam os tipos característicos como a tia maldosa e invejosa, o marido estérico, o falante compulsivo, o amante latino e sua peruca rídicula. Tudo é colocado, no entanto, de forma tão sutil, que mesmo o filme se encaminhando para um triste desfecho, não apela, fazendo com o espectador até caia no choro. Porém de forma natural.

A veterana atriz Stefania Sandrelli, de "O Último Beijo" e "Nós Que Nos Amávamos Tanto" destaca-se como Anna na terceira idade, mas a belíssima Micaela Ramazzotti é o grande destaque de "A Primeira Coisa Bela". E Valério Mastandrea como Bruno também é um achado e em total sintonia com seu "eu na infância", o garoto Giacomo Bibbiani, que não necessita de muitos diálogos para retratar o sofrimento e o constrangimento que permeiam sua vida. Suas feições carrancudas mostram uma criança que vê o mundo ao seu redor virar de cabeça para baixo.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Bel Ami"


Filme baseado no livro homônimo de Guy de Maupassant, "Bel Ami", fala sobre a ascenção social de um ex-soldado semi-analfabeto e mulherengo na Paris da década de 1880, que vira jornalista graças à ajuda de um ex-colega de armas e de uma dama que escrevia os textos para ele.

Robert Pattinson, o vampiro E dwardo de Crepúsculo, é quem vive o sedutor Bel Ami. Para fugir da miséria que o cerca, o personagem não tem pudores em seduzir mulheres importantes da alta sociedade parisiense. Elas são Virginie Walters (Kristin Scott Thomas), Madeleine Forestier (Uma Thurman) e Clotilde de Marelle (Christina Ricci).

Pattinson, porém, é o problema do filme dirigido por Declan Donnellan e Nick Ormerod. O ator, e isto é notório, é fraco, não tendo cacife para interpretar um sedutor. Suas expressões são sempre as mesmas, seja sofrendo, amando, gozando. Ele olha perdido para os atores à sua volta, principalmente Kristin Scott Thomas, de "Quatro Casamentos e Um Funeral" e "Há Tanto Tempo Que Te Amo".

Fosse outro protagonista, "Bel Ami" seria um filme exemplar. A pulsante Paris, que vivia o período da Belle Époque, da última década do Século XIX, é rigorosamente reconstituída. Assim como o clima frequente de festa, onde os homens e mulheres se perdiam em bebedeiras e jogatinas nos cabarés.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Além da Liberdade"


Levar às telas a vida de uma personalidade pública e histórica não costuma ser fácil. Corre-se sempre o risco de se cair no didatismo, pedantismo e se esta figura representa os direitos humanos, transforma-la num santo. E sabe-se que nem mesmo Nelson Mandela e Gandhi o eram. Então a vida da ativista política e Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi fica no limite em "Além da Liberdade", um título clichê para o original The Lady ou A Dama, de Luc Besson, diretor de O Quinto Elemento, O Profissional e Cão de Briga.

"Além da Liberdade" mostra de forma não-linear a luta de Suu Kyi, que ganhou o Nobel em 1991, pelo fim da ditadura na antiga Birmânia, hoje Mianmar. Casada com um inglês, o professor de Oxford Michael Aris (o eterno coadjuvante David Thewlis, de Sete Anos no Tibet), Aung San Suu Kyi é filha de um antigo político birmanês assassinado em 1947. Ela passou boa parte da vida no exílio e nos anos 1980, ao voltar ao país para ver a mãe, que agonizava, acabou sendo convencida a entrar na luta pela democratização da Birmânia. Aceito o desafio, entrou num impasse. Foi colocada em prisão domiciliar e seus seguidores perseguidos ou assassinados.

Aung San Suu Kyi até tinha a escolha de deixar o país, mas nunca mais poderia pisar lá novamente. Seu marido foi proibido de entrar na Birmânia - e os dois, democratas - decidiram que ela deveria levar até o final a briga com os militares. Mesmo quando Aris ficou doente, de câncer, Suu Kyi negou-se a abandonar sua casa, sua prisão, na capital Rangoon. Eleita presidente, nunca conseguiu assumir o cargo por causa de um golpe. A situação em Mianmar em 2012 permanece quase inalterada.

Aung San Suu Kyi é vivida com força e magnitude pela atriz malaia Michelle Yeoh, de "O Tigre e o Dragão" e "007- O Amanhã Nunca Morre". Thewlis também está bem. As cenas das manifestações políticas e a trama, empolgam. Besson, porém, foi relapso em outros aspectos: Thewlis também vive o irmão gêmeo de Michael. E as tomadas dos irmãos conversando beiram o amadorismo. Os militares são vividos por atores tão ruins, tão ruins, que soam caricaturais. Ao invés de meter medo quando surgem na tela, provocam o riso involuntário.

Cotação: regular
Chico Izidro

"O Que Esperar Quando Você Está Esperando"


O preconceito impera sim. Ao saber que "O Que Esperar Quando Você Está Esperando" é estrelado por Jennifer Lopez, pensei cá com meus botões: é uma bomba. E a previsão não estava erarda. O filme dirigido por Kirk Jones (A Fortuna de Ned) é baseado em um guia para gestantes, de Arlene Eisenberg, Heidi Murkoff e Sandee Hathaway e lançado em 1984. E um amontoado de clichês e atuações exageradas.

A trama gira em torno de vários casais querendo ter seus rebentos. Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro são o casal latino. Ela é estéril e quer adotar um bebê. Ele tem dúvida se realmente deseja ter um terceiro ser em casa. Elizabeth Banks e o esquisito Rob Huebel esperam um bebê, só que têm de conviver com a concorrência do pai dele, vivido por Dennis Quaid, e da jovem esposa, interpretada por Brooklyn Decker, também grávida. O personagem de Quaid é um ex-piloto de Fórmula Indy, que adora mostrar ao filho o quando é melhor.

Tem ainda a mulher de 40 anos, dançarina e professora de ginástica, Cameron Diaz, que grávida, não para um minuto e não sabe se o seu namorado vai casar com ela. E a garota que encontra um antigo casinho de escola, transa, fica grávida. E o cara, evidente não se sente preparado para ser pai.

As atuações são histriônicas, principalmente o veterano Dennis Quaid, histérico além da conta. E aquela cena em que um grupo de homens surge no horizonte em câmera lenta - culpa de Tarantino - está lá. No caso, cinco pais e seus filhos à tiracolo, numa profusão de diálogos bobos e repetitivos. Bola fora.

Cotação: ruim
Chico Izidro

"Aqui é o Meu Lugar"



O personagem principal de "Aqui é o Meu Lugar", o roqueiro sequelado Cheyenne poderia ter caído no caricatural, não tivesse sido interpretado por Sean Penn. A trama, dirigida por Paolo Sorrentino, toda é meio doida, quase absurda, por isso magnetizante.

Cheyenne tem um visual Robert Smith, do The Cure, é deprimido, fala e andar arrastado como Ozzy Osbourne, e vive com a mulher de toda a vida, Jane (Frances McDormand, de Fargo) em sua mansão em Dublin, na Irlanda. É exótico, com seus 50 anos e cabelos desgrenhados e maquiagem pesada. E desde que dois fãs se suicidaram por causa de uma de suas músicas (referência óbvia a Suicide Solution, de Ozzy), parou de cantar e compor. Vive do que amealhou nos anos 1980.

O antigo astro de rock gótico, porém, terá de voltar à vida quando seu pai, a quem não vê há 30 anos, encontra-se à beira da morte, em Nova Iorque. Ele retorna aos EUA, e no leito de morte do pai, fica sabendo que esse passou boa parte da vida tentando capturar um nazista que o torturou em Auschwitz durante a II Guerra Mundial. Sim, Cheyenne é judeu, mas vive longe das tradições de sua religião.

Entã, a partir deste momento, "Aqui é o Meu Lugar" torna-se um road-movie, onde Cheyenne sairá em captura do nazista. Ao mesmo tempo que terá de amadurecer, mesmo que tardiamente. O nome do filme no original em inglês, This Must Be the Place, é tirado da música homônima dos Talking Heads, uma das bandas pop emblemáticas dos anos 1980. E não bastasse a presença de David Byrne, líder e vocalista do grupo, dando uma orientação ao roqueiro, o filme está repleto de referências àquele período. Uma cena mostra o quanto Cheyenne está ligado ao período. Ao tocar a música para um garoto, esse diz ser do grupo Arcade Fire. O roqueiro corrige: "Não, ela é do Talking Heads", ensina. Para ele, Arcade Fire não significa nada.

Cheyenne é vivido com primazia por Sean Penn, mostrando mais uma vez sua extrema versatilidade. Tanto como um roqueiro ultrapassado, quanto um militante homossexual, um pai arrasado pela morte de um filho ou um violento gângster. Ele é o filme.

Cotação: bom
Chico Izidro

“QUEER”

Foto: Paris Filmes “QUEER”, dirigido por Luca Guadagnino a partir de um roteiro de Justin Kuritzkes, é baseado em romance homônimo de 1985...